Título: LIZARDS & SNAKES
Bandas: BUCK-TICK; X JAPAN; Dir en grey; Merry; Kagerou; MUCC; Nightmare; Luna Sea; Penicillin; Miyavi; La'cryma Christi; deadman; Creature Creature; Tomoyasu Hotei; PIERROT; Lareine; L'Arc~en~Ciel + outros.
Casais: AtsushixYoshiki/YoshikixAtsushi; KyoxGara; TatsurouxDaisuke; AtsushixHakuei; HoteixMorrie + outros.
Gênero: Ação, Humor, Romance, Drama, Yaoi/Lemon.
Classificação: NC-17
Sinopse: Notórias e poderosas, duas máfias rivais lutam pelo poder no submundo de Tóquio... (e do resto do mundo, ou até onde suas ambições permitirem) São eles: os LIZARDS, liderados por Hayashi Yoshiki; e os SNAKES, sob o comando de Sakurai Atsushi.
Autoras: Mô-chan e Scarlet Mana.
Capítulos Anteriores:
01,
02,
03,
04,
05,
06,
07,
08,
09,
10,
11,
12,
13,
14,
15,
16,
17,
18,
19,
20,
21,
22,
23,
24,
25.
Side-stories:
O Natal dos Lagartos &
Confessions on a Lizard Floor Lista de Personagens:
Aqui. XXX
26. The Grudge
- grudge
1. noun ~ (against somebody) a feeling of anger or dislike towards somebody because of something bad they have done to you in the past;
2. birra.
XXX
No dia seguinte ao ataque ao Museu, enquanto os Lagartos continuavam a saborear sua vitória ou a se recuperar da ressaca da festa que correra madrugada adentro, e as Cobras ponderavam sobre sua derrota e planejavam ou colocavam em prática planos para seguir em frente ou dar a volta por cima, os policiais e investigadores encarregados do caso Koyasu continuavam tentando montar aquele quebra-cabeça e encontrar as peças que faltavam.
Após se ausentar durante a manhã para cumprir a promessa que fizera ao filho, Hyde voltava ao seu departamento com o jornal do dia em mãos, depois de tê-lo lido na hora do almoço.
Entrou na sala que dividia atualmente com Sakura e Ken, por conta do caso em suas mãos, e encontrou-os conversando com um cientista forense; Yukihiro.
- ...primeira vez que ouço falar-ah, aí está você. - Ken foi até Hyde, fechou a porta e conduziu (empurrou) o baixinho para junto dos outros dois. - Nosso parceiro aqui estava dizendo que um dos seguranças do museu foi morto com veneno de cobra.
Hyde olhou com um tanto de perplexidade para Yukihiro, que assentiu, indicando o laudo nas mãos de Sakura. Este entregou a folha ao recém-chegado, que leu os dados por cima, logo voltando sua atenção para os demais presentes.
- Veneno de cobra... - franziu o cenho, pensativo. - Os de branco são conhecidos como Lagartos, certo?
Sakura assentiu. - Sim. Mas eles não costumam usar veneno ou qualquer coisa do tipo para matar; é sempre com armas.
- Hmmm... Temos homens de branco, homens de preto... os de preto ainda não foram identificados... - Hyde começou a andar pela sala, seu sobretudo farfalhando toda vez que ele dava meia volta diante dos outros três. - Existe alguma máfia cujo nome é referente a cobras ou algo assim?
Sakura pareceu prestes a dizer algo, mas fechou a boca e ficou olhando fixamente pro chão. Hyde e os outros dispensaram o gesto como se ele tivesse se lembrado de algo, mas se dado conta de que não era relevante (ou qualquer coisa parecida).
- Eu posso pesquisar a respeito - Ken se ofereceu, e Hyde assentiu.
- Alguma outra coisa fora do comum quanto ao roubo do Museu?
- Alguns dos seguranças foram mortos com fios de náilon.
Sakura engoliu em seco, algo como aflição passando sobre suas feições; que ele logo tentou controlar. Desta vez o olhar de Hyde se deteve sobre ele por um instante, mas ele logo voltou a olhar para Yukihiro.
- Algum epitélio que possa servir de comparação? E as armas usadas durante o roubo; já verificaram os registros, suspeitos...?
- Nada de epitélio, e por enquanto não temos suspeitos com quem comparar o DNA do sangue não identificado. Mas tem uma lista de pessoas com registro das armas que foram usadas. - o perito entregou uma pasta não muito fina a Hyde, que ergueu uma sobrancelha.
- Tudo isso?
- Vários modelos diferentes foram usados. - Yukihiro deu de ombros. A partir daí, já não dependia mais dele.
- Ooookaaay... - suspirou. - Obrigado, Yukihiro-san. Sakura, vamos dar uma olhada nessa lista aqui e deixá-la mais enxuta.
Sakura assentiu, meio distraído; Yukihiro se retirou e Hyde sentou-se à frente de seu colega e amigo de longa data.
- Que bicho te mordeu?
O outro apenas observou-o abrir a pasta e retirar a pilha de folhas dali de dentro, dividindo-a em duas partes e empurrando uma delas em sua direção. - Ahnnn...?
Hyde balançou a cabeça, mas riu brevemente. - Você parece distraído.
- Ah... não é nada.
Uma fagulha de estranheza, mas os dois começaram a trabalhar mesmo assim.
XXX
Quando Uta parou à porta do quarto pertencente ao trio de Corais, dois dias depois da Ação no Museu, o que ele encontrou foi uma cena um tanto inusitada.
Os três estavam quietos. Da parte de Gara isto era normal; o que havia de diferente quanto a esta Cobra era que ela estava dormindo, e já tinha passado da hora do almoço. Se isto o deixou intrigado, ver Tatsurou e Daisuke em suas respectivas camas, aparentemente ignorando um ao outro, o deixou quase preocupado. Se havia alguma birra entre as duas Corais, o Hebi talvez tivesse que escolher duas outras Cobras para o plano que fora explicado a Uta.
Tatsurou foi o primeiro a perceber sua presença, e assim que seus olhos curiosos voltaram-se para a Coronella ali presente, não demorou para que Daisuke fizesse o mesmo.
- Venham comigo, pro escritório do Hide.
Era a hora em que aquelas duas Corais teriam se entreolhado, perguntando-se do que se tratava; e quase fizeram isso, mas lembraram-se a tempo de que havia uma birra entre eles e recusaram a se encarar.
Se fosse o Hebi presenciando a cena, ele talvez tivesse aberto um de seus sorrisos de quem sabia do que se tratava, ou apenas fitado os dois em divertimento. Uta, por sua vez, pressionou um lábio contra o outro, agora meio preocupado. Ao invés de perguntar se havia algo errado entre aqueles dois, no entanto, questionou outra coisa:
- O que há com o Gara?
Daisuke abriu a boca para responder. Mas ficou quieto e fechou a cara. Foi Tatsurou quem respondeu: - Ele não dormiu essa noite.
Uta franziu o cenho, mas deu de ombros logo depois; não podia perder tempo com isso agora, nem fazia parte de seu trabalho. - Bem, a tarefa que eu tenho é só pra vocês dois, mesmo.
As duas Corais, apesar de intrigadas, seguiram a Coronella até o escritório de Hidehiko, que no momento verificava um conjunto de comunicadores; uma pilha de arquivos em cima da mesa em frente à qual ele estava sentado.
Uta indicou as cadeiras para as duas Corais se sentarem e pegou duas pastas da pilha, entregando uma a cada Cobra.
- Sakurazawa Yasunori faz parte do grupo de pessoas que investiga o caso do Koyasu, desde o roubo da chave. - Hide começou, enquanto Daisuke e Tatsurou folheavam os arquivos. Continuou mexendo nos comunicadores. - Ele é um dos homens de confiança de Takarai Hideto, ou Hyde, que lidera a investigação. Mas já se envolveu com drogas. Com as Aranhas.
- Isso faz bastante tempo, mas o Hebi crê que ele não vá resistir a uma oferta... gratuita, digamos assim.
Tatsurou olhou de Hide para Uta e mordeu a língua pra não perguntar por que não era o próprio Sakurai que estava dando as orientações a eles, como de costume. O que ele não sabia era que seu Líder estava tomando conta de outros assuntos naquele meio tempo.
- Nós vamos dar drogas a ele? - Daisuke indagou, erguendo uma sobrancelha: a que tinha uma falha.
- Nós vamos... fazer uma troca.
Hide começou a explicar o plano.
XXX
O próprio vinho sendo despejado na sua taça possuía um requinte a mais quando composto com o cenário daquele bar. A cor do líquido era a mesma das paredes e das velas postas sobre a sua mesa. O ambiente intimista, iluminado apenas no nível necessário para que se enxergasse o caminho era o mesmo com o qual ele sempre esteve acostumado. O estofado das cadeiras de madeira continuava sendo de um aveludado preto, confortável. Alguns garçons com os quais ele estava mais familiar haviam envelhecido. Assim como ele próprio, fato que não impedia os empregados dali de reconhecerem a sua pessoa e dedicar a ele um tratamento de "cliente da casa". Até mesmo a situação que o havia trazido até aquele lugar não lhe era estranha, e enchia o seu peito com uma nostalgia intrusa.
O celular sobre a mesa acusava-o de ter se adiantado um pouco mais do que devia para aquele encontro. Se é que Ryoichi podia chamar aquilo que estava prestes a acontecer de "encontro". Era algo mais semelhante a duas cobras dentro de uma caixa, que postas ali por circunstâncias adversas, estranhavam-se e mantinham a sua guarda, com um bote pronto para caso a outra atacasse primeiro. A Naja e a Cascavel. Uma pergunta curiosa que Ryoichi fazia a si mesmo naquele instante era qual das cobras morreria primeiro, caso elas se mordessem? Ele não tinha como comprovar a resposta, mas gostaria de apostar na Naja, caso a situação lhe permita.
Há muito tempo, o caminho de Ryoichi e Sakurai tinham traçado linhas retas e opostas. Assim sendo, a última coisa que Ryoichi esperava era receber uma ligação do Sublíder daquela máfia que praticamente exigia a sua presença naquela hora e local. Antes de incomodar-se com a rispidez daquela cobra, que abertamente lhe odiava, Ryoichi descobriu-se verdadeiramente curioso para conhecer o motivo daquele convite nada compulsório. Não havia preocupações, para ele. Sabia que estava em uma ótima posição em relação ao Líder das Cobras, e que Sakurai pensaria duas vezes antes de lhe preparar algum tipo de armadilha. Isso não tinha relação alguma com sentimentos como medo ou respeito mútuo. Tratava-se do código silencioso das máfias, e o fato de que não se tenta puxar o tapete de quem ainda pode fazer alguma coisa de útil por você.
E utilidade, Ryoichi sabia, era com certeza a palavra-chave que havia feito com que Sakurai o procurasse.
- ... Sempre pontual.
Atsushi sorriu ao perceber a surpresa disfarçada na expressão de Ryoichi por ouvir sua voz tão de perto, sem aviso prévio. A Cascavel havia se aproximado por trás, aproveitando-se do fato de a Naja estar descuidadamente de costas para a entrada.
- Espero que Imai não tenha sido rude com você. - porém, algo na voz do Hebi denunciava que ele não só sabia, como tinha estado presente durante a ligação. Talvez o telefone estivesse até no viva-voz naquele momento.
Como se eles tivessem se cumprimentado e eliminado a parte das formalidades, Sakurai sentou-se do outro lado da mesa, aproveitando então para admirar o rosto de Ryoichi.
Afinal, não era todo dia que ele cruzava com alguém tão parecido consigo mesmo. Ele ainda tinha a mesma sensação toda vez que se viam: era como se estivesse se olhando num espelho, vendo-se com alguns anos a mais e umas poucas diferenças.
Ryoichi havia optado por não responder a pergunta óbvia do outro, e admirava o rosto dele em retorno. Era Sakurai Atsushi quem tinha um sorriso arrogante no rosto... ou era ele próprio?
- Você não mudou nem um pouco, Atsushi. Que bela reunião nostálgica. - iniciou a Naja, balançando levemente a taça de vinho antes de provar um gole da bebida. Se possuía alguma intenção irônica com aquelas palavras, havia ocultado-a bem. Com um gesto da outra mão, indicou a garrafa de vinho e uma taça vazia diante de Atsushi. - Sirva-se. Pedi o -meu- vinho favorito. - frisou o pronome possessivo, sabendo muito bem que nas suas semelhanças, possuíam o mesmo gosto para bebidas alcóolicas. Prendeu um riso, divertindo-se com a expressão que o outro lhe devolvia. - Mas tenho certeza de que vai gostar.
O Hebi limitou-se a saborear a bebida por um tempo, porque considerava desnecessário responder aos comentários que Ryoichi fizera até então. E provavelmente o outro pensava assim também. - Diga-me, Ryoichi. Você ainda coleciona cobras?
- Pode-se dizer que sim. Precisei diminuir a quantidade de viveiros há uns dois anos, então a variedade não é tão grande como antes. Não acho que você esteja perguntando isso porque gostaria de dar um oi para as minhas amigas. O que tem em mente? - a Naja mostrou-se atenta, podando qualquer possibilidade de rodeios na conversa. Aquela não era uma reunião de velhos amigos, por mais que ele fizesse piada a respeito do assunto.
- Os Lagartos - Atsushi não se deu ao trabalho de explicar de quem se tratavam; mesmo que até uma semana atrás aquela máfia não tivesse cruzado o caminho das Cobras, sua existência sempre fora de conhecimento destas - cometeram o pecado de matar uma Mamba Negra que viria para o meu viveiro.
Sakurai fez uma pausa para sorver mais um gole de vinho, deixando que Ryoichi processasse aquela primeira e crucial informação.
- Na verdade foi um erro, por parte deles e de Kisaki.
O Hebi tinha certeza de que o negociante de répteis e “mantimentos” para tais estava envolvido naquilo; mesmo que Hakuei tivesse fornecido a Yoshiki a informação de que Sakurai pretendia comprar aquela cobra, o Gecko não sabia da hora e do local. Além disso, os tampinhas que tinham aparecido no dia da entrega usavam uniformes no tamanho deles e tinham ido para lá no caminhão que normalmente Yuu e Kenichi dirigiam. Somado ao fato de Kisaki não ter entrado em contato para saber se tudo tinha corrido bem, como normalmente fazia, e da fama que ele tinha de fazer qualquer negócio por dinheiro, a conclusão à qual Sakurai tinha chegado era um tanto óbvia e irrefutável.
- Eu quero uma Mamba Negra, Ryoichi. Não tanto para o meu viveiro, mas... para dar um banquete a ela. - Atsushi fixou seus olhos negros em Ryoichi, agora com aquele brilho selvagem que lhe era característico. A raiva que submergia quando pensava neste assunto já era familiar, mas ele estava ansioso para desfazer-se dela.
- Bem, e o que planeja fazer depois? - Ryoichi passou a mão pelos cabelos, lentamente. Ali estava ele, prestes a dar ferramentas para que mais uma vez aquela Cascavel eliminasse quem bem entendesse. - Kisaki não vai lhe fornecer cobras ou equipamento para os seus viveiros de dentro do estômago da minha mamba.
Atsushi riu com gosto. - Claro que não. Mas quem precisa de fornecedor quando se pode virar um? - deixou o resto da informação nas entrelinhas, fazendo outra pausa para levar a taça novamente aos lábios, deliciando-se com aquele que era, realmente, seu vinho favorito. - Mas você não me disse se tem uma Mamba Negra ou não, e o que desejaria em troca dela.
- Uma mamba? Tenho várias. - Ryoichi esboçou um meio sorriso, estudando atento os movimentos de Sakurai. - Mas receio que elas sejam muito apegadas ao dono. Então posso permitir que uma delas faça o seu serviço, desde que ela retorne inteira ao seu viveiro. - a Naja recostou-se na cadeira, cruzando os braços enquanto encarava aquele belo exemplar de cascavel. - Vou facilitar as coisas para você. Afinal, é um homem ocupado, Atsushi. Posso tomar as rédeas do negócio de Kisaki. Você teria os seus privilégios no fornecimento, e eu um espaço a mais para criar as minhas companheiras. O que me diz?
Como um espelho, Sakurai recostou-se na sua própria cadeira, esvaziando a taça de vinho a goles breves enquanto analisava a proposta que Ryoichi fizera. Não era o que esperava, o que em si não era ruim; mas aquela Naja estava querendo abocanhar algo maior que sua mandíbula. - Se com “seu viveiro” você se referiu ao -meu- viveiro, e não ao -da Mamba-, eu poderia até pensar a respeito. Que continue viva é de meu desejo também, pois ambos sabemos da eficácia do veneno dela. - pôs o copo na mesa e manteve o olhar preso ao da outra Cobra. - Ou você estaria pedindo um preço muito alto em troca de uma simples mordida...
Pegou a taça e serviu a ambos; durante alguns segundos o barulho do líquido correndo pelo vidro substituiu o veludo de sua voz.
- Eu posso abrir mão do negócio de Kisaki; não é algo que me interesse tanto assim. Porém - pôs veemência no início de sua contraposição -, não gosto de ficar em desvantagem. Então, em troca do que você quer, eu exijo não só a Mamba Negra, mas qualquer cobra da qual eu precise daqui em diante.
Outra pausa, desta vez em prol do vinho descendo por sua garganta.
- Você terá um arsenal inteiro de animais exóticos, Ryoichi. E eu tenho meu próprio viveiro; não precisaria de tantas cobras assim. Você não ficaria em -prejuízo-.
A Naja permaneceu alguns segundos em silêncio, remoendo a proposta, analisando-a parte a parte. Não era de todo ruim. Ele próprio conhecia mais do que bem os viveiros particulares de Sakurai. Certamente não sairia em desvantagem com o número de répteis, ou com a quantidade de serviços prestados. Ao mesmo tempo, era interessante a Ryoichi possuir um lugar seguro e afastado, no qual pudesse criar as suas cobras. Um lugar que não daria pista alguma sobre a sua identidade ou paradeiro.
- Me parece um bom acordo. Está bem. - Ryoichi esvaziou sua taça, satisfeito. - Pra quando precisa da mamba?
XXX
No dia seguinte...
- Recapitulando-
- Tá, chega, Daisuke. Eu já entendi.
Daisuke torceu a boca, e Tatsurou teria se preocupado caso tivesse olhado para seu rosto naquela hora. Porém, o mais alto dos Corais estava ocupado demais evitando justamente olhar para seu companheiro, que sentia-se bastante incomodado com isso. E com todo o resto.
- Eu não vou conseguir trabalhar com você desse jeito. - disse, como uma admissão; algo com que Daisuke vinha debatendo silenciosamente já há algumas horas.
- Então peça pra trocar de dupla. Ou peça pra alguém assumir seu lugar na tarefa.
- É isso que você quer?
- Ah, sei lá!
Outra torcida de lábio. Mais longa, meio tremida. Respirou fundo, passando uma mão entre os cabelos devagar, apesar da vontade de simplesmente puxá-los até que fossem arrancados de sua cabeça.
- Escuta, Tatsu-
- Eu não quero falar sobre isso. - ele cruzou os braços sobre o peito, sabendo muito bem o que significava aquele tom na voz do outro. - Se você não se importa, vou ver o que o Gara tá fazendo.
Daisuke ficou olhando, incrédulo, enquanto Tatsurou entrava na Mansão, obviamente sem a mínima vontade de resolver as coisas entre eles. Até então os dois tinham estado no pátio, sentados na grama enquanto acertavam os detalhes da tarefa que teriam de pôr em prática no dia seguinte. Não era nada complicado, mas o problema estava justamente no clima péssimo entre as duas Corais, o que poderia prejudicar tudo.
- Idiota! - Daisuke exclamou pro nada, levantando-se e caminhando na direção oposta. Talvez pedir a Toll algumas dicas sobre espancamento alheio ajudasse a acalmá-lo.
XXX
- Tem certeza de que não quer que eu vá junto?
- Muito aprecio sua preocupação, Imai - Atsushi sorriu de canto, aquele ar insinuante de quando ele provocava seu subchefe de volta às suas feições. - Mas quero que você permaneça aqui fora com Toll, pra caso apareça alguém ou aconteça alguma coisa.
De qualquer forma, o Hebi duvidava que Kisaki estivesse preparado para sua chegada.
Atsushi pegou a mala preta que estivera até então sobre o capô do carro em que tinham vindo até ali e sorriu ao pensar no que tinha dentro dela. Realmente, para aquilo Kisaki jamais estaria preparado.
A loja de animais exóticos era toda de madeira, do mesmo aspecto que qualquer tenda de beira de estrada, mas muito maior e num lugar mais isolado. O chão em volta era uma mistura de areia e pedra, que fazia barulho sob os sapatos de Sakurai enquanto este andava até a porta de entrada, ainda aberta apesar de o horário de atendimento estar perto do fim.
O piso de madeira rangeu sob seus pés, anunciando sua chegada, mas ele ainda teve tempo de observar seus arredores. À sua direita havia uma estante com potes de vidro contendo escorpiões e aranhas, de espécies variadas. Não demorou-se nelas, movendo os olhos para o chão, onde havia uma grande caixa de vidro com um grande galho ramificado. Na parte mais larga do galho estava um filhote de lagarto, que encarava a Cobra de preto, sem mexer-se durante vários segundos.
- Seria muito fácil matá-lo, bichinho - disse o Hebi, sorrindo com desdém para aquele réptil. - Pena que você não é o Dragão de Komodo que eu quero.
O lagarto, que apesar de filhote já era maior do que alguns adultos de outras espécies, permaneceu imóvel, sem tirar seus olhos do Hebi. Este virou-se para o outro lado, contente por ver duas caixas de vidro enormes, contendo uma Jibóia numa e duas cobras-papagaio em outra, de um vivaz verde e amarelo.
- Olá, minhas queridas - ele as cumprimentou, resistindo à vontade de ir até lá. Tinha coisas mais urgentes com que se ocupar agora.
Aproximou-se do balcão e bateu na campainha, apoiando um braço na tábua de madeira maciça. Esperava que só o barulho do chão rangendo sob seus pés tivesse sido o bastante; mas, pelo jeito, não fora o caso.
Havia fotos emolduradas na parede diante de si, basicamente mostrando os animais que Kisaki vendia, alguns dos quais ele mesmo capturava.
A porta que dava para o depósito se abriu, e Atsushi sorriu satisfeito ao ver a surpresa e o medo passarem como sombras pelo rosto de Kisaki, ainda que este conseguisse disfarçar logo depois.
- Boa tarde - sorriu, mantendo o ar displiscente mesmo depois de o outro sacar uma arma e apontá-la para sua cabeça.
- O que você quer, Sakurai?
- É assim que você recebe seus clientes, Kisaki? Estou desapontado. E eu que tinha vindo aqui para negociar...
O Hebi soltou um suspiro evidentemente teatral, e então pôs sobre o balcão a maleta que tinha trazido consigo. A desconfiança nas feições do outro era inegável.
- Negociar? Corta essa, Sakurai. Que eu saiba você não é de dar segunda chance a ninguém.
- Ah. Então você admite que me traiu?
Outro sorriso de satisfação tomou os lábios de Atsushi quando Kisaki ficou sem resposta para sua falsa dúvida.
- Eu sempre soube que você era... ambicioso, Kisaki. Imagino que Hayashi Yoshiki tenha feito uma proposta bastante irrecusável em troca da Mamba Negra pela qual eu teria pago uma foturna, se ela não tivesse sido... esquartejada. - o olhar do Hebi, naquele momento, expôs o brilho selvagem de quem estaria disposto a fazer o mesmo com o verme diante de si, que não se deu ao trabalho de negar nada do que ele tinha dito.
- Vou perguntar mais uma vez: o que você quer, Sakurai? - Kisaki moveu a arma como uma ameaça, que a Cobra continuou a ignorar.
- Quero lhe fazer uma proposta...
O dono do estabelecimento olhou de Sakurai para a maleta sobre o balcão algumas vezes, ainda desconfiado, mas deixando escapar um pouco de sua curiosidade. Atsushi tomou aquilo como sua deixa para continuar a falar.
- ...por uma laticauda columbrina.
- Você está louco, né? - inconscientemente ou não, ele abaixou a arma, apoiando no balcão a mão que ainda a segurava.
- O quê, essa cobra lhe dá medo, Kisaki?
Ele ignorou a ambigüidade da pergunta e o conseqüente sorriso nos lábios de Atsushi. - A laticauda é aquática. Só isso já dificulta procurar por uma... é mais difícil ainda pegá-la.
- Mas aí é que está a graça. Eu mesmo faria isso, se não tivesse coisas mais importantes a resolver...
- Ha. Vou fingir que acredito. - uma pausa, e então: - Quanto você me pagaria?
Atsushi passou a língua nos lábios, deliciando-se porque Kisaki tinha mordido a isca. Mesmo disfarçando, já estava interessado. Afinal, se ele já tinha se arriscado a caçar tantos outros animais peçonhentos antes, um novo desafio acabava por ser tentador. - Tem vinte mil dólares aí, se você aceitar. Os outros vinte eu pago quando você me entregar a cautinela. Viva. Mas preste bem atenção, Kisaki. - O Hebi aproximou-se mais do balcão, olhando fixamente nos olhos do outro. - As pessoas só me traem uma vez. Entendido?
- Perfeitamente. - ele largou a arma no chão então, para abrir a maleta. Atsushi reconheceu o breve ar de satisfação no rosto de Kisaki enquanto os olhos deste caíam sobre as notas de dinheiro.
Algo que durou um segundo ou menos.
Logo uma exclamação de susto foi seguida por uma de dor e então Kisaki tentava se livrar de uma mamba negra, que picara seu rosto já mais de uma vez e estava pronta para outra investida.
- Ah, tadinha. Ficar trancada por tanto tempo num lugar tão pequeno deixou-a estressada... - e Atsushi balançou a cabeça, já a alguns passos de distância do balcão e com a arma de Kisaki em mãos.
- SEU FILHO DA PUTA! - e mais exclamações seguiram, até que o efeito do veneno se intensificou e ele acabou por cair ao chão, atrás do balcão. Atsushi observou a mamba deslizar sobre o chão, saindo por onde ele tinha entrado, e ficou grata por ela fazer o favor de facilitar as coisas. Tinha combinado com Imai que ele e Toll ficariam encarregados de pegar a serpente de volta depois que Kisaki fosse mordido, e a voz dele soara bastante alta para demonstrar que isso tinha acontecido.
- Entende agora por que as pessoas só me traem uma vez, Kisaki? - Atsushi voltou a aproximar-se do balcão, inclinando-se sobre ele para observar o outro, cujo rosto estava longe de uma visão agradável devido a locais de inchaço onde ele tinha sido mordido.
Kisaki suava, gemia de dor; saliva escorria pelo canto de sua boca aberta; e ele já aparentava dificuldade para respirar e, principalmente, se mover. Sakurai sabia que ele tinha antídotos no depósito, e seria um desperdício de veneno se ele chegasse lá a tempo. - Ma... mal... dito...
- Você tinha razão quando disse que eu não perdôo, mas eu também lhe conheço. Se você não fosse tão ganancioso, não teria me traído com Lagartos. Eu teria ficado com aquela mamba e você não morreria com a picada de outra.
Atsushi ficou observando-o durante os minutos seguintes, às vezes falando, outras simplesmente se deleitando pela cena. Os efeitos do veneno da mamba, quando picava alguém no rosto, eram o que ele chamava de morbidamente interessante. - Você não assistiu Kill Bill, não é, Kisaki? É um filme bastante inspirador.
O Hebi deu um último sorriso predatório enquanto o fitava, e então pegou o celular que tinha no bolso, ligando para Ryoichi. Era a hora de ele cumprir sua parte do trato com a Naja.
XXX
- Grrrrr que raaaaivaaaa!! - Tatsurou passou ambas as mãos no rosto, sem saber se ficava mais irritado consigo mesmo ou com Daisuke.
A seu lado, Gara soltou um suspiro, pensando que aqueles dois não tinham jeito, mesmo. - Vocês ainda estão brigados? Dois dias... isso é um recorde. - ele tentou brincar, mas não possuía a capacidade que os outros dois tinham de animar alguém.
(Dois dias atrás: Daisuke ainda tinha suas suspeitas sobre quando vira Gara saindo da tal sala no Museu, e resolveu tirá-las a limpo. Gara não estava com a mínima disposição pra falar a respeito, mas Daisuke insistiu. Tatsurou, pra variar, interpretou tudo da forma errada, e ainda acusou Daisuke de estar pentelhando o mais velho do Trio. Ainda sob o efeito da discussão do dia anterior, e frustrado com a total cegueira de Tatsurou quanto ao que era mais do que óbvio, Daisuke se irritou. Os dois passaram o dia emburrados um com o outro, e Gara não conseguiu dormir, porque de alguma forma se sentia culpado pela situação, e porque os pensamentos a respeito de um certo Lagarto não o deixavam em paz.)
Tatsurou balançou a cabeça, entre frustrado e indignado. - Não. Ontem a gente brigou de novo.
(O dia anterior: depois de terem sido orientados por Hide e Uta, Tatsurou e Daisuke se viram obrigados a tentar se reconciliar.
Não o fizeram.
Ficaram apenas falando da tarefa que tinham em mãos, com umas pausas terríveis entre o que um falava e o outro respondia. Era óbvia a tensão entre eles, assim como era mais do que óbvio o que eles tinham que fazer pra parar com aquilo, mas a birra ainda lhes parecia mais tentadora.
E como tudo sempre pode piorar, Daisuke se perguntou (em voz alta, o infeliz) sobre por que Gara teria sido deixado de fora daquela tarefa.
Aí vocês imaginam o que passou pela cabeça de Tatsurou, o que saiu da boca dele, e então chegamos à situação atual.)
- Tatsu... - e Gara quis dizer então o que sabia, mas não o fez. Porque era Daisuke quem tinha que dizer qualquer coisa, e porque Tatsurou provavelmente não acreditaria, mesmo. Não agora. Franziu o cenho e ficou olhando pro amigo, sentado a seu lado na cama. Sua cabeça doía, já, trabalhando permanentemente em tentar encontrar uma forma de ajudar aqueles dois patetas ao mesmo tempo em que ele tentava não pensar em Kyo.
- Nessas horas eu fico pensando se valeu a pena...
Gara ficou em silêncio, estranhando o comentário do outro e dando tempo para que ele o desenvolvesse.
Mas Tatsurou apenas voltou a balançar a cabeça, desta vez como que para eliminar pensamentos desnecessários. E então virou-se para Gara, desta vez sentando-se de frente pra ele (na cama que, coincidência ou não, pertencia a Daisuke) ao invés de lado. - Gara. Você deixou algo pra trás quando entrou nas Cobras?
- Você deixou...? - devolveu a pergunta não porque não quisesse respondê-la, mas porque eles raramente tocavam nesse assunto; era como se houvesse um acordo silencioso de que não era algo sobre o que se devia falar.
- Eu não tive escolha. Digo, tive, mas... Foi melhor assim. Ou não. Não sei. Você não me respondeu.
Ele encolheu os ombros e baixou o olhar. - Eu não lembro. As recordações mais antigas que eu tenho sempre envolveram as Cobras...
- Tatsurou! Gara!
As duas Corais se voltaram pra porta do quarto, por onde surgia um Riki meio ofegante.
- O Daisuke e o Toshiya estão discutindo na quadra de treinamento, e acho que se vocês não forem lá-
Ele não precisou dizer o resto, porque as duas Cobras já tinham se levantado, e logo elas atravessavam o pátio na mesma direção em que Daisuke tinha ido não muito tempo antes, enquanto Riki tentava localizar Hide ou Uta.
Eles logo ouviram a voz da terceira Coral, ao entrarem na quadra:
- Solta ele, Karyu! Eu quero arrebentar a cara desse desgraçado!
- Pára com isso, Daisuke! Você sabe que não vale a pena - mas Tsukasa, que segurava a Coral, estava tendo trabalho em mantê-la sob controle.
- Uuhhh, olha só quem chegou - a voz debochada pertencia a Toshiya (atualmente contido pelo outro Habu presente), que sorriu ao olhar para Tatsurou. - Pode me soltar agora, Karyu, que o herói do Daisuke veio defendê-lo.
A Cobra de branco balançou a cabeça, e ao trocar um olhar com Tsukasa, apenas reafirmou sua decisão.
- Solta ele - Tatsurou pediu, depois de ter cruzado a quadra e parado na frente da Jararaca, que o fitava de maneira desafiadora.
- Não acho recomendável - Karyu respondeu, mas Daisuke falou antes que a alta Coral pudesse responder:
- Não é pra você se meter nisso, Tatsurou!
- Tenho certeza de que você faria a mesma coisa se estivesse no meu lugar. E eu não quero saber por que diabos vocês estão discutindo, porque deve ser algo estúpido por parte dessa Jararaca, como sempre. - Ele não se virou para Daisuke enquanto falava; continuou fitando Toshiya ao se dirigir a Karyu mais uma vez: - Solta ele.
Talvez porque tivesse se surpreendido pelo jeito sério como Tatsurou havia falado, ou porque temesse acabar como bode expiatório da tensão existente entre a Jararaca e as duas Corais, Karyu soltou Toshiya. Do outro lado, Daisuke voltou a se debater para escapar, mas Tsukasa continuava segurando-o firmemente, indignado por Karyu ter soltado a Jararaca.
Mas Tatsurou não perdeu tempo: reuniu toda a frustração e a raiva que estava sentindo e desferiu um soco na cara da outra Cobra, que cambaleou com a força do golpe inesperado.
- Era pra eu tá fazendo isso, porra! - Daisuke exclamou às costas da outra Coral, que teve de ignorá-lo para se esquivar de Toshiya. Este teria acertado o próximo soco, não fosse pela intervenção de mais uma serpente.
Hide puxou Toshiya pelo pescoço, e com eficiência o empurrou pra longe de Tatsurou, enquanto este tinha seu caminho bloqueado por Uta.
- Seus inconseqüentes! O Hebi não pode se ausentar por algumas horas que vocês já arrumam confusão! - Hide parecia mais decepcionado do que zangado, no entanto, enquanto olhava pros três causadores do problema. Ele respirou fundo, perguntando-se por que as duas Cobras superiores tinham resolvido se ausentar de uma vez só, e ainda por cima levado Toll junto.
Na verdade, ele sabia. Mas isso não tornava menos problemática a ausência daqueles três.
- Karyu e Tsukasa, acompanhem o Toshiya até o quarto dele e certifiquem-se de que ele não sairá de lá até segunda ordem.
As duas Cobras de branco fizeram exatamente aquilo, apesar dos protestos por parte da Jararaca.
- Riki, leve o Gara também. Vocês dois podem ver como estão o Asagi e o Jui e se o Hizumi e o Zero precisam de alguma coisa.
Gara lançou um olhar preocupado para Daisuke e Tatsurou, mas deixou-se levar por Riki, que na verdade simplesmente o acompanhou de volta à Mansão, sabendo que a mais velha das Corais não costumava desobedecer ordens.
Das quatro Cobras restantes, Hide ficou olhando pra Uta como se perguntasse o que fazer com aquela dupla que agora se sentava no tatami, alguns metros de distância entre cada uma das Corais.
Então Hide voltou a olhar para eles, agora decidido: - Vocês dois vão ficar aqui até o Hebi voltar. - Tatsurou pareceu prestes a protestar, mas Hide o silenciou ao erguer a mão. - Ele vai decidir o que fazer com vocês, mas tenho certeza de que não vai gostar de saber do que houve, sendo que amanhã vocês teriam uma tarefa a cumprir.
- “Teriam”...? - Daisuke indagou, receoso do que aquilo queria dizer.
- Não creio que algo dessa responsabilidade continue na mão de vocês dois, depois de terem demonstrado tamanha falta de controle emocional e falta de respeito para com um de seus colegas. Por mais que Toshimasa provoque - e Hide pôs mais veemência na voz, pois Tatsurou abrira a boca para interrompê-lo outra vez -, não justifica que vocês queiram prejudicar as condições físicas dele ou pôr as de vocês mesmos em risco. Espero que vocês se conscientizem disso enquanto estiverem aqui e aproveitem pra se acertar, porque essa “birra” está tomando proporções desnecessárias.
XXX
Gara e Riki caminharam em silêncio pelo corredor do lado direito da Mansão das Cobras, até chegarem no quarto onde Asagi e Jui ficariam até se recuperarem dos tiros que tinham levado.
- Você sabe como começou a briga?
Riki ficou surpreso ao ouvir a voz baixa, meio rouca e nasalada da Coral; não só porque eles não eram próximos, mas porque ele conhecia aquela Cobra do mesmo jeito que a maioria pertencente ao Ninho: seu silêncio. - Entre Hara e Ochida?
Gara assentiu à pergunta, ainda que fosse óbvio. Não sabia a idade de Riki, mas às vezes tinha a impressão de que ele fosse o mais novo do grupo de serpentes. Além disso, ele costumava usar moletons grandes; o cabelo espesso e curto que chegava à nuca, às vezes cobrindo seus olhos; e ele tinha uma voz de eterno adolescente.
- Bem... eu não sei ao certo, mas parece que Toshimasa disse algo sobre o Daisuke não estar com suas... ahn... "namoradinhas" - ele baixou os olhos, mas Gara não demonstrou reação alguma; então continuou: - Aí o Daisuke disse algo sobre o Sanaka; eles continuaram se ofendendo... até o Karyu e o Tsukasa chegarem, porque eles iam começar a se bater.
A Coral voltou a balançar a cabeça, meio pensativo. Riki sentiu-se meio desconfortável por só ficar ali, ao lado dele, mas isso acabou quando uma Cobra de rastafari abriu a porta e quase esbarrou nos dois.
- Hey - Zero cumprimentou-os amigavelmente, mas estava sério. - Vocês sabem se o Hebi já chegou?
- Ele ainda não voltou - Riki respondeu, ao que a Cobra de branco soltou um muxoxo.
- Vieram para ver os feridos?
- Hm-hm.
- Ah, ótimo. Quem sabe assim o fedelho pára de reclamar. - o comentário partiu de Hizumi, que surgira atrás de Zero com um sorriso.
- Eu ouvi isso! - veio a voz de Jui de dentro do quarto.
- Era pra ouvir mesmo - Hizumi rebateu, mas riu. - Zero, até quando você vai ficar bloqueando o caminho? Ou você está tendo mais um de seus momentos autistas?
- O único autista aqui é você - empurrou-o com o próprio corpo de volta ao interior do quarto, o que arrancou risos por parte da menor das Píton Albinas ali.
- Gaaaara! - Jui exclamou ao vê-lo entrando, surpreendendo-o um pouco. - E Riki. Finalmente alguém pra me fazer companhia!
- Obrigado pela consideração - Asagi brincou, mas havia um sorriso em seus lábios. Cumprimentou os recém-chegados polidamente.
- Como estão?
- Eu não agüento mais de tédio - Jui suspirou, fazendo um quase beiço no final. - Mas fora umas dores de vez em quando, tô bem.
- Ele está insuportável, e faz só três dias - disse Asagi, que parecia lidar bem com seu atual estado.
- Dá vontade de dopar essa Cobrinha - Hizumi resmungou, brincando, e alguns deles riram.
- Não é vocês que estão presos numa cama e que não vão poder participar de Ação alguma durante um bom tempo!
- ...vou pedir pro Tatsurou vir aqui amanhã - Gara disse, olhando para Jui, que sorriu animado.
- Arigatou gozaimasu, Gara! Mas... Por que não hoje?
Asagi revirou os olhos; Zero e Hizumi falaram qualquer coisa sobre dar a mão e querer o braço; e Riki ficou olhando para Gara.
- Acho que ele está meio mal humorado.
- Meio? - Riki reagiu, antes que Jui tivesse a oportunidade de dizer que Tatsurou de mau humor era tão possível quanto o Hebi passar um dia sem sexo e bebida (não necessariamente nessa ordem). - Com aquele soco que ele deu no Toshimasa?!
- O QUÊEE? - Jui não escondeu sua empolgação pelo que acabara de ouvir. - Aquela Jararaca finalmente teve o que merece...!
Gara não pôde evitar um pequeno sorriso, confirmando a informação.
- E eu não estava lá para ver isso! Droga!
- Mas o Tatsurou devia estar feliz - Hizumi disse; Zero, Asagi e Jui assentiram com veemência. - Se eu tivesse um panaca pegando no meu pé desse jeito, já tinha dado uma surra em quem quer que fosse há muito tempo.
- Claro. Porque você é mesmo muito violento, Hizumi.
O Habu de cabelos curtos preferiu ignorar aquele comentário por parte de seu companheiro de branco.
- Acho que o Tatsurou vai ser punido - Riki comentou, esclarecendo o que Gara tinha dito. - Além disso, parece que ele e o Daisuke estão brigados.
- É verdade isso, Gara? - Asagi indagou, franzindo o cenho. Aquilo, sim, era estranho.
Gara ficou quieto, no entanto; não gostava da idéia de ficar falando sobre coisas que não lhe diziam respeito (nem aos que estavam ali presentes), muito menos quando isso envolvia seus dois amigos.
Hizumi não esperou que a Coral respondesse; ao invés disso, expôs sua teoria. - O que aqueles dois precisam é de uma boa transa.
- Exatamente! - Jui balançou a cabeça, concordando. Asagi apenas sorriu de canto; Riki riu um pouco; Zero resmungou alguma coisa sobre abstinência, olhando para o outro Habu ali presente; e Gara ergueu os olhos para o teto, fingindo que não tinha escutado nada.
Apesar de que, talvez, Hizumi estivesse certo...
XXX
- Até quando você vai ficar me evitando?
Já fazia uma hora e alguns minutos que eles estavam ali dentro, sozinhos, e até então ninguém tinha dito nada. Daisuke tinha esperado o tanto que conseguia, pensando que seria melhor deixar que Tatsurou começasse, mas pelo jeito aquele idiota não daria o braço a torcer tão cedo assim.
Tatsurou estava deitado no tatame, as mãos entrelaçadas atrás da cabeça e os joelhos dobrados, um dos pés batendo no sintético de vez em quando, fazendo um barulho sem ritmo.
Daisuke também estava deitado, mas ao contrário do outro, se espalhara no tatame, os braços largados a uma certa distância do tronco e as pernas balançando de um lado pro outro. Como não obteve resposta, no entanto, sentou-se. Um curto suspiro exasperado escapou de seus lábios e ele olhou fixamente para a outra Coral, decidido a resolver aquilo agora.
- Fala sério, Tatsurou. Não é por causa do Gara que você está assim comigo.
- Você fala como se tivesse certeza.
Daisuke sorriu de canto, porque pelo menos alguma coisa ele tinha conseguido. Mas ele logo ficou sério outra vez e levantou-se, indo até Tatsurou. Ajoelhou-se ao lado dele, os joelhos quase encostando na camiseta preta. Podia sentir o calor vindo daquele corpo. - Essa cara de quem comeu e não gostou não combina com você, Tatsu.
O mais alto quase sorriu então, assim como quase olhou nos olhos do outro, mas desviou os seus a tempo. - O que você quer, Dai?
- Eu achei que isso fosse óbvio.
Então Tatsurou se sentou, puxou-o subitamente pelo pescoço e os dois ficaram a centímetros de continuar o que Daisuke tinha começado há quase três dias.
Daisuke buscou o olhar de Tatsurou e ficou satisfeito por este finalmente encará-lo de volta. Ele sabia que era tudo por causa daquele beijo, que Tatsurou provavelmente ficara se debatendo por querer mais e achar que não devia. Não era bem nisso que ele estava pensando quando se referira ao que era óbvio; ele só queria “fazer as pazes”...
...mas não reclamaria se isso acontecesse com Tatsurou atacando sua boca com uma vontade feroz que o surpreendeu. Sentiu sua nuca sendo puxada de novo e entreabriu os lábios, que logo foram invadidos pela língua de Tatsurou.
Daisuke ia tocar no rosto da outra Coral, mas, cedo demais, aconteceu o que ele temia: Tatsurou recuou, balançando a cabeça, e levantou-se, fazendo um gesto vago com a mão como se dissesse que eles deviam parar. Não confiava na própria voz agora pra se expressar. Temia que fosse traído por ela, porque na verdade, ele queria continuar aquilo - e Daisuke sabia.
Sabia, e por isso levantou-se também, porque não deixaria que o outro interrompesse as coisas daquele jeito. Era muito pouco perto da ânsia que os dois tinham por mais.
Por isso Daisuke empurrou Tatsurou contra a parede mais próxima, aproveitando-se daquele momento em que a guarda dele ainda estaria baixa, e beijou-o com mais fervor ainda, terminando com uma mordida raivosa no par de lábios carnudos.
A respiração meio ofegante de Tatsurou acariciava sua pele quando os dois se encararam de novo, e os olhos de Daisuke cobravam uma atitude, fosse parar ou continuar.
As duas coisas poderiam trazer arrependimento.
Tatsurou optou pela segunda.
Grudou sua boca na de Daisuke e inverteu as posições, prensando-o contra a parede. Daisuke agarrou-o pelos ombros e arranhou sua nuca, os dedos se infiltrando pela gola da camiseta e apertando com firmeza o que alcançavam de sua pele. Tatsurou respondeu ao descer as mãos por seu corpo e puxá-lo pelo quadril, adorando o resultado daquele contato íntimo.
Daisuke não queria saber se estaria avançando demais; agora que tinha sido provocado daquele jeito, iria aproveitar enquanto pudesse. A mão em suas costas era quente através do tecido de sua camisa, mas ele queria mais; queria pele contra pele.
Como se lesse seus pensamentos, ou porque quisesse a mesma coisa, Tatsurou deixou seus dedos se infiltrarem sob a peça de roupa, causando arrepios em Daisuke por conta do toque meio hesitante, porém contínuo.
Tatsurou gostou de sentir tão de perto a reação do outro, e por isso seu toque tornou-se mais firme; deixou de beijá-lo na boca para explorar o pescoço à mostra, convidativo. Os arrepios foram substituídos por tremores que Daisuke não se deu ao trabalho de conter - queria mais era que Tatsurou percebesse o quanto estava sendo afetado pelos beijos úmidos que subiram até sua orelha, descendo então com uma lambida até seu ombro.
Daisuke ofegou; o barulho de sua respiração se repetiu quando Tatsurou apertou a região abaixo de seu quadril e logo uma perna sua estava enroscada no quadril do outro.
Tatsurou decidiu que deixar aquela Coral sem ar repetidamente era uma boa idéia. Esfregou seu quadril contra o de Daisuke e foi recompensado com um gemido seguido de uma ofegada mais forte, assim como por outra perna tentando se enroscar nele. Não teria ficado mais claro se Daisuke tivesse dito em voz alta; Tatsurou ajudou-o a completar o movimento ao puxá-lo por baixo das pernas, que se fecharam ao redor de seu tronco com rapidez, apertando-o entre elas.
Aí foi Tatsurou quem gemeu, e Daisuke não pôde resistir em beijá-lo de novo, afundando as mãos nos cabelos do mais alto e puxando-os, voltando a arrepiar-se por causa dos dedos que empurravam sua blusa para cima, acariciando e desnudando suas costas ao mesmo tempo.
- Eu até deixaria que vocês dois continuassem...
Ouvir a voz do Hebi a apenas alguns passos dos dois foi, no mínimo, um susto considerável para ambos.
- ...mas ficaria dividido entre permanecer aqui para ver o resto do show ou deixá-los a sós.
Ainda agarrado em Tatsurou, Daisuke arriscou abrir os olhos. Havia um sorriso de indelével malícia e diversão perversa nos lábios de Sakurai, que os fitava com... interesse, ou algo assim.
A Coral não sabia se considerava aquilo como algo bom ou não.
- Como tomarei apenas alguns segundos do tempo de vocês... você pode soltar o Daisuke agora, Tatsurou, e se virar pra mim.
O mais alto fez como "pedido" (ainda que houvesse um tom de ordem indiscutível na voz de Atsushi, algo que devia ser levado em conta). Pôs Daisuke de volta ao chão e se postou ao lado dele, ainda que tivesse levado algum tempo para reunir coragem e encarar o Hebi do jeito como Daisuke estava fazendo. Não era bem vergonha que Tatsurou sentia, mas um certo desconforto.
E frustração, claro. Algo que ele obviamente compartilhava com a Coral ao seu lado.
- Vocês estavam encarregados de abordar o Sakura amanhã e pôr em prática o que o Hide e o Uta explicaram.
Estavam. O tempo verbal escolhido pelo Líder das Cobras já dizia tudo o que seus dois subordinados precisavam saber.
- Porém, como ninguém aqui dentro tem privilégios... terei que passar a tarefa para outras Cobras. - Atsushi ficou sério, então, por causa do que diria a seguir: - E eu não gostei de ter que tomar essa decisão.
Daisuke mordeu o próprio lábio, sabendo que aquilo era sua culpa. Ele que tinha se envolvido na briga com Toshiya em primeiro lugar, ainda que aquela Jararaca sempre provocasse não só ele, mas as outras duas Corais também.
- Eu também ia pedir que vocês deixassem qualquer bobagem de lado e voltassem a se relacionar bem, mas vejo que isso não é mais necessário. - e o Hebi voltou a ostentar aquele sorriso de antes, o que só "piorou" quando Daisuke e Tatsurou deixaram de encará-lo, esbarraram no olhar um do outro e passaram a fitar o chão.
Sakurai virou-se e começou a andar em direção à saída, considerando a "conversa" por encerrada.
- Hebi!
Ele parou ao ser chamado por Tatsurou.
- ...e o Hara?
Atsushi sorriu outra vez, sem se virar para eles. - Por enquanto, ficará com um olho roxo e o orgulho ferido.
O Líder não deu chance para mais perguntas, e saiu.
- Foi... um belo soco que você deu - Daisuke disse, olhando para a Cobra ainda a seu lado.
- É... - e Tatsurou pareceu estranhamente sem saber o que dizer.
- Tá tudo bem, né? - a voz de Daisuke saiu meio hesitante; não queria que eles regredissem ao ponto de antes daquele... agarramento.
E também não queria pensar no que poderia ter acontecido caso eles não tivessem sido interrompidos, porque faria sua frustração aumentar algumas centenas de vezes.
Tatsurou assentiu, fitando-o nos olhos, porque compartilhava da vontade de que as coisas realmente ficassem bem. Mesmo que elas não pudessem mais ser exatamente as mesmas.
- Tatto...
- Vamos voltar? Acho que falta pouco pra janta e eu tô com fome.
Daisuke torceu o lábio. Preferia que eles conversassem a respeito do que tinha acontecido, mas temia a reação de Tatsurou caso o pressionasse, como das outras vezes que tentara tocar no assunto, ainda que agora o que podia ser um simples floco tivesse se transformado numa bola de neve.
De qualquer forma, seguiu Tatsurou de volta aos interiores do Ninho. Haveria outras chances; não era à toa que eles dormiam no mesmo quarto.
Era mais fácil pra conversar.
XXX
Nota by Mow: A cena da Mamba Negra dentro de uma mala de dinheiro e atacando o Kisaki foi, mesmo, inspirada no filme Kill Bill. Eu não assisti o primeiro e só assisti o segundo da metade pro final 8D, num dia que eu cheguei em casa da faculdade e tava passando na tv, acho que no início ou no meio do ano passado lol. Aí eu vi essa cena e imediatamente pensei: L&S, omfg! 8D *rola* Espero que isso não seja considerado plágio, mas sim uma homenagem; já que de punição indevida eu já tô cheia por enquanto. LOL
Informações sobre a Mamba Negra (seu veneno, como ele age quando alguém é picado e etc):
em inglês (e muito mais completo 8D) ou
em português.
E sobre a Laticauda Columbrina:
http://www.madsci.org/posts/archives/1998-10/908126330.Zo.r.html