Título: LIZARDS & SNAKES
Bandas: BUCK-TICK; X JAPAN; Dir en grey; Merry; Kagerou; MUCC; Nightmare; Luna Sea; Penicillin; Miyavi; La'cryma Christi; deadman; Creature Creature; Tomoyasu Hotei; PIERROT; Lareine; L'Arc~en~Ciel + outros.
Casais: AtsushixYoshiki/YoshikixAtsushi; KyoxGara; TatsurouxDaisuke; AtsushixHakuei; HoteixMorrie + outros.
Gênero: Ação, Humor, Romance, Drama, Yaoi/Lemon.
Classificação: NC-17
Sinopse: Notórias e poderosas, duas máfias rivais lutam pelo poder no submundo de Tóquio... (e do resto do mundo, ou até onde suas ambições permitirem) São eles: os LIZARDS, liderados por Hayashi Yoshiki; e os SNAKES, sob o comando de Sakurai Atsushi.
Autoras: Mô-chan e Scarlet Mana.
Capítulos Anteriores:
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10,
11,
12,
13,
14,
15,
16,
17,
18,
19,
20,
21,
22,
23.
Nota: De agora em diante, deixaremos um link aqui para as side-stories de L&S (
O Natal dos Lagartos &
Confessions on a Lizard Floor). Como há referências a elas em L&S (por exemplo, neste capítulo há referência às duas side-stories dos Lagartos), recomenda-se que todos que lêem L&S também leiam as side-stories, de modo a compreenderem melhor certos detalhes da história principal. XD É provável que outras side-stories sejam publicadas no decorrer dos próximos capítulos (sobre as Cobras também, é claro); se isto acontecer, o link para tais será incluso aqui também.
Além das side-stories, também deixaremos um link para a
lista de personagens.
Esperamos que isto, aliado ao resumo do capítulo anterior, facilite a leitura de vocês. :3
Resumo do capítulo anterior, by Chefão e Chefinho das Cobras
Atsushi: Chefão e Chefinho o CARALHO! *bebeu demais*
Imai: Hebi-
Atsushi: Ai minha cabeça.
Imai: ...isso que eu ainda nem comecei a falar o que aconteceu.
Atsushi: Cala a boca, Imai. Eu disse que minha cabeça está doendo. E não quero saber do capítulo passado.
Imai: Mas os leitores precisam saber...
Atsushi: DANEM-SE OS LEITORES. Nem faz tanto tempo que passou desde o último capítulo; não me interessa se eles são tão desmemoriados assim.
Imai: ...
Atsushi: Nós nem aparecemos nesse capítulo, sabia? É a nova tendência: só os que não aparecem no capítulo seguinte é que fazem resumo do capítulo anterior. Como se isto pudesse compensar a MINHA ausência.
Imai: ...
Atsushi: Aquele lagarto filho da puta ficou com a chave. Nós nos retiramos vergonhosamente do museu. Os policiais descobriram tarde demais o que estava acontecendo, pra variar. O Daisuke e o Tatsurou continuam nesse chove-não-molha que irrita todo mundo, mas que me diverte muito. E eu e você começamos a arquitetar novos planos.
Imai: ... *dorme*
Atsushi: Pronto, agora posso voltar a beber sem ter que olhar pra essa cara de maracujá seco.
Tatsurou: MARACUJÁ SECO, MWEHAHAHAAHAHAHAHAAH.
Atsushi: O que você está fazendo aqui?
Tatsurou: Vim para animar o ambiente. =D
Imai: *ronca*
Tatsurou: Era uma vez um toco de cigarro chamado Kyo Joaquim Gilberto da Silva. Um dia, ele conheceu um palito de dente chamado Gara Paolla Bratcho-
Gara: PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!
Tatsurou: Pô Gara, não era pra contar o resto da história!
Mow: 8D *empurra as Cobras pra mais adiante* Voltaremos. ;D
XXX
24. Oásis em Festa (parte I)
XXX
- Ok. Eu não estava esperando por isso...
Ele inalou fundo e passou a mão por seus fios de cabelo escuros e longos. Lançou um olhar a seu companheiro, que limitou-se a franzir as sobrancelhas e a olhar, junto com ele, para o celular que tinha acabado de receber uma ligação um tanto inusitada. Ao lado de ambos, através do vidro de um aquário, uma determinada espécie de aracnídeos os observava atentamente. Silêncio momentâneo.
- ...E você disse que iria? - perguntou o mais alto, com um tom de comicidade segurado na voz.
- Bom... é uma festa, não é? Acho que seria um pouco grosseiro se eu recusasse o convite. - sorriu, deixando evidente o cinismo com o qual marcava aquela constatação. - E no mais, você sabe que não podemos desperdiçar a oportunidade de fazer uma média com esses caras.
- Você sabe que isso não é bondade, né. Esse sacana só está a fim de esfregar a vitória dele na cara da gente, Morrie.
O líder dos escorpiões riu com gosto, confirmando com a cabeça.
- Deixe-o aproveitar, então. É a hora deles. A nossa também vai chegar.
Tomoyasu Hotei abriu um sorriso largo, concordando, aproximando-se em seguida do Líder de forma que seus rostos estivessem a apenas poucos centímetros de distância. Notou o olhar do outro crescer, interessado a respeito das suas ações, ao mesmo tempo em que repartia a cumplicidade do sentimento que ambos tinham em relação àquele assunto. Havia, afinal, muito mais por baixo da superfície da pequena aliança que haviam feito com os Lagartos.
- Queria poder ir com você. - lamentou o escorpião negro de duas caudas, e sua voz foi quase um sussurro. Fez menção de levantar uma mão na direção do rosto do mais baixo, mas antes disso foi interrompido por palavras com o poder de um forte tapa no rosto:
- Mande lembranças à primeira dama hoje. - Morrie rebateu, ácido, e a expressão de Hotei fechou-se de súbito.
- Morrie...
- Quando você volta? Não espere que eu vá ficar mais uma semana inteira aturando as reclamações e insistências do Koyasu. Ainda mais agora; isso só vai piorar.
- Em três dias.
Hotei não fez questão alguma de disfarçar o desapontamento que tinha com o rumo da conversa. Já estava mais que acostumado com o temperamento forte do líder dos Escorpiões, tão semelhante ao dele próprio. Morrie tinha se afastado e acendido um cigarro, e agora procurava nas gavetas de uma escrivaninha por alguns de seus pertences. O sublíder pensou na melhor maneira de responder e ao mesmo tempo cortar as provocações veladas do outro escorpião, mas constatou que não havia. Numa situação mais normal, eles já estariam discutindo e trocando alguns adjetivos nada agradáveis. Mas agora era diferente. O Líder dos Escorpiões estava prestes a ir mais uma vez à base de uma Máfia que não era a deles, visita que poderia transformar-se em velório diante da revelação de um simples segredo.
Segredos. Palavra que não fazia parte da convivência entre Líder e Sublíder. E Hotei sabia que Morrie o tinha na palma da sua mão, simplesmente pelo fato de Hotei ter se desnudado dos seus próprios segredos na frente do outro. Uma decisão que ambos aceitaram mutuamente com consciência, preparados para as conseqüências. Mas por que o líder não podia simplesmente parar de se aproveitar das suas fraquezas?
Talvez em um momento de menos tensão, pensou o Escorpião mais alto. O que importava, naquela madrugada, era que tudo corresse bem, e Hayashi Yoshiki continuasse a contar com os Escorpiões como úteis aliados. Que em três dias, quando ele retornasse, Morrie estivesse ali, esperando por ele. Esse era um desejo egoísta do qual Tomoyasu Hotei não queria se desfazer.
- Eu vou ficar bem, sabe. Posso muito bem sobreviver a uma ou duas noites sem o meu guarda-costas gigante secando a minha sombra. - Morrie rompeu o silêncio sorrindo, e Hotei não entendeu bem se aquele comentário era uma piada para descontrair o clima, uma afirmação de que ia ficar tudo bem, ou simplesmente um comentário ácido e rancoroso pelo Sublíder estar deixando o ninho aquela noite. E como se imaginasse o receio do companheiro, o líder pareceu voltar atrás. Remorso pela acidez, quem sabe? - Você não precisa se preocupar com esta noite.
- Vai ao menos levar alguém com você? Não acho bom você ir sozinho.
Morrie franziu as sobrancelhas, considerando a possibilidade. Antes que respondesse, a porta do escritório se abriu, e entrou por ela um escorpião moreno que assobiava distraído, alheio à presença de seus líderes ali. Quando notou o seu engano, porém, arregalou seus olhos e fez uma reverência súbita, curvando-se rápido.
- Ahhh~~ sumimasen... eu trouxe a correspondência. - levantou-se, e percebeu confuso uma troca de olhares entre Morrie e Hotei. - Hmmm...?
XXX
Aos fundos de um quarteirão no qual se localizava um grande restaurante, sob a luz fraca do único poste da rua que ainda tinha iluminação, três carros estacionaram. De seu interior saíram diversos homens trajando branco, entrando apressados por um portão daquele lugar, um casarão velho com cara de abandono. Faziam o máximo de silêncio, procurando controlar a animosidade que contaminava o grupo. Ali já aguardavam três pessoas, igualmente de branco. Algumas instruções foram dadas por um deles em uma voz baixa, seguida pelo aceno afirmativo e respeitoso de várias cabeças.
Esta era uma rotina familiar à Máfia dos Lagartos. Após uma Ação, todos retornam ao Oásis e preparam-se para uma reunião de resumo e balanço das atividades recém completadas. Se o resultado de uma Ação fosse positivo, os Lagartos em seguida desfrutariam de uma merecida noite de comemoração.
Antes da reunião, porém, os lagartos arrumam-se devidamente, em trajes brancos que estejam livres de qualquer mancha, seja sujeira das paredes de um museu não tão limpo ou manchas de sangue. Os feridos, aliás, são tratados geralmente pelos lagartos que não participam das ações, como, por exemplo, os que trabalham no Salão Nobre ou no Restaurante, que já possuem um treinamento um pouco mais específico na assistência dos seus companheiros. No caso de ferimentos mais graves, são acionados contatos da Máfia que possuem infiltração em locais de assistência médica.
Felizmente, para a Máfia dos Lagartos, aquela madrugada não precisaria desses contatos.
2:37 AM - [ quarto 12 : arredores do Salão Nobre ]
- Fi-es-ta!!!~~ - riu o Camaleão de piercing no lábio, enquanto enfaixava com gaze o braço de um certo moreno que não parecia muito a fim de comemorações naquela noite. - Awn, Sugi.... Não faz essa cara. Vocês ficam com toda a diversão da Ação, pelo menos deixa o Taka e eu ficarmos alegres pela festa.
O camaleão ferido fez uma careta mal humorada, bufando impaciente. Podiam ouvir ao redor o corre-corre dos lagartos pela Toca, o barulho de preparações do salão nobre e os empregados do restaurante trazendo as mais diversas comidas e bebidas para os seus 'protetores lagartos'. Quem disse que optar por base de operações os fundos e subsolo de um restaurante japonês havia sido uma má idéia no final das contas?
- Como vão os nossos feridos da noite? - o tom irônico fez com que os três Camaleões se calassem e se voltassem com semblantes nada amigáveis na direção do recém-chegado Agame.
- Se eu fosse você, calava a boca, Aoi. A menos, é claro, que você queira fazer parte do grupo. - respondeu acidamente Sugizo. Miyavi terminou o curativo e levantou-se rapidamente, encarando o outro moreno com irritação. Taka, porém, surpreendeu aos três: puxou o Agame pelo pulso e arrastou-o para fora do quarto de Miyavi:
- Aoi, tenho um trabalho pra você. Vem comigo.
Miyavi piscou, perplexo, observando os dois sumirem e Sugizo levantar-se, inquieto, buscando algum número na agenda do celular.
- Ok... o que aconteceu? Ele sabe de alguma coisa que eu não sei?
O Camaleão mais velho suspirou, já ouvindo o pequeno aparelho eletrônico chamar insistentemente pelo número que tinha acabado de discar:
- Um dos carregamentos de armas que chegou esta semana sumiu do nosso depósito. - Sugizo respondeu, num tom baixo, suspirando com impaciência. O outro limitou-se a exibir uma expressão assustada no rosto. Não teve chance, no entanto, de questionar. - Não diga nem uma palavra sobre isso a ninguém. Tokage não sabe, e esperamos que isso continue assim ao menos até amanhã.
Miyavi empalideceu, sentando-se novamente com um olhar mais perdido no rosto.
- Sugi... - murmurou baixinho, visivelmente preocupado.
Sugizo era, afinal, o principal responsável pelo controle e organização do depósito.
- Niikura? Niikura, aqui é o Sugihara. - o camaleão olhou para Miyavi e lhe fez um sinal para permanecer em silêncio, enquanto fechava a porta do quarto, atrás de si. Apertando um botão no celular, colocou-o no modo viva voz. - Sim, eu estou sozinho.
- Estou aguardando o Tokage e o Kirito retornarem. Não posso lhe dizer o local, mas não precisa ser muito esperto pra saber que é a parada final das nossas “obras de arte”. De qualquer modo, avise a todos que estejam prontos e aguardando no Salão Nobre às 3h.
- Sim.
- Sugihara, a respeito daquele assunto... não faça nada sem me consultar antes. Apenas aguarde. Eu posso cobrir a situação por dois dias, não mais que isso. O resto é por sua conta. Apenas mantenha a discrição durante esta noite.
- ... entendido.
- Como estão os feridos?
- Bem o bastante para participarem da festa, eu acho. Yuki está com o Kyo agora e... Daisuke chegou antes com aquela Aranha chamada Ryou. Aparentemente foi ele quem cuidou do Ando.
Ambos camaleões puderam ouvir um barulho semelhante a uma leve risada, vinda do outro lado da linha.
- Louvável. Ele merece um prêmio. Bem, certifique-se de que nossos convidados hoje estejam à vontade. E permaneça alerta. Provavelmente temos um Escorpião a caminho. Deixo você responsável por isso, Sugihara. Até breve.
- Até. - respondeu mecanicamente, seguido pelo barulho da linha telefônica.
Miyavi olhava para ele com uma expressão questionadora, porém não menos preocupada. Sugizo voltou a sentar-se, dessa vez na ponta da cama do amigo. Tudo o que ele mais queria era o seu descanso de trabalho feito que todos pareciam experimentar aquela noite, exceto por ele próprio.
- Escuta, Sugi... Ninguém sabe a que horas isto aconteceu. Pode muito bem ter acontecido durante a festa... você entende?
O camaleão negou com a cabeça.
- Não funcionaria. É você quem não está entendendo. Eu já -sei- quem foi, Miyavi. Só preciso de provas pra poder entregar esse filho da puta.
Sugizo levantou-se subitamente, enfiando o celular no bolso da calça e abrindo a porta. O quarto foi mais uma vez invadido pelo burburinho de uma festa sendo preparada.
- O que você vai fazer?
- Procurar o Mako. - respondeu o Camaleão, saindo com urgência e batendo a porta atrás de si.
2:37 - [ quarto 6 : Yuki / Kyo ]
- Kyo?
Yuki observou aquele par de olhos escuros voltarem-se na sua direção, após minutos em que eles pareciam estar perdidos no nada. Suspirou. Não sabia dizer o que era, mas sabia que havia algo muito errado com o amigo. E não era algo novo. Mas era como se tudo tivesse piorado de repente. Não era importante que Kyo conversasse com ele, no entanto. Yuki estava mais preocupado com a estranheza que o estado atual de Kyo provocaria nos outros.
- Olha, eu não vou mexer nisto aqui hoje... achei que talvez fosse melhor dar uns pontos, mas você pensou rápido e estancou logo, né? Eu só limpei a ferida e troquei o curativo. Se eu mexer mais vai sangrar tudo de novo. Só vê se não mexe muito esse braço, senão abre.
- Hn.
Kyo fitou o amigo guardando as coisas de volta no pequeno kit de primeiros socorros e depois segurando a pequena maleta em cima do colo, então pensativo. O pequeno se sentiu angustiado, repentinamente. O que ele menos queria naquela noite eram questionamentos de qualquer tipo. Sua cabeça doía terrivelmente, seu estômago revirava de um jeito dolorido.
E ele não queria pensar. Kyo não queria pensar em nada.
Pra ser sincero, ele queria esquecer a existência de seu próprio cérebro. Talvez assim, algumas das lembranças dos acontecimentos mais recentes simplesmente sumissem de sua memória.
- ...você e o Die brigaram, né. É isso que está te incomodando? Se não for, tudo bem, mas... talvez vocês devessem conversar. Ele me parece bem chateado.
- ...
Um ruivo chamado Ando Daisuke era certamente a última pessoa que estaria ocupando a mente do loiro naquele instante. Não que Kyo desmerecesse o amigo, e sentia remorso pela maneira como o havia tratado aquela noite - o fato era inclusive que, se não fosse por Die, o tiro que o pequeno Lagarto tinha levado poderia não ter sido no braço, e sim na cabeça.
De quem poderia ter sido aquele tiro? Que era de um inimigo, era um fato óbvio. Mas inimigo este que era companheiro do... talvez um amigo próximo, como Yuki ou Die são de Kyo.... mas um amigo do...
...Kyo não queria lembrar daquele nome. Porque, a cada vez que lembrava, sentia um calafrio dolorido e uma pontada no peito.
Gara. (não lembre, Kyo!)
Podia ouvi-lo no pesadelo que tinha tido na noite anterior, antes de ir para a Ação. Antes de encontrá-lo naquela que Kyo mal sabia que não seria a última vez, no parque...
“Você mentiu pra mim, Kyo!”
A voz dele parecia ecoar pelo salão do Museu, no momento em que seus olhos se encontraram. Agora tinha acabado, não? Sentia-se um completo idiota por não ter enxergado tudo antes. Como ele tinha deixado aquilo tudo acontecer? Ele, que sempre tinha se protegido e reservado tanto de tanta coisa, durante estes anos todos?
- Kyo...?
Mas Gara também não sabia. Gara era inocente. Tinha sido tão ingênuo quanto ele próprio. E isso... era bom? Talvez se tivesse sido uma simples armadilha de uma máfia inimiga, ele poderia sentir raiva, e a raiva o faria seguir em frente. E em alguns dias ele esqueceria o assunto, e ficaria tudo bem.
Porque se não tivesse sido apenas uma coincidência infeliz...
...ele não precisaria se sentir tão culpado por seu coração bater tão rápido a cada vez que lembrava daquele beijo.
Seria melhor para os dois se aquilo tudo tivesse sido uma farsa, uma mentira.
Kyo queria esquecer tudo.
- Kyo.
Por um momento o loiro baixinho pensou que seu desejo havia sido realizado, e sua mente tinha sido envolta por algum tipo de buraco negro. Mas era só o seu cérebro lhe pregando uma peça.
Mas de onde tinha surgido aquele lençol e travesseiro? Ele tinha certeza de que estava sentado antes. Procurou com o olhar por Yuki, e encontrou-o sentado numa cadeira a seu lado, observando atento algo que parecia ser um termômetro.
- Não sei como eu não percebi antes... você está ardendo em febre. 39... olha só. - mostrou o termômetro para o outro, que mal podia enxergar o pequeno medidor, que dirá os números nele. Yuki suspirou, passando a mão pelos cabelos do amigo, e reabriu o kit de primeiros socorros, lendo rapidamente a bula de alguns remédios. - Será que é infecção? Mas foi rápido demais...
Olhou Kyo, que havia adormecido mais uma vez. Não parecia, no entanto, um sono tranqüilo. O rosto do Lagarto parecia tenso, e sua boca parecia prestes a dizer alguma coisa.
- Kyo, se você franzir a testa assim, quando acordar vai estar uns cinco anos mais velho.
Naquele instante a porta do quarto se abriu, e Yuki reconheceu um Lagarto ruivo utilizando muletas, andando com alguma dificuldade para dentro do quarto. Piscou, surpreso. Seu companheiro Lagarto não parecia estar em muito melhor forma do que Kyo. Aparentava estar abatido, e sentindo dores especialmente no ferimento de bala que tinha tomado na perna.
- ...Die?
O ruivo praguejou baixinho, levemente atrapalhado com os aparatos que supostamente deviam tornar o seu andar uma tarefa mais segura. Respirou fundo, olhando o quarto com uma curiosidade natural. Havia entrado ali dentro pouquíssimas vezes, afinal de contas.
Notou também Kyo dormindo, e Yuki segurando o frasco de algum remédio.
- O que... o que aconteceu? Ele está bem? - perguntou, uma preocupação sincera na voz, o que arrancou um sorriso tranqüilizante do loiro acordado.
- Ele está com bastante febre. Mas acho que antes mesmo da Ação ele não parecia muito disposto. Talvez seja uma gripe.
- Ah... - o recém-chegado pareceu um tanto desapontado. - Posso... posso me sentar um pouco?
- Você sabe que não precisa perguntar. Precisa de ajuda?
- Não... - o ruivo esticou o braço, segurando a cadeira a seu lado e sentou-se devagar. Fechou os olhos em dado momento, a dor na sua perna pulsando mais uma vez. - Péssimo lugar pra tomar um tiro. Quando você anda, os seus tendões todos... ahhh~~ dói que só a porra.
Yuki confirmou com a cabeça. Um dia ele também já havia experimentado aquela dor.
- Eu esperava ser recebido aqui por alguns objetos voadores atirados pelo Kyo. - o Lagarto riu, um riso um pouco mais triste do que deveria. Inalou fundo, expelindo o ar aos poucos, o olhar fixo no carpete do chão.
Pela porta entreaberta, podiam ouvir a chegada de Tokage, Niikura e Kirito. A agitação aumentava. Mas o clima de festa parecia ter sido proibido de entrar pela porta do quarto número 6.
- Yuki... o Kyo é um idiota. Ele não entende coisa alguma. Ele acha que está sempre bem sozinho, sem ninguém pra dar direções a ele. Quando eu cheguei aqui, não fazia idéia de como ele estava sob o comando do Tokage. Cara, eu mal entendo como você e ele conseguem se dar tão bem, às vezes. Eu... sei lá...
Ambos fitaram o lagarto febril em seu sono inquieto.
- Será? Não acho que eu divida tantas coisas com o Kyo quanto vocês fazem um com o outro, Die. Eu mantenho a minha distância porque acho que isso é o melhor que posso fazer em relação a ele. Mas não é a minha atitude que vai ajudar a solucionar esses problemas do Kyo. É a sua.
O ruivo permaneceu calado, pensativo. Yuki continuou:
- Por que você veio aqui, Die?
Entreolharam-se. Daisuke desviou em seguida o olhar na direção do seu amigo ferido.
- Ele não sabe de nada disso. Ele é alheio demais... provavelmente nem sabe o quanto eu me importo. - engoliu em seco, manuseando uma das muletas sem realmente prestar atenção nela. - Sabe, quando eu vi ele lá parado, hoje, eu fiquei apavorado. Achei que o Kyo fosse levar um tiro e morrer, ali, na minha frente. Eu nem sei o que aconteceu de verdade. Eu fiquei puto com ele, mesmo. Ele sempre faz merda e depois trata a minha preocupação como o pior estorvo da vida dele. E ele não é o único aqui dentro que faz isso.
- ...
- Eu estou de saco cheio de ser empurrado pros lados como se as coisas não fossem da minha conta. Posso parecer um adolescente imbecil falando esse tipo de coisa... mas eu quero que as pessoas precisem da minha ajuda. Todo mundo quer, não é? Quando eu conheci o Kyo, achei que com ele as coisas iam ser diferentes. Achei que seríamos ótimos amigos. Pelo visto, eu tava errado.
Yuki pensou em várias coisas que pudessem consolar o outro, mas não achou nenhuma delas muito pertinente e útil. Olhou o lençol na altura do peito de Kyo, subindo e descendo numa respiração um pouco ofegante. Não se moveu quando ouviu Die levantar-se, ajeitar-se com as muletas e ir em direção à porta.
- A reunião é em cinco minutos. O Kyo vai ter problemas se não estiver lá. - avisou o ruivo, visivelmente frustrado.
- A responsabilidade é minha. - respondeu Yuki, calmo, arrancando qualquer outra palavra de Die. - Daisuke, você precisa parar de enxergar no Kyo o irmão que você perdeu. O Kyo pode ter problemas pra confiar nas pessoas... mas ele é um adulto.
Die empalideceu, desviando o olhar momentaneamente.
- N-não... eu... só não quero que aquela cena se repita. Não quero ver mais um irmão morrendo na minha frente. Eu... não ia aguentar, Yuki. Eu só queria que o Kyo entendesse isso. E que ele me desculpasse.
- Tenho certeza de que ele vai.
Quando a porta do quarto se fechou, Yuki colocou dois comprimidos e uma garrafa de água na cômoda ao lado da cama de Kyo, apagou o abajur e saiu.
A reunião estava começando.
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3:00 AM - [ Salão Nobre ]
Tokage tomou seu lugar de costume na mesa de jantar e tirou os óculos escuros, observando demoradamente cada um dos lagartos sentados à mesa. Todos pareciam ansiosos, controlando sorrisos que queriam brotar a cada vez que seus olhares se cruzavam. O próprio Yoshiki estava tendo alguns problemas em esconder a sua visível satisfação diante dos resultados da Ação daquela noite. Porém, era ele o Lagarto que mais necessitava passar seriedade e controle diante dos outros.
Aquela era, afinal, a -sua- Máfia. E que satisfação lhe trazia um simples pronome possessivo, diante de tantas coisas que havia passado para chegar até ali. Voltou o rosto para a sua direita, descobrindo ali o olhar de um Monstro de Gila sobre ele. Sorriu levemente, e este desviou o rosto, sério.
- Parabéns, Lagartos, por mais uma Ação bem sucedida. Serei breve... A partir desta noite, acredito, uma certa espécie rastejante de réptil irá nos importunar um pouco com atitudes, digamos, vingativas. Estaremos preparados, é claro. Não recomendo, no entanto, que subestimemos o inimigo. Existem várias criaturas hoje que estão amargando com certeza o seu excesso de confiança em relação a nós, Lagartos. Cascavéis, por exemplo.
Um loiro sentado à mesa acendeu um cigarro, deixando escapar um pequeno sorriso malicioso.
- É uma pena que nesta noite as menções honrosas sejam poucas... Espero que da próxima vez eu não precise me repetir em relação a abatermos o inimigo, e não simplesmente causarmos alguns arranhões. Sugihara me passou um detalhado relatório da nossa Ação.
Olhares voltaram-se na direção do Camaleão citado. Alguns não eram exatamente tranqüilos.
- Pelo visto Kamijo voltou em boa forma. - o mencionado sorriu, abanando a cabeça de um jeito humilde. Tokage estudou o papel em suas mãos, lendo superficialmente alguns dados. - O nosso esquema com a munição funcionou bem, os pontos com o suprimento foram bem posicionados e graças a isso nossa munição conseguiu durar bastante tempo. Bom trabalho na organização, Hitsugi. - seus lábios se curvaram diante da interação curiosa entre uma Iguana meio ruborizada e uma mais baixinha com os olhos arregalados. - Yuki também fez um bom trabalho, embora as coisas não tenham corrido tão bem com o nosso aparato técnico. E Niikura também merece alguns pontos a mais, por obedecer a ordens com as quais ele visivelmente não está confortável.
O rosto do Sublíder ficou mais tenso. Yoshiki certamente sabia as melhores maneiras de irritá-lo, e quais funcionavam de modo mais instantâneo. Por exemplo, utilizar de ironia e diminuir a sua autoridade na frente do resto da Máfia.
- Por outro lado... não acredito que precise bater nesta mesma tecla. Não baixem a guarda, não sejam impulsivos. Um segundo de distração pode significar um tiro no meio da testa de vocês. Não esqueçam! Daisuke... Yomi... E.... - Yuki seguiu o foco do olhar do Líder dos Lagartos até a cadeira vazia do seu lado esquerdo. - ...por um acaso temos um lagarto preso no banheiro?
Yuki baixou a cabeça, sentindo todos os olhares da mesa sobre si próprio.
- Kyo está com muita febre. Deixei-o dormindo no quarto.
Tokage suspirou impaciente, deitando o relatório sobre a mesa.
- Não vejo um motivo plausível para ele estar ausente de uma Reunião, a menos que ele esteja morto. É este o caso, Yuki?
O loiro encarou-o, sério.
- Não é.
- Interessante. Mas acho que todos os presentes nesta mesa estão tão cansados quanto o seu amigo. O que você tem a dizer a respeito?
- Eu me responsabilizo. - respondeu Yuki, e o Líder dos Lagartos sorriu.
- Pois bem, todos ouviram. Certifique-se de que Kyo saiba que ele é o culpado por você estar suspenso da próxima Ação.
Não passou desapercebido à atenção do Líder o fato de um Lagarto ruivo mostrar-se claramente incomodado com aquela resolução.
- Hai.
Yoshiki levantou-se, e como em um pequeno ritual, todos o copiaram.
- Lagartos, esta noite teremos convidados especiais comemorando junto conosco. Que todos trabalhem hoje para que eles se sintam à vontade. Sejam bem-vindos ao Oásis, Murata-san, Motoyuki-san.
Os homens citados, líderes da máfia das Aranhas e Escorpiões, respectivamente, que estiveram o tempo todo acompanhando a reunião em silêncio, só então se levantaram de seus lugares afastados da mesa e fizeram um pequeno cumprimento respeitoso com a cabeça.
- Que todos aproveitem os bons resultados trazidos por uma Máfia eficiente e capaz. Espero ver todos ao redor do piano, daqui a uma hora. Peço licença para me ausentar do começo da festa, mas ainda tenho negócios a acertar. Murata-san, peço que me acompanhe até a Biblioteca. Motoyuki-san, fique à vontade para aproveitar a festa.
- Obrigado, Tokage.
- Declaro a Reunião encerrada. Divirtam-se.
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3:15 AM - [ Restaurante - Oásis ]
Alheio à Festa que os Lagartos iniciavam dentro da Toca, o Restaurante denominado Oásis (seria uma coincidência o nome?) experimentava uma festa própria. Madrugada adentro, ricaços esbanjavam seu dinheiro em comidas e bebidas das mais caras (juntamente àqueles produtos que jamais constam nos menus, porém sabemos que estão lá), ao som de uma música agradável que era geralmente cantada por mulheres bonitas e igualmente ricas. O dinheiro movimentado pela segurança, clientes e mercadorias nem sempre lícitas garantia o sucesso do estabelecimento. Não é à toa, logo, que o Restaurante seja uma das principais fontes de renda da Máfia dos Lagartos.
Claro que, enquanto existem os que se divertem, existem sempre os que trabalham para poder proporcionar aos outros aqueles instantes fugazes de diversão. A cozinha do restaurante trabalhava duplamente, suprindo ambas as festas do restaurante e da Toca; os garçons e garçonetes mal tinham tempo para respirar, enquanto outros empregados da cozinha percorriam quilômetros apenas no leva-e-traz de comidas do Restaurante para a Toca e para seus próprios clientes. A bela cantora, que entoava alguma música enka antiga e nostálgica e capturava a atenção de algum provável velho rico e solitário. O traficante disfarçado de velho rico, que provavelmente seria morto na semana seguinte por estar na área de domínio dos Lagartos sem permissão. Ossos do ofício.
E ao lado da parte da Adega do Restaurante, estavam dois dos vários seguranças que trabalhavam ali e os únicos que, apesar de trajarem preto, quem diria, são Lagartos. Um deles alto, esguio e usando óculos escuros. O outro, mais baixo, de cavanhaque e um alargador na orelha. Qualquer um diria que os dois formavam uma boa dupla no trabalho. Tinham um ar sério, compenetrado, eram prestativos e responsáveis, e trabalhavam juntos há anos. Qualquer um diria... isto é, se eles simplesmente não se odiassem.
- Cara, para de ficar flertando com as clientes. - começou o mais baixo dos seguranças, causando como reação uma expressão incrédula no rosto do seu companheiro de trabalho.
- Yaguchi, espero que você esteja falando consigo mesmo.
- Não, não estou. - alguns segundos de silêncio foram feitos, nos quais uma mulher bonita passou por esses seguranças e sorriu. Para ambos. - Esquece. E eu não te dei permissão pra usar o meu nome verdadeiro.
- Ok, Miya-chan.
- Vá se foder, Shizumi.
Silêncio.
- Aquele cara me parece suspeito.
- Quem? - perguntou Shizumi, levantando uma sobrancelha.
- Aquele ali, de preto, contando a terceira mesa da esquerda pra direita.
- E você supõe que...?
- Pode ser uma Cobra.
- Claro que pode. Talvez ela tenha vindo aqui dar os parabéns pessoalmente pro Tokage. E comer uma pizza.
- ...
- Miya, deixa de ser neurótico. Não vai acontecer.
Shizumi suspirou impaciente. Miya estava a passar alguma instrução para um dos seguranças com a maior seriedade do mundo, e sequer ouviu o que ele tinha dito.
- Que foi que você fez?
- Mandei o novato ficar de olho naquele cara. - respondeu Miya, sério, tirando algum tipo de bala do bolso do terno e colocando na boca.
- ... Ei, me dá uma bala.
- Não é bala, é chiclete.
- Então me dá um chiclete.
- Pra você, não.
- ...
O mesmo segurança com quem Miya havia conversado anteriormente retornou, entregando a ele um pedaço de papel. O lagarto abriu-o e correu os olhos por uma caligrafia tremida, feita às pressas, mas a qual ele reconhecia muito bem. Seus lábios se curvaram num sorriso leve. Pelo canto do olho, notou que o mesmo homem vestido de preto que ele havia apontado como sendo suspeito havia levantado de sua mesa e dirigia-se ao banheiro masculino.
- Preciso de quinze minutos. Você me cobre? - perguntou Miya, voltando a dobrar o papel e guardando-o no bolso da calça.
- E por que eu faria isso?
- Por que talvez esteja salvando o couro do seu Líder, investigando caras suspeitos aqui?
Apesar do barulho, Miya ouviu o outro lagarto bufar impaciente. Se não fosse pelos óculos escuros do outro, provavelmente veria seus olhos se revirarem também.
- Ok. Mas vê se não demora.
- Farei o possível.
Miya tomou então o mesmo rumo do seu suspeito de antes, e adentrou o banheiro masculino. Uma das cabines estava fechada. O lagarto suprimiu uma risada, dirigindo-se até uma das pias e abrindo uma das torneiras. O espelho diante de si refletiu a sua imagem, obediente. E refletiu também o instante em que a porta da cabine se abriu e o Lagarto observou um rapaz que ali estava sair com uma pistola apontada para a sua cabeça.
E então seu sorriso alargou-se um pouco mais.
- Bom, no final das contas eu acertei, não é? Você é mesmo um intruso. Eu só errei o tipo de intruso. Não é um réptil rastejante. É um aracnídeo.
O rapaz de piercing na boca riu, baixou a pistola e aproximou-se. Miya virou-se para encará-lo, continuando a falar:
- Quem te convidou pra essa Festa, Ryou ?
- Se é que faz diferença, ninguém. Apenas vim trazer um dos seus companheiros feridos... e acabei ficando. E se você for maldoso comigo, eu não vou contar as novidades. Você tem pouco tempo antes que o babaca da sua dupla perceba, não é?
O lagarto confirmou com a cabeça. Se Shizumi descobrisse que estava conversando em horário de trabalho, o deduraria com satisfação para Tokage. Aquele Basilisco filho de uma...
- Você estava no Museu hoje. -Ele- estava lá? - perguntou Miya.
Ryou guardou a arma em um dos bolsos de sua calça larga, encarando Miya por alguns segundos antes de responder:
- Hmm... vamos fazer assim... você tem três perguntas. - a Aranha levantou três dedos da sua mão direita, numa demonstração um tanto didática demais. - Esta foi a primeira. - Abaixou um dos dedos, mantendo dois de pé. - Sim, -ele- estava lá. Você tem mais duas. Use-as bem.
Miya sentou no balcão de mármore que compunha o conjunto de pias do banheiro, e demorou-se antes de lançar a segunda pergunta, entre mascadas vagarosas do seu chiclete:
- Ele saiu ferido?
- Sem um arranhão sequer. - e Ryou baixou mais um dedo. Coincidentemente (ou não), o dedo que havia sobrado era justamente o dedo médio. - A última.
O rosto do lagarto tornou-se seriamente denso.
- Aquele cara... estava junto com ele? - indagou, e Ryou ao invés de recolher o dedo, confirmou o gesto obsceno que havia apenas insinuado, mas que agora agitava a dois centímetros do nariz do outro moreno.
- Parabéns Miya. Quando eu acho que você saiu do estágio de dor de cotovelo, você me prova que apenas afundou um pouco mais.
- Você não respondeu.
- E o que você acha? Caralho! É claro que sim! Te ocorreu que eles são da mesma máfia?
Ryou foi surpreendido pelo modo brusco como Miya desceu do balcão, pegou-o pela gola da sua camisa e prensou-o contra a parede. Na mesma hora a Aranha sentiu o cano gelado de uma arma encostado na sua bochecha, e os olhos de um Lagarto que se estreitavam perigosamente. Encararam-se:
- Errei, Miya? Ou você superou a rejeição tão bem que precisa dos seus amigos pra darem continuidade ao seu novo hobby de observação de Cobras Corais?
O Lagarto aumentou a pressão do cano da arma contra o rosto do amigo.
- Você acha que isto é sobre rejeição?
- Então sobre o que é, Miya?
O mais alto recuou a pistola, guardando-a de volta junto ao cinto, irritado, e se afastou, dando as costas para a Aranha.
- Pegar de volta aquilo que me pertence.
Ryou sorriu, meneando a cabeça. Ele podia não concordar com as atitudes do amigo, mas seria a última pessoa a colocar-se como obstáculo para a sua obstinação. Medo? Pode-se dizer que sim. Mas Ryou gostava mais da palavra prudência. E nunca ninguém poderia ser prudente o bastante com os Lagartos Basiliscos, porque eles são definitivamente o lado negro da Máfia dos Lagartos. Na escola do crime, a principal lição de casa de um Basilisco é a Vingança.
- Ahh~... que desperdício, Miya-chan. - a Aranha fitou a expressão curiosa que surgiu no rosto daquele Lagarto. - Estou com ciúmes.
Miya abriu um sorriso, divertindo-se com o tom infantil jocoso na voz de Ryou.
- Que horas o seu turno termina? Se importa que eu te espere? - perguntou a Aranha, olhando-se no espelho e ajeitando a sua roupa.
- Em meia hora. - dizendo isso, arremessou um molho de chaves para o outro, que apanhou-o no ar com facilidade. - Mas vê se não mexe em nada.
- ‘Aye, Sir. As suas fotos do Tatsurou estarão a salvo comigo.
Ryou riu com gosto da despedida sutil com o dedo médio feita por Miya. Guardou as chaves no bolso da calça, e decidiu que talvez fosse uma boa hora para fazer um tour pela Toca.
A Festa já devia estar em seu auge, afinal.
3:45 AM - [ Corredores do Oásis ]
O Restaurante e o Oásis propriamente dito (dependências da Máfia dos Lagartos) são conectados por corredores, como ambientes comuns em uma casa. Alguém que entre no Restaurante pode, de fato, acabar na Toca dos Lagartos - porém isso, obviamente, não ocorre, graças a um esquema de segurança previamente planejado. Este link ocorre através de uma porta disfarçada que fica dentro da área da cozinha e locais por onde circulam os funcionários e cozinheiros do restaurante. O cérebro dos funcionários processa essa porta como algo equivalente a “uma passagem para o outro mundo”. Realmente, funcionários que burlem a ordem clara de não passar por aquela porta, quando o fazem, vão de fato para um outro mundo.
O mundo dos mortos.
Entretanto, em dias de festa, em que a conexão entre restaurante e toca é contínua, dado o fluxo de funcionários indo e vindo, trazendo comidas e bebidas, é esperado que esta porta fique mais tempo aberta do que o normal. Tempos únicos em que não-membros da Máfia têm a permissão de passar por ela, diga-se de passagem.
Imagine, entretanto, o restaurante em um de seus dias mais lotados - o que por coincidência é o caso atual - e um cliente que ao ter a “intenção” de procurar o banheiro, acabe encontrando a porta para a área dos funcionários e cozinha aberta. Ele sente uma curiosidade natural, e entra para observar como a comida ali é feita (e será que são boas as condições de higiene?). E justamente naquele momento em que o dito cliente entrou na cozinha, os responsáveis estavam num quarto mantido como despensa, arrumando uma bagunça que lá tivesse ocorrido por acidente. Distraídos, não vêem o cliente curioso que avança - vejam só - justamente pela porta que faz o link entre o restaurante e a toca. O cliente irá avançar, conhecendo o lugar como se fosse um ponto turístico, até que alguém educadamente lhe avise que “ali” as visitas são terminantemente proibidas.
Isto, é claro, se estivéssemos falando de um real cliente.
Voltemos à Festa.
3:45 AM - [ Salão Nobre do Oásis ]
Mako parecia um pouco mais distraído do que o normal naquela noite. Ao menos foi isso que Hitsugi percebeu, antes que a mais alta das Iguanas pudesse pedir licença e afastar-se do grupo, seguindo alguém que havia passado pelo trio recentemente. E agora ele observou que o amigo estava em um canto do salão, conversando algo em voz baixa com Sugihara, os dois com uma expressão séria demais para uma noite de festa.
Yomi, é claro, não havia percebido nada. O lagarto de vários piercings no rosto respirou fundo, visivelmente incomodado com algo. A seu lado, o mais baixo do trio parecia engajado em uma conversa com o acompanhante de Morrie, um escorpião bochechudo pouco mais alto que a Iguana, chamado Yoshihiko ou algo assim.
Durante alguns segundos Sugihara conduziu algo semelhante a um monólogo, pontuado por um ou outro movimento de cabeça de Mako. Muito provavelmente Hitsugi não era o único a se perguntar o que aqueles dois conversavam e a indagar a estranheza daquele encontro entre Lagartos que mal se falavam. Sabendo disso, os dois lagartos altos retiraram-se do Salão, caminhando em silêncio até a varanda da propriedade, a qual se encontrava deserta, iluminada fracamente pela luz de uma lua minguante.
Mako acendeu um cigarro e ofereceu o maço ao Camaleão, que aceitou-o, agradecendo polidamente. Acendeu-o e deu uma longa tragada, seu olhar atento a conferir se estariam realmente a sós. Sentaram-se.
- Isto vai parecer estranho... - Sugizo expeliu a fumaça do tabaco, escolhendo suas próximas palavras cuidadosamente. - Mas eu preciso da sua ajuda.
Ambos podiam ouvir risadas altas vindas do Salão. Uma delas era a inconfundível risada de uma Iguana nanica. Mako sorriu.
- Estou ouvindo.
O camaleão retirou do bolso da calça um relatório dobrado, o qual abriu e entregou para a Iguana a seu lado. Esta encarou em silêncio alguns números em vermelho naquela folha, e sua expressão tornou-se mais séria:
- Quantas pessoas sabem disso? - perguntou Mako, grave.
- Niikura, eu... e agora você.
A Iguana deu uma última tragada e atirou o cigarro no chão, apagando-o com o pé.
- É melhor que continue assim. Niikura sabe que você veio me procurar?
Sugizo negou, dando mais uma tragada. Estava claramente ansioso:
- Esta não foi a primeira vez. Há um mês sumiu um lote pequeno de armas, e Niikura me ajudou a substituí-lo. Agora a quantidade de armas que sumiram foi simplesmente... eu tenho pouco tempo até que o Tokage descubra. Eu sei quem foi. Mas eu não consigo provar isso sozinho.
- E você acha que as minhas habilidades de investigador de teatro vão muito longe, Sugihara? - indagou Mako, dando um sorriso triste.
- Se você não fosse bom, não ia ter conseguido seguir o Tokage do jeito que você fez, Mako. Pra isso aqui - apontou para o papel nas mãos do outro - eu tenho certeza que é mais do que o bastante.
Mako olhou mais uma vez para o relatório, pensativo. Uma das wisterias do jardim balançou levemente, e ele a observou durante alguns instantes. Após alguns segundos de silêncio mútuo a Iguana levantou-se, dobrando o papel e guardando-o no próprio bolso.
- Eu vou precisar dos relatórios da outra vez também, e da lista com horários e funções de cada Lagarto. Se você tiver acesso às informações de entrada e saída aqui dentro da Toca, vai ser de grande ajuda também. O resto é comigo e com o seu suspeito.
Sugihara levantou-se, curvando-se de leve e agradecendo.
- Eu vou indo na frente. - avisou Mako. Antes de desaparecer pelo corredor, porém, voltou o rosto na direção do outro. - Não se engane. Eu não estou fazendo isto pelo Tokage, ou por você, ou ninguém em particular.
- Tudo bem. Obrigado, assim mesmo.
Sugizo aguardou alguns minutos após Mako sair, antes de deixar a varanda e retornar ao Salão Nobre. Em algumas horas, um certo lagarto Agame aprenderia que trair a confiança de seus companheiros Lagartos não era uma idéia muito inteligente. No entanto, a maneira como este problema seria resolvido estava muito além das expectativas deste camaleão.
Mako então percebeu que não estava ventando naquela abafada noite de meados do verão.
3:55 AM - [ de volta ao Salão Nobre do Oásis ]
- Daisuke ?
O ruivo pareceu acordar de um transe profundo, tamanha era a surpresa estampada em seu rosto ao notar o olhar curioso do sublíder sobre ele. Niikura Kaoru revirou os olhos, balançando a cabeça como quem diz ‘este é um caso perdido’. Diante do silêncio do outro o monstro de gila retornou a sua atividade atual, que se resumia a deixar o piano preparado para a performance de Yoshiki marcada para dali a uns minutos.
- Que você está fazendo aí? - perguntou Die, observando o sublíder ajeitar uma pasta com partituras sobre o piano branco.
- Bem, o que te parece? Estou plantando uma bomba no assento do piano e desejando que amanhã eu seja o Líder da Máfia dos Lagartos.
Niikura aguardou alguma piada sagaz típica do ruivo em retorno, o que simplesmente não veio. Preocupado, virou-se para encarar o outro, que o observava com os olhos arregalados.
- Daisuke, foi uma piada. Piada, sabe?....escuta, você está bem? - o moreno disse, batendo no banco do piano para provar que não havia nada ali. Irritou-se quando Die pareceu ficar aliviado. - Eu não acredito que o mestre das tiradas sarcásticas não consegue reconhecer uma quando a ouve.
- Não sei. Vindo de você, na verdade, foi assustador. - o ruivo replicou um tanto constrangido, massageando a perna ferida de leve. - Digo, você é sério o tempo todo...
Kaoru suspirou desanimado, sentando-se no banquinho. Achava incrível como o ruivo era a pior pessoa do mundo no quesito disfarçar quando havia algo errado acontecendo. Tocou aleatoriamente algumas notas do piano, sem prestar muita atenção nelas.
- Você está em órbita desde que chegamos do Museu. Acha mesmo que eu quero ser o Líder daqui?
- Não? - Die perguntou com uma inocência que irritou profundamente o sublíder.
- Pra começo de conversa, você acha que eu sou sublíder por que eu -quis- ser?
Kaoru se calou subitamente, frustrado consigo próprio diante do que havia acabado de falar. O seu polegar martelava repetidamente uma nota Ré. O ruivo sequer parecia importar-se com o barulho repetido e incômodo. Era engraçado como a ausência do comportamento usual de uma pessoa acaba muitas vezes afetando o nosso próprio. Neste caso, com Die falando menos, Kaoru se flagrou falando em dobro, como se tentasse surprir o que ele estranhava não escutar daquele Lagarto. E o problema não era nem falar mais. Existem coisas que simplesmente não devem ser faladas.
Talvez por perceber o incômodo de Kaoru, Die não fez nenhum comentário que prolongasse o assunto. Apenas afundou um pouco mais na poltrona na qual estava sentado, fechando os olhos e inspirando profundamente.
- É tão óbvio assim que eu estou chateado com algo? - Die perguntou.
O Monstro de Gila suprimiu um sorriso.
- Digamos que existe uma razão pela qual Tokage só te passa trabalhos de investigação com papelada enquanto o Mako faz investigações de campo. - Kaoru pareceu relembrar algo que dizia respeito a ele próprio, mais uma vez, e dessa vez não evitou um sorriso leve. - Em situações normais, você estaria me empurrando pro concurso de quem bebe mais junto com Iguanas, Geckos e Camaleões. Você é sincero demais pro seu próprio bem, Daisuke.
Foi a vez de o ruivo sorrir em silêncio. Mesmo que isto fosse verdade, Die sabia que não era o bastante para explicar como Kaoru conseguia ler as suas atitudes tão bem, enquanto Kyo era totalmente alheio a elas. Contudo, era este fato que mantinha a curiosidade do ruivo sobre Kaoru bem viva.
Antes que ele pudesse responder, sua atenção foi capturada por um rapaz de preto que aproximou-se dos dois, trazendo consigo uma bandeja de coquetéis. Kaoru pareceu passar pelo mesmo tipo de alarme que ele.
- Oe Shizumi. Cara, não entra no Salão vestindo essa cor hoje... pelo menos tira esses óculos escuros. Você parece uma Cobra, sabia? - Die riu, aceitando um dos coquetéis oferecidos pelo Basilisco. Kaoru também pegou um para si, cumprimentando o recém-chegado com um movimento de cabeça.
- Ei, a culpa dos Basiliscos não poderem usar branco não é minha. - o moreno alto colocou a bandeja numa mesinha baixa ao lado deles, e sentou-se no braço da poltrona em que Die estava, soltando uma interjeição de cansaço.
- Não me diga que você vai trabalhar a noite toda?
Niikura pediu licença, afirmando que iria buscar Tokage na Biblioteca, e afastou-se. Shizumi tirou os óculos e observou o sublíder afastar-se. Die levantou uma sobrancelha.
- Pelo menos até as cinco da manhã, quando o Restaurante fecha. Que merda. Mesmo agora, quando eles me liberam pra fazer um intervalo, é um tal de “Shizumi, leve os coquetéis, não esqueça de trazer as garrafas vazias!”... Até o Miyavi está aproveitando a festa. - lançou um olhar irritado na direção do Camaleão mencionado, que parecia divertir-se em uma conversa com Taka e Kamijo.
- Descansando em serviço, Shizumi! - provocou um Agame de piercing no lábio, que passava por eles.
Shizumi riu amargo, respondendo com um gesto obsceno ao adorável Lagarto.
- Aproveite enquanto pode, Aoi. Quem sabe um dia não vai ser você o garçom?
- Tá brincando? Tenho mais gente querendo se vingar de mim do que eu pra me vingar. Sou bem mais esperto do que isso, Basilisco. - sorriu desafiador, aproximando-se para pegar um dos coquetéis da bandeja.
- Não duvide da inteligência de alguém que vive pra vingança, cara. Você pode se dar muito mal. - o rosto de Shizumi tornou-se sério por um instante, mas ao final ele riu, mudando o tom de uma frase que poderia soar como ameaça para brincadeira.
O Agame deu um aceno, rindo, e afastou-se.
- Você não devia dar tanta brecha pro Aoi. Ele tem que lembrar que Basiliscos estão uns três níveis acima de um Agame.
- Não tem problema, Die. Ele simplesmente não faz idéia. Eu tenho pena de um cara assim.
Shizumi levantou-se, pegando a bandeja em uma das mãos e retornando ao seu trabalho. O ruivo remoeu as últimas palavras do moreno, pensativo. Não entendia como alguém podia carregar as palavras de um tom tão cruel através de um sorriso tranqüilo, do jeito que aquele Basilisco conseguia fazer.
Talvez fosse uma boa idéia ele continuar sem entender também.
Cinco minutos depois, Aoi passaria por ali de novo, com uma expressão que não se assemelhava nem um pouco à alegre e confiante que ele utilizara antes.
4:00 AM - [ Salão Nobre do Oásis ]
Foi então que Hitsugi viu Chisato cruzar o Salão como se estivesse à procura de alguém, e parar justo na sua frente, uma expressão de interrogação pontuando-lhe o rosto.
- Aconteceu alguma coisa?
O moreno hesitou antes de responder, passando a mão distraído pelos cabelos.
- Não sei... temos bastante convidados hoje, né? Acho que desacostumei a ver tanta gente de fora por aqui. Vai ver passei tempo demais no quarto.
Riu, e Hitsugi sorriu compreensivo, estendendo-lhe uma latinha de cerveja fechada. Chisato agradeceu e sentou-se ao lado da Iguana, contemplando o Salão em festa.
- Lembra de uns dias atrás, quando tinha um cara de fora procurando o Tokage ? Você chegou a ver como era essa pessoa?
- Não, por quê? - perguntou a Iguana entre goles da sua cerveja.
- Hmm... nada não.
O silêncio, para variar, foi interrompido por Yomi, que só então havia dado pela falta de uma das Iguanas e olhava para os lados procurando-a:
- Ei, onde o Mako se enfiou?
4:05 AM - [ corredores do Oásis ]
A porta de um dos quartos se abriu, e um loiro sorriu malicioso ao sair e deparar-se com um Camaleão tão imerso em seus próprios pensamentos que mal havia notado a sua presença. Rápido, agarrou o seu pulso, empurrando-o contra a parede.
Foi alarmado que Sugizo percebeu Hakuei rindo da sua distração com uma expressão marota no rosto. O Camaleão procurou fazer um lembrete mental de prestar mais atenção por onde andava e evitar ao máximo trombar com Geckos chantagistas que apenas existiam com o objetivo de atormentar a sua vida.
- Que cara é essa, Sugi? - Hakuei sussurrou perto do rosto de Sugizo, e este procurou esquivar-se ao máximo dos cabelos ainda molhados do outro, que obviamente tinha acabado de sair do banho. - Parece que está em um velório, e não em uma festa.
- Não tenho tempo pra perder com você, Hirohide. Sai da minha frente. - o Camaleão forçou o braço, e livrou o pulso do aperto da mão do loiro, afastando-se a passos largos.
- Se quiser me procure mais tarde, eu te ajudo a relaxar, hahaha!! - riu, falando alto para ter a certeza de que o Camaleão tivesse ouvido sua proposta. Assim que Sugizo desapareceu pelo corredor, Hakuei tomou o caminho oposto, que o levaria até o Salão Nobre. Para ele aquela festa estava apenas em seu início.
Ao passar por uma janela aberta no fim do corredor, o Gecko parou, repentinamente. Levantou uma sobrancelha, experimentando aquela sensação típica de quando pensamos ter visto algo como um vulto passar por nós. Como após vários segundos de silêncio ele não percebesse mais nada anormal, prosseguiu.
A primeira coisa que faria era ir à cozinha e pegar uma bela taça de absinto...
4:05 AM - [ Jardins do Oásis ]
Até então tudo corria conforme ele havia planejado. O lugar estava lotado, e a agitação e o número de pessoas eram os melhores modos dele se camuflar e passar despercebido. E pensar que por pouco, por -muito- pouco, não havia conseguido prematuramente concluir o seu objetivo! Infelizmente ele acabou sendo visto por alguém que não devia, e precisou se esconder de novo. Não podia mais correr o risco. Falhar não era uma opção. Aquilo tinha que dar certo.
Descobriu que a Toca era um lugar muito grande. Inicialmente, as dimensões do Restaurante dão a impressão do lugar ser pequeno; a propriedade, contudo, se estende para trás pelo quarteirão inteiro. Casas e propriedades comerciais, na esquerda e direita, camuflam o verdadeiro tamanho do terreno, ocultando-o. Ao fundo do quarteirão existe um casarão velho, que disfarça justamente uma entrada dos fundos cuja uma das utilidades é servir como estacionamento da Máfia. O casarão por si só esconde dezenas de alarmes e câmeras que ele próprio não diria que existiam, se não tivesse visto com seus próprios olhos em um dos aposentos da Máfia (e este aposento possui computadores e câmeras que monitoram e garantem a segurança de toda a propriedade, incluindo o restaurante).
Some a isso todo um andar subterrâneo com as mesmas extensões do superior, que abriga um gigantesco depósito de armas e afins.
Admirável, não? Se ele fosse optar por um lugar para esconder a sua Máfia, seria um lugar assim. Quem imaginaria? Talvez ele entendesse pouco dessa coisa de império mafioso... mas aquele lugar era algo muito longe do que ele tomava por base de operações.
Após atravessar a propriedade pelos corredores mais desertos da Toca (e ser quase descoberto), ele atingiu a área da varanda, que abre passagem para os Jardins particulares dali. Decidiu que por fora da casa era bem mais seguro esconder-se e aguardar até que os Lagartos fossem dormir. Sabe-se lá a que horas. Não importava.
Ele tinha todo o tempo do mundo. Havia desistido de tudo por -aquilo-.
Tirando um binóculo da bolsa que carregava consigo, espiou por uma das janelas entreabertas que lhe proporcionavam visão do Salão Nobre, onde a comemoração da Máfia ocorria. Alguns Lagartos começavam a se aglomerar ao redor do piano, o que significava que em breve Tokage estaria por ali. A performance, pelo visto, havia sido adiada por alguns minutos.
Talvez... daquela distância, durante a performance, ele conseguisse... mas não... não haveria tempo para fugir depois. Ele seria morto. Ainda que o medo da morte não fosse algo que lhe afetasse. Ele -queria- mais tempo para aproveitar. O melhor seria ater-se ao seu plano original. Dois meses de planejamento, os mais longos de sua vida.
Não importava quando fosse, ou quanto tempo durasse. O que importava era que -acontecesse-.
Tudo aquilo, porém, perdeu a importância em um segundo fatídico: assim que ele sentiu o cano de uma arma encostado contra a sua cabeça, baixou o binóculo, sentindo o seu coração bater praticamente para fora do peito. Se o gatilho fosse puxado e ele perdesse a vida ali, suas últimas palavras, ecoando em seu próprio pensamento, seriam:
“Ainda não!”
Ele havia sido pego. Estava tudo acabado. Ele podia apelar para uma última tentativa, caso fosse ágil o bastante para esquivar-se com a bolsa, puxar sua PT80 e-
Mas ele apenas deu um suspiro desanimado. Embora sentisse as pontas dos dedos esfriando, assim como o resto de seu corpo (e então ele entendeu o significado verdadeiro da expressão “suar frio”), levou a mão direita à gola de sua camisa, de onde desprendeu um par de óculos de aro preto, colocando-o de volta em seu rosto. A pessoa atrás de si finalmente fez-se ouvir:
- Deixe a bolsa e qualquer arma no chão, e levante, devagar.
Assim ele fez, despido de qualquer outra escolha.
Mako observou intrigado o intruso, suspeitando a total tranqüilidade com que este encarava o fato de estar -muito- perto da própria morte. Quando virou-se de frente para Mako, a Iguana deparou-se com um jovem de cabelos arrepiados e óculos de aro grosso preto, dono de um rosto bem masculino e ares de quem, mesmo derrotado, não se arrependeu em nada do que havia feito até então (ou que ainda planejava fazer).
- Suponho que deva lhe dar os parabéns. Você é a primeira pessoa que consegue burlar todo o sistema de segurança do Oásis, e passar despercebido... até agora. Mas você já esteve aqui antes... em uma das nossas noites de gala, há poucos dias. E pelo visto utilizou bem o tempo de familiarizar-se com a área, já que tinha o retorno planejado. Não é mesmo, NERO?
Nero sorriu, confirmando com a cabeça. Manteve o silêncio, intrigando Mako:
- Você não tem nem um pouco de medo, não é?
- Você sabe por que eu estou aqui, não é? - interrompeu Nero, sério. - Você sabia o tempo todo, claro; tem um olho incrível. Se você sabe o motivo, não fique surpreso. Antes de conseguir o que eu quero, eu não teria medo do próprio diabo encarnado.
Mako não retribuiu o sorriso desafiador que lhe era dirigido; simplesmente baixou a pistola que apontava para o rosto de Nero e cruzou os braços, recostando-se na árvore a seu lado.
- Poderíamos resolver isso de um modo bem simples. Eu atiro, você morre. - falou a iguana, impaciente. - Ou você me dá um motivo muito bom para querer assassinar um dos nossos Lagartos, e talvez eu deixe você ir embora vivo.
- Vamos ver.... um motivo além do cara que eu quero ser responsável pelo furto do seu lote de armamento? E eu ter a prova que você precisa? - O intruso tirou do bolso da calça uma foto, e entregou-a. - Tome, é toda sua. Faça o que quiser com ela.
Mako congelou diante da polaroid. Era uma foto claramente batida por alguém que estava escondido, e nela, Aoi e o chefe de uma quadrilha de contrabando de armas conversavam à mesa de um restaurante. Quadrilha que guardava há muito tempo inimizades por Tokage negar com eles qualquer tipo de negociação que envolvesse a venda ou compra de armas e munição. A Iguana piscou uma, duas, três vezes. Sabia o que aquilo significava.
Havia sido esta mesma quadrilha que Mako precisou investigar junto aos Basiliscos há seis meses atrás. E em qualquer negócio em que os Basiliscos estivessem envolvidos, estariam os homens que Hayashi Yoshiki mais desprezava na face da terra. Qualquer um que se relacionasse com eles, seria também considerado um traidor. Não havia engano algum. Isto significava definitivamente que...
...o Agame Aoi havia assinado a sua própria sentença de morte. Duas vezes.
- Você não veio aqui pra fazer um favor para os Lagartos. O que você pensa em fazer, Nero? Você sabe, não sabe? Por mais que o Aoi esteja condenado, se -você- matá-lo, o próximo nome da lista é o seu.
Ele simplesmente sorriu, abaixando um pouco o rosto.
- Eu não tenho mais nada a perder.
Mako sentiu uma familiaridade vinda do brilho nos olhos do outro. O desejo de vingança pela perda de alguém próximo. A Iguana lembrou-se de tempos que ficaram para trás, em sua própria vida. Era angustiante ver a história se repetindo de novo e de novo.
- Eu não quero fazer com que você mude de idéia... mas vou dizer isto apenas uma vez: você tem a chance de começar de novo. Quero que por hoje, você pense nisso. E se amanhã... - Mako pausou, hesitando um pouco antes de prosseguir. - ...se amanhã você ainda tiver certeza de que é isso o que você quer, volte aqui, às 18h em ponto. Haverá uma reunião geral, e eu colocarei você dentro dela.
Nero encarou-o, surpreso. Seus lábios se partiram, mas nenhuma palavra parecia conseguir ser formada. Mako agachou-se e pegou a bolsa e o binóculo, entregando-o de volta ao mais baixo.
- E se você voltar, Nero... volte preparado para morrer.
Do fundo do seu coração, a Iguana desejou nunca mais ver o rapaz. Mas a parte inquieta do seu coração sabia muito mais e bem melhor do que os seus próprios desejos idealistas. Quando voltou a olhar para trás, Mako não viu nada além do jardim do Oásis. Nero havia desaparecido, tal qual uma ilusão.
A polaroid nas mãos da iguana, no entanto, era a prova de que aquele pesadelo estava apenas no seu início.
XXX
Novas aparições ;D
Shizumi - ex-baterista do Kagerou.
http://i120.photobucket.com/albums/o190/Love_it_to_Death/J-Rock/Kagerou/Kagerou74.jpg Yoshihiko - vocalista do heidi.
http://jrockrae.files.wordpress.com/2007/10/yoshiko.jpghttp://i210.photobucket.com/albums/bb32/bouSama/yoshihikokr2.jpg Miya - guitarrista e líder do MUCC.
http://i77.photobucket.com/albums/j41/sarcasm16/miya1.jpghttp://i6.photobucket.com/albums/y233/Rotten_Kyo/Dragonfly/Mucc/miya002.jpg Nero - baterista e líder do Merry
http://i33.photobucket.com/albums/d64/rapturouspurple/Nero%20of%20Merry/041ek7.jpg Ryou - vocalista do Kannivalism; ex-Baroque (já apareceu anteriormente, mas como desta vez foi algo mair expressivo...)
http://i89.photobucket.com/albums/k228/Miki-091/Miki/kannivalism/ryou.jpg XXX