FLUSHED AWAY

Jan 14, 2007 14:32


Roddy é o rato de estimação de uma pobre menina rica que vive na sofisticada Kensington, England. Quando todos saem de férias, ele fica sozinho em casa, na maior mordomia, tentando driblar o tédio e a solidão fazendo de brinquedos os seus amigos. Mas não por muito tempo. De repente, a mansão é invadida por Sid, um rato de esgoto que passou bem longe de qualquer aula de etiqueta, que acaba mandando o pobre Roddy privada abaixo. Descendo feito bosta pelo encanamento, o rato almofadinha cai sem pára-quedas no meio do esgoto, que na verdade é uma metrópole super movimentada sob o ponto de vista de ratos e outros animais que habitam aquele submundo. A partir daí é aquele papo: Roddy vai tentar retornar à mansão onde vive, mas no meio do caminho esbarra com a aventureira Rita, com quem vai aprender todas aquelas lições clichês de vida - no caso, nenhum rato é uma ilha? -, e ajuda a salvar o dia enfrentando os bad boys - que aqui são representados por The Toad, o sapo du mau, e Le Frog, seu primo francês cheio de comparsas igualmente pitorescos.

Lançado em parceria com a Dreamworks Animation, 'Flushed Away' é o primeiro projeto 100% CGI da Aardman Studios, a única grande empresa cinematográfica que continua rodando filmes inteiros a partir da boa e velha técnica do stop-motion, que eu adoro. Isso porque o problemático elemento água, que está presente em mais de 50% das cenas do longa, inviabilizou a utilização da trabalhosa técnica e suas fotografias estáticas. Dessa forma o jeito foi apelar para computadores de última geração e fazer com que os técnicos de efeitos especiais simulassem esse outro efeito especial, recriando da melhor maneira possível os ambientes e personagens que antes eram feitos com massas de modelar. Isso irritou os mais xiitas, que estão descendo o cacete na produção, mas a verdade é que o resultado conseguiu juntar todo o charme, ingenuidade e sutileza de detalhes da Aardman - a relação visual com os trabalhos anteriores do estúdio, por exemplo, é evidente - com as habilidades tecnológicas da DreamWorks. Tá certo, a narrativa e a profundidade das personagens perderam um pouco de espaço em prol da velocidade supersônica do ritmo video-game-de-última-geração e o roteiro se mostra bem volúvel com a mudança de foco no interesse das personagens, mas ainda assim não acredite nas barbaridades que você possa ler por aí - a maioria influenciada apenas pela bilheteria desfavorável que o filme arrecadou nos Estados Unidos.

'Por Água Abaixo' é, sim, muito divertido, extremamente ágil e engraçadão. E muito disso deve-se, além das características visuais já mencionadas, à forma com que ele abraça o lúdico e o tosco, sem deixar as inteligentes sacadas do lado fora, ao contar uma história cheia de ação, aventura, romance, companheirismo e aquele humor inglês que muito me agrada. O esgoto aliás é uma mini-Londres com tudo que se tem direito: Big Ben, guardas imóveis, Copa do Mundo, muitos sotaques e turistas americanos sem qualquer noção. Dá para entender aquele suposto fracasso nas bilheterias do Tio Sam, né? As citações à outras produções e os números musicais interpretados por lesmas tão hilárias quanto onipresentes são outros dos muitos acertos do longa. Além disso eles escracham os franceses - Jean Reno dizendo coisas como 'I find everyone's pain amusing, except my own... I'm French!' não tem preço! -, tiram uma com a cara do Nemo, brincam de 007... Até barata lendo 'La Metamorfosis' você encontra. Sem falar no excelente desempenho vocal dos atores. Se lá em 'Over the Hedge' Wanda Sykes e Steve Carell roubam todas as cenas e salvam o filme de um desastre total, aqui todo mundo brilha. Mas tenho que destacar, além da ratinha cheia de atitude da Kate 'Todaboasempreótima' Winslet, o Ian McKellen e a sua entonação afetada, no melhor sentido da palavra, ao dar vida a um sapo megalomaníaco super 'fruitcake'. E, claro, o Hugh Jackman, que continua com essa forte empreitada de me fazer ficar de quatro por ele - ui! -, e sua voz hesitante, desastrada, almofadinha, afinada - além de tudo canta bem! - e muito, muito simpática mesmo. A trilha sonora fala por si só. E se você vai concordar com tudo isso eu não sei, mas ainda que eu não negue toda beleza técnica dos pingüins cantores, 'Flushed Away' é a melhor animação de 2006. E não se fala mais nisso.
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