Dec 11, 2008 02:56
Título:Era uma Vez
Autora:Saavik
Pares:Hilson, 14, Chameron e CPI
Classificação: PG-13
Naquela noite, Lucas se recusou a dormir. Sabia que se cochilasse por um segundo que fosse, não acreditaria em si mesmo na manhã seguinte. Durante a madrugada, lavou o rosto diversas vezes e releu dois livros empolgantes, consultando constantemente o céu, em busca de algum sinal do sol. Antes de encontrar qualquer outro ser humano e garantir que não estava louco, ele não se atreveria a sugerir a House que dessem a Wilson um chá de que nunca ninguém ouvira falar.
Quando a manhã nasceu, ele não ficou surpreso ao ver que Cameron foi a primeira a acordar. Pelo contrário, correu até ela, aliviado, e, sem ao menos dar bom dia, despejou a história. A princesa fitou-o educadamente, mas seu semblante deixava claro o que estava pensando.
-Lucas... Foi uma noite estressante para todos - começou ela após alguns instantes. -Você deve ter tido um sonho realista demais, apenas isso.
-Cameron, eu sei o que vi!!!!
-Desculpe, mas... Se eu acho mais provável ter sido um sonho, o que você acha que ele vai dizer? Principalmente em uma situação tão extrema... Se fosse outra pessoa, talvez no desespero ele até arriscasse. Mas depois do que descobri ontem, eu...
-Entendo. E sei que está certa. Mas... Perdoe a franqueza: o estado de Wilson não pode ficar muito pior. E ninguém tem a menor idéia do que fazer. Se houver uma mínima chance de o que eu ter visto ser real e o gnomo estar certo, você não acha que vale a pe...
-Se houver uma mínima chance de o que?
O casal de jovens estremeceu e hesitou por um momento antes de se voltar e encarar o autor da exclamação. E naquele instante, pela primeira vez, Cameron viu em House o perigoso bandido que os dois reinos tanto temiam. Seus olhos azuis faiscavam de fúria, e em sua voz descontrolada não havia sinal algum de sarcasmo.
-Sinceramente espero que eu esteja sonhando! Não é possível que você tenha dito o que acho que ouvi, Lucas! Eu sempre o considerei um homem inteligente e racional, e o admirei por isto! Como se atreve a sugerir seriamente que administremos a alguém que foi envenenado por uma substância desconhecida outra substância desconhecida apenas porque você teve uma alucinação?!? Nós estamos lidando com uma vida aqui, e você...
-Ah, não seja hipócrita! Desde quando você está acima de experimentar com vidas? Entendo estar irritado, eu também não acreditaria se outra pessoa me contasse a história, mas pelo menos admita porque não quer tentar! Você está envolvido demais no caso, estou simplesmente tentando aplicar seus métodos, que sempre funcionam, e você...
Nesse momento, a discussão foi interrompida por um som estranho. Parecia o piar de um pássaro, mas não era hora daquele ruído estar sendo ouvido. Na verdade, Cameron teria ignorado completamente, julgando ser apenas uma ave madrugadora, caso os dois oponentes não tivessem se calado imediatamente ao ouvir o barulho, e seus rostos não tivessem assumido uma expressão de expectativa. Segundos depois, ouviu-se o riso distante de alguns membros do bando, que deviam ter acabado de se levantar e, parecendo ter esquecido a briga, os dois apressaram-se a seguir naquela direção.
Ela hesitou um pouco, então foi atrás, e chegou a tempo de ver uma cena rara: House sorria. Era um sorriso minúsculo, contido, mas ainda assim sincero e repleto de afeto, dirigido a uma moça que Lucas, rindo, erguia do chão e abraçava. Cameron ficou chocada: Nunca havia visto outra mulher no acampamento, e embora estivesse adorando sua vida ali, tinha certa dificuldade para aceitar que fosse algo que outra pudesse ter escolhido voluntariamente. Mas logo estes pensamentos foram banidos de sua mente por um choque muito maior: Lucas pousou a jovem no chão, e ela se virou para cumprimentar outro colega, revelando o rosto à princesa.
-Rèmy?!?!?!?!?
O grito, involuntário e incontrolável, interrompeu a festa de boas-vindas. No segundo seguinte, todos os novos amigos de Cameron a fitavam, embaraçados, com ar de quem queria estar em qualquer lugar do mundo, exceto ali. Após um longo momento, Rèmy ensaiou passos hesitantes em sua direção.
-Princesa... Por favor, me ouça...
-Você era uma espiã? Todo o tempo em que trabalhou no castelo, passou planejando o meu seqüestro? Foi... Foi você quem drogou a todos, não foi?!?!?
-Sim, alteza.
-Eu... Eu pensei que um dos rapazes tivesse se infiltrado como tratador dos cavalos, ou algo assim... Não imaginei que pudesse ter sido alguém de dentro do castelo, alguém com livre acesso a meu quarto...
-Cameron, calma! Você está nervosa...- começou Lucas.
-E não é para estar?!? Minha criada de quarto auxiliou no meu seqüestro! Isto... Foi uma quebra imperdoável na segurança! Eu nunca mais vou poder confiar em ninguém! Isso, claro, se vocês me deixarem voltar!
Rèmy franziu a testa.
-Por que não deixaríamos?
Antes que Cameron pudesse responder, House interferiu.
-Isso fica para depois, Treze. No momento, há algo urgente em que necessito de sua ajuda.
-Eu gostaria de falar com a princesa...
-Depois. Agora realmente precisamos conversar.- disse ele em tom firme, tomando-a pelo braço e começando a puxá-la em direção à sua tenda.
-O que...- começou Cameron, e parou, sem saber direito o que dizer.
-Ela é a outra pessoa com conhecimentos médicos de que te falei-informou Lucas, aproximando-se.
-E por que ele a chamou de Treze?
-É uma longa história, que acho melhor deixar que ela te conte quando puder falar com você a sós...
-Receio que ela não terá esta chance!- exclamou uma voz desconhecida. Alarmados, todos voltaram os rostos para os limites do acampamento, na floresta. Lentamente, fez-se visível um grande grupo de soldados reais, que contornava todo o acampamento e tinha como líder um belo príncipe de cabelos loiros e sotaque australiano.
Chase seguira Rèmy. Estavam cercados.
Em questão de segundos, Cameron e House eram as únicas pessoas à vista que não estavam empunhando uma espada. Alarmada, ela correu até o comandante do exército.
-Espere! Eu preciso explicar que...
-Não precisa ter medo, princesa. Meus homens tomarão cuidado para não feri-la!
-Não é isso! É que preciso dizer que eles são...
Ignorando-a completamente, ele pulou do cavalo e deu voz de ataque. Os soldados de ambos os lados se empolgaram, e logo ela se viu em meio a uma batalha. Durante sua vida, já havia “presenciado” guerras, mas sempre de longe, através de relatos dos combatentes que retornavam. Mas isso... Era totalmente diferente. Os soldados de seus pais vestiam armaduras, e não pareciam nem de longe dispostos a serem ‘gentis’ com os adversários como House fora em sua batalha contra um Wilson quase desarmado. Nenhum deles parecia querer atacar Treze, mas ela se empenhara na defesa dos amigos e tivera de ser tratada como um deles. Olhando em volta, desesperada, Cameron não viu nada que pudesse fazer para ajudar, exceto tentar outra vez convencer o desconhecido a parar aquela maluquice e ouvi-la. Correu novamente até ele, que agora lutava contra Lucas, e agarrou-lhe o braço.
-Está havendo um grande mal-entendido! Você precisa me ouvir!
Para sua surpresa ele, sem interromper a luta, sorriu.
-O que foi?!?
-Eu imaginava que você tentaria defendê-los. Fico feliz em ver que os relatos que me chegaram de seu caráter são verdadeiros. Mas receio que você não esteja avaliando corretamente a situação, portanto perdoe se não a ouço. Espero que seja a única vez que farei isto.
E, empurrando-a de leve, se concentrou novamente no combate. Ela olhou novamente em volta, e localizou House, parado em meio à briga, com o olhar parado, como se estivesse calculando algo.
-Você não vai fazer nada?!?!?- Gritou-lhe. -Isso é loucura!
Ele não respondeu. Ela tentou sacudi-lo.
-House! Está me ouvindo?!? Você tem que fazer alguma coisa!
-Tem razão...-murmurou ele, ainda em um tom meio ausente. Então, parecendo ter tomado uma decisão, caminhou até o adversário de seu espião.
-Escute! Pare essa luta! Tenho uma proposta!
-Você não está exatamente em posição de barganhar!
-Você está sendo idiota! Se tem tanta certeza da vitória, que mal fará pausar por cinco minutos essa guerra sem sentido e me ouvir?!? Se aceitar minha oferta, pode impedir que alguém morra!
O rapaz pareceu pensar por um instante. Então fez um sinal de trégua a Lucas, e gritou aos homens que interrompessem a luta e retomassem o cerco. Quando todos haviam retomado a posição, ele inquiriu o Bandido dos Olhos de Safira.
-Como você bem notou-disse House, em tom arrogante-eu não estou em posição de fazer muitas exigências. Então eis o que ofereço: vocês levam a princesa, o príncipe, cuja ausência estou chocado em ver que não notaram, e a mim. E deixam o resto do meu grupo em paz.
-E por que eu faria isso, sendo que posso ter a todos?
-Porque sabe que qualquer outra atitude desagradaria imensamente à princesa. E é também por isso que sei que se fecharmos esse acordo, você não se atreverá a quebrá-lo.
Os dois pares de olhos claros se fitaram por um momento, ambos implacáveis. Por fim, o mais jovem cedeu e fitou o chão.
-Está certo.
Protestos furiosos emergiram de ambos os lados. Chase conseguiu, com alguma dificuldade, calar os seus subordinados. Mas os de House não se conformavam, tampouco a princesa.
-Bem- observou o príncipe, irônico. - Eles parecem muito ansiosos para serem presos com você. Não vejo porque não...
-Você fez um acordo!- interrompeu Cameron. -Não vá querer...
House riu alto.
-Acho que é você quem não está em condições de barganhar, alteza. Mas mantenho a oferta. E, tendo em vista as condições, peço 10 minutos de conferência com meus lacaios.
-Certo- disse Chase. -Mas a princesa fica aqui.- e segurou-lhe o braço. Ela se soltou com um empurrão.
-O que eu quero não conta?
-Relaxe, Cameron.- Disse House, em tom de zombaria. -Prometo que não deixarei que ele a seqüestre.
Dessa forma, o grupo se retirou para uma acalorada discussão. Após alguns instantes, House, Lucas e Treze retornaram, lado a lado, e o resto começou a se afastar em direção ao acampamento.
-Esses dois são completos imbecis- informou ele aos príncipes. - Não consegui dissuadi-los de me acompanhar. O restante está partindo. Mande alguns de seus homens pegarem a maca do príncipe Wilson, e estamos prontos.
-Maca?
-Terra chamando! Que outro motivo manteria o modelo do Príncipe Encantado longe de uma luta como essa?!? Ele está seriamente doente, e quanto mais rápido formos, melhor!
Quinze minutos depois, quando todo o grupo estava na estrada, Cameron conseguiu aproximar-se dos amigos. House imediatamente se afastou, e ela se voltou para Lucas com olhos inquisidores.
-Sim.- confirmou ele em um sussurro. -Ele se entregou principalmente para que Wilson pudesse ser atendido pelos médicos da corte, em melhores condições. Foi por isto que os outros concordaram com a barganha.
-Mas não vocês dois.
-Ele é meu melhor amigo. Sou louco, eu sei.
-E você, Rèmy? Que está fazendo aqui? Aliás... Quem é você?!?!?
A moça suspirou.
-Meu nome é Rèmy Hadley. Nasci em uma pequena vila em uma extremidade do país, e até os 16 anos tive a vida normal de uma camponesa. Então me apaixonei... por outra garota. E ela correspondeu, e fomos felizes por um tempo. Até sermos descobertas...
-Como assim descobertas?
-É... Pela sua tranqüilidade ao falar de House e Wilson, imaginei que não soubesse. Minto, desconfiei antes... Você é doce demais para que tenham lhe contado.
-Contado o que?
-Que na época em que nossos pais eram crianças, seu avô baixou uma lei, uma infelicidade chamada prop 8, que tornava o homossexualismo ilegal. Sua mãe tentou anulá-la uma vez, há uns 20 anos, mas houve pressão de certos segmentos sociais, e... Bom, está em vigor até hoje.
O queixo da princesa caiu.
-E... O que aconteceu com vocês?
-Tivemos de fugir. E eventualmente nos separamos. Minha vida não foi muito legal pelos anos seguintes... Até que conheci House. Fui a décima terceira pessoa a se juntar ao grupo e, como me habituei a esconder meu nome, fiquei sendo a Treze mesmo.
-Foi por isso que quando ele precisou de alguém para se infiltrar no castelo ele te chamou...
-Na verdade, eu tenho que confessar que encorajei a idéia de seqüestrá-la, princesa. Sabia que seria bem tratada no acampamento, e... E queria me vingar um pouco de sua família. Pronto, admiti. Mas... Me arrependo disso agora. Você não merecia. É uma pessoa boa e...
-Treze- interrompeu Cameron. -Acredite ou não, esse seqüestro foi a melhor coisa que já me aconteceu. Abriu meus olhos para tanta coisa... A sua será mais uma injustiça que tentarei ao máximo reparar quando voltar à corte. Prometo. E... Se depender de mim e de James, pode ter certeza de que nada acontecerá a você, Lucas ou House.
As garotas se olharam e sorriram. Apesar da situação tensa, nascia uma amizade.