Festival de Desafios do Omocha - Algo de Errado 2/4

Dec 22, 2007 05:44

Banda: Dir en grey
Pairing: Kyo x Shinya
Gênero: Era para ser drama-de-cortar-os-pulsos, mas para variar, não tenho a mínima idéia de qual será o resultado. Mas por enquanto está parecendo mais conto de terror... ¬¬ ***Hmmm algum dia faço algo do gênero 1 Litre of Tears *a que chorou em todos os 11 episódios*

Shinya's POV. Death fic. Tem mais um warning, mas ele só serve para o último capítulo, caso contrário, vou dar um spoiler (mais spoiler que dizer que é deathfic????).

Pedido da leitora: Lahy lahy


-Errado, tudo errado!

Paramos pelo o que parecia a centésima vez. Começava a desconfiar que já não fosse mais exagero.

Kyo lançou um olhar vazio para Kaoru, mas eu sentia alguma revolta e petulância ali. Baixei os olhos, sentindo a culpa e vergonha que o loiro parecia não ter. Todos os outros estavam em silêncio, parecendo um pouco constrangidos e perdidos.

-

Kyo, você está errando a letra, errando o tempo, errando a sincronia. Além disso, sua dicção está terrível até mesmo para os seus padrões.

O vocalista ergueu as sobrancelhas, e depois as franziu. Parecia não entender o que estava fazendo de errado. O líder percebeu isso, pois suavizou um pouco a expressão, mas parecia mais preocupado que nunca. Chegou perto do baixinho e pousou a mão em seu ombro.

-Kyo, algo está errado?

Ele olhou para o mais velho, sua expressão levemente confusa. Era o olhar de quem sabia que havia se metido em confusão, mas não sabia o que fazer para melhorar.

-...Não quer passar uma temporada lá em casa? - o moreno indagou inclinando a cabeça para o lado.

A proposta súbita devia ter parecido chocante, mas todos se entreolharam parecendo aprovar. Confesso que até eu. Era como se uma mãe estivesse convidando o filho com problemas a vir se aninhar no lar até que se recuperasse.

Mas, será que sabiam qual era o problema de Kyo? Já deviam saber, não...? Mas ninguém parecia disposto a mencionar em voz alta.
O loiro balançou a cabeça em uma negativa esparsa, após considerar por um breve momento.

Kaoru fechou por um momento os olhos, tentando pensar em algo. Então pôs a palma sobre os cabelos do loiro, da mesma maneira como se faz com uma criança.

-Kyo, não tem como você ensaiar se não conseguir se concentrar - falou lentamente, com certo carinho - Vá direto para casa e descanse, por favor. ...E não faça nenhuma parada no
caminho.

O mais novo concordou, e imediatamente deu as costas a todos, pronto para se retirar. Kaoru apressadamente adicionou:

-Shinya, por favor, acompanhe Kyo até a casa dele?

Olhou-me cheio de significado. Estava, na verdade, me pedindo mais que isso. Por esse motivo, havia um tom apologético em sua voz. Não era apenas “acompanhe Kyo”. Era “salve Kyo, faça algo por ele, urgentemente, antes que seja tarde demais”. Concordei com a cabeça, sem ter muita certeza de o que uma pessoa como eu poderia fazer por ele. Eu também me sentia impotente. Estávamos perdendo-o, não?

--

Dei carona para Kyo. Naquele dia, ele estava sem carro. Eu não conseguia esquecer da preocupação estampada no rosto de todos. Talvez, realmente se estivesse chegando a algum limite. Espiei para o loiro, que parecia absorto em seus pensamentos, e impaciente por algo. Suas mãos tremiam um pouco. Será que estava se alimentando direito? Descansando o suficiente? ...Estava tão magro, parecia tão doente. Não era o Kyo bonito que eu conhecia - não que ele fosse exatamente bonito, mas ainda assim, não era desagradável de olhar, e havia algo nele que parecia meigo, ainda que ele não gostasse da expressão. Mesmo assim, era a pessoa que eu amava, não? Ao menos até onde eu sabia, era.

Chegando à frente de seu apartamento, ele murmurou uma despedida rápida e saltou para fora do carro parecendo apressado. Ainda assim, caminhou de uma maneira lenta e meio desengonçada, como se calculando para não demonstrar sua urgência, ainda que a sentisse em todos os seus ossos. ...Eu sabia qual seu problema era, não?

Desliguei rapidamente o carro. Ao ouvir o cessar do barulho baixo e grave do motor, o loiro olhou para trás, parecendo sentir um pouco de desagrado. Ok, na verdade, parecia um grande desagrado, com um esforço preocupado em disfarçar. Suspirei, pensando que ao menos em mim ele deveria confiar. Saí rapidamente do carro, já que ele apertou o passo em direção à porta do prédio, parecendo simular que não havia notado minhas intenções de entrar com ele. Corri o mais rápido que pude, consegui parar a porta que já quase fechava, o que teria me trancado do lado de fora - pensando bem, eu tinha a chave do seu apartamento, mas mesmo assim...

Kyo ergueu os olhos para mim, em uma falsa surpresa. Sorri amarelo, mas o segui, pois essa era a missão a mim incumbida.

Kyo sorriu de volta, de maneira muito simpática e gentil.

-Shin, não precisa se dar ao incômodo de me seguir até aqui. Kaoru só pediu para me trazer, ne? - e passou a mão de modo calmante em meu braço - Pode ir para casa descansar, já cheguei são e salvo.

Senti-me melhor por o “profeta” estar sendo carinhoso comigo, mas eu ainda não estava confiante de que ir embora era a melhor opção. Além do mais, ele era meu namorado, não? Não era estranho que eu quisesse passar mais tempo com ele, ou o visitasse em casa. Então o abrecei e sorri o mais ternamente possível, desconfiando que para ele isso equivalesse a uma punhalada pelas costas.

-Capaz, não é incômodo nenhum. ...Eu te amo, quero poder passar algum tempo com você. Além do mais, já faz muito tempo que não nos encontramos no seu apartamento, ainda mais à luz do dia...

-Poisé, não ficaria estranho? - argumentou, parecendo ter esperanças de que eu concordasse.

-De modo algum, afinal, além de namorados, somos amigos. E quem desconfiaria de dois amigos?

Se ele queria guerra, teria. Sorri com a maior sinceridade que me era possível. Eu não podia perder. Não podia deixar Kyo ficar sozinho em casa ao menos por um dia. Quem sabe assim eu pudesse entender melhor a origem de seu problema?

O baixinho me fitou quietamente, e então assentiu conformado. Passamos pelo corredor e chegamos ao elevador em silêncio. De vez em quando, eu percebia que era observado, e sentia que minha companhia não era bem vinda. Kyo me espiava como se na esperança de que de repente, ao erguer os olhos, eu houvesse desaparecido. Chegamos ao seu apartamento, e ele entrou sem ligar a luz. Tateei pelo interruptor, incapaz de enxergar qualquer coisa ali dentro, apesar de lá fora ainda ser dia. As janelas estavam todas fechadas. E eu não gostava do cheiro dali de dentro.

Senti uma mão subitamente empurrar meu braço contra a parede com força. Fiquei assustado e tentei arrancar, mas não consegui.

-Shinya, parado.

Engoli em seco. Por que essa atitude agora?

-Não ligue a luz.

Concordei com a cabeça, mas não tinha como se enxergar isso no escuro. Porém, acredito que meu silêncio o tenha convencido de que eu estava assustado o suficiente para lhe obedecer.

Senti que ele se aproximava de mim, como se fosse me beijar. Minhas pernas amoleceram, seduzidas tão facilmente por sua presença perto de mim. No entanto, inconscientemente prendi a respiração. Aquela situação me deixava assustado. Estávamos sozinhos, em um lugar escuro, onde eu não enxergava nada ao meu redor, com Kyo. É claro que eu me sentia ameaçado. Eu tinha motivos para isso. Ainda assim, mesmo que minha mente pedisse desesperadamente para que eu fugisse do loiro, meu coração me pedia para ficar e me render. Eu sabia que ia sofrer, mas era um sofrimento doce. Eu não era masoquista, era apenas uma pessoa apaixonada demais para tentar sobreviver.

Estava logo a frente de mim, eu podia sentir sua presença, ouvir sua respiração. Ficamos parados assim por um longo tempo, nos “fitando” - não que fosse possível realmente, com aquela escuridão. E então se afastou, finalmente largando meu braço, que já ficava dormente. Fiquei paralisado contra a parede, pensando o quão não bem-vindo eu realmente era ali, enquanto a consciência da localização de Kyo ia se esvaindo. Apesar de ser homem, ainda assim eu tinha um pressentimento, e não era bom. Aquele apartamento escuro... continuava me passando a idéia de um filme de terror. Ainda assim, minhas pernas não se mexiam. Bastava apenas um ou dois passos, e abrir a porta, e ainda assim eu não sairia.

Ouvi um som distante, vindo de outro aposento. Alguma coisa estava sendo remexida. Algumas portas de armário se abrindo, outras se fechando, coisas sendo jogadas no chão com descuido. O que será que Kyo estava procurando? Mais alguns minutos assim se seguiram, e eu não conseguia reunir a coragem para fugir logo daquele lugar. Mas também não conseguia tentar seguir o vocalista para descobrir o que estava fazendo. Ainda assim, eu imaginava o cano gelado de uma arma subitamente sendo pressionado contra minha testa, ou uma mão cadavérica envolvendo meu pescoço.

...Por que eu tinha vindo para aquele lugar mesmo...?

...Ah sim, porque me pediram. Porque eu deveria tomar conta de Kyo, manter ele sob controle ao menos por um dia.

Ouvi uma interjeição de satisfação, e então novamente silêncio.

Resolvi chegar até ele, pois, no escuro e longe de mim, era como se o profeta estivesse sozinho, e não era essa a intenção de minha vinda. Era preciso que eu chegasse perto, o visse de verdade.

Já fazia tempo desde a última vez que eu viera àquele apartamento. Na ceguisse, era difícil de calcular no caminho. Fui dando um passo por vez, cuidadosamente arrastando os pés no chão. Não retirei os sapatos por dois motivos: porque ele também não tirara da última vez em minha casa; porque caso fosse preciso fugir, eu já estava calçado. Agora, por que eu estava considerando ter que fugir, era um mistério. Mas talvez eu estivesse chegando próximo de desvendá-lo.

Ir pé ante pé não era o suficiente para evitar pequenos acidentes no caminho. Apesar de eu conseguir desviar com sucesso das paredes e dos móveis, havia uma grande quantidade de objetos não identificados espalhados pelo chão. Eram tão numerosos e em localidades tão aleatórias que pareciam armadilhas, e a vontade de acender a luz era maior que nunca. Porém, isso ia chamar a atenção de Kyo, e eu não duvidava que isso ainda me faria ser expulso - apesar disso, me impressionava que ele ainda não tivesse vindo até mim, considerando que mesmo sem luz, eu estava fazendo barulho mais que o suficiente para fazê-lo perceber minha aproximação. Apesar da dificuldade em me mover contra a bagunça espalhada no assoalho, a mesma também passava uma sensação de segurança, como se sentir algo esbarrando em mim aqui e acolá me ajudasse a manter um senso de distância e de consciência tátil, além de apaziguar a agonia do vazio envolvendo todo meu corpo e meus braços estendidos para frente. Minhas mãos só muito ocasionalmente encostavam-se às paredes. Minha mente imaginativa começou a lembrar de um filme americano já bastante antigo, “O Silêncio dos Inocentes”. Em vez de um homem procurando por seu namorado, eu me sentia como a agente Starling (ou era Sparkling? Starking? Staring?) atrás de Lecter. Ou melhor, não do canibal, e sim do homem-borboleta, ou sabe-se lá o que ele era.

Cheguei finalmente ao quarto do fundo, onde a escuridão me envolvia gulosamente. Eu sabia que Kyo estava ali. E ainda assim, parecia que estava absorvido demais em suas tarefas para se prestar a me dar atenção. Eu podia ouvir o barulho de alguma coisa, talvez o de um papel sendo enrolado...

-...Kyo.

-Pensei que já tivesse ido embora - falou impacientemente.

-Eu disse que lhe faria companhia por hoje - e então suspirei profundamente - Sabe, você foi liberado para descansar, não para ficar fazendo outras coisas.

-Ok, Shin. Tchau - me dispensou de forma seca.

-Eu vou ligar a luz se você não for dormir agora. Eu vim garantir isso.

E deslizei a mão pela parede, como se fosse uma carícia, encontrando o interruptor e pousando meus dedos sobre este.

O loiro percebeu, e sem aviso ou palavras, pulou sobre mim como um felino, as mãos fortemente agarradas em meus ombros. Perdi o equilíbrio e após uns dois passos cambaleantes, caí para trás. A queda foi de mau jeito, e senti uma dor pulsante em meu cotovelo direito. O corpo do baixinho era um tanto pesado para sua aparência, e ele me prendeu firmemente no chão. Balancei-me para os lados, tentando me soltar, mas ele apenas me segurou com mais força, nossos corpos prensados.

- ...Quem dizia que eu vou descansar...? - falou de forma baixa e rouca, parecendo um pouco irritado, mas ao mesmo tempo sedutor.

-Eu disse. Se ia ficar de brincadeira, não teríamos terminado o ensaio mais cedo.
O loiro bufou um pouco, sabendo que não era por argumentos que me venceria.

-Bom, já que fui interrompido mesmo, que tal... nos divertirmos um pouco? - e pude sentir um sorriso em sua voz, do tipo que uma criança tem enquanto queima formigas com uma lupa.

-Eu... - eu queria interrompê-lo, dizer que realmente era melhor que descansasse. Ou que ao menos que parasse com suas outras atividades. No entanto, meu corpo estava congelado.

Enquanto suas mãos puxavam minha camiseta para fora de meu corpo sem sequer ter me tocado ainda (e, naquela bagunça, escuro como estava, como que eu iria encontrá-la depois?), eu ia me perguntando quais as chances de aquele momento ser ao menos parecido com nossas primeiras vezes. E, mesmo que fosse apenas um por cento, eu acabaria me deixando levar por aquela probabilidade, na esperança ingênua que se realizasse.

-Shinya, não é preciso dizer nada. Eu sei o que você quer. Eu sei por que veio aqui - e seu tom era de suave deboche. Será que ele pensava que eu estava ali apenas para que nós...?

Seus dedos começaram a desfazer meu cinto, não tão ágeis quanto sua experiência exigia. Já não me prensava mais contra o chão, apesar de estar sentado sobre meus joelhos, e a despeito de já estar em uma parte tão avançada do processo de me despir, ainda não havia me beijado nem acariciado. Envolvi meu corpo com meus braços, apesar de não sentir frio. Era mais um gesto... púdico. Ou de qualquer tipo de proteção. Conforme eu ia tendo certeza de que minhas esperanças eram falhas, menores eram as chances de eu fugir dali. Já estava entregue demais, indefeso demais, fragilizado demais.

Eu queria parar, mas tinha consciência de que era melhor Kyo usar meu corpo para se entreter do que outras coisas. Fechei os olhos com força, tentando pensar em qualquer coisa e ignorar as sensações que invadiam meu corpo. Suas mordidas eram doloridas, suas unhas cortavam meu peito, seus beijos eram ásperos. Minha pele não ansiava por aquele tipo de contato, mas já parecia conformada. Novas feridas cruzavam as marcas das recém cicatrizadas. A sensação era como se algo estivesse me queimando, pulsando na superfície e ardendo mais profundamente. Porém, eu sabia que aquilo iria acabar logo. Era só fechar os olhos e esperar. Bastava ignorar os gemidos de dor e de prazer, os sons de respiração ofegante que cortavam o silêncio estático daquele apartamento.

--

Parecia que havia se passado no mínimo duas horas, mas finalmente Kyo se cansou e adormeceu sobre meu corpo, seu peso sobre mim impedindo de respirar profundamente. Os ossos de minhas costas e minha cabeça doíam após tanto tempo sustentando meu corpo sobre o chão duro e frio - para não dizer sujo. Os machucados ardiam e pediam por algum tratamento, nem que fosse água corrente. Minhas pernas estavam dormentes e exaustas. Eu precisava de um bom e longo banho, enojado de meu próprio corpo, que misturava suor, sangue, saliva e outros fluídos com a poeira do piso. E eu sequer podia me mover, caso contrário, acordaria o vocalista que finalmente havia me deixado em paz.

Sua cabeça descansava sobre meu peito, e eu podia ouvir sua respiração baixa e calma. Será que ele não sentia qualquer peso na consciência após o que acabara de fazer? Parecia inocente como uma criança. ...Talvez Kyo não percebesse a situação verdadeira ao seu redor. Da mesma maneira que dormira comigo uma vez mesmo sem saber se eu o amava, agora dormia comigo sem saber o quanto eu sofria. Senti-me um pouco culpado - em que ponto de nossa relação ele começara a mudar? Como não percebi quando ele começou a agir de modo estranho? No início, eu pensava que ele apenas havia tido um dia ruim e queria um tempo para si mesmo, ou então que estava com um resfriado. Se naquela época eu tivesse interferido...!

Abracei o corpo que estava sobre o meu, como se com isso eu pudesse protegê-lo de todas as coisas que o atormentaram no passado e no presente. Eu deveria ter sido mais responsável, mais atento, menos egoísta. Havia tantas coisas que eu deixara de dizer e de fazer, simplesmente porque eu abria minha boca, mas as palavras não saiam, eu começava um gesto e o interrompia no meio. Tudo o que acontecia agora era de minha própria responsabilidade. Como eu poderia culpar Kyo, deixá-lo sozinho, nessas condições? E novamente eu sentia vontade de ser egoísta, pois meu corpo dolorido implorava por afastamento, pelo bem de minha saúde. Mas eu deveria agüentar, só mais um pouquinho. Se eu não pudera lhe proteger quando fora necessário, que fosse ao menos naquele pequeno instante, naquele único dia. Era melhor que simplesmente... o nada.

Percebi algumas lágrimas escorrendo em direção às têmporas. Adormeci sem secá-las.

Parte 1
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