E então Deus fez a luz.
E quando isso aconteceu ele pode ver seus dedos do pé. Não havia muita coisa onde o olhar pudesse focar, ele já conhecia bem tudo a sua volta, e sempre que se via sem ter o que fazer olhava seus dedos do pé. Alguns dedos pálidos, bem sujos e com as unhas escuras. Sujeira que penetrva na pele dele como uma camada de pó. O pó que cai sobre as coisas que ficam esquecidas na estante. Ele era uma dessas coisas.
Tentou esticar um pouco a cabeça mas a coleira não deixava. Era uma dessas coleiras justas, feita de um plástico muito bom. Nunca se rasgava, não podia ser arrancada e só se abria com o cadeado de ferro que ficava na nuca. Ele passou os dedos pelo cadeado e suspirou cansado, tentando iguinorar o corpo reclamando que estava na mesma posição a muito tempo. Ele não podia se mexer muito, apesar do espaço enorme onde ele estava.
Encostou a cabeça na parede contra a cama melancólico. Conhecia muito bem aquela estante sobre a cama, os armários ao redor e a cama embutida no meio de tudo aquilo. Aquelas cortinas pálidas, aquela janela...terrívelmente familiar aquela janela. O mundo se abrindo como um livro infinito e ele só podendo observar aquele desfile. A escrivaninha na frente da cama, mais uma parede forrada de prateleiras e livros, o computador e a pequena televisão. Tudo aquilo montava um quarto informal de um rapaz que provavelmente estava na universidade ou terminando os estudos. Todo aquele universo tinha virado uma prisão.
Respirou cansado enquanto fechava os olhos. Tinha acordado com a luz da janela, e como não tinha nenhum relógio por perto deviam ser umas dez da manhã, ou algo perto disso. As mãos entrelaçadas sobre a barriga nua exibiam toda a tensão de um corpo muito cansado, os dedos se apertando e se empurrando até suas pontas perderem a pouca cor. Ele todo estava perdendo a cor.
Passadas algumas horas e ele continuava na mesma posição. O corpo nu estendido sobre a cama como um boneco de cera, o rosto sem vida olhando sempre para a frente. As mãos se torcendo e se apertando. Por um momento os olhos escuros se crisparam, e em seguida o ambiente mudou.
Uma ansiedade maligna dominou seu corpo, sentia em seu estômago algo quente e amargo se mexendo, as mãos tremendo e os olhos exibiam um temor sobrenatural. Ele se sentou e se encolheu no canto da cama enquanto ouvia o som de passos se tornar mais alto. Abraçou os joelhos e tentou esconder o rosto, mesmo sabendo que ele não podia se tornar invisível.
A porta do quarto se abriu devagar e primeiro ele viu um sapato de couro italiano, em seguida um par de pernas cobertas por uma calça social feita sob medida e logo veio o tronco e os braços cobertos por um terno caro. As mãos claras e os dedos longos fecharam a porta assim que ele entrou. Ele se recusava a encarar o rosto, mas conhecia muito bem. O ato de olhar que parecia profano.
O barulho do metal contra a mesa de madeira o fez estremecer. O homem de terno trazia um enorme saco pardo nos braços, e estava de costas tirando as coisas de dentro dele. Logo um par de algemas, uma bolinha de tênis, um tubo de cobertura de chocolate e algumas barras de cereal surgiram e ele começou a tremer. O corpo todo se mexia sem querer, e ele logo estava batendo os dentes, como se estivesse dominado por um frio intenso.
O homem de terno se virou assim que tirou um jornal do saco e se aproximou sorrindo da cama. Aquele sorriso terrível, falso, vazio. Ele se sentou na ponta da cama ainda sorrindo e o olhou por um tempo que pareceu uma eternidade. Deu uma risadinha de satisfação e bateu de leve no lençol.
- Você me esperou acordado? Que gentileza...vem, pode se aproximar.
Os olhos escuros o observavam temerosos. Ele não ousava fazer qualquer movimento, sequer respirar. Mas seu corpo o traia tremendo, e ele sentiu uma vontade enorme de chorar quando observou a impaciência naqueles olhos castanhos.
- Não me faça te pegar ai, eu estou com o jornal, olha aqui. - levantou o jornal enrolado como um sinal de paz, e bateu mais uma vez no lençol - Eu sei que você quer ler, pode vir.
Os dois se encararam por um segundo e L sentiu que se não se aproximasse seria pior. Teve que reunir todas as forças do seu corpo para chegar perto dele, sempre cauteloso. Engatinhava na cama com medo, como se um movimento em falso terminaria em pancadaria, e ele queria evitar aquilo a todo custo. Se ajoelhou na metade da cama e esperou receoso, as mãos tremendo sobre as coxas pálidas e pontilhadas com diversos círculos roxos.
- Mais perto, vamos. Não vou conseguir te mostrar as fotos dai.
Ele engatinhou mais um pouco e parou.
- Olha, hoje você está um chato. - Raito falou com uma impaciência falsa e se sentou mais perto. Sorriu carinhoso enquanto abria o jornal e olhava para L, tentando conquistar sua atenção. - Mas olha aqui, falaram de novo de você.
Era um jornal de circulação nacional, e na capa havia uma foto do detetvive L ocupando metade da página. Uma pequena matéria do lado comentava brevemente o caso que se estendia por quase três meses, um desaparecimento que se tornou um evento diplomático. O detetive japonês que trabalhava com policiais de todo o mundo desapareceu e ninguém tinha idéia do seu paradeiro. A polícia japonesa investigava mas não conseguia nenhuma pista que valesse realmente a pena.
Raito lia a pequena matéria com uma entonação divertida, cutucando L para olhar um ou outro comentário, mas ele só conseguia ver uma coisa: a foto na primeira folha.
-...e o detetive só ganhou fama por investigar o caso Kira, veja só! Estão falando de mim agora! Não é divertido como colocam nós dois lado-a-lado sempre? Não é algo que te deixaria feliz, Lawliet?
L não respondeu, apenas baixou os olhos para o lençol tentando não chorar.
Raito se levantou e jogou o jornal na cama enquanto se espreguiçava. Andou devagar em direção a escrivaninha e parou para se virar e ver L olhando o jornal com um olhar perdido. Sorriu.
A matéria continuava em duas folhas, e mostrava fotos do centro da polícia japonesa, onde L trabalhava quando sumiu. Havia um pequeno esquema gráfico explicando os casos que o detetive trabalhou e um outro infográfico mostrando o que a imprensa sabia sobre Kira. L devorava as notícias e olhava as fotos o mais rápido que podia, sempre ouvindo o que Raito estava fazendo. Ele não tinha muito tempo para ler, mas sua mente perdia o foco quando o silêncio se tornava paupável. O corpo começava a tremer e ele sentia o medo lhe secar a boca.
Quando ele ergueu a cabeça de novo sentiu um soco, e quando caiu na cama levou outro, e em seguida Raito estava sobre ele socando, beliscando, arranhando e cortando tudo que suas mãos conseguiam encostar. Ele abriu a carne dos lábios, inchou os olhos já maltratados pela insônia, arrancou cabelos, arranhou o pescoço e mordeu e machucou os braços. A cada berro um novo tapa, cada choro era outro soco, cada lamentação que conseguia sair daquela boca sangrenta L tomava outro soco no estômago.
Seu corpo rolou para o lado enquanto Raito ainda ajoelhado saia de cima do corpo magro e desnutrido do detetive. Puxou L pelos ombros e o jogou de bruços na cama, abrindo a calça enquanto sorria. Não esperou L erguer a cabeça, simplesmente abriu caminho com as mãos e entrou sem cerimônias. Entrou e saiu o suficiente para fazer o rapaz gemer de dor, e ai sim Raito fez devagar, o mais devagar possível para que ele pudesse sentir a sensação de estar sendo rasgado com calma. Raito segurava os ossos do quadril com firmeza e seu membro entrava firme a cada gemido ou cada choro que L emitia, e quando Raito se sentiu satisfeito, ele parou de se mexer ainda dentro.
Sem falar nada, Raito tirou a bolinha de tênis do bolso da calça e brincou com ela entre as mãos. A colocou entre seu pênis e a bunda de L e puxou a cabeça dele pelos cabelos da nuca enquanto se apoiava na cama com a outra mão.
- Acho que você já sabe que eu estava doido pra brincar com essa bolinha né?
Os olhos escuros de L o encaravam horrorizados, e Raito jogou o corpo para trás ainda puxando L pelos cabelos, que gemeu agoniado. Raito soltou os cabelos e quase que ao mesmo tempo continuou puxando L pela corrente fina que prendia a coleira a cama. Puxou com força algumas vezes para ver L engasgando, e ai sim pegou a bolinha de tênis e a colocou firme na boca do rapaz.
Em seguida, jogou o rosto dele contra a cama e o manteve sufocado enquanto estuprava com força, aquele corpo destruído. Ao lado deles, o rosto do detetive Lawliet testemunhava a cena, o jornal amarrotado na cama caiu no chão conforme a cama se mexia, mas ninguém ligou.
Aquele ato durou algum tempo ainda, até que Raito finalmente gozou e saiu de cima de L com movimentos imprecisos, o corpo ainda cansado do êxtase. Empurrou L para o outro lado e se ajoelhou na cama ofegante. Olhava o rosto choroso de L deformado pela bola de tênis que ele se via obrigado a morder. O perigo de uma mandíbula ser estourada nem passava pela cabeça de Raito. Ele se ergueu da cama e andou até a escrivaninha. Tirou todo o resto de roupa do corpo e andou devagar em direção a cama.
L sabia o que ele iria fazer agora e nem precisava ver o brilho das correntes da algema. Ele ainda sentia aquela dor terrível na bunda mas nao queria se mexer muito. Queria apenas que Raito falasse o que tivesse que falar e terminasse aquela tortura como sempre fazia. Como a nove semanas ele ouvia a culpa que tinha perante o tribunal que a mente insana de Raito/Kira tinha organizado, e que o castigo ele sofria todos os dias, pontualmente ao meio-dia.
Mas para a sua surpresa Raito simplesmente se ajoelhou na cama e puxou um dos pulsos finos dele e prendeu embaixo do colchão, agarrando a outra algema ao estrado da cama. Raito aproximou o rosto de L devagar, até que as testas de ambos se encostassem.
- Enquanto você quiser me buscar eu vou te manter comigo.
E puxou o corpo de L de forma que ele ficasse atravessado sobre a cama. Puxou com força e de tal forma que o braço preso dele ficasse torto sobre sua cabeça. L urrou de dor e de susto, e chorou agoniado quando recebeu um tapa na cara. O rosto se virou com força contra o braço, e ele sentiu uma sensação gelada quando ouviu o barulho de algo se quebrando bem perto do seu ouvido. O mundo pareceu parar de girar.
Assim como Deus havia concedido a luz para os homens, ele também lhes deu a escuridão para que pudessem descansar. E com a escuridão Raito ia embora trabalhar na busca do detetive L. Enquanto seu cativo continuava chorando as cicatrizes daquele dia. E apesar de tudo aquilo, o que mais deprimia L é que ele não tinha a menor vontade de parar de buscar por Kira. Mesmo que ele já soubesse onde ele estava.
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Fic para o
30cookies Set: Verão.
Tema: Enquanto.
Título: Cativo.