LIZARDS & SNAKES - Capítulo 20

May 02, 2007 19:46

Título: LIZARDS & SNAKES
Bandas: BUCK-TICK; X JAPAN (/solo works); Dir en grey; Merry; Kagerou; MUCC; Asagi; Hotei Tomoyasu; Creature Creature; Nightmare; Gazette; Sugizo; Penicillin; L'Arc~en~Ciel; Miyavi; Kisaki Project; La'cryma Christi; deadman; Kirito; Psycho le Cemu; Lareine; Fatima + outros.
Casais: AtsushixYoshiki/YoshikixAtsushi; KyoxGara; TatsurouxDaisuke; AtsushixHakuei; HoteixMorrie + outros. (One-sided: HitsugixYomi; MakoxYomi; HakueixChisato; DiexKaoru; YoshikixSugizo)
Gênero: Ação, Drama, Romance, Humor, Yaoi/Lemon.
Classificação: NC-17
Sinopse: Notórias e poderosas, duas máfias rivais lutam pelo poder no submundo de Tóquio... (e do resto do mundo, ou até onde suas ambições permitirem) São eles: os LIZARDS, liderados por Hayashi Yoshiki, e os SNAKES, sob o comando de Sakurai Atsushi.
Autoras: Mô-chan e Scarlet Mana.

Capítulos Anteriores: 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19.



Tatsurou: Quem começa com essa coisa de resumo do capítulo anterior sou eu! Pois bem. No capítulo 19, nosso querido Gara-chan encontrou-se com o Lagarto lá, aquele... baixinho... cuja intenção é nunca mais ver o pobrezinho do Gara. Triste, não?

Daisuke: Pois eu acho ótimo! Não quero ninguém roubando a atenção do Gara da gente! u.ú

Tatsurou: PSSSST! Quieto, Dai! Sua opinião de amigo ciumento não conta agora.

Daisuke: Olha só quem falando de ciúmes...! Pois no capítulo 20-

Tatsurou: Não é pra contar o que VAI acontecer, seu pateta! ¬_¬

Daisuke: ...tá, então volta a fita. No capítulo anterior...

Tatsurou: ...o tal de Kyo se encontrou com o Gara num parque. Mas na verdade, a gente não sabe disso.

Daisuke: Então como é que cê tá contando?

Tatsurou: Porque agora eu tô no lugar do narrador! Mas enfim. Os dois pombinhos se encontraram, se divertiram, e ainda não se tocaram de que fazem parte de máfias rivais. Rolou muito NHUUU (eca), choveu e o Kyo ficou com o chapéu do Gara.

Daisuke: E o que mais?

Tatsurou: Eles se abraçaram. ...aonde você tá indo, Dai?

Daisuke: Eu vou quebrar a cara daquele baixinho! ò_o

Tatsurou: Volta aqui! A gente tem que encenar os acontecimentos dos próximos capítulos, senão, o que os leitores vão... ler...? 8D

Daisuke: Eles vão ler o epitáfio no túmulo daquele baixinho! Ahhh, se eu pego...

Tatsurou: Ahnnn. Tá, fim do resumo! Por hoje é só, pessoal! :D



XXX

20. The Pledge [1]

XXX

Gara teve de entrar na mansão pelos fundos. Era algo inevitável, visto que ele estava completamente encharcado - e não seria agradável levar uma bronca por ter molhado o piso do hall de entrada, começando um rastro que o levaria até seu quarto.

Então, ele entrou pela porta que o deixaria mais perto da lavanderia, para onde ele foi, satisfeito por encontrá-la sem nenhuma presença humana que não fosse a sua. Teve de ligar as luzes, e olhou em volta, à procura do armário onde ficavam as roupas limpas. Primeiro, catou uma toalha, com a qual se secou superficialmente. Só depois abriu a pequena porta, entre dezenas, que dizia “Corais - Gara”. Pra sua sorte, havia ali não só uma calça e uma camisa, como roupas íntimas e um par de luvas também - que ele pegaria pra usar com a outra roupa que colocaria na hora da Ação. Essa que ele vestiria agora era apenas temporária; não só pra evitar broncas, mas perguntas também.

Torcendo para que ninguém mais tentasse entrar ali enquanto isso, Gara trancou a porta da lavanderia, para não correr o risco de que esta se abrisse enquanto ele trocava de roupa - que foi o que ele fez então. Retirou as roupas molhadas, secou-se melhor com a toalha - já pensando no banho decente que tomaria quando estivesse no próprio quarto - e vestiu as peças secas. As molhadas ele pôs então num cesto vazio onde também se lia “Corais - Gara”, e a toalha foi posta ali também, depois de ser usada pra secar o cabelo.

O silencioso Coral destrancou a porta da lavanderia, respirou fundo e a abriu...

...dando de cara com uma Jararaca de sorriso displicente e olhar curioso.

- Boa noite, Gara. - Toshiya deu um passo adiante e a outra Cobra obrigou-se a recuar, de maneira que os dois estavam dentro da lavanderia agora. O mais alto aproveitou que seu objetivo se cumprira, e fechou a porta atrás de si.

Gara franziu o cenho, desconfiado e incomodado. Ele não estava a fim de lidar com aquela serpente agora, e queria ir logo pro quarto que dividia com Tatsurou e Daisuke.

- O que você estava fazendo aqui dentro? - a Jararaca indagou, como se a outra Cobra tivesse algo a esconder quanto a isso.

- Trocando de roupa - o Coral disse, contrariado por ter que falar. Poderia sair dali e deixar o outro no vácuo, mas sabia que não era tão fácil se livrar de Toshiya. O problema era que ele geralmente ia longe demais em suas perseguições ao trio...

- E hoje de tarde? Onde você estava?

...exatamente do jeito como fazia agora.

- Não é da sua conta - Gara respondeu com mais rapidez do que antes, e a expressão em seu rosto mudou de indiferença para uma leve impaciência. Será que Toshiya não tinha nada melhor pra fazer do que vigiá-lo e importunar não só ele, mas os outros dois Corais também...?

- Talvez você esteja errado - Toshiya andou em volta do outro, parando atrás dele. - Você tem saído bastante nos últimos dias... justamente antes da Ação do museu... o que o Hebi pensaria dessas suas escapadas, Gara?

- ...

O Coral respirou fundo novamente, mantendo a calma. A Jararaca estava apenas jogando com ele; Gara tinha certeza disso. Sakurai sabia de suas saídas, ainda que desconhecesse aonde ia e quem encontrava. Mas até aí, Gara não estava fazendo nada de errado (ao menos, não intencionalmente). E ele não trairia as Cobras, como Toshiya insinuava que ele estivesse fazendo.

- Não tem uma resposta boa pra isso...? - a Jararaca pressionou, sorrindo pelo silêncio do Coral.

- ...aaaastral relay for yooou... Opa. - Jui parou com a cantoria quando viu seus dois companheiros de máfia dentro da lavanderia, para onde ele trouxera suas roupas sujas. Ele já estava vestido para quando fossem ao Museu. - Está tudo bem? - indagou, olhando de um para o outro. Jui sabia da rixa que havia entre a Jararaca e os Corais, por isso estranhou ao vê-los ali, sozinhos - principalmente pela cara de contrariado de Gara, que logo tratou de voltar à sua inexpressividade facial.

- Nós estávamos apenas... conversando. - disse Toshiya, movendo a cabeça num cumprimento a Jui. E então se retirou depois de lançar um olhar estranho a Gara, complementado por um sorriso de canto.

- Gara...? - Jui continuou olhando para a outra Cobra, que apenas balançou a cabeça, querendo eliminar qualquer pergunta ou espécie de preocupação que pudesse ser expressa pelo loiro.

XXX

Quando Gara entrou no quarto, Tatsurou estava sentado na beira da cama, olhando para a roupa em seu colo, abnormalmente quieto - talvez pensativo, o que só deixava o quadro ainda mais intrigante. Daisuke estava no banheiro, terminando de se vestir, e logo chegaria a hora de os outros dois fazerem o mesmo. Dali a algum tempo, as Cobras que participariam ativamente da Ação seriam chamadas pelo Hebi.

O recém-chegado sentou-se ao lado do outro e apoiou a cabeça em seu ombro, olhando pro nada. Tatsurou pareceu acordar de um transe ao senti-lo contra si, e abriu a boca para quebrar o silêncio com o qual nunca se acostumaria, mas a expressão no rosto do mais velho fez com que ele se mantivesse calado - ainda que o mais alto dos Corais estivesse curioso sobre o que o outro havia feito enquanto aproveitava seu dia de folga, e sobre o porquê de ele estar com roupas diferentes das de quando havia saído. Mas então, Tatsurou deu-se conta da chuva que caía torrencialmente lá fora, do cabelo ainda molhado do outro, e entendeu ao menos essa parte da história.

Gara optou por não mencionar o que havia acontecido na lavanderia, porque sabia que Tatsurou iria tirar satisfações com Toshiya. Seria pior ainda se dissesse algo a Daisuke, que tinha mania de “defender” os outros dois em qualquer situação.

Mas então, enquanto aproveitava o silêncio no qual Tatsurou lhe deixara ficar, Gara começou a pensar em Kyo novamente. Engoliu em seco, sentindo-se sufocado pelo monte de pensamentos que o atormentavam e pelos sentimentos que pareciam estar surgindo dentro de si. Era como se eles criassem uma onda, que o deixava com a sensação de estar se afogando, afundando cada vez mais, até que não fosse possível retornar à superfície. Ele admitia para si mesmo que precisava desabafar, que até gostaria de fazer perguntas, queria entender o que se passava com si mesmo, mas... ele estava com medo. Medo das perguntas que lhe seriam feitas, e das respostas que obteria. Tinha medo de descobrir que estava se deixando envolver por algo que ele se forçara a evitar durante toda sua vida.

Ele não estava acostumado a perder o controle do que sentia. Mas o problema maior era que agora ele queria perder o controle, queria se deixar levar por aquela onda, queria descobrir o que lhe aguardava além do horizonte.

Daí então se fixava em sua mente a imagem de quando ele e Kyo haviam se abraçado, de quando ele tivera a impressão de que algo além disso poderia ter acontecido...

...e ele não sabia se aquilo era algo bom ou ruim.

O Coral respirou fundo, suspirou, e ajeitou o rosto no ombro do amigo, sem ver o sorriso que o outro abriu por conta disso. Tatsurou o abraçou de lado, afagou seu braço num gesto fraternal e apoiou o rosto sobre o dele.

- Obrigado - o mais quieto disse, ainda com o olhar fixo num ponto qualquer diante de si.

Tatsurou sabia que o agradecimento não se referia apenas ao abraço - era o reconforto, o fato de não ter questionado Gara, e ia ainda mais além - tratava-se da amizade que havia entre eles, e que quem olhasse de fora dificilmente entenderia, pelo fato de os três serem tão diferentes. Mas isso não importava ali - nem quando Daisuke estava incluído. Os três se davam bem, se entendiam em suas semelhanças e diferenças. Eram companheiros, amigos, inseparáveis.

Eles não formavam apenas um trio - eles eram O Trio.

Por isso, quando Daisuke saiu do banheiro sorrateiramente, ele sorriu por um momento em apreciação à cena rara que se passava ali. Ainda que de certa forma sentisse um ciúme saudável por não estar participando do momento por enquanto, também gostava de ver os outros dois fazendo aquela troca de cumplicidade silenciosa cuja participação de Tatsurou parecia ser impossível de se imaginar.

E logo depois daquela breve reflexão, seu espírito de traquinas voltou a comandá-lo, e Daisuke atirou-se sobre os outros dois com um grito de guerra, sendo que até Gara riu ao ser derrubado na cama junto com eles - porque ele estava sufocado, porque ele precisava se descontrair. E porque aqueles dois mereciam ouvir o som agradável de sua voz num momento daqueles.

- E Daisuke ataca Makoto! - o mais baixo dos três exclamou, fazendo cócegas no citado, até que ele voltasse a rir, se encolhendo na vã tentativa de escapar dos dedos do outro. - E então, ele parte para cima de Tatsurou! - e o mais alto dos Corais não teve tempo de fugir, gargalhando com os movimentos das mãos que atacavam sua barriga sem piedade. - Eeeee ele vence! - Daisuke ergueu os braços no ar, comemorando.

Gara observou os outros dois por um instante, vendo que eles haviam se perdido numa troca de olhares. Em meio à brincadeira, Daisuke acabara sentado no quadril de Tatsurou - típico, e não era a primeira nem seria a última vez que eles acabariam naquela posição, tanto de propósito quanto por acidente. A novidade era que os dois tinham parado para pensar nas reações dos próprios corpos ao mesmo tempo. Então, aquela troca de olhares podia ser tensa e reveladora.

O mais velho dos Corais dirigiu-se ao banheiro, decidido a deixá-los a sós e aproveitar para se arrumar. Entendeu então o porquê do anterior silêncio de Tatsurou, que provavelmente estivera pensando na sua situação com Daisuke. A vez de tomar banho era do mais novo deles, mas Gara sabia que Tatsurou não se importaria por ter perdido lugar na fila, assim como sabia que ele não o ouvira fechar a porta do banheiro, bem como Daisuke não ouvia mais nada além de sua respiração descompassada, espelhando à da Cobra que estava sob si.

- Confortável? - veio a indagação por conta de Tatsurou, que não agüentaria o clima entre eles por muito tempo. Seu sorriso era maroto, mas havia algo em seus olhos, algo que o outro já vira tantas outras vezes, que dizia que ele não queria estar sorrindo agora, que de vez em quando ele se cansava de disfarçar, de camuflar tudo através de brincadeiras, de piada, de malícia, de diversão.

Porém, enquanto ele continuasse se escondendo, Daisuke fingiria não perceber nada. Moveu-se sobre o outro, como se estivesse se ajeitando, e então parou, sorrindo ao sentir o resultado das próprias ações - exatamente o que desejava. - Agora, sim. Bem confortável. E você?

Tatsurou desviou o olhar, um quase riso escapando de seus lábios em forma de suspiro. Suas mãos estavam pousadas sobre as coxas de Daisuke, que se arrepiava com o calor intenso que vinha delas. Então, Tatsurou as mexeu, sem realmente tirá-las do lugar, só esticando e encolhendo os dedos sobre o tecido da calça fina que o outro usava. - Dai - ele silabou, como se aquelas três letras por si só significassem tudo o que ele precisasse dizer.

- Tatsu - o de cima respondeu, pendendo a cabeça pro lado.

Tatsurou balançou a cabeça, como que inconformado com a situação. Umedeceu os lábios, pois sua boca estava seca, e só percebeu que o outro acompanhava o lento deslizar de sua língua quando já era tarde demais. Houve aquela troca de olhares outra vez e a pulsação entre suas pernas voltou a ganhar força. E Daisuke se moveu novamente - mas, para a frustração de ambos, o movimento foi com o objetivo de sair de cima de Tatsurou, pois a porta do banheiro se abria novamente e Gara retornava ao interior do quarto, já vestido e equipado para a Ação.

E só por isso que Daisuke interrompera o momento. Só.

Estranho que parecesse ter se passado tão pouco tempo desde que os dois haviam ficado sozinhos, quando na verdade se passara mais que uma dezena de minutos.

Suspirando alto, Tatsurou catou a muda de roupa que havia caído com o ataque súbito de Daisuke e foi ao banheiro, recebendo um olhar meio preocupado de Gara, a quem ele sorriu, tranqüilizando-o. Fechou a porta, e tratou de livrar-se do incômodo, mas inegável volume que se formara em seu baixo ventre.

No quarto, Daisuke pegou Gara pela mão e o fez sentar-se ao seu lado na cama. - Me abraça do jeito que o Tatsu fez contigo? - ele pediu, e o mais velho o atendeu prontamente.

Silêncio, daqueles que parecem preparatórios para algo grandioso.

- Ele acha que eu sou apaixonado por você.

Silêncio, desta vez, de um leve choque por conta de algo que era mesmo grandioso, de certa forma.

Gara balançou a cabeça, não por discordar do que ouvia, mas por que era um fato que não o agradava. Daisuke aninhou-se contra si, como um irmão pedindo ajuda - como o próprio Gara tinha vontade de fazer, mas ele nem sequer saberia explicar por que precisava disso. Ele só sabia que tinha algo relacionado com um certo loiro, baixinho...

- Ele não vê que isso está muito longe da verdade - Daisuke continuou, mas então se corrigiu: - Quer dizer, eu sou apaixonado por você, de alguma forma. Quem não cairia de amores por você, ne, Gara-chan? - e ele riu da própria tentativa de descontrair, ainda que voltasse a ficar meio sério logo depois. - Mas é do Tatsu que eu gosto daquele jeito. Eu sei que -você- sabe disso. Por que -ele- não sabe?

- Os diretamente envolvidos nunca sabem - e, logo depois de dizê-lo, Gara deu-se conta de que a carapuça servia para ele mesmo, o que o deixou com uma sensação esquisita... mas que não era de todo ruim.

- Ah, meu sábio amigo de poucas palavras - o mais novo disse, sorrindo contra o ombro do outro Coral. - Se você pode desvendar meus segredos, será que eu poderia desvendar os seus?

Gara enrijeceu levemente, mas Daisuke riu um pouco, de maneira que a tensão diminuiu - ao que parecia, ele não estava falando sério...

- Me promete uma coisa?

...bem, talvez ele estivesse. Então, Gara suspirou, mas assentiu, pois intuía que aquela promessa não lhe traria arrependimentos - ele poderia estar enganado; porém, queria dar uma chance à outra Cobra.

- Prometo - ele disse, ainda, reafirmando o que seu gesto havia demonstrado.

Daisuke ergueu o rosto, fitando-o com olhos serenos, uma das tantas raridades que se passara desde o retorno de Makoto à Mansão. - Quando você tiver algum problema... não importa o que seja... mesmo que você ache melhor lidar com isso sozinho, mesmo que pareça complicado demais... você vai confiar em mim e no Tatsu, vai deixar que a gente ajude um ao outro. Promete?

- ...prometo. - ele repetiu, sem piscar, sem saber o que o futuro lhe reservava.

Gara ainda aprenderia a não fazer promessas que não poderia cumprir...

XXX

Havia um incessante barulho de passos e vozes animadas que trazia uma agitação diferente à Toca dos Lagartos naquele fim de tarde. Em noites de Ação, o lugar inteiro parecia mergulhar numa expectativa atraente, com o ir e vir de lagartos arrumando equipamentos, verificando o plano de ação e recebendo ordens por todos os lados. Algumas vezes o clima ficava tão tenso que um simples bater de porta era o bastante para iniciar uma discussão que geralmente não levava a lugar algum; para conter tal nível mais perigoso de animosidade, os lagartos nomeados à Ação tinham a ordem de se apresentarem totalmente prontos à sala de reuniões três horas antes do início da missão que teriam: era o tempo necessário para rever o planejamento e ordens de cada um e terem um tempo extra para controlarem seus ânimos. Era tempo o bastante, também, para dar cabo de qualquer problema de última hora que viesse ocorrer.

Niikura Kaoru caminhou pelos corredores, atento, olhos postos sobre todo e qualquer Lagarto que cruzasse seu caminho. Caso seus olhares se encontrassem por um tempo mais longo do que dois segundos ele diria 'está com tempo livre? Arrumo algo para você fazer'. Todo e qualquer réptil sob aquele teto deveria estar ocupado com alguma função, por menor que fosse. Sem qualquer exceção. Podia ser dito que os lagartos gozavam de uma certa liberdade para administrar o seu próprio tempo, mas em dias em que uma Ação aconteceria as coisas eram um tanto diferentes.

O sub-líder parou, observando o dragão de komodo de estimação de Yoshiki estendido preguiçoso sobre um pufe, alheio totalmente ao vaivém de todos os seus supostos irmãos.

- Talvez eu devesse te dar algo pra fazer também, Chase. - pensou em voz alta, recebendo não mais que um agitar de língua do grande lagarto. - Pensei ter dito para o Sugizo levar você de volta para o criadouro. - suspirou resignado, apanhando a correia da coleira de Chase e dando um leve puxão para que ele o acompanhasse.

Yuki passou por ele, apressado, dando um aceno respeitoso com a cabeça. Já estava vestido 'para a Ação', como eles diziam, com a nova adição de luvas brancas na vestimenta. Vez ou outra passava a seu lado um lagarto, e daria o mesmo aceno, significando que já tinha uma função a executar e estava cumprindo-a. A do loiro, se Niikura se recordava bem, era distribuir a todos que participariam seus respectivos aparelhos de escuta, e checar o funcionamento de cada um deles pela provável terceira vez naquele dia. Sabia que não tinha com o que se preocupar, no entanto - ao contrário de um certo loiro, um gecko[2] arrogante que lagarteava por ali,Yuki era extremamente responsável em tudo o que fazia.

Não demorou a encontrar justamente o dito gecko, que parecia revirar os armários do Salão em busca de alguma coisa. Parou diante da porta, curioso.

- Com licença, Niikura-san. - era Chisato quem pedia passagem, uma expressão descontente estampada no rosto que Niikura tinha cem por cento de certeza que tinha algo a ver com o loiro que estava dentro daquela sala. O sublíder abriu caminho e o moreno adentrou o salão, levando nas mãos uma pistola que ele reconheceu como sendo de Hakuei.

O gecko fechou a porta da estante, resmungando algo inaudível.

- Está procurando por isto? - Chisato anunciou a contragosto, balançando a pistola com a mão direita.

Hakuei virou-se bruscamente, surpreso pela presença do outro. Reconheceu sua arma e se levantou, não sem antes bufar impaciente. Chisato jogou-lhe o objeto sem qualquer aviso e o loiro pôs em exercício seus movimentos reflexos, apanhando a arma antes que ela caísse no chão.

- Não espere que eu vá te agradecer. - retorquiu o loiro, examinando o compartimento de balas sem prestar atenção de fato no que olhava.

- Eu não espero nada de você. - rebateu ácido, causando o foco do olhar de Hakuei sobre ele, visivelmente incomodado. - O que foi? Eu -realmente- não espero.

- Você veio para um sermão? Por que eu estou meio ocupado, sabe...

- E é por isso mesmo que eu não devia ter falado absolutamente nada - continuou o moreno, sério, ignorando o companheiro gecko. - O único motivo pelo qual eu me desaponto é porque eu coloco tanta expectativa nos seus ombros, e não tem jeito de você-- de -alguém- dar conta disso tudo.

O loiro piscou, surpreso.

- O que você está tentando dizer? - perguntou, desconfiado.

- Estou tentando dizer que eu sinto muito, okay? Não fique todo cheio de si com isso. - o moreno deu meia-volta, preparando-se para sair e deixando na mesinha de centro uma pequena caixa que havia trazido consigo. - Boa Ação pra você hoje. Tome cuidado, não vai querer terminar como eu.

Hakuei não teve tempo de dar qualquer resposta, pois Chisato já havia se retirado, e mesmo que tivesse, não saberia o que responder. Só conseguia se concentrar na caixa de bombons de amêndoas posta sobre a mesa e no olhar superior de Niikura Kaoru, do outro lado da porta.

XXX

Na maior parte do tempo, os dois ocupantes daquele “quarto” ficavam em silêncio. Eles poderiam conversar, se quisessem; mas a gravidade da situação que se opunha sobre eles era muito maior do que qualquer coisa que pudessem pensar em dizer.

Eles estavam trancados ali. Sabiam que mais cedo ou mais tarde sairiam, mas não através de um resgate ou qualquer coisa do tipo - e, sim, quando quem dava as coordenadas julgasse sua presença útil, ou... não mais necessária.

Eufemismos de lado, os dois estavam numa cela que ficava nos subsolos da Mansão das Cobras. Não fosse o fato de estarem ali contra a própria vontade, presos, e temendo o que quer que o Líder pudesse fazer com suas vidas - poderiam até reconhecer que estavam sendo relativamente bem tratados. As camas da cela não eram desconfortáveis - ainda que não fossem uma maravilha -, a comida era aceitável e lhes serviam três vezes ao dia.

Claro que, por trás daquilo tudo, havia o fato de que o Hebi precisava que eles estivessem bem para que seus planos em relação ao Museu fossem facilitados.

E a grande noite havia finalmente chegado, o que contribuía para deixar os prisioneiros em questão mais apreensivos a cada minuto que passava.

- Você pretende colaborar com eles?

Juka ficou olhando para o amigo durante um tempo antes de responder. - Acho que vão nos matar de qualquer forma.

Kazuno assentiu vagarosamente; ainda que pensasse daquele jeito também, não era uma verdade muito agradável de escutar.

- No entanto, se colaborarmos, acho que nos manterão vivos por um pouco mais de tempo. E talvez esse tempo seja crucial para que meu pai nos resgate ou proponha algum acordo.

- Lamento informar que nenhum acordo valeria tanto quanto o prazer de invadir aquele Museu e pegar o que tem lá dentro, meu caro Juka. - Atsushi, que havia aparecido à entrada da cela depois que esta fora aberta por Toll, abriu um de seus costumeiros sorrisos sádicos diante da cara dos dois jovens diante de si. - Além disso, a polícia se meteu no caminho do seu pai e ele não tem como fazer nada agora. E você sabe como são as autoridades...

Juka franziu o cenho; ele sabia, mesmo, que seria quase impossível escapar daquela situação, mas preferia ter algum tipo de esperança.

O Hebi dirigiu-se a Hide e Uta, que tinham acompanhado-o até ali. - Levem esses dois até a garagem e me esperem lá, que eu vou reunir o resto do pessoal pra acertar os últimos detalhes da Ação.

XXX

Faltava cerca de meia hora para tanto as Cobras quanto os Lagartos partirem para o Museu. No momento, os líderes de cada uma das máfias passava a limpo o que havia sido planejado para a Ação.

Atsushi: ...recapitulando. Por onde você entra, Tatsurou?

Tatsurou, olhando de canto para Daisuke: ....huh...

Imai: ahem.

Yomi: ...pelo banheiro. Acabei de ver o Die passando por lá.

Yoshiki: Então, o que espera? Vá chamá-lo. Agora. Como posso começar uma reunião sem todos os Lagartos recrutados presentes? Tenho certeza de que todos sabiam do horário.

Kaoru: Daisuke sabia, Tokage. Mas acontece que ele...

Sanaka: ...comeu algo que não devia.

Atsushi: Sobre o que você e Toshiya estão conversando, Sanaka? Se for algo não relacionado com a Ação...

Yoshiki: ... é melhor você ficar quieto. Já disse que não toleraria atrasos, Daisuke. Não atrase ainda mais o nosso cronograma.

Die: Me desculpe, Tokage.

O ruivo sentou-se, tentando ignorar os rostos impacientes voltados para ele.

Yoshiki: Como eu dizia, teremos que esperar até que as Cobras entrem no Museu, e então avançaremos à procura da maldita...

Atsushi: ...chave que vocês têm no pescoço. Se um Lagarto tentar pegá-la, o que vocês devem fazer?

Asagi: Matá-lo?

Atsushi sorriu de maneira sádica: De preferência. Mas se ele levar a melhor, não se desesperem caso ele pegue a chave. Lembrem que os Lagartos não sabem que...

Hitsugi:... o Yomi tem medo de altura. Não podemos ficar pendurados no corrimão da saída do segundo andar montando guarda.

O líder dos lagartos arqueou uma sobrancelha, incrédulo.

Yoshiki: Que seja. O que importa é que vocês Iguanas fiquem perto de uma das saídas de incêndio. E quando a segunda leva de Lagartos passar por ali - Daisuke e os outros, eu irei...

Jui: ...ficar trancado no banheiro?

Atsushi: Não, não há risco de isso acontecer. Mas caso vocês tenham algum problema, usem os comunicadores para...

Hakuei: ...gritar como mulherzinhas se algo der errado, falou? Eu não vou voltar para ajudar ninguém.

Kaoru: Ótimo, Hakuei. Não acho que eles irão precisar da -sua- ajuda, de qualquer jeito.

Yoshiki ignorou aquilo e prosseguiu: Assim que atingirmos a sala da mercadoria, será a hora de contatar Kirito, que estará, claro, nas proximidades do Museu. Linha 3 no comunicador, e a mensagem é: "...

Daisuke: Vá se foder, seu desgraçado!

Atsushi: Quietos, Toshiya e Daisuke! Senão eu tiro os dois da Ação.

Toshiya: Mas-

Atsushi: Nem mais uma palavra. E Toshiya, chega de provocar os Corais.

Toshiya, indignado: ...gomen, Hebi.

Atsushi: Qual era a pergunta que você ia fazer, Daisuke?

Yomi: Posso ir ao banheiro?

Yoshiki: NÃO.

Toshiya: Aposto que ele vai fazer merda.

Sanaka: Shh, Totchi. O Imai já tá olhando torto pra gente.

Atsushi: Estão todos com os comunicadores?

Após uma rápida verificada, as Cobras assentiram.

Atsushi: Revólver, munição, seringa, veneno...?

O Hebi observou-os enquanto...

...os Lagartos coçaram a cabeça e bocejaram, não exatamente nessa ordem tampouco exatamente ao mesmo tempo.

Yoshiki: Aliás, este revólver não está muito bom. Yuki e Sugizo, tragam um outro do depósito assim que eu dispensá-los da reunião. E... por tudo que é mais sagrado, certifiquem-se de que os seus comunicadores estão com a bateria carregada, ou levem pilhas com vocês. Não quero mais situações como...

Atsushi: ...vocês se perdendo no meio do Museu por falta de iluminação ou pura burrice. Estão com as lanternas?

As Cobras voltaram a assentir.

Atsushi: Ótimo. Procurem ficar em grupo, de modo que um possa ajudar o outro, principalmente se algum Lagarto se meter no...

Yoshiki:... meio do saco de lixo do saguão principal, perto da sala de audiovisual. Kirito nos garantiu que escondeu ali munição caso a nossa venha a acabar.

Kamijo: Hmm... e assumindo que tudo corra sem maiores problemas, Kirito irá manter a palavra dele, certo?

Yoshiki: Bem, ele não está em posição de escolher muita coisa. Afinal, todos sabemos que ele...

Atsushi: ...é um pateta e não percebeu que temos Aranhas do nosso lado. Daishi, Ruka e Toshi entrarão em contato conosco pra avisar caso vejam algum Lagarto rondando o museu. Só tem um problema...

Diante do silêncio das demais Cobras, Tatsurou perguntou: Qual?

Atsushi: Vocês correm o risco de ficar surdos se Toshi falar demais.

Os subordinados do Hebi riram; alguns mais, outros menos.

Die: Aposto que ninguém ri das piadas dele.

Kaoru suspirou, observando desconcertado o último lagarto sair bocejando da sala, ao final da reunião. Tokage incluso entre os primeiros Lagartos retirantes.

Kaoru: Daisuke, convenhamos, piadas não são o -seu- forte.

Die: ... vai, você também acha que o Kirito tem cara de quem fica por baixo.

O sublíder bufou impaciente:

Kaoru: Daisuke...

Tatsurou: ...vamos pro quarto?

Daisuke, sorrindo enviesado: ...fazer o quê?

Tatsurou, sorrindo do mesmo jeito: Eu quero carregar minha arma.

Daisuke: Opa!

Tatsurou: Tá, mas é sério, Dai. Daqui a pouco nós temos que sair pra Ação e eu esqueci minhas balas lá.

Gara: Você não disse isso quando o Hebi perguntou se-

Tatsurou: Tá, tá, eu já sei. Mas não tava a fim de levar...

Kaoru: ...um pitão. É isso que o Tokage vai nos dar se demorarmos mais pra sair daqui.

...e assim, ambos Cobras e Lagartos terminaram a reunião de checagem, e partiram em direção ao Museu.

XXX

[1] The Pledge (A Promessa) é nome de uma música do Dir en grey (do álbum The marrow of a bone).

[2] Gecko, que representa o Hakuei, é um Lagarto geralmente menor que uma lagartixa. :D
Fotos do bichinho: 1, 2.

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