Quiçá tivesse pegado a outra estrada, dado uma boa volta pelo descampado e observado algumas folhinhas arrastadas pelo vento. Quiçá tivesse ficado no outro carro, o dela, e ido na outra direção, a que ela foi. Quiçá tivesse dito a coisa certa, e não meias verdades, ou verdades inteiras ou mentiras completas. Poderia tê-la olhado os olhos e pensado ( Read more... )

Tinha que comprar papel higiênico, portanto, cruzava os corredores do pequeno supermercado à caça deles. Havia uma pirâmide do papel de uma marca diabo bizarra: Dálmatas! Imaginava nádegas cobertas de pontinhos pretos quando uma criatura voadora entra em meu campo de visão e desvio no reflexo antes que me atingisse na cara. O bicho rodopia ( Read more... )

Carne trêmula. A frase ainda trêmula nos meus lábios, sonora, repetindo as sílabas. Trê. Mú. Lá. Um filme, um livro, parte de uma poesia. Uma junção de palavras que me veio com o vento, esgueirando-se por bocas alheias e navegando no meio dos outros barulhos. Uma voz feminina, mas grave, como de uma cantora de cabaré.
O “carne” tinha sido ( Read more... )

O Bizarro da parte erótica de um garoto criado pela mãe e pela avó, é como isso acontece de forma tardia. Lembro de que as duas não permitiam que meus tios entrassem em contato comigo pra não falarem de "besteira, de sexo". Mulher pelada era assunto proibido em casa. Quando criança eu olhava com curiosidade, mas nada mais que isso. Lembro que nas ( Read more... )

O som daquele beijo, baixo assim, bastou para deixar mudos todos os outros sons. Ficou único e perfeitamente audível. Um pouco estalado, sorvido de leve, com um toque de ansiedade breve.

Estavam fechados os olhos dos dois, como que a aguardar algum sinal externo  de que aquele momento já tinha chegado ao fim, que alguém precisava ir embora, erguer ( Read more... )

Não é de hoje que se tem crises de inspiração, e nem um pouco incomum entrar em desespero por uma ideia que se desintegra e explode-se em fagulhas invisíveis no friozinho da manhã. Quantas pessoas estariam insones numa mesma madrugada odiosa, olhando a tela branca de um editor de texto, de um browser, com vontade de socá-la bem no focinho ( Read more... )

Acordou ainda tonto. Tudo parecia rarefeito, superexposto a iluminação, descalibrado. O rosto dele estava manchado, era tudo muito estranho. Uma melodia de piano tocava ao fundo, vindo de uma vitrola velha, um som radiofônico, cheio de sujeiras e imperfeições. A janela estava escancarada, o sol urrava em luzes amareladas, invadindo a tudo, ( Read more... )

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Ele achava que a culpa era da Verônica. Era e não era. Talvez dele mesmo, ou não. Ela tinha sido sacana, mas pra isso ele teve que ser sacana antes. Teve que parar de ouví-la. De fingir, de prometer, de jurar sem ter a menor vontade de cumprir. As coisas estavam uma merda mesmo. Meio que tinha que ser. É. Tinha.

Estava sentado na varanda. Era uma ( Read more... )

Tinha a mania de tomar banho sentada. Levava todas as coisas necessárias para o chão com ela: Xampu, condicionador, sabonete, esponja, gilete... um verdadeiro arsenal. Enchia os cachos com xampu especial, e cobria a cabeça com espuma suficiente para o corpo todo. Durante o enxágue, com os olhos apertados, esfregava as mãos no rosto. Deus abençoe os ( Read more... )

Piscavam. Os brincos. Brilhavam com a luzinha clara da loja de roupas, e ela sorria lindamente. Vadia. Queria comê-la. Enterrar meus dentes naquele pescoço e rasgar a seda do vestido, ia ser bom. Ela não me notaria, meu uniforme, meu uniforme assustava. Vadia, queria que olhasse. Passaria a mão no pau e sorriria, ela talvez topasse por duzentão. ( Read more... )