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Aug 20, 2008 15:48


Duas mentes maléficas pensam melhor que apenas uma. A verdade é que kauanna e eu estamos juntas mais uma vez para continuar a história que começou como um presente de aniversário, e agora conitnua como outro presente. Dessa vez para a letrasdeacesso , que por estar sem internet não deve ter lido as primeiras partes.
Mesmo esquema do post com Olhos de Vidro: a fic vai debaixo da cut, o desejo de parabéns (atrasado) está no orelhinhas , e para entender esta fic, leia as fics na ordem. Pra facilitar, estou colocando os links:

Beijo Francês | Olhos de Vidro | Sensível | Capricho Divino.
Em breve eu coloco todas as fics em um post só pra facilitar no caso de alguém acompanhar (alguém acompanha?). Sem mais delongas, a fic.

Eu larguei o sonho de ser professor quando percebi que era inocente demais para isso. É um cargo que exige uma malícia que eu jamais sonhei em ter, acreditando apenas que bastava minha competência e meu carisma para educar pessoas. Eu não contava com a malícia do ser humano.
A única vez em que fui malicioso foi com um aluno de dezessete anos, a exatos treze anos atrás. Sinto como se minha cabeça girasse violentamente quando penso nisso, em todos esses anos, em tudo o que fiz que parece não ter sido nada. Pois todo meu esforço, todo meu gozo, todo meu viver e toda a minha vontade se direcionavam a apenas um nome: Jean.
Eu era velho demais naquela época, talvez tenha realmente exigido demais de um menino da idade dele. Talvez...talvez só eu sonhasse com um relacionamento duradouro. Um sonho alto demais, eu ria quando pensava em uma casa, talvez um pequeno apartamento onde passaríamos nosso tempo conversando e nos amando. Ilusões reais demais, que me machucam como um câncer. Jean é um câncer para o qual a medicina não encontrou solução.
Foi um momento breve demais, uma situação provocada pela falta de bom senso de ambas as partes. Dele quem sabe, foi apenas o desejo de ver até onde seu pobre professor poderia ir. E eu sonhando com uma vida juntos! Que idiota!
Balanço a cabeça e continuo andando pela rua. Esses anos todos me dediquei em viajar e aprender mais, talvez em uma busca desesperada pela maturidade que nunca tive. Já tenho a idade, a aparência, os gestos e talvez até o cheiro (oh deus isso me desespera tanto) de um velho, mas minha mente ainda voa alto. Ainda sonho com o pequeno apartamento. Ainda sinto o gosto daquela boca doce de dezessete anos. Ainda consigo sentir coisas tão sujas quanto uma boa dose de porra na cara e, que deus me ajude agora, eu não sinto uma gota de arrependimento correr pelas minhas veias.
De mero professor passei para um mestre medíocre, um doutor depressivo e agora me encontro no mais alto grau acadêmico reconhecido pelo homem, e gosto disso. Sei da minha vocação, e passando pelas ruas, lembrando de toda a minha vida enquanto sigo em frente, sei que sou bom no que faço e mereço o salário que ganho. Acredito genuinamente em todos os meus alunos, creio em um futuro fantástico para eles, que eles se tornem os maiores seres humanos desta era. Inocentemente continuo acreditando em tudo isso, a mais de dez anos. Treze.
A minha caminhada acadêmica me levou por diversos lugares. Desde o hemisfério sul até os confins da Europa, e nada mais agradável do que terminar em Paris, quem sabe aquietar esse fogo interno que me consome. É um desejo de sair pelas ruas, buscar algo que me faz uma falta absurda, mas não tenho idéia do que seja. Não é fome pela carne, tampouco por companhia. É a fome que vem do desejo pelo sonho, à vontade de realizar uma vontade impossível, que ninguém permitiria ou compreenderia. Os poucos que ouviram sobre isso me dissimularam a desistir. Isso quebra meu coração, eu não quero desistir de nada. Quero continuar na ilusão de quem aquele pequeno apartamento existe em algum lugar do tempo e espaço e que eu apenas não me lembro onde ele está. Que se eu andar distraído por Paris encontrarei o lugar e voltarei para onde sempre foi o meu lar, o refúgio das minhas memórias.
Por conta da minha dedicação homérica ao meu segundo maior sonho de vida eu me distanciei do mundo real. Livros sobre histórias inventadas e filmes perderam o sentido e a magia que causavam em mim antigamente. Músicas ainda são uma droga, mas não tão forte. Minha imaginação é a maior das drogas, e se preciso de uma trilha sonora, posso simplesmente inventar uma adequada. Mas não posso viver sonhando para sempre, e qual não foi a minha surpresa quando parei em frente a um velho cinema da cidade e observei o cartaz com dois cowboys se observando com desejo e me vi comprando uma entrada. Nem me lembro do nome do filme, só sei que era algo americano sobre amor gay. A crítica glorificava enquanto a platéia caia matando sobre o amor que desafiava as raízes do sonho americano. Brincar com velhas lendas é perigoso nesses dias.
O filme ficou na minha cabeça por um bom tempo, até que andar por galerias de cinema virou um hábito. As vozes francesas dublavam muito mal as emoções na tela (pelo menos para o meu ouvido americano), mas a idéia crua dos filmes sempre me absorvia. Eu buscava por qualquer outro filme que me desse sensação parecida, e perambulava como um fantasma por salas de cinema, das mais chiques a mais pulguentas. Andei como um condenado, chegava tarde da noite em casa com aulas em menos de quatro horas para serem apresentadas, mas sempre considerei um hobby maior que qualquer coisa nessa vida. Satisfazer minhas vontades de velho é algo que quero manter como capricho, obrigado.
E em um desses dias em que estou vagando como um drogado em abstinência, encontro uma galeria aberta que nunca tinha ido. Estranho. Nas paredes, filmes antigos com cartazes estranhos, Victor Hugo aclamado pelos pequenos intelectuais que ocupavam o corredor. Toda aquela conversa sobre diretores e blábláblá cinematográfico me deixava enjoado. Era como dissecar algo que me era caro, e era maçante tentar entender termos que eu nunca usaria, por isso me distanciava desse tipo de gente. Qual não foi minha surpresa quando encontro ao fundo um rapaz que já havia visto antes. Um rapaz de outras eras, tão velhas quanto a vida talvez.
Jean.
Ele me percebe e vira rápido o rosto quando me vê encarando ainda meio embasbacado. Olha fixamente para o cartaz na frente dele, mas percebo que não está lendo nada. Me aproximo devagar, cauteloso. Já confundi minhas fantasias com pessoas reais e essas não foram experiências agradáveis. Preciso ter certeza absoluta, me certificar que não estou sendo enganado pela terrível memória. Mas já estou sorrindo como um idiota por antecipação.
Me aproximo. Ele me olha assustado e bate na pilastra atrás dele, atordoado com a minha presença. Eu me pergunto quando foi que ele ficou tão sensível, mas logo eu começo a falar e uma conversa surreal se segue. Absolutamente surreal.
Eu tenho um sério problema com relacionamentos. Eu me sinto como um palhaço idiota tentando manter contato claro em uma língua desconhecida, mas aparentemente as pessoas me acham um homem firme e correto, com uma boa dicção e assuntos agradáveis. Eu não sei em que momento essa mudança a lá Médico e o Monstro ocorre, mas tenho medo pelo que posso fazer nesse estado. Quando as conversas acabam me sinto transtornado, como se tivesse sido jogado de volta a minha real personalidade e tento absorver os detalhes mais importantes da conversa que acabou de acontecer. Assim foi com Jean, me lembro de tudo bem claramente até que à vontade de dar um beijo naquela boca carnuda foi maior do que o pudor por estar em um lugar público.
A lembrança agora é vaga. Me lembro de falar coisas como "não gosto, mas sei que você gosta" quando ele me pergunta sobre filmes antigos. Porque eu falaria uma coisa dessas? Deus isso tudo é um grande acidente que está prestes a acontecer de novo e eu não vou fazer nada para impedir! Novamente me vejo preso ao passado. E agora passando uma imagem de garanhão que não existe. Ah a timidez!
No final sei que combinamos alguma coisa dele vir para a minha casa, mesmo eu sabendo que existe outro homem na vida dele. Ele não diz não (quer dizer, tenta, mas meu belo Jean não sabe dizer não), se despede dos outros conhecidos que nos encaram em uma curiosidade silenciosa e sai comigo da galeria, andando um pouco atrás de mim enquanto o guio até meu apartamento. Não foi algo combinado, nós simplesmente nos distanciamos. Um código invisível de conduta que nem eu sabia que conhecia.
Agora estou andando em direção a minha casa pensando em todas essas coisas, repassando nossa conversa e não acreditando na minha cara de pau. Faço caretas quando me lembro de determinadas coisas, não posso evitar. Coço meus cabelos grisalhos tentando entender a situação, e quando dou por mim já estou na porta do prédio onde moro. Jean está atrás de mim, sinto seus olhos de boneca cravados nas minhas costas.
"É um prédio muito bonito" ele comenta sobre o lugar mal-acabado onde vivo. A vizinhança é um pouco porca, a noite é difícil dormir com tanto barulho, mas eu gosto. Mas sinto vergonha ao mesmo tempo. Não respondo nada e me vejo nervoso tentando achar as chaves dentro dos bolsos do terno. E sentindo toda a minha linda imagem de homem seguro e gostoso indo pelo ralo da rua. Jean não comenta nada sobre meu nervosismo, mas quase choro só de pensar no que ele pode estar imaginando.
Abro a porta e subimos as escadas. Meu apartamento é no terceiro andar, ocupa todo o andar do pequeno prédio e modéstia a parte é bem decorado para um velho solitário como eu. Chão de taco encerado, sala confortável coberta de livros e papéis da escola, uma cozinha limpa e pequena, um quarto de bagunça com um computador inútil e uma suíte com uma cama enorme, cheia de travesseiros.
- Eu não gosto de me sentir sozinho à noite. - digo envergonhando quando chegamos ao quarto. Jean apenas sorri, me olhando com ternura. Eu tenho vontade de me enfiar em um buraco.
Ofereço vinho e insisto que ele se sinta em casa, e ele agradece com aquela voz angelical. Nem o timbre da voz havia mudado em todos esses anos! O menino era praticamente uma boneca de cera daquele tempo. Enquanto sirvo as taças de vinho me recordo de sua roupa, moderna e ao mesmo tempo social demais, com um jeans surrado, tênis sujos como a moda determina, um blazer elegante e uma camiseta cor de vinho surrada. Os cabelos dele estão mais curtos, sua nuca perigosamente aparecendo, esperando por um ataque meu. Pensar naquilo me excita de forma absurda, já estou duro desde a galeria, e todo esse processo até o meu apartamento pareceu uma eternidade para meu pobre membro. Imagino se Jean está se sentindo assim.
Troco meus sapatos de couro por confortáveis chinelos felpudos (eu disse que era velho) e quando chego no quarto encontro Jean sobre a cama, apoiado em um cotovelo e observando uma foto que estava do lado da minha cama, perdido em pensamentos. Deus me ajudou a não derrubar aquelas taças, porque aquelas pernas abertas na minha direção, o blazer jogado na poltrona do lado do armário, os braços fortes e torneados que seguravam a foto...minha nossa. Era melhor do que os meus sonhos.
Ele levanta os olhos e assustado coloca a foto onde a deixou e se arrasta para sair da cama, mas eu o acalmo. Não ligo, pedi que ele ficasse a vontade. Ele me olha envergonhado, e aquele é um sinal para eu seguir em frente. Eu não sei como aprendi isso, só sei.
Ajoelho-me sobre o colchão e ajoelhado sigo na direção dele, oferecendo uma taça e me sentando ao seu lado, sorrindo. Ele bebe um gole do vinho e me pergunta sobre a foto. Eu não consigo responder, apenas observo seu rosto jovem, os contornos do seu rosto, perfeito como o de um anjo. E quando finalmente admiro seus olhos, sinto como se levasse um soco no estômago.
Todas aquelas lembranças que guardei por anos embaixo da cama da memória, observando algumas partes de vez em quando sempre com medo de me machucar voltam num turbilhão. Aquele beijo, aquela sala, aquela foda fantástica, aquele gozo na minha cara, os olhos dele perdendo o brilho enquanto eu sentia o peso da culpa me sufocando, aquela sala de aula, os alunos me encarando, ele me encarando com mágoa. O brilho do seu olhar se perdendo no escuro do fundo da sala. A culpa que tive que sufocar durante tantos anos. Tudo isso se perdendo lentamente enquanto eu percebia que os olhos dele continuavam com a inocência de quando nos conhecemos. Aquele olhar azul, cristalino e intenso, inteligente e angelical que me tentava a fazer as piores coisas continuava ali. Me encarando. Implorando por um movimento mais firme.
Pego a taça da mão dele e a coloco no chão junto da minha. Ele me pergunta se está tudo bem, pega no meu ombro com cuidado perguntando se não preciso de ajuda. Eu olho para a porta do quarto, em direção à sala, mas na verdade sem focar em nada. Penso que poderia responder milhões de coisas, mas que o melhor seria demonstrar.
Em um movimento rápido eu me viro e me jogo sobre seu corpo, enchendo sua boca de beijos e mordidas e carícias que ensaiei por tantos anos. No começo o medo dele me rejeitar me dominou, mas prossegui. Ele retribui com vigor, suas mãos pressionando minhas costas, descendo até a minha bunda e apertando-a com força enquanto seu quadril se esfregava contra o meu. Apesar do desejo e da impaciência que sentíamos, a necessidade de finalmente consumar aquele amor, não sinto que fomos apressados. Vejo as roupas sendo retiradas com delicadeza, os olhares se cruzando com ternura, e me lembro como aquele dia foi doce. O mais doce de minha vida.
Invertíamos as posições, ele me penetrava com força, arranhava minhas coxas e mordiscava meus lábios em uma volúpia que jamais concebi. Eu o dominava com cautela, mantendo sempre o ritmo lento, aproveitando cada segundo daquele corpo jovem e firme, beijando com ternura os ossos do seu quadril, ossos com os quais tanto sonhei em colocar as mãos de novo. Mordiscava aqueles mamilos deliciosos, chupava com desejo aquele pau delicioso, talvez até mais delicioso do que naquela tarde, treze anos atrás.
Foi com ele por cima de mim, os dois enroscados como dois gatos manhosos que gozei com uma satisfação que não sentia há muito tempo. Senti o corpo dele tremendo vigoroso sobre o meu, seus gemidos ofegantes me levando ao delírio, me obrigando a comprimir meu quadril contra o dele com força, a agarrar sua deliciosa e pequena bunda sem pudor algum. E quando tudo acabou nos mantivemos naquela posição, ele apoiando sua cabeça sobre meu peito e eu acariciando seus cabelos lisos e finos com carinho. Imaginava o trabalho que ele devia ter para mantê-los daquele jeito.
Olho para o lado e vejo a janela que ele observa, ou parece observar pelo ângulo da cabeça. Dou um sorriso satisfeito observando aqueles prédios sujos de Paris quando me lembro do filme dos cowboys. Parecemos personagens de uma história feita com o intuito de brincar com nossas vidas, nos separando e nos unindo como um capricho divino. É injusto demais viver assim, foi injusto por tanto tempo que nem quero pensar na dor que vou sentir quando me separar dele de novo. Mesmo sem querer eu já pensava nesse adeus, como se não fosse merecedor de tanta glória e quisesse que a alegria acabasse rápido para voltar para minha vida de escuridão. Mas logo sou puxado de meus pensamentos egoístas quando percebo que Jean chora.
Sento-me na cama preocupado e seguro seu rosto em minhas mãos, o observando em desespero para encontrar o que o afligia. Ele ri envergonhado e limpa as lágrimas com as costas da mão, seu rosto pálido manchado de rosa nas bochechas e no nariz, tentando me acalmar. O movimento só me desespera mais, quase enlouqueço pensando que poderia ter machucado meu pequeno anjo, meu mais delicioso capricho e digo isso em voz alta sem perceber. Ele senta na cama, cruzando as pernas e ainda olha para a janela antes de suspirar e falar.
- O senhor não deve ter visto... - ele engole a saliva profundamente e continua ofegante -...aquele filme dos dois cowboys...ah, por favor esqueça. O senhor jamais veria tal filme...
- Brokeback Mountain. - respondo rápido e me ilumino por dentro ao perceber o assombro nos olhos dele. Dou uma risada nervosa e ele sorri mais aliviado.
- Não está ouvindo a música que está tocando lá fora, professor?
Me concentro tentando escutar a melodia, que realmente está alta, só agora percebi. É uma música lenta, bastante emotiva, cortada apenas pelo som de uma bela voz feminina rasgando os versos.

Go to sleep, may your sweet dreams come true
Just lay back in my arms for one more night
I've this crazy old notion that calls me sometimes
Saying this one's the love of our lives.

Cause I know a love that will never grow old
And I know a love that will never grow old.

When you wake up the world may have changed
But trust in me, I'll never falter or fail
Just the smile in your eyes, it can light up the night,
And your laughter's like wind in my sails.

Lean on me, let our hearts beat in time,
Feel strength from the hands that have held you so long.
Who cares where we go on this rutted old road
In a world that may say that we're wrong.

- Eu sonhava sabe, - ele enxuga os olhos com o lençol sem perceber que estou hipnotizado pela letra da música - se o senhor um dia me encon...nós um dia nos encontrássemos de novo, eu não sei. Imaginava a cena com essa música. É uma música bonita demais para ser desperdiçada.
- Também acho... - respondo como se tivesse despertado de um sonho. Ela falava por todos os anos que ficamos separados, colocava em palavras os nossos desejos mais íntimos e os cantava como mero poema barato. Nosso amor era um poema barato, desses que se vende em livros mal encapados nas praças, mas isso não importava. Era nosso, ninguém podia tirar. Nem mesmo o outro homem na vida dele.
- Você já deve ter uma música, eu imagino. Você sabe, com o seu namorado.
- Ele não é meu namorado - ele responde rápido com uma voz de quem se desculpa, mas eu ergo minha mão pedindo que ele pare, balançando a cabeça negativamente. Já ouvi aquele discurso, sei a resposta que ele vai dar. E por isso não ouso encará-lo.
Ele abaixa a minha mão e a segura com ternura, colocando a minha palma em seu rosto ainda quente.
- O senhor sempre foi o único. Já te odiei, mas o senhor sempre foi o único.
Vejo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto e me sinto um carrasco, mas estou velho demais para reagir de outra forma. Puxo seu corpo contra o meu e apoio sua cabeça sobre meu ombro, beijando sua testa e passando os dedos por seus cabelos sedosos enquanto observo as nuvens lá fora. Ele chora, seu corpo se sacode com cada soluço e enfim ele dorme em meus braços, como uma criança. Eu continuo cantando a nossa música.
E então encontro saciada minha fome de tantos anos. Olho aquele rosto, aquele corpo nu, os lençóis desarrumados e as roupas dele jogadas pelo quarto e sinto uma sensação boa. Percebo que minha inocência tem um igual, tem alguém que a completa de forma tão pura como sempre sonhei. Um alguém que julguei nunca poder ter, mas que agora não quero abrir mão. Quero lutar por ele. Quero apagar o ódio que ele diz que sentiu por mim, e me impressiona a minha força quando penso nisso. Já havia pensando nessa possibilidade, e só pensar me fazia chorar em arrependimento, mas quando ele enfim disse eu me senti anestesiado. Como se sempre soubesse daquilo, e como se eu tivesse as bolas para enfrentar o mundo e remediar aquele ódio. Exatamente como eu me sentia agora.
Eu tinha pelo o que lutar, tinha encontrado meu lugar no mundo. Encontrei enfim aquele apartamento que eu julgava ter perdido nos confins da memória. E sorri.
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Fic para a letrasdeacesso 
Título: Capricho Divino.

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