Título: LIZARDS & SNAKES
Bandas: BUCK-TICK; X JAPAN (/solo works); Dir en grey; Merry; Kagerou; MUCC; Asagi; Hotei Tomoyasu; Creature Creature; Nightmare; Gazette; Sugizo; Penicillin; L'Arc~en~Ciel; Miyavi; Kisaki Project; La'cryma Christi; deadman; Kirito; Psycho le Cemu; Lareine; Fatima + outros.
Casais: AtsushixYoshiki/YoshikixAtsushi; KyoxGara; TatsurouxDaisuke; AtsushixHakuei; HoteixMorrie + outros. (One-sided: HitsugixYomi; MakoxYomi; HakueixChisato; DiexKaoru; YoshikixSugizo)
Gênero: Ação, Drama, Romance, Humor, Yaoi/Lemon.
Classificação: NC-17
Sinopse: Notórias e poderosas, duas máfias rivais lutam pelo poder no submundo de Tóquio... (e do resto do mundo, ou até onde suas ambições permitirem) São eles: os LIZARDS, liderados por Hayashi Yoshiki, e os SNAKES, sob o comando de Sakurai Atsushi.
Autoras: Mô-chan e Scarlet Mana.
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19,
20,
21,
22.
XXX
23. The Museum (Final Part)
XXX
Passos curtos e leves, meio hesitantes, o levaram ao longo do corredor escuro, em direção à luz que vinha da porta do escritório. Seus pés descalços volta e meia paravam e ele olhava ao redor de si, olhos pequenos piscando para espantar o sono e se certificando de que não havia nada assustador à sua volta. E ele estava a apenas alguns metros de chegar ao lugar mais seguro do mundo, então ele não tinha nada a temer, não é?
Atravessando o espaço que faltava, ele adentrou o escritório, vendo que a pessoa que procurava continuava sentada à escrivaninha, folheando um daqueles arquivos de que ele tanto tinha ciúmes.
- Papa?
- Hiroki! Você não tinha ido dormir? - e o mais velho desviou a atenção daquele monte de folhas para fitar o garoto de quase três anos de idade, que se aproximou dele, pondo as mãozinhas em uma de suas pernas.
- Vamos ao parque amanhã, papa? Você disse...
Ele pegou o garoto no colo e respirou fundo, passando uma mão no rosto como que para espantar o sono que sentia. Fazia alguns dias que ele sempre ia dormir tarde, e seu organismo começava a protestar pelas horas a menos que passava na cama, acostumado que era a ter boas horas de sono. - Nós vamos, sim. Papa só precisa terminar de estudar umas coisas e já vai dormir, ok?
Hiroki assentiu, mas sua atenção estava fixa na pasta aberta diante de si, mostrando uma figura que ele reconhecia como sendo a de uma chave, mas uma bem diferente das que ele estava acostumado a ver. - O que é isso, papa? - ele perguntou, inclinando-se pra frente e pondo as mãozinhas na borda da mesa como apoio.
- Uma chave que leva a um tesouro - ele disse, afagando os cabelos do filho. - Mas agora não é hora de falarmos sobre isso, Hiroki. Por que você não está na sua cama? Mama não tinha lido uma das histórias de que você tanto gosta?
- Você sabe que ele prefere quando você conta, Hyde - e os dois que estavam no escritório olharam para a porta do mesmo, onde agora estava a mulher da casa, olhando com ternura para eles. - Mas vamos, Hiroki. - ela disse, estendendo as mãos para o garoto. - O papai tem trabalho a fazer, e ele já vai com você ao parque amanhã, então não há do que reclamar, certo?
Hiroki pareceu dividido entre acatar as palavras da mãe e pedir para que o pai deixasse o trabalho de lado por alguns minutos, mas pareceu decidir pela primeira opção. Quando ele fez menção de que queria descer do colo do pai, sua mãe veio pegá-lo, e Hyde levantou-se, dando um beijo na bochecha do pequeno e outro nos lábios da esposa.
- Eu já vou dormir, ok? - ele disse, e ela assentiu, levando o garoto de volta para o quarto deste. Hyde passou uma mão nos cabelos e respirou fundo outra vez. Se dependesse de sua vontade, ele estaria dormindo agora, depois de contar uma história a Hiroki e aproveitar a noite com sua mulher, pois não era sempre que ela estava em casa, devido ao turbulento trabalho como modelo.
Mas sabia que, mesmo que deitasse na cama, não conseguiria dormir enquanto não montasse o quebra-cabeça entre o roubo da chave, o cassino, Koyasu, o seqüestro de Juka e Kazuno, e aquele museu.
XXX
- Quietinho, Sakurai Atsushi. Agora, largue suas armas no chão e me entregue a chave.
Há. Como se o Hebi fosse se render assim tão fácil.
Atsushi estava claramente encurralado, e ele sabia disso. Mas tinha dois de seus homens não muito longe dali, um comunicador ainda ligado e uma falta de medo que nessas horas era muito útil. Se Tokage pensava que ele fosse seguir aquela ordem só porque tinha uma arma apontada por trás e outra pela frente, estava muito enganado. Além disso, o covarde ali era o líder dos Lagartos, se ele precisava da ajuda de outra pessoa ao invés de agir como homem e encará-lo um a um, frente a frente.
Não que a respiração contra sua nuca fosse algo totalmente desagradável, mas infelizmente este não era o momento para prestar atenção em detalhes como aquele.
- Se você quer tanto a chave, Tokage - Sakurai dirigiu-se ao Lagarto atrás de si com o mesmo veneno que sempre usava para pronunciar aquela última palavra, e sorriu de canto ao ver o cenho do que estava a sua frente se franzir. - Pegue-a você mesmo. - e Atsushi manteve o ar de superioridade desafiadora no rosto enquanto encarava o Lagarto mais baixo, sabendo que Hide ouviria suas palavras e que o que quer que acontecesse dali pra diante, não tardaria a ser interrompido pela chegada de duas de suas melhores Cobras.
O líder das cobras sentiu a resposta de Tokage traduzida num puxão mais dolorido dos seus cabelos escuros, e no sentir da respiração impaciente do lagarto mais próxima de seu ouvido.
- Eu não esperava mesmo que você fosse facilitar e ser um bom perdedor, Hebi. - sussurrou Hayashi Yoshiki num tom de ameaça, o 'título' de seu rival sendo pronunciado com descaso e sarcasmo semelhante ao que vazava da boca daquela cobra a cada vez que se abria. Yoshiki pressionou o cano da arma contra a nuca do outro, reforçando sutilmente a ameaça de que ele não hesitaria em atirar caso o outro fizesse qualquer movimento, por menor que fosse. Não era agora que ele ia perder neste jogo.
- Niikura. A chave. - Duas palavras pronunciadas com um claro tom de controle, que por si sós bastaram para formar a ordem desejada. Tokage viu o sublíder aproximar-se, cauteloso e obediente. Não deixou de perceber, porém, o leve esboçar de desagrado do lagarto mais jovem assim que ele entendeu a ordem, e sorriu consigo próprio. Niikura aproximou-se, pistola em punho na mão esquerda. Se estava relutante ou receoso, era certamente muito bom em não deixar isto transparecer. Yoshiki sabia. Não havia outro motivo pelo qual havia 'adotado' aquele lagarto para controlar a Toca sob as suas ordens, senão a certeza de que sua competência para o trabalho. Lealdade? Uma questão à parte, certamente.
O Monstro de Gila sentiu o olhar arisco da Cascavel sobre si, e desviou o rosto com desprezo, arrancando um riso contido do outro homem de branco ali presente. Analisou a roupa preta do homem a sua frente, procurando por bolsos externos visíveis e mais acessíveis, os quais ele pôs-se a examinar com a mão que tinha livre. Inspirou um tanto mais irritado, após encontrar nada além de papéis, um maço de cigarro e isqueiro. Pressionou então o cano da arma contra o peito de Atsushi, para poder tatear com mais facilidade a área onde ficariam os bolsos de uma calça, apenas para descobrir, é claro, que o líder das Cobras...
Niikura Kaoru e Hayashi Yoshiki trocaram um breve olhar, e ambos os lagartos podiam praticamente -ouvir- o Líder das Cobras...
...sorrindo.
- Qual o problema, Kaoru?
- A chave. Está aqui.
- E...?
- É... um bolso -interno-. Não é um bolso comum. Este fica do lado de dentro... da calça.
Tokage levantou uma sobrancelha como quem tivesse acabado de medir o nível de absurdidade da situação. E pôde ouvir, bem baixinho, um murmuro que ele sabia muito bem ser proveniente dos lábios de uma certa cascavel. Voltou a encarar o sub-líder, que pareceu entender bem a sua mensagem, pois puxou com a mão esquerda mais uma pistola de dentro do casaco branco, resultando em duas armas apontadas na direção da cabeça de Atsushi.
- O que há, Hebi? Acha que eu tenho medo de 'bolsos internos'? - sorriu cinicamente contra a orelha direita de seu rival, introduzindo a mão direita pela lateral interna da calça social preta do seu atual 'refém'. - Por mim, você podia ter engolido a chave. Mas talvez não fosse tão interessante desse jeito, não é?
Não demorou muito para que através do tato Tokage encontrasse a abertura para o bolso, e seus dedos fecharem-se em volta da difamada chave, tirando a mão daquele apertado bolso interno. A seguir, subiu a mão com a chave posicionada entre os dedos lateralmente, o que resultava em arranhões nada ocasionais do metal na pele do outro.
E foi nessa hora que os primeiros tiros vieram. Atsushi não pôde reclamar da falta de discrição de Hide e Uta na aparição dos mesmos, pois não havia como eles terem combinado qualquer coisa; além disso, a momentânea surpresa de Kaoru e Yoshiki bastou para que ele pudesse se abaixar, catar sua arma - que o Lagarto-líder havia obrigado-o a derrubar no chão anteriormente - e, em movimentos rápidos e sinuosos, afastar-se daqueles dois répteis que tinham conseguido tirar a chave dele.
Dizer que o Hebi estava furioso por causa disso era pouco, muito pouco. Por isso que vários tiros foram dados na direção daqueles dois homens de branco, que de alguma forma conseguiram escapar. Ou se esconder.
Tudo estava escuro demais para saber, agora que não havia mais a lanterna do sub-líder dos Lagartos para iluminar aquele corredor.
Vários xingamentos escaparam da boca do Hebi, mas ele não era do tipo que dava socos na parede e destruía coisas quando estava com raiva. Ele iria se acalmar, planejar uma vingança friamente, e aprender com o erro que havia cometido.
- Juka e Kazuno? - perguntou assim que Hide e Uta estavam ao seu lado, e o Hebi não precisava de luz para saber que havia receio nas faces daquelas duas Cobras. Sakurai não costumava lidar bem com derrotas, ainda que temporárias. Ele daria um jeito de se assegurar de que aquela era apenas uma batalha perdida, pois a guerra ainda estava apenas começando.
- Provavelmente mortos - Hide disse, balançando a arma numa mão como explicação.
- O que vocês acham? Continuamos aqui ou nos retiramos?
As duas Cobras ficaram em silêncio. O Hebi não costumava pedir a opinião deles, e mesmo quando o fazia, não era como se ele fosse considerá-la.
- Sem Juka e Kazuno, acho que não há muito o que possamos fazer... - Uta disse, a voz baixa, porque não sabia se aquela era a coisa certa a dizer.
- Tomara que Tokage pense do mesmo jeito, então. - Atsushi murmurou, irritado, e começou a andar em direção à saída. Ele respirou fundo e suspirou, já começando a pensar no que fazer dali pra frente pra compensar aquela derrota. E ele já sabia por onde começar. Kisaki. Ele ainda tinha contas a acertar com o negociador de Cobras e outros animais, depois do que tinha acontecido com sua Mamba Negra. Mas, primeiro, tinha que tirar suas outras Cobras dali. Vivas. - Hide. Você tinha conseguido falar com as Corais antes, não? - e ele não esperou pela resposta de seu subordinado antes de continuar: - Diga para avisarem os outros que é hora de nos retirarmos.
E Hebi não vozeou o pensamento amargo de que aquela era uma forma vergonhosa de se terminar um ataque, algo muito diferente do que ele tinha planejado.
XXX
Através dos tiros que ecoavam dentro do Salão principal do Museu, dos berros e outros barulhos aleatórios, além da constante náusea que ameaçava subir por seu estômago e escalar sua garganta, Gara conseguiu distinguir a voz de Hide em seus ouvidos, e mesmo tendo entendido o que a outra Cobra queria, o Coral teve a impressão de que ele não devia ter escutado bem.
- O quê? - indagou, sem disfarçar a surpresa em sua voz, e seu cenho se franziu quando a ordem de retirada foi reiterada por Hide, cuja voz havia adquirido um certo tom de impaciência. Gara sabia quando a hora para perguntas era absolutamente indevida, e este era um daqueles momentos.
(Enquanto isso, do outro lado do Salão...)
- Puta que pariu! Eu não agüento mais! - berrou a menor das Iguanas, se escondendo atrás de uma pilastra e sentindo passar raspando a poucos centímetros de sua cabeça mais uma bala. - Alguém conseguiu fazer contato com o Tokage?
- Estou quase conseguindo um sinal. Algo me diz que ele está voltando pra cá. - Yuki anunciou esperançoso, mexendo concentrado no comunicador, enquanto Yomi constatava, para o aumento da sua frustração, que seu revólver havia acabado de esgotar a última munição que as aranhas tinham lhes deixado. - Pelo menos não somos só nós com problemas. Os tiros do lado de -lá- também diminuíram. - O loiro
voltou o olhar para Yomi, que havia jogado frustrado a pistola no meio do salão, e observou incrédulo o moreno berrando na direção dos outros com toda a força dos seus pulmões:
- AÊ CAMBADA! ACABANDO A MUNIÇÃO DE TODO MUNDO, A GENTE PARTE PRO JAN KEN PO!
Aquela exclamação também chegou aos ouvidos das Cobras, e para surpresa da maioria delas, Jui e Tatsurou começaram a rir. Ao receberem o olhar de morte de grande parte de suas companheiras peçonhentas, no entanto, eles pararam - ou, melhor dizendo, Jui fechou o bico, enquanto que a mais alta das Corais tentava conter o riso, sem muito sucesso. Até que ele levou uma cotovelada um tanto dolorida por parte de Gara.
- Hebi quer que nos retiremos. - disse, olhando para as outras serpentes, cuja atenção se focara momentaneamente neles. Porém, algumas continuaram dando tiros na direção dos Lagartos - afinal, eles continuavam levando bala também, ainda que isso agora parecesse bem menos perigoso, já que a freqüência de ambos os lados havia diminuído em proporção à munição que ia acabando.
As Cobras ficaram em silêncio depois daquelas palavras por parte de Gara, pois era óbvio o significado daquilo. Eles haviam perdido, e isso pesava bastante nos ombros de todas elas. Quer dizer que aquilo tudo havia sido em vão? O tiro na perna de Jui e o que Asagi havia levado no antebraço esquerdo alguns minutos atrás; todos os planos arquitetados; aquela festa que tinha rolado no que parecia ser há apenas alguns instantes no Ninho...
Porém, Gara não podia deixar de sentir-se aliviado por ter que sair daquele Museu, pois isto significava não correr o risco de cruzar com Kyo e talvez ser obrigado a atirar nele ou sabe-se lá o quê. Também se sentia horrível por tais pensamentos, porque afinal de contas, uma derrota desse tamanho para o lado das Cobras certamente significava péssimos dias no Ninho dali pra frente, e...
...ele não devia estar pensando em Kyo. Ele não poderia mais vê-lo, não agora que sabia que o baixinho era um Lagarto e qualquer aproximação entre os dois significaria perigo para ambos; e de qualquer forma, ele duvidava que o baixinho fosse sequer querer vê-lo e -
Ele sentiu um puxão no braço e notou que Daisuke estava arrastando-o pra fora do Salão, e que o olhar preocupado de Tatsurou estava sobre ele. Perfeito. Tudo o que ele precisava era as duas outras Corais cheias de perguntas pra lhe fazer.
...
- AONDE VOCÊS PENSAM QUE VÃO, BANDO DE SERPENTES COVARDES!!! FICARAM COM MEDO PORQUE SABEM QUE EU BATO QUALQUER UM NO JAN KEN PO? 8DD
- Yomi---
- Ai, merda!!! - O baixinho se esquivou antes que um tiro dado em resposta a sua provocação tivesse sucesso em acertá-lo na cabeça. Hitsugi não conseguiu segurar o riso, passando o braço ao redor do pescoço do amigo e arrastando-o para um lugar mais seguro. A última cobra tinha acabado de cruzar a porta da saída, e os outros lagartos aproximavam-se aos poucos, ainda receosos, alguns sem entender direito o que havia acabado de ocorrer ali. Yomi virou-se para fitar a outra iguana. - Mas você sabe que eu ganho de qualquer um no jan ken po...
Antes que o lagarto cheio de piercings pudesse responder, Kamijo surgiu na frente deles com um sorriso largo e satisfeito no rosto, balançando na mão um comunicador que transmitia fracamente vozes que pareciam ser as de Tokage, Niikura e Sugizo. Aguardou a aproximação de Kyo e dos outros, para anunciar num tom de voz alto, orgulhoso:
- Lagartos, parabéns por mais uma Ação bem sucedida. Espero que todos se divirtam como nunca na festa desta madrugada. Nosso trabalho aqui acabou. Vamos pra casa?
...
A alguns metros dali, um gecko com os cabelos e blusa levemente molhados acendia um cigarro, dando uma longa primeira tragada enquanto ouvia ao fundo as exclamações de comemoração de seus companheiros lagartos. Os seus planos de comparecer a uma festa de comemoração de determinados répteis rastejantes havia sido frustrado, mas ainda assim, não era como se naquela noite ele não fosse a festa alguma, não é?
Sorriu, dando um aceno respeitoso de cabeça a Sugizo, Niikura e Tokage, que chegavam acompanhados pelo líder das Aranhas. O olhar que trocou com Kirito foi breve, porém carregado de uma cumplicidade que não passou desapercebida aos olhos de um certo camaleão.
- Existe uma coisa que pessoas de bom senso tem... eu gosto de chamar de 'discrição'. - murmurou Sugizo para que apenas o loiro pudesse ouvi-lo, retardando o passo para que os três a seu lado ultrapassassem-no. Após certificar-se de que a distância era segura, prosseguiu o diálogo que tinha iniciado: - Acho que a sua arma é a única que tem munição ainda, não é, Hakuei?
- Digamos que eu sou um cara que gosta de testar a própria sorte.
- Suponho que se a sorte falhar, você tenha um Ás na manga, como de costume.
O gecko riu, jogando o cigarro no chão e apagando-o com o pé.
- Tenho, claro. Ele se chama Yasuhiro Sugihara.
O camaleão devolveu-lhe um olhar rancoroso, demorando pesados segundos antes de responder:
- Vai chegar o dia em que o seu trunfo de chantagem comigo não vai ser o bastante pra encobrir as merdas que você faz, Hirohide. Marque as minhas palavras. E não diga que não te avisei.
O loiro nada fez além de manter no rosto o mesmo sorriso cínico e desafiador que lhe era tanto característico. Observou o camaleão afastar-se e juntar-se ao trio para terminar o acerto da missão junto às Aranhas. Dali, enquanto o restante partiria de volta para a toca, Tokage, Niikura, Sugizo e Kirito se encarregariam de despachar as mercadorias obtidas na galeria do subsolo, guardadas por um sistema de segurança que era desativado justamente pela chave que havia gerado tanta disputa aquela noite. Mas Hakuei não tinha interesse algum no resultado daquele contrabando, tampouco na aliança temporária entre Lagartos e Aranhas.
Seu papel no Museu aquela noite estava terminado.
XXX
As Cobras estavam reunidas no estacionamento quando Imai chegou com os reforços. Se estava surpreso por ver as dez serpentes ali, o subchefe não demonstrou nada, apenas fitando o Hebi.
- Vocês chegaram tarde demais - Sakurai disse, não em tom de acusação, mas de clara derrota, e uma irritação ainda contida. Nisso ele daria um jeito quando chegasse ao Ninho. - Entre em contato com o Habu e diga para ele e os outros três prepararem as coisas pra cuidar de Asagi e Jui. O resto de vocês - ele olhou severamente para as Cobras que haviam participado daquela Ação, desejando que pudesse culpar qualquer uma delas pelo que havia acontecido, mas sabendo que não podia. Por mais humilhado e enraivecido que estivesse, não iria descontar sua frustração em suas serpentes. - Descansem quando chegarem ao Ninho. Eu logo terei outra tarefa para algumas de vocês.
Ele desviou o olhar de suas Cobras então, pois vira uma Aranha se aproximando. Enquanto Atsushi esperava o Aracnídeo, Imai foi coordenando a retirada das Cobras em seus carros negros e blindados, apenas um dos veículos ficando para trás.
- Não preciso dizer que você fez um péssimo trabalho, não é mesmo, Daishi? - Sakurai disse, voz perigosa enquanto fitava o recém chegado.
- Não tenho culpa se o seu sistema de comunicação falhou - a Aranha disse em tom de igual desdém, sem aparentar preocupação alguma pela acusação que recebera. - Nós podemos parar com as negociações se você assim desejar, Hebi.
Atsushi deu um passo adiante, mãos unidas em suas costas enquanto seu olhar se estreitava, fixo no rosto que estava agora a poucos centímetros do seu. - E eu sempre posso me irritar com você o bastante para entregar sua cabeça a Kirito... e o seu corpo a uma de minhas amiguinhas. - e ele continuou, desta vez com uma seringa carregada em mãos, pois em algum momento ele havia feito um gesto com a mão que fizera com que Imai lhe entregasse aquilo sem que Daishi percebesse. Sakurai pressionou a Agulha contra o estômago da Aranha, cujos olhos se alargaram levemente. - Ou eu posso matá-lo agora mesmo. Tem certeza de que esta é a melhor hora para me desafiar, Daishi?
O aracnídeo engoliu em seco, e a expressão no rosto deste foi o bastante para que um pequeno sorriso surgisse nos lábios do Hebi, que recuou o mesmo passo que havia dado antes, movendo a seringa quase que distraidamente entre os dedos.
- Vamos embora, Imai. Chega de contato com outros animais por hoje - disse, entrando no carro pela porta do motorista, sendo acompanhado logo depois por seu fiel subchefe, que se sentou ao seu lado.
Imai não teve tempo de pôr o cinto de segurança antes que o Hebi pisasse fundo no acelerador, e nenhuma palavra foi dita enquanto eles voltavam rapidamente para o Ninho.
XXX
- Pensei que o obcecado por trabalho fosse o Hyde.
Sakura ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada, tentando se concentrar no monte de papéis espalhados sobre a mesa diante de si. Ao contrário do mencionado baixinho, no entanto, ele não tinha tanta capacidade de se concentrar. - Não tô aqui porque quero, tá. Mas eu disse que ia dar uma olhada e ver se encontrava alguma pista, só que até agora... - e ele deu de ombros, um sorriso de desânimo nos lábios.
- Eu acho que vocês tão queimando massa cinzenta à toa. - Ken deu uma tragada em seu cigarro, o... insira-algum-número-ordinal-absurdo-aqui do dia. - Escuta, de quem é o museu onde o Kazuno trabalhava? - ele perguntou, resolvendo sentar-se à mesa também, já que estava ali.
- E de que isso importa? - o outro rebateu, mas começou a folhear um arquivo, uma cópia do que Ken havia entregue a Hyde um par de dias atrás.
- A chave que foi roubada supostamente abre algo que tem lá dentro, não é? Por que ela estaria no cassino de Koyasu...?
Sakura franziu o cenho. Ele não tinha pensado nisso.
- Você não acha estranho que Koyasu não responda a maioria das nossas perguntas? Olha, depois de resolver a história do seqüestro do filho dele, acho que ainda teremos muita investigação pra-
- Ken. - Sakura o interrompeu, com uma expressão meio idiota no rosto, como se ele tivesse se dado conta de algo tremendamente óbvio - o que era o caso. - O museu onde o Kazuno trabalhava. É do Koyasu.
Ken piscou algumas vezes.
Os dois ficaram se olhando, expressões de igual patetice no rosto durante alguns segundos.
- PUTA MERDA, LIGA PRO HYDE AGORA! Eu vou avisar os outros!
...
Quando a polícia chegou, no entanto, foi para encontrar um Museu aparentemente deserto. Ao menos, deserto de mafiosos, fossem Lagartos ou aqueles seres vestidos de preto que ainda não tinham sido identificados pelos encarregados do caso.
Hyde bufou enquanto andava pelos corredores do local, arma em punho e uma expressão decidida, apesar da cara de sono e cansaço que ele não conseguia disfarçar. Mal tinha deitado na cama quando recebera a ligação de Sakura, e agora ali estavam eles, vários policiais, na cena do crime...
Sem ninguém pra contar história. Sem vestígios além de marcas de balas e artefatos destruídos e sangue que provavelmente não teria DNA compatível nos arquivos, do mesmo jeito que acontecera com o encontrado no cassino.
Havia seguranças mortos nos arredores do prédio, mas nenhum foi encontrado em seu interior. Neste, os encontrados foram o filho de Koyasu e um de seus empregados. Ambos mais pra lá do que pra cá. Hyde duvidava que eles fossem sobreviver ou pudessem ser de alguma serventia pra investigação que certamente seria aberta a partir dos fatos que haviam sido expostos agora. O que fora tirado do museu? Qual a importância da presença de Juka e Kazuno ali? Quem eram aqueles homens de preto, e qual sua relação com os de branco, que se intitulavam Lagartos?
Os pensamentos do investigador não foram muito além daquelas perguntas, pois Ken apareceu, lhe ofereceu um cigarro e por algum tempo os dois ficaram fumando em silêncio, os olhos de Hyde fixos no ponto de onde os corpos de Juka e Kazuno haviam sido removidos. Como que adivinhando, o mais alto disse:
- Eles estão em coma. Acho que vale a pena esperar que eles acordem para questioná-los.
- É, mas isso pode levar semanas. Meses. Anos.
Ken assentiu, pois ele sabia. - De qualquer forma, o pessoal vai colher pistas aqui enquanto isso. Alguma coisa deve valer a pena.
Hyde deu de ombros. Ele não acreditava muito nisso. Seu colega fitou-o de canto, jogou o toco do próprio cigarro no chão e pisou em cima, dando uma olhada em volta.
- Hey. Você acaba de danificar a cena do crime.
O canto da boca de Ken se curvou. - Pensei que você não se importasse.
Hyde se deu conta de que se importava. E que aquele desânimo não o ajudaria a chegar a lugar algum.
Era exatamente a essa conclusão que Ken queria que ele chegasse. - Ok, vamos por partes, como diria Jack, O Estripador.
XXX
Hyde não era o único contaminado por desânimo naquela noite, mas no caso das Cobras isto era muito mais palpável, além de estar misturado a uma frustração e indignação profundas.
Elas foram chegando e se agrupando no hall; primeiro as que haviam participado da Ação, depois as que tinham sido mandadas como reforço. As serpentes faltando eram Asagi e Jui, que haviam sido levados pelo Habu tão logo entraram na Mansão; Hide e Uta, que foram contabilizar as perdas daquela noite e checar o sistema de comunicação; e o Líder e sublíder das Cobras, que ainda não tinham voltado.
- Engraçado que vocês tenham chegado lá pra ser mandados de volta sem dar um passo - Tatsurou disse, mas não havia humor real em sua voz e nem suas companheiras viam graça alguma na situação.
- O que aconteceu, afinal de contas? - Nobuo, uma das Cobras que havia ido como reforço, indagou - a nenhuma em particular, ainda que seus olhos tivessem passado por Tatsurou primeiro, já que este tinha sido o primeiro a falar desde a chegada do grupo.
Ninguém respondeu de cara, porque ninguém sabia ao certo.
- Acho que não tem muito a ver com o tiroteio que estava acontecendo no salão principal-
- E o que você saberia disso, Coral? - Toshiya interrompeu Daisuke, um ar de desdém no rosto. - Você e o seu amiguinho não estavam presentes durante boa parte do tiroteio - ele continuou, lançando um olhar para Gara como se soubesse de algo.
- O que você está insinuando? - Tatsurou interveio, não gostando nem um pouco do tom de voz usado por aquela Jararaca.
- Isso mesmo que passou pela sua cabeça, idiota - e Toshiya sorriu ao ver a raiva flamejar nos olhos do mais alto, provavelmente fruto de ciúmes.
- Idiota é você, metido a-
- Vocês não vão começar com isso de novo.
Silêncio. Toshiya e Tatsurou haviam sido interrompidos antes que a discussão acabasse em agressão física; era evidente que os dois estavam prontos para atacar. O primeiro deles resignou-se a olhar para o recém chegado Hebi e então baixar o rosto; o segundo bufou, irritado - tudo que ele queria era uma boa desculpa pra socar aquela Jararaca, que vinha pedindo pra apanhar há tempos.
- Quando eu mandei que vocês descansassem, certamente essa aglomeração no hall não era o que eu tinha em mente. - Atsushi disse, abrindo caminho por entre as Cobras em direção às bebidas. Ele precisava de álcool. De sexo. De um plano. E do couro arrancado de vários Lagartos.
- ...o que vocês ainda estão fazendo aí? - indagou ao virar-se para o grupo de Cobras, cujos olhos continuavam fixos nele, em sua maioria. - Vão pro quarto de vocês. Descansem. Amanhã vocês terão tempo de fofocar, se lamentar, e se preparar pro próximo passo. Mas lembrem-se de uma coisa... - e se a firmeza na voz de Atsushi não bastasse, o brilho selvagem em seus olhos certamente convencia: - Nós ainda não perdemos.
XXX
[Entre Jararacas e Surucucus]
- Devo ficar com ciúmes?
Toshiya ergueu uma sobrancelha, sem entender ou fingindo que não entendia.
- Do jeito como você é obcecado pelas Corais, alguém poderia pensar que não é bem raiva ou inveja que você sente. A não ser, é claro, que você tenha inveja da -relação- entre o Daisuke e o Gara. Ou entre o Daisuke e o Tatsurou. Ou entre o Gara e o Tatsurou. - e Sanaka pareceu ponderar seriamente uma última possibilidade. - Ou entre eles três.
A Jararaca apenas rolou os olhos, continuando a andar até o quarto que dividia com a outra Cobra desde que esta havia pedido gentilmente que Jui fosse arranjar outro quarto para dormir, pois o loirinho certamente não gostaria de presenciar o que se desenrolaria ali dentro desde que Toshiya e Sanaka haviam se juntado. Jui obviamente aceitara a indireta não tão indireta assim, e agora dividia um quarto com Nobuo e Riki, sendo este último mais uma das serpentes que haviam sido enviadas em vão para o Museu naquela noite.
- Sanaka, se eu quisesse alguma coisa -desse tipo- com um daqueles três... - e ele fez uma careta, parecendo enojado pela idéia. - ...é porque eu teria batido a cabeça na parede algumas centenas de vezes, o que não é o caso. Além do mais... - ele abriu a porta do quarto, puxou Sanaka pelo braço e o jogou contra ela quando a fechou, sem perder tempo ao morder a orelha do mais baixo e começar a explorar aquele corpo que ele já conhecia bem. - ...você ainda tem dúvidas do que - ou melhor dizendo, quem eu quero...?
Sanaka sorriu, para logo depois gemer baixinho, mãos grandes apalpando a região abaixo de seu quadril. Não, ele não tinha dúvidas. Mas sempre era bom se certificar.
[Entre Corais]
- Tatsu.
Ele estava deitado de bruços na cama, travesseiro cobrindo a cabeça e zilhares de pensamentos negativos correndo dentro dela. Tinha uma imaginação fértil, muitas vezes burra; incomodava bastante quando sua mente resolvia criar imagens de Gara e Daisuke. Ele queria que não passasse de ilusões, ele queria não ter ouvido aquela insinuação por parte da maldita, maldita Jararaca - mas já era tarde demais.
Tatsurou estava de mau humor.
E Daisuke estava preocupado. Só não sabia se primeiro dava atenção à preocupação por Gara, que no momento tomava banho - e estava demorando mais do que o normal, mas isso não registrara no cérebro do mais baixo dos três -, ou se ele primeiro se focava em Tatsurou, ainda que Daisuke soubesse perfeitamente que o que quer que aquele lerdo estivesse pensando era pura bobagem.
- Tatto - insistiu, apelando pro apelido mais antigo, aquele que lembrava a época de quando eles ainda eram bem novinhos e ainda não tinham conhecido Gara. Não que ter conhecido Gara tivesse sido uma coisa ruim, mas Daisuke não podia negar que às vezes ele sentia falta de quando Tatsurou não se refreava e não ficava tendo idéias absurdas por causa de um ciúme absolutamente bobo. Não, ridículo. E de ciúmes Daisuke entendia bastante.
Tatsurou grunhiu algo contra o colchão e Daisuke respirou fundo, controlando a irritação que começava a corroer suas entranhas. Ele detestava quando o outro ficava assim; sabia exatamente o que fazer pra que aquilo acabasse de uma vez por todas, mas não faria. Não mesmo. Tatsurou era quem tinha que descobrir as coisas sozinho, porque o que quer que Daisuke dissesse não teria o mesmo significado depois.
Então ele se levantou, deu o passo que separava sua cama da de Tatsurou e lidou com aquilo do único jeito que ele realmente sabia lidar, porque era com o qual ele estava acostumado: continuar o eterno joguinho entre eles dois.
Subiu na cama, percebendo claramente como qualquer movimento por parte da outra Coral parou assim que ele sentou-se sobre as costas desta.
- Eu não consigo entender o que você fala quando tem esse travesseiro no meio do caminho - Daisuke disse, satisfeito por conseguir manter a voz calma, ainda que o contato íntimo de seu corpo com o do outro o deixasse igualmente tenso. De um jeito que ele não sabia se era bom ou ruim.
Tentou puxar o travesseiro e obrigar a outra Coral a largá-lo, sem sucesso. Insistiu algumas vezes, fazendo ruídos exagerados pela força que estava usando e que não era muita, mas de nada adiantou.
- Eu não vou ceder enquanto você não ceder, e você sabe que em teimosia nós somos bastante parecidos.
Tatsurou apenas bufou contra o colchão outra vez, mas mais do que isso não se mexeu. Ele sabia que era perigoso fazer qualquer coisa nessa hora.
Daisuke soltou um suspiro de fingida indignação e deitou-se sobre ele. Usando o travesseiro de apoio pra própria cabeça, e o corpo de Tatsurou de apoio para o seu.
E ficou assim.
- MAS QUE DROGA, DAISUKE! - Tatsurou moveu-se bruscamente, derrubando o outro de sobre si. - Não tô com saco pra isso, tá legal?
- É, tô vendo que não. - mas ao invés do sorriso malicioso que normalmente estaria nos lábios de Daisuke em horas como esta, havia algo entre irritação e alguma coisa mais em suas feições quando ele olhou significativamente para a região entre as pernas de Tatsurou, o que desmentia tanto o que este dissera quanto o sarcasmo do outro.
- Dai, eu não-
- Ah, eu sei que não é porque o chefão perdeu a chave que você tá desse jeito, Tatsurou! É tudo por causa do que o Toshiya-
- Não tem nada a ver com aquela-
Daisuke ficou esperando que Tatsurou terminasse a frase que este próprio interrompera, mas o mais alto ficou apenas olhando para ele por alguns segundos, aparentemente estupefato com alguma coisa.
- Como você sabe que o Hebi perdeu a chave?
- Hã?! - aquela certamente não era a pergunta que o outro esperava.
- Como você sabe? - Tatsurou insistiu, subitamente sério. - Lá no hall mesmo, você já veio com uns papos de que não tinha nada a ver com o tiroteio. O que você sabe, Daisuke?
- Eu não tô gostando desse tom de acusação na sua voz. - ele rebateu, ofendido.
- Você e o Gara sumiram por uns minutos e-
- AH, NÃO! Já chega o estúpido do Hara com aquelas insinuações dele, mas -você-, Tatsurou? Como você pode pensar que eu e o Gara íamos fazer o que quer que a sua imaginação tenha arquitetado no buraco vazio que você tem no lugar do cérebro, e pior do que isso, pensar que a gente estivesse traindo--
- Não foi isso que eu disse!
- Não precisava! Tá escrito na sua cara! - bufando, Daisuke deu as costas para o outro e voltou pra própria cama, decidido a encerrar a discussão por aí. Ele sabia que tanto ele quanto Tatsurou estavam de cabeça quente e que se continuassem com aquilo acabariam se arrependendo.
Bem que Gara podia sair do banheiro agora e quebrar aquele clima ruim, porque ele sempre tinha a capacidade de interromper os outros dois. Mas a Coral que faltava não parecia tão prestes a sair do banho, ainda.
Daisuke ficou mexendo na própria franja, olhos fixos nos movimentos dos próprios dedos por entre os fios negros como se esta fosse a coisa mais interessante do mundo. Ele tinha mesmo mania de fazer aquilo, como se estivesse ajeitando o cabelo; mas no momento ele o fazia deliberadamente, mesmo sentindo que o olhar de Tatsurou estava fixo nele, de forma perturbadora até.
- ...desculpa.
O mais velho parou por um instante, mas não se voltou para a outra Cobra, que por sua vez deu um muxoxo, bastante contrariado. Daisuke ouviu então o barulho do que era indiscutivelmente Tatsurou se levantando, e então ele sentiu o próprio colchão ceder sob o peso do mais alto quando este se sentou ao seu lado.
- Você sabe que eu não queria ter dito nada daquilo, Dai.
Ele mordeu o lábio inferior, contendo o sorriso quase perverso que ameaçava se desenhar ali. Daisuke sabia ser manipulador quando queria, e era tentador ouvir aquele tom na voz do outro. Respirou fundo e virou-se para Tatsurou, que pareceu bastante deslocado naquele instante, puxando o lençol sob si sem realmente querer puxar, como se não soubesse o que fazer com as próprias mãos.
Daisuke não resistiu e beijou-o na boca - um segundo, apenas - para afastar-se logo depois como se nada tivesse acontecido, levantando-se antes que o outro pudesse reagir.
Daí, sim, Gara saiu do banheiro, encontrando um Tatsurou bastante petrificado na cama que pertencia a Daisuke, que agora ia ao banheiro, na sua vez de tomar banho.
O mais velho dos Corais manteve o olhar fixo em Tatsurou durante vários segundos e este permaneceu na mesma posição, cenho franzido e lábios entreabertos numa expressão meio surpresa e meio pensativa que o deixava engraçado. Mas suspeitando do porquê de ele estar assim, Gara não conseguiu achar graça naquilo, e lançou um olhar reprovador à porta do banheiro, ainda que Daisuke não pudesse vê-lo agora.
- Tatsu? Você ainda lembra como se respira, certo? - ele indagou ao aproximar-se do mais alto e perceber que este segurava a própria respiração. - Tatsurou...?
- Hm? - e ele fitou Gara como que saindo de um transe. Piscou algumas vezes, voltou a franzir as sobrancelhas, e então...: - O Daisuke...
Gara ficou olhando para ele na espera do resto da frase.
- O Daisuke é um filho da puta, Gara.
As sobrancelhas do mais baixo quase sumiram sob sua franja, mas ele decidiu que não diria mais nada depois daquilo.
E, na verdade, o que quer que tivesse acontecido entre Tatsurou e Daisuke servira para que as perguntas que estes dois ainda tinham de fazer a ele fossem deixadas de lado, ao menos temporariamente. Sentia-se de certa forma aliviado, pois já bastava o fato de várias imagens envolvendo um certo Lagarto não o deixarem em paz.
[Entre Habus e Pítons Albinas]
- Hhhhhhhhhhhmmmmmmmm...!!!!!!!!!!!!!!!!
- Eu avisei que você precisaria de mais uma dose de anestesia, como da última vez.
O que estava com um pano na boca apenas emitiu outro som daqueles, olhos meio aguados e rosto contorcido numa expressão de dor.
- Ninguém mandou você ir contra o próprio organismo, Jui.
Ele olhou para a Cobra na cama ao lado, que o fitava como se dissesse que ele obviamente deveria aceitar a oferta. Mas antes que pudesse tomar uma decisão, o loirinho sentiu sua carne sendo perfurada por uma agulha outra vez.
- Pronto. Agora ele fica quieto.
- Obrigado, Karyu.
- De nada, rabo-chefe.
Jui teria rido não fosse o pano que continuava em sua boca, mas o brilho em seus olhos e as marcas em torno deles o traíam.
- Da próxima vez eu faço isso sem anestesia alguma.
- Ora, não seja malvado, Tsukasa.
- E você podia me ajudar a amarrar os pontos ao invés de ficar aí, de pé, exibindo seu excesso de altura.
Karyu tirou o pano da boca de Jui antes que ele mordesse a língua ou qualquer coisa assim, e o riso do loiro pôde ser ouvido claramente desta vez. Asagi, que era o ocupante da outra cama, apenas balançou a cabeça, mas havia divertimento em sua expressão também.
- Onde estão os outros dois? - Jui perguntou, querendo alguma coisa que o distraísse dos dedos de Tsukasa (agora ajudado por Karyu) fazendo pontos no ferimento em sua perna.
A pergunta do loirinho se referia à outra metade do quarteto de Habus, liderado por Tsukasa.
- Nós não somos grudados, sabia?
Jui apenas fitou Karyu, ainda esperando uma resposta.
- O Hizumi foi chamado para uma cirurgia de emergência e o Zero tá fazendo o turno dele na farmácia 24h. Daqui a pouco eles tão aí.
- Ah, é. Eu esqueci que vocês passam mais tempo fora da Mansão do que dentro dela.
Karyu apenas assentiu, pois neste momento ele estava concentrado em seu trabalho. Os Habus eram Cobras formadas em variados ramos da Medicina, as únicas que mantinham contato constante com o mundo lá fora. Já que obviamente não seria possível levar seus filhotes a um hospital, o Hebi optara por ter Cobras que substituíssem médicos e que tivessem acesso a uma farmácia e a pelo menos um hospital ou uma clínica. Havia uma área nos fundos da Mansão especialmente equipada para casos como os de Jui e Asagi, as Pítons Albinas que haviam sido baleados no Museu.
Os Habus também eram as únicas Cobras que, ao invés de preto, sempre se vestiam de branco.
[Entre Cascavéis e Atheris]
A noite já virara madrugada e Atsushi estava na biblioteca, bebendo diretamente de uma garrafa de uísque, da qual ele sorvera dois terços nas últimas horas. Os botões de sua camisa preta, tanto os das mangas quanto os três primeiros gola abaixo, estavam abertos; ele se esparramara confortavelmente na cadeira atrás da mesa sobre a qual seus pés descansavam. A imagem que ele criava contradizia bastante a que ele normalmente representava; mas no momento o Hebi não estava nem aí para aparências. Além do mais, a única testemunha de seu atual comportamento era justamente a única pessoa que ele dava liberdade para vê-lo daquele jeito...
...e para mexer em seu estoque de bebidas sem pedir permissão.
Imai estava preparando uma dose de gin. Ele recém colocava os cubos de gelo no copo, mas Atsushi sabia qual bebida seu subchefe escolheria devido à convivência. Não era a primeira vez que eles se trancavam na biblioteca depois de uma derrota; Sakurai sabia que infelizmente não seria a última - mas as Cobras sempre davam a volta por cima, sempre dariam, e desta vez não seria diferente. Era pra isso que eles estavam ali: para pensar no que fazer dali pra frente. E no caso do Hebi, o álcool nunca atrapalhava...
- Você sabe por onde anda o Ryoichi?
...no entanto, o subchefe das Cobras começava a desconfiar de tal pressuposto. Sua reação àquela pergunta foi derrubar no chão a garrafa que ele recém havia pegado; o vidro espatifou-se contra a madeira e criou uma bagunça de cacos de vidro e líquido sobre o chão.
Um barulho diferente na respiração de Atsushi denunciava que ele havia rido pelo nariz.
- O Ryoichi? - Imai virou-se para seu superior, sem dar-se ao trabalho de perguntar se o Hebi estaria brincando. Aquele definitivamente não era um assunto sobre o qual um deles brincaria.
O Hebi levou a garrafa aos lábios e sorveu um generoso gole de uísque antes de responder. - Eu podia ir pra África e pegar uma Mamba Negra sozinho, mas não tenho tempo pra isso.
Imai fitou-o, momentaneamente paralisado. Atsushi ergueu levemente as sobrancelhas, como se zombasse da reação do outro, exagerada a seu ver. Entretanto, ficou em silêncio, aguardando pelo que Imai diria enquanto este catava outra garrafa de gin e, dessa vez, sucedia em preparar uma dose da bebida para si mesmo.
A Atheris sentou-se à frente da Cascavel, tomou um breve gole de sua bebida e olhou para trás de Atsushi, para fora da janela de vidro da biblioteca. - Tem que ser uma Mamba Negra?
- Eu queria uma e a mataram. Nada mais plausível do que me vingar usando uma também.
Imai demorou, mas assentiu, sem no entanto conter um suspiro que denunciava sua contrariedade. - Você sabe que ele vai pedir um altíssimo preço por isso, não é? E que mexer com ele agora, depois de tanto tempo, só vai fazer com que ele se sinta ainda mais no direito de exigir-
- Eu sei, Imai. Mas não se preocupe, que se Ryoichi pedir para tomar o seu lugar, ele não será atendido.
- Não é isso-
- Você sabe onde ele está ou não?
Imai não protestou mais, pois sabia que Atsushi não desistiria do que quer que fosse agora que havia tomado uma decisão.
- Você mandou que eu nunca o perdesse de vista... - e Imai apenas fitou a Cobra-líder à guisa de explicação.
Sakurai sorriu, satisfeito. Aquela era a melhor resposta que ele poderia obter.
O que ele poderia ter dito a mais para Imai teve de esperar, no entanto, quando o celular do Hebi tocou. Ele não largou a garrafa de uísque para pegar o aparelho, mas sua falta de interesse foi substituída por um sorriso enviesado ao ver quem era o autor da ligação.
- Fala.
- Delivery express de répteis. Alguma cascavel com fome?
O sorriso do Hebi tornou-se perverso ao ouvir a voz de um certo Gecko, cujas palavras escondiam um convite que ia muito além da praticidade de um fast food. Fome? Hmm... Talvez, após realizada a '”sigela” vingança que preparava, a Cascavel tivesse uns trocados no bolso e um tempo disponível para fazer uma refeição...
XXX
Nota by mow: E vamos a mais apresentações. :3
Hiroki é mesmo o nome do filho do Hyde. O guri fez quatro anos no mês passado, mas em L&S ele ainda tá com pouco menos de três, pela época em que se passaria a fic (ou por causa de quando ela foi começada, anyway 8D). O Hyde também foi casado com a Megumi (ou ainda está casado com ela o_o não consegui entender se ele realmente se separou dela ou não; mas em L&S eles tão casados ainda, ok? 8D *como se isso não tivesse ficado óbvio dniouqrwe*), que é modelo.
Hizumi, Karyu, Tsukasa e Zero: Respectivamente, o vocalista, o guitarrista, o baterista e o baixista que compõem a banda D’espairsRay. Aqui vai links de fotos deles vestidos de branco: 8D
http://www.last.fm/music/D%C3%A9spairsRay/+images/271539http://www.last.fm/music/D%C3%A9spairsRay/+images/309616http://www.last.fm/music/D%C3%A9spairsRay/+images/575726http://www.last.fm/music/D%C3%A9spairsRay/+images/161836E eu colocaria fotos individuais se tivesse achado deles vestidos de branco. :x Se alguém tiver aí e puder colocar links num comentário, eu agradeceria. E eu não vou pôr link de vídeo de D'espa aqui porque não sei o que escolher. LOL *apanha* Mas acho que eles são conhecidos o bastante, diferentemente das bandas citadas abaixo...... 8D
Nobuo: Vocalista do
ACIDMAN.
Riki (Kinoshita): vocalista da banda ART-SCHOOL.
Clique aqui pra ver o PV de uma música deles e
aqui pra ver uma foto só do Riki. :3
Ryoichi - ex-vocalista do SOFT BALLET e irmão gêmeo perdido do Sakurai.
Aqui tem um vídeo deles para quem estiver curioso a respeito.
E as espécies de cobra apresentadas neste capítulo:
Atheris,
Habu e
Píton Albina.