Título: LIZARDS & SNAKES
Bandas: BUCK-TICK; X JAPAN; Dir en grey; Merry; Kagerou; MUCC; Nightmare; Luna Sea; Penicillin; Miyavi; La'cryma Christi; deadman; Creature Creature; Tomoyasu Hotei; PIERROT; Lareine; L'Arc~en~Ciel + outros.
Casais: AtsushixYoshiki/YoshikixAtsushi; KyoxGara; TatsurouxDaisuke; AtsushixHakuei; HoteixMorrie + outros.
Gênero: Ação, Humor, Romance, Drama, Yaoi/Lemon.
Classificação: NC-17
Sinopse: Notórias e poderosas, duas máfias rivais lutam pelo poder no submundo de Tóquio... (e do resto do mundo, ou até onde suas ambições permitirem) São eles: os LIZARDS, liderados por Hayashi Yoshiki; e os SNAKES, sob o comando de Sakurai Atsushi.
Autoras: Mô-chan e Scarlet Mana.
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24.
Side-stories:
O Natal dos Lagartos &
Confessions on a Lizard Floor Lista de Personagens:
Aqui. XXX
25. Oásis em Festa (parte II)
XXX
4:10 AM - [ quarto 13 - Yaguchi Masaaki, vulgo Miya ]
- Pensei ter dito pra você não mexer em nada.
Ryou riu, nem perto de se sentir culpado por ter sido pego bisbilhotando dentro de uma das gavetas do armário no quarto do Basilisco. Miya passou por ele e bagunçou os seus cabelos, afastando-se para tirar o terno preto e afrouxar o nó da gravata.
- Você não pode em sã consciência dizer para alguém "não mexa em nada". É praticamente implorar pra pessoa mexer. Além do mais, o que você acha que eu ia ficar fazendo durante meia hora no seu quarto? Nem tv tem aqui dentro.
Miya deu uma curta risada como resposta, jogando-se preguiçosamente em um largo pufe escuro. Checou um relógio na parede. A festa ainda duraria mais duas horas, no mínimo. A aranha fechou a gaveta e levantou-se, estudando o quarto com interesse. Era um quarto pequeno, com poucos móveis, porém bem decorado e impecavelmente arrumado. Não passou despercebido à atenção de Ryou o fato da maioria dos móveis e também as cortinas, roupas de cama e tapetes serem em tons de um marrom escuro ou preto. As paredes, por sua vez, tinham uma coloração vinho escuro. Mesmo os pequenos objetos por cima da cômoda pareciam combinar com todo o resto do quarto.
- Aa~, mas eu estou surpreso. É a primeira vez que entro no seu quarto. Acho que eu esperava algo diferente.
- Tipo um quarto bagunçado e -branco-? - perguntou o lagarto deitado, e Ryou sorriu, aproximando-se dele.
- Qualquer coisa que não fosse saída de uma revista de casa e decoração. Parece que ninguém mora aqui de verdade.
O rosto do lagarto pareceu ficar um pouco mais triste e pensativo.
- Foi o próprio Tokage quem decorou o quarto dos basiliscos. Às vezes eu acho que é de propósito... - pausou, considerando o que havia acabado de dizer. - ...não, eu tenho certeza de que é de propósito. É pra gente não se sentir nunca como se pertencesse aqui. Contraditório, né?
Ryou sentou-se no pufe em que o outro estava, quieto. Aquela era uma história que ele já conhecia, afinal. E sempre quando Miya tocava nela, a aranha perdia as suas palavras, e qualquer coisa que pensasse em responder pareceria inútil e boba. Nessas horas, inevitavelmente, eles sempre acabavam mudando de assunto, antes que o silêncio entre eles se tornasse pesado demais. Assim sendo, a aranha deitou-se por cima do outro, tirando uma arma diferente do bolso da calça e encostando-a no pescoço do basilisco.
- Não abaixe a guarda, lagarto! Não é porque aranhas fazem parte da sua dieta que elas não sejam perigosas como dragões de komodo, ouviu? - Ryou iniciou em um tom de ameaça fingida, e não aguentou por muito tempo a farsa. Diante do rosto inexpressivo do lagarto, não conseguiu mais segurar o riso.
- Ryou, minha stun gun, cara... coloca de volta lá! - o tom do lagarto era de quem havia acabado de ser traído. Quando Miya foi tentar tirar a arma da mão do outro, contudo, acabou pegando Ryou desprevenido. A pequena arma foi acionada por alguns segundos, acidentalmente, e Miya gritou de dor, empurrando a aranha para o chão.
Ryou permaneceu sentado no carpete, assustado. Observou Miya levantar-se, massageando a área atingida do pescoço, e ir até o armário, levando consigo a arma que no fim das contas ele havia conseguido pegar de suas mãos. O lagarto tirou uma chave pequena de seu bolso e abriu a única das gavetas, a maior delas, que encontrava-se trancada. A aranha seguiu-o, sentando no chão a seu lado. O basilisco posicionou a pequena arma de choque ao lado de uma série de outras que estavam um pouco longe de serem pistolas comuns.
- Desculpa, Miya-chan. Se eu soubesse que ela era forte, não ia ter feito uma brincadeira assim. Está tudo bem? - o tom da voz de Ryou pairava entre o preocupado e o culpado.
- Ela não é forte. E de qualquer maneira, só dói na hora, não se preocupa. - Miya esboçou um sorriso, surpreendendo o outro. Pegou uma das outras armas, que poderia ser praticamente confundida com uma pistola pequena comum. - Na verdade, eu queria te mostrar essas aqui.
- É uma... - os olhos da aranha se arregalaram, impressionados. - Whoa! É uma Taser!
- Aham... essa aqui tem 10 metros de alcance. Você pode atirar em mim com todas as armas de choque que tenho nesta gaveta. Mas se for uma Taser, acho que não dá pra continuar a amizade. - o basilisco riu, acompanhado pela aranha. - Essa é uma X26. São 50.000 volts. Você sabe o que é isso? Todo o nosso corpo só funciona através de uma comunicação feita por impulsos elétricos. Imagina a sobrecarga de uma conexão dessas, quando o teu corpo recebe essa tensão. Você vai preferir tomar um tiro de verdade.
- Ninguém fica de pé com uma dessas.
- Ninguém. Armas não letais... diga isso a quem ficou cinco segundos sob uma destas.
A atmosfera naquele quarto ficou subitamente pesada. Miya colocou a arma de volta na gaveta, sério. Ryou não estava mais sorrindo também.
- Foi com esta arma que você... - a aranha começou a pergunta, mas não teve a coragem de terminá-la.
- Sim, foi.
Ryou tinha o olhar perdido naquela coleção de armas, desnorteado.
- Miya...
- Tokage me deu a Taser. Mas não sem testar primeiro. - o lagarto desabotoou a camisa social preta que estava usando, tirando-a. No seu braço direito havia uma marca que assemelhava-se a uma queimadura forte. Ryou baixou a cabeça, sentindo um mal estar momentâneo. - Tokage e eu temos um contrato. Todas estas armas, eu ganhei pelo mérito de ter sobrevivido... a cada uma delas. Mas agora terminou. Finalmente terminou. Não preciso mais de armas novas. Esta foi a minha última cicatriz.
- ...
- Me desculpa por não ter contado, Ryou. Mas eu sabia que você não ia concordar.
Miya não tinha coragem de encarar o amigo nos olhos naquele momento. Esticou o braço direito, bagunçando os cabelos do outro de leve. O olhar de ambos pairava sobre uma foto antiga, colada na parte interna da porta daquele armário. Naquela foto, três garotos que não deviam ter mais do que 15 anos estavam dentro de um lugar que aparentava ser um restaurante. O do canto esquerdo, bem mais retraído e sério que os outros era Miya.
- Você é um idiota, sabia? - a voz de Ryou era baixa e triste. - Não se faz esse tipo de coisa por alguém que sequer está esperando por você.
- Eu sei. - o lagarto concordou. Ryou percebeu o afastamento do outro e viu Miya deitar-se no carpete sobre o qual sentavam, a cabeça descansando em cima de uma de suas mãos. O basiliscou notou o olhar da aranha sobre si, e encarou-o com desafio. - Ele pode não estar esperando. Mas o que -você- está esperando, Ryou?
Ryou segurou um riso contrariado. Mesmo tendo sido pego de novo, desta vez na admiração do corpo daquele belo basilisco, a aranha não tinha a menor força de vontade para desviar ou disfarçar o foco do seu interesse.
- Yaguchi, eu mandaria você se foder se eu não estivesse tão louco pra ter isso eu mesmo. - aquele era um dos poucos momentos em que Ryou podia ver o amigo largando a sua expressão séria de sempre e rindo com gosto. - Você quer saber mesmo o que eu estou esperando? Que você acorde pra realidade, perceba que você está sendo controlado por um cara que tem perturbações mentais, e então faça as malas e venha pra Teia junto comigo porque o meu quarto tem uma cama extra.
- Tentador, mas acho que eu vou recusar a oferta. De novo. - alguém que não tivesse contato com o lagarto teria se ofendido pela sinceridade séria de suas palavras. Ryou, no entanto, já compreendia aquele natural modo de ser do amigo. Sendo assim, apenas revirou os olhos e sorriu, aceitando a derrota. - Ryou, não minimiza as coisas. Não é questão de eu ser um lagarto, uma cobra ou uma aranha.
- Eu sei. Mas você podia levar uma vida melhor do que essa.
- Eu podia. Mas não é a mudança pra sua máfia que vai fazer isso. Garanto que nem todas as aranhas da Teia levam uma vida boa como a sua. Exceto, claro, pelo líder e sublíder.
Ryou tinha acendido um cigarro e naquele momento expelia pensativo a fumaça da primeira tragada.
- Bom, você não vai negar que as coisas por lá são bem mais tranquilas do que por aqui. Só estou te dizendo que se você precisar cair fora, eu tenho como te ajudar. Você sabe que o Kirito me deve -muitos- favores.
Miya voltou a sentar-se, roubando o cigarro das mãos do outro:
- Eu sei. Mas ainda é muito cedo pra eu precisar disso.
- Beleza, então torça para que Tokage não faça alguma ligação entre aquele muquifo em que você morava e as cobras, e descubra que você tem relação com pelo menos duas delas. Você precisa de um plano pra caso aconteça merda.
- Eu já tenho meus planos reservas, Ryou. Mas você vai ficar fora disso. Já se envolveu demais nessa história. - Miya desviou o olhar do mais novo, e foi nesta brecha que o lagarto sentiu uma dor aguda no braço, resultado de um cigarro apagado contra a sua pele. Miya segurou o palavrão de protesto que estava prestes a por pra fora, diante da expressão indignada do outro:
- Pára de tentar bancar o cara legal comigo. É um porre. - Ryou resmungou, impaciente. - Não tem como eu me envolver mais do que isso.
Encararam-se.
Naquele momento Ryou perguntava-se como Miya conseguia ser dono de um olhar tão intenso, como se pudesse ler todos os segredos escondidos da aranha. A pergunta que o lagarto lhe fazia silenciosamente era: "Você tem certeza disso?". Contudo, Miya não precisava fazê-la em voz alta. Ele fazia através do seu olhar, através da mão com a qual puxou a gola da camisa de Ryou, trazendo o seu rosto a centímetros do dele. Através da boca com a qual cobriu a de Ryou de modo rude, violento. Através do corpo com o qual prensou o outro contra o carpete aveludado carmim escolhido pelo Líder dos Lagartos.
Ryou sabia que não se provocava basiliscos. Mas ele não podia evitar, quando ele obtinha resultados tão... interessantes.
Envolver-se?
Era um preço justo a ser pago.
4:25 AM - [ Biblioteca do Oásis ]
- Esperando por mim?
O Monstro de Gila não esboçou maiores reações diante do ar superior e satisfeito do Dragão de Komodo. Niikura Kaoru fechou a porta atrás de si, eliminando uma boa porcentagem dos barulhos festivos que chegavam até os dois naquele aposento.
[Curiosamente, algum tipo de transformação peculiar ocorria naqueles dois répteis a cada vez que encontravam-se sozinhos em um mesmo ambiente. O senso comum poderia sugerir que duas pessoas em uma situação deste tipo sentiriam-se mais à vontade, talvez fazendo uso de um linguajar mais informal....]
- Yoshiki, estão todos esperando. Alguns lagartos estão cansados da Ação e me pediram permissão para se retirarem mais cedo. Mas ainda assim, eles estão esperando por você.
- Você é um deles, Kaoru? Está com sono? - rebateu irônico o Líder dos Lagartos, segurando uma taça de whisky quase no fim em uma das mãos. Aproximou-se, divertindo-se com os claros sinais de incômodo do mais novo, cujo corpo pareceu retrair-se diante do quase contato entre suas roupas.
[O senso comum talvez também apontasse um tratamento mais cordial e despreocupado em situações como aquela...]
- Desde quando você se preocupa com o meu bem estar? - se Yoshiki surpreendeu-se com a acidez presente na voz de seu subordinado, o que havia de fato acontecido em certo nível (e o satisfazia profundamente, diga-se de passagem), não houve demonstração alguma. O Líder deu um meio sorriso, utilizando a mão livre para arrumar a dobra da gola do sobretudo de Kaoru.
[...porém, este tal senso era um ingrediente estranho ao relacionamento daqueles dois lagartos. Ele ia de contrapartida à tensão da atmosfera que erguia-se como uma muralha entre aqueles dois homens, resultado da soma de fatores como sadismo, lealdade e profundo rancor. E talvez algo mais.]
- O que você quer que eu toque para você hoje, Kaoru? - Yoshiki havia ignorado a pergunta anterior propositalmente, na tentativa bem sucedida de irritá-lo. Pronunciou o nome do outro ao final da frase com mais lentidão, as sílabas dançando prazerosamente em sua língua. Yoshiki tinha consciência dos sentimentos danosos que o outro lagarto carregava dentro de si; por isso mesmo, brincava com eles, e os utilizava em favor próprio. O olhar que Kaoru lhe devolveu foi perigosamente familiar, um grau prosaico na escala do ódio. Não havia palavras para descrever como o Líder deliciava-se com reações como aquela. - Me sinto generoso hoje. Pode escolher.
- Toque a Dance Macabre. - Kaoru respondeu sério, abrindo a porta e estendendo seu braço esquerdo na direção do Salão Nobre, num convite respeitoso e mecânico para que Tokage prosseguisse. - Por favor, nos proporcione um bom concerto, Tokage.
Tokage observou a porta aberta, sorrindo com ironia. O retorno da formalidade artificial... claro. Passou pelo outro, sem olhar para trás.
- Será um prazer. Continue com o bom trabalho, Niikura Kaoru.
A vingança era realmente uma das melhores formas de escravidão.
4:25 AM - [ Salão Nobre ]
Quando Hayashi Yoshiki surgiu no Salão Nobre, todos encontravam-se sentados nas poltronas e cadeiras que rodeavam a área com o piano. As expressões eram diversas, contudo todos os olhos estavam postos sobre o Líder, e um silêncio coletivo acabou sendo inevitável quando este sentou-se ao piano. Morrie e Kirito, que ali também estavam, não podiam deixar de encarar aquilo tudo com uma curiosidade submissa; era como se fossem intrusos, turistas em um outro país que não o deles. Yoshiki sabia disso, e não utilizava de métodos para que ambos se sentissem de outra forma que não fosse intimidados.
Assim que as primeiras notas de alguma melodia familiar começaram a ecoar pelo Salão, duas iguanas pequenas surpreenderam-se pela chegada de uma terceira, que sentou-se devagar, procurando não fazer barulho e tampouco ter a sua chegada notada por mais alguém. Hitsugi arregalou os olhos, cutucando de leve o recém-chegado. Mako devolveu ao pequeno um sorriso tranquilizador, que ele sabia não ter sido muito convincente diante do rosto pensativo com o qual ele sabia que havia chegado até ali. Explicações, no entanto, teriam que ficar para uma outra hora.
Preocupações apenas serviriam para desperdiçar uma Festa como aquela, afinal de contas.
4:29 AM - [ Cozinha ]
A única coisa que atingia aquele aposento era um som abafado de piano, adentrando pela porta semi-cerrada e atingindo os ouvidos do rapaz que ali estava. Ele sabia que aquilo significava que o concerto havia começado, mas não esboçou qualquer reação ou o menor interesse em apressar-se para assisti-lo. Ao contrário, preparava caprichosamente um drinque para si próprio, com doses generosas de...
- Absinto?
O loiro interrompeu sua tarefa minunciosa, levantando uma sobrancelha e fazendo uma leve careta de desgosto diante de uma das vozes que mais tinha o poder para irritá-lo dentro da Toca. Não existia uma explicação biológica plausível para o fato de que algumas espécies de lagartos simplesmente não conseguiam se dar bem. O que lhe irritava era que, justamente quando ele tinha decidido aproveitar a Festa, fosse tão desagradavelmente interrompido no meio de uma de suas atividades favoritas: alcoolismo. Optou por continuar de costas e ignorar o intruso indesejado, e só então ouviu os passos dele, movendo-se rumo a outra ponta da cozinha e parando diante do balcão da Adega.
- Ora, se não é o gecko... há quanto... tempo. Estávamos mesmo na mesma Ação, há poucas horas atrás? Não lembro de ter visto você. Estava se escondendo? - pronunciou o recém-chegado, com notável tom de zombaria na voz. Agora estavam um de frente para o outro, mas o loiro que preparava o drinque estava bastante decidido a evitar qualquer tipo de contato visual.
- O que há, não deveria estar bancando a groupie do Yoshiki agora? Ou alguém tomou o seu lugar na presidência do fã clube, Kamijo? - retorquiu sarcástico o loiro apreciador de Absinto, entre dois goles da bebida pura que havia sobrado em uma das garrafas. Ao devolver a garrafa à mesa, finalmente encarou o outro loiro com o tipo de olhar que exigia cuidado extremo aos que ousassem se aproximar. - Sabe como é, passar tanto tempo fora assim... alguém pode tomar o seu posto.
- Você, por exemplo, Hakuei? - indagou Kamijo, lançando um olhar minuncioso ao outro, dos pés a cabeça.
O lagarto apreciador de absinto soltou um riso engasgado, visivelmente falso e irônico.
- Nem nos meus piores pesadelos. Não, obrigado. Você executa muito melhor a tarefa de puxa-saco.
Houve um pesado momento de silêncio em que Kamijo aproximou-se a passos pesados e, de maneira lenta e desafiadora, tomou o copo preparado por Hakuei e deu um pequeno gole, provando da bebida. Hakuei parecia pronto a socá-lo a qualquer instante, mas curiosamente, não o fez. Nem mesmo quando observou que a reação do lagarto havia sido uma expressão clara de nojo, e a forma como ele havia devolvido o copo à mesa claramente não tinha sido delicada como a forma que ele o retirara.
- Péssimo. Por isso Yoshiki não gosta de absinto.
- Delicioso. Por isso absinto tem um gosto melhor ainda.
Encararam-se longamente, e o clima pesado era tão denso que qualquer lagarto que resolvesse buscar alguma bebida naquele instante rapidamente mudaria de idéia e retornaria correndo ao concerto do líder dos lagartos.
[Do lado de fora:
Hitsugi: Que houve, Yomi, não ia buscar mais aperitivos?
Yomi: Ahn... de repente fiquei sem fome.
Mako: Quem está aí dentro?
Yomi: Kamijo. Hakuei.
Hitsugi: Ouch. Espero que não quebrem muita coisa dessa vez.
Yomi: ...
Mako: Devemos ouvir?
Yomi e Hitsugi: Sim. =D]
- O que andou fazendo pra se ausentar tanto tempo da Toca e ficar longe do seu querido Tokage?
- Estive trabalhando. Investigando. Nada que pessoas como você tenham a capacidade de executar direito.
[Yomi: um a zero pro Kamijo.]
- Oh. Estou profundamente ofendido. Talvez eu devesse ir pra um quarto e chorar. Só me fale qual quarto você e o Yoshiki vão -usar- depois da festa para matar as saudades, porque com certeza não vou querer estar nesse.
[Hitsugi: ... wow.
Mako: ...]
- Heh. - Kamijo sorriu, sarcástico, passando a mão pelos cabelos. - Você -adoraria- saber.
- Na verdade eu acho a imagem mental dos meus avós fazendo sexo muito mais excitante do que vocês dois.
[Mako: ... até que ele é bom.]
- Oww... - zombou o loiro de olhos azuis, e ambos entreolharam-se, rindo brevemente.
- Você cortou o cabelo, huh. Cansou de ser confundido com uma puta francesa?
- E você, está mais alto, não? Nessa idade os garotos crescem tão rápido...!
Hakuei riu, e não dava pra distinguir a irritação duma verdadeira exibição de algo mais remotamente ligado ao bom humor. Na pausa que se seguiu, ouviram durante alguns segundos o som do piano vindo do Salão. Chopin.
[Yomi: Empate no primeiro round. Alguém a fim de fazer uma aposta? 50 pilas no Kamijo.
Hitsugi: Não tenho muita certeza..
Mako: ....]
- Então, quanto tempo vai ficar, Kamijo? Uma semana, dois dias.. oh, já está de saída ? :D
[Hitsugi: Acho que eu vi uma veia do Kamijo saltando.]
- Para a sua extrema alegria, pelo menos três meses. - respondeu, sarcástico. - Talvez -você- devesse sair de férias. Permanentes.
[Yomi e Mako: wooo.....]
- Talvez. Quanto você me pagaria para eu não ser obrigado a ver a sua cara todos os dias pelos próximos meses?
- Absolutamente nada. Tenho coisas mais importantes a fazer com o meu dinheiro do que gastá-lo com você, Hakuei.
- Claro. Presumo que seja você quem pague a conta do Motel pro Yoshiki.
[Mako: 100 pilas no Hakuei.
Yomi e Hitsugi: ???!!!!]
- É o único lugar que você conhece, não é. Trabalhava em um antes de fazer parte da Toca?
- Sim. A sua mãe, inclusive, era uma das minhas 'garotas'. Aliás, além de pagar o motel, você também compra uns brinquedinhos? Chicote, amarras? Você tem cara de quem curte essas coisas.
[Yomi: o Mako tem cara de quem curte essas coisas também.
Mako: como é?!]
- Por que o interesse? Vai tentar me agradar?
- Nem em seus sonhos mais molhados.
Nova pausa. Hakuei voltou a beber, e desta vez só parou quando o copo estava completamente vazio, virando-o de uma única vez. Kamijo assistiu com atenção enquanto a língua de Hakuei provava uma gota restante que havia sobrado em seus lábios.
- Me diz, Hakuei, como é estar na puberdade? Sua voz já mudou? ... já aumentou de tamanho ? - sorriu, entre a malícia e o sarcasmo.
- Você -adoraria- saber. - imitou Hakuei, lambendo malicioso um dos dedos que havia se molhado com o álcool.
[Yomi: isso tá começando a ficar meio estranho..
Hitsugi: ahan.]
- Me desculpe, eu não tenho nenhum tipo de tara por crianças. - cortou o loiro de olhos claros, causando visível irritação no outro lagarto, que já enchia novamente o seu copo com mais Absinto.
- Tem razão. Elas teriam que ser passivas, e acho que você não tem muita experiência em estar -por cima-. - Devolveu acidamente Hakuei. - Yoshiki nunca lhe deu uma chance, não é?
Kamijo respondeu com silêncio e um olhar perigoso demais para ser ignorado. O que Hakuei optou por fazer, fingindo-se de sonso e bebendo tranquilamente. Lá fora, o pianista iniciava uma peça que provavelmente era composição do próprio Tokage.
- Bebidas vulgares deixam a língua mais insolente, pelo visto.
- Para os que não são frescos de agüentar um bom absinto, yeah.
Kamijo levantou uma sobrancelha, contrariado.
- Está insinuando que eu não consigo tomar esse -suco- aí?
- Só estou falando que realmente não é a mesma coisa que licor de cereja, meu caro.
Irritado, Kamijo posicionou um copo vazio com certa força entre ambos, e demandou desafiadoramente: - Encha.
[Hitsugi: competição!
Yomi: Algo me diz que isso não vai acabar bem.
Mako: O que eles são, crianças? Foi assim que quase destruíram o Salão da última vez.]
Quando Hakuei estava prestes a encher o copo do lagarto rival, um outro lagarto magro e alto adentrou pela outra porta lateral daquele aposento, barulhentamente, abriu a geladeira e retirou uma garrafa de água, dando um olhar desaprovador e irritado aos dois loiros que ali estavam:
- Oh, peloamordedeus. Vão logo prum quarto.
Diante do olhar embasbacado e confuso que lhe foi devolvido, parou o que estava fazendo apenas para responder da mesma maneira mal humorada com que havia falado antes aos dois lagartos:
- Em vez de agir feito duas crianças pirracentas, vão para um quarto logo e tirem isso do seu sistema. É patético...
Retirou-se, saindo pela porta oposta, trombando com as iguanas curiosas e dando-lhes uma bronca por não estarem prestigiando o concerto de Yoshiki. Estas resolveram realmente retornar ao salão, sobrando na cozinha dois lagartos bastante pensativos e confusos, bebendo absinto em silêncio.
[Yomi: E no final, quem ganha a competição é Sugihara! Surpreendente, senhores lagartos~...
Hitsugi: Meio perturbador isso.
Mako: Isso não é perturbador. Yomi de saia é perturbador. Isso é apenas... exótico.
Yomi: Oh. -Obrigado-, Mako. Muito gentil da sua parte.
Hitsugi: Mas eles parecem -realmente- se odiar.
Yomi: Bom, algumas vezes o ódio é uma maneira de encobrir huh... tensão sexual?
Mako: Bem, você e Hitsugi com certeza brigam bastante.
Hitsugi (vermelho): ...
Yomi (considerando): hmmmm......
Hitsugi (mais vermelho ainda): Já chega de brincadeira, ok!]
6:07 AM - [ Salão Nobre do Oásis ]
Cerca de uma hora depois de findo o concerto, os lagartos começaram a dispersar-se. Enquanto alguns poucos permaneceram no Salão ou em outros ambientes da casa, bebendo e conversando, outros resolveram que já tinham tido festa demais por uma noite só.
Ando Daisuke foi o primeiro a pedir permissão para recolher-se, cansado devido a seus ferimentos. Após ele, Sugihara também retirou-se, provavelmente preocupado demais com os problemas do depósito para conseguir relaxar. Morrie e Yoshihiko retornaram ao ninho dos escorpiões, e Kirito à Teia. Yuki também havia retornado ao quarto, mas mais por preocupação pelo seu companheiro do que cansaço de fato. O Líder dos Lagartos também havia saído do Salão Nobre, mas este com certeza seria o último a dormir: muitos acertos acerca da última Ação ainda precisavam ser revistos, e Tokage ainda tinha energia de sobra para tais procedimentos.
Enquanto a Festa acabava para alguns, porém, para outros ela ainda se prolongaria um pouco mais.
Hakuei acendeu um cigarro e deu uma tragada lenta e profunda, afundado numa confortável poltrona com estampa de pele de onça. Havia ali uns poucos lagartos além dele próprio; duas pequenas iguanas que dormiam profundamente num outro sofá daquela sala, a menor delas usando o ombro da outra como travesseiro. Mako havia adormecido também, com um livro aberto no colo. A Toca começava a ser envolta por um silêncio que aumentava em intensidade junto com os primeiros sinais do amanhecer que podiam ser notados janela afora.
Distraído, e com os sentidos mais entorpecidos devido à grande quantidade de álcool que havia ingerido naquela noite, o loiro só percebeu com um bom atraso que alguém havia se sentado no braço da poltrona, bem próximo dele, quando esta pessoa roubou com suavidade o seu cigarro, tragando-o. Era Kamijo.
- Achei que você não fumasse. - observou o lagarto sentado, recebendo logo de volta o objeto que lhe fora 'roubado'.
- Estou bêbado. Não faz diferença. - respondeu devagar, e não havia mais a agressividade de antes que empregava com Hakuei. Seu rosto estava levemente corado, e apenas pela sua proximidade, Hakuei já sabia a bebida que havia modificado um pouco a atitude geralmente esnobe de um dos lagartos mais confiáveis do Tokage. - Você sumiu depois daquela hora. Onde foi?
- Chisato estava com dor. Os analgésicos acabaram, então fiquei fazendo companhia até ele conseguir dormir.
- Ouvi falar... foi na Ação do Cassino, não? Leva muito tempo pra ele se recuperar? - perguntou, recostando-se na poltrona.
- Um mês, acho. - o tom de embriaguez na voz acusava que provavelmente esse não era o tempo correto.
Um momento longo e de um silêncio estranho seguiu-se. Hakuei reparou que seus braços estavam se tocando, e que havia uma tendência de Kamijo a desequilibrar-se e apoiar-se em cima dele. Porém, por algum motivo, naquele momento isso não causava incômodo algum. Havia algo na consciência de Hakuei que lhe dizia que ele devia estar preocupado com alguma coisa, mas naquele instante simplesmente não conseguia se lembrar do que era. Talvez não fosse tão importante assim.
- Yoshiki...? - perguntou o loiro fumante, apagando o restante do cigarro no cinzeiro da mesinha ao lado. Mesinha esta que exibia uma garrafa de absinto completamente vazia.
- Discutindo algumas coisas com Niikura, acho. Não deve demorar muito.
- Oh. Está esperando por ele? - Hakuei perguntou, e teve a impressão de que o rosto de Kamijo ficou um pouco mais corado do que estava há alguns segundos atrás.
- Não tenho a chave do meu quarto, só isso. Deixei com ele antes de me ausentar. São as regras...
Silêncio.
- Pode... - iniciou Hakuei, a voz um pouco mais embargada que antes. - ficar no meu quarto. Se quiser.
Kamijo pareceu acordar de algum transe, e se pôs a pensar no que achava ter ouvido, mas o que achou estranho era que o que mais considerava era se o outro loiro tatuado estaria ou não naquele quarto também. Antes que pudesse finalizar suas considerações, no entanto, foi pego por uma nova questão de Hakuei:
- Hmm... aquilo que o Sugizo disse... você acha que faz algum sentido?
Piscou, desnorteado. Encarou-o, e percebeu que a intensidade com que Hakuei lhe devolvia o olhar era diferente de todas as outras vezes.
- Eu não sei. - respondeu Kamijo, apenas para perder mais uma vez o chão diante de mais uma pergunta perniciosa do loiro ao seu lado:
- Quer descobrir?
Ah, o innuendo de Hakuei. Ou seria o excesso de absinto? Qualquer que fosse o motivo, o resultado, na forma de um incômodo indevido na região baixo-ventre de ambos os loiros, estava lá.
Talvez eles devessem explorar mais a fundo o questionamento de Sugihara.
Minutos depois, quando Niikura Kaoru surgiu na sala segurando um molho de chaves na mão, nenhum lagarto sabia lhe dizer onde estava Kamijo. Hakuei também havia sumido, mas nenhum lagarto daquela Toca cogitaria a possibilidade de que ambos estivessem no mesmo local, tampouco no mesmo quarto... o que se dirá da mesma cama.
Afinal, geckos e anolis se odiavam.
Pelo menos aqueles livres da influência de Absinto.
XXX
Continuação do Capítulo 25