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Aug 21, 2008 20:30


Com um atraso absurdo, a fic de aniversário para a reibusakasu.
Esquema de sempre: kauanna publicou a primeira parte (necessária para entender a fic). Meu post de parabéns no orelhinhas. E a fic segue abaixo.
A única garagem da cidade onde eles conseguiram tocar sem incomodar muito a vizinhança ficava longe do centro, embaixo de uma pocilga que dizia o vendedor ter sido uma mecânica. Uma pequena escada quase escondida entre a rua era a entrada para aquele quarto sujo e mofado onde eles estavam.
O rapaz quase tremia tamanha a excitação. Era mais fácil do que ele pensava brincar com sensações alheias, e o súbito poder o fazia sorrir como um tonto, mas ele mantinha a pose. Sabia bem como fazer isso. Subia os degraus em passos frenéticos, com as mãos nos bolsos das calças da moda e com um sorriso maroto nos lábios. Apesar da pose, era inocente demais.
Olhou para o céu sem grandes preocupações e se abrigou da chuva que começou a cair embaixo do velho toldo da mecânica. Quando lembrava do beijo dava risada, e quase não conseguiu acender o isqueiro, tamanha era a empolgação. Soltou a fumaça cinza sem pressa e se encostou na parede com descuido, em uma pose quase ensaiada. Continuava rindo.
Entrar na banda não tinha sido complicado, conhecia de vista o pessoal e era realmente bom no que fazia. E provar que sua pouca idade não significava nada perto do que ele conseguia fazer com aquelas baquetas tinha sido um verdadeiro tesão. Um tesão que só aumentava enquanto ele observava o fascínio do vocalista, que parecia engolir seu corpo jovem com aqueles olhos escuros que o fascinaram desde a primeira vez que os viu. Os olhos...a boca...o rosto marcado, não pela velhice. Não, ele não era velho. Não parecia.
Se remexeu e se acomodou melhor contra a parede pensando. Ele não sabia quantos anos o vocalista tinha. Nem o nome dele sabia. Chamavam-no de K. Mas K de que porra? Puxou mais um trago enquanto lembrava do rosto dele depois do beijo, aquela carinha assustada de uma colegial, putz! Um cara daquela idade tão embasbacado assim com um beijo? Era de pedir para morrer de rir. Ele próprio morreria de rir, mas não conseguia.
O cigarro já estava acabando e ele começava a pensar para onde iria, quando ouviu a porta do quarto de ensaio escancarando. Passos nervosos subindo a escada e um homem furioso que vinha na sua direção. Mesmo que Nell tivesse tempo de pensar em fugir, não conseguiria, o homem já tinha pegado seu colarinho e jogado seu corpo contra a parede com uma força descomunal.
- Escuta aqui seu bosta, você pensa que simplesmente sai assim? - os olhos escuros do agressor queimavam de raiva. Nell ainda piscou aturdido alguns momentos e quando tentou falar, foi interrompido pela dor das suas costelas sendo arremessadas contra o chão. - Aaah, mas não é assim não rapaz! Não mesmo!
Se K esperava que o rapazola virasse o rosto para o lado esperando em agonia um soco, se enganou profundamente. Nell o encarava com firmeza, fitando seus olhos sem hesitar. Aquele olhar firme...aquelas veias saltadas naquele pescoço longo...aqueles cabelos rebeldes em volta dos olhos...se aquele menino desse uma chance, somente uma...
K saiu dos seus pensamentos com o cuspe quente que escorria pelos seus olhos. Nell lhe oferecia apenas um sorriso de deboche, convidando K a simplesmente foder a porra toda ali mesmo. O homem não podia acreditar na audácia do rapaz, e aquilo lhe excitava.
Não tinha planejado nada daquilo e agora se via segurando um rapaz escroto contra uma parede carcomida de uma mecânica podre, sentindo cuspe escorrendo pelo seu rosto. Só queria falar com ele, quem sabe conversar um pouco sobre trivialidades, seguir toda aquela ladainha idiota da conquista, não aquilo. O que merda esses jovens aprendem na rua?
Apesar que aquilo era uma abertura. Aquele franguinho metido a baterista queria brincar, e K sabia brincar.
O soco que Nell sentiu não foi surpresa, mas foi mais forte do que ele esperava. Pelo jeito de andar de K, o garoto não esperava tanta força, afinal um homem daquela idade com um corpo tão....magro, da onde aquela força havia surgido? E pra onde ele estava sendo levado? K queria voltar com ele até o quarto porque? E porque demônios ele não estava fazendo nada para evitar aquilo? Podia bater contra a costas dele, socar o ombro onde o homem o apoiava, arrancar suas orelhas, mas seu corpo não obedecia.
A porta do quarto quase quebrou ao levar o chute que K deu para abrir caminho e uma luz frouxa se acendeu. Os dois homens encharcados pela chuva descomunal que começava a cair molhavam o carpete mofado sem nenhuma preocupação, apesar de um deles não poder sequer reclamar.
O quarto não era grande coisa, mal cabia os instrumentos e os caras ainda enfiaram um sofá carcomido. E naquele sofá nojento Nell foi jogado. Sem esperar qualquer reação do garoto, K afundou a mão no rosto fino dele, e com um movimento rápido prendeu ambos os pulsos dele acima da sua cabeça com apenas uma mão, enquanto a outra arrancava sem muita dificuldade a fina camiseta que Nell usava. Ele se debatia, tentava berrar mas levava um bofete a cada gemido que deixava escapar. Aqueles momentos pareceram durar uma eternidade.
O tempo dos dois não era o mesmo tempo do mundo lá fora. As regras da sociedade deixavam de existir naquele quarto. Afinal, ninguém poderia ver com bons olhos um homem sendo dominado por outro enquanto apanhava e berrava com um tom sexual em resposta.
Houve um momento em que K não conseguia mais bater. O rosto de Nell já exibia tantos hematomas que nem K tinha coragem de prejudicar ainda mais aquele rosto. Parou e, ainda segurando os pulsos do garoto observou o peito dele arfar, sua boca tingida de vermelho aberta, a respiração ofegante, os olhos injetados respondendo com profunda ira ao olhar divertido do homem.
Apesar de estar na casa dos trinta, K ainda se vestia bem. Usava uma regata preta e jeans bem coladas ao corpo, e botas militares longas, com o cadarço colocado como a moda mandava. Os cabelos bem desarrumados com gel, muitos colares, os braços adornados com tatuagens diversas. Nell gostaria de ter perguntado sobre aquelas tatuagens, mas agora olhava assustado para a mão livre de K, que puxava com impaciência o cadarço do coturno. O garoto percebeu o que ele queria, e tentou se soltar, berrando e mexendo loucamente as pernas, mas quando sentiu seus pulsos latejarem com o cadarço sendo amarrado sentiu um desânimo profundo.
Ele ainda podia se erguer se quisesse, mas tinha perdido o ânimo muito facilmente. K se sentou sobre suas pernas e passava a mão sobre o peito do rapaz devagar, sem nenhuma pressa seus dedos longos passeavam pelos ossos que marcavam a pele pálida de Nell. Seus dedos tingidos de sangue deixavam pequenas marcas ao redor dos mamilos e em volta do umbigo, e o toque sensível das unhas bem cuidadas excitavam Nell sem querer. Ele tentou se remexer no começo, mas quanto mais se debatia mais o peso de K sobre suas pernas se tornava insuportável, e minutos depois ele se resignou a observar K admirar seu corpo.
Na verdade tudo aquilo era muito...bonito. Considerando toda a beleza da situação, ele sendo admirado com um interesse que não se lembrava de ter sido alvo nos últimos, sei lá, 20 anos. Os olhos de K pareciam grandes poços de águas turvas, refletindo as marcas avermelhadas que os dedos dele deixavam pelo corpo. A luz fraca (e misteriosamente acesa durante todo esse banzé) no meio do quarto lançava sombras sobre aquele rosto marcado pelo tempo, e Nell se viu perdido admirando as sombras e as marcas ao redor daquela boca, a sobrancelha perfeita contornando os olhos rasgados, a aparência preocupada de alguém que quer parecer desleixado. Um mentiroso.
A mentira era um pecado capital até onde Nell se lembrava, e mesmo não acreditando em nada relacionado a religião, não ousaria mentir naquele momento. Estava torcendo para que K demorasse muito, imaginava com um desejo quase infantil aquele homem o possuindo de uma forma animalesca, e se fosse necessário derramar mais sangue, o rapaz não iria se importar.
Percebendo o olhar fixo de K sobre seu rosto, Nell piscou aturdido, surpreso com os próprios pensamentos, surpreso com o olhar intrigado de K. Sentiu como se estivesse milhas de distância daquele quarto sujo, e quando voltou a perceber a situação, ela não parecia tão bonita quanto ele havia imaginado.
K sorriu, um sorriso de um homem maduro que sabia quando um jovem saia da órbita do planeta Terra e sonhava longe demais de qualquer coisa. Um sorriso paternal que fez Nell agir sem pensar muito, virando o rosto para o lado emburrado. Aquele sorrisinho idiota tinha estragado tudo.
Mas K continuou sorrindo. Também sabia quando um jovem idiota queria chamar a atenção, e ele ainda tinha muito tempo para dedicar toda a atenção do mundo aquele baterista pretensioso.
Começou a tirar o outro cadarço sem tirar os olhos daquele rosto desinteressado que fitava as sombras. Sem deixar de sorrir.
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Fic para a reibusakasu 
Título: O Sorriso.

fanfic, !aniversário

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