Era Uma Vez (2/?)

Oct 18, 2008 16:25

Título:Era uma Vez
Autora:Saavik
Pares:Hilson, 14, Chameron e CPI
Classificação: PG-13 (esse capítulo. Ainda não decidi o resto)

Horas mais tarde, ao anoitecer, o casal de príncipes dava uma volta pelo jardim. A corte tinha instruções para deixá-los a sós o que, apesar de considerar ridículo, eles apreciavam, pois lhes garantia privacidade para ter conversas como a que acontecia naquele momento.

-Alisson, Foreman me procurou após a ceia...

-Aquele fofoqueiro!

-Então é verdade! Você realmente está caída pelo bandido dos olhos de safira?

-Ah, James, não posso evitar... Ele é fascinante!

-Como pode dizer isso? Você não o conhece! Sabe apenas que é um criminoso de olhos azuis!

-Mas eu imagino. Para levar uma vida dessas, ele deve ser extremamente solitário...

-Concordo. E imagino que nesse caso a última coisa que deseje seja a companhia de uma delicada princesa disposta a resgatá-lo de si mesmo.

-Não acho. Afinal de contas, deve estar fazendo o que faz para conseguir atenção. O bilhete para Cuddy não indica isso?

-Não. Acho que o bilhete indica exatamente o que estava escrito: que ele está entediado. Não é de atenção que precisa, é de desafios. Por isso criou a audácia de enviar um bilhete à rainha.

-Você o faz soar como uma máquina...

-Pelo contrário, acabei de concordar que deve ser um homem solitário. Mas sabemos muito pouco sobre ele... Pode ser uma máquina, por que não? Ou pode ser alguém completamente diferente do que imaginamos.

-Como você é frio.

-Você é que é romântica demais.

-Eu? Romântica demais? Desculpe, James, mas de nós dois não fui eu quem mais namorou...

-Exato. E isso prova seu romantismo. Está aguardando O Príncipe Encantado, montado em um cavalo branco... Ou, pelo visto, o exato oposto. Nunca pensei que o Cavaleiro Negro fizesse seu tipo... Mas de qualquer forma, Alisson, eu não sou romântico. Você mesma me censura pela forma como tratei aquelas adoráveis princesas. Mas... O que elas esperavam?!?

-Que casasse com elas, obviamente.

-Por que?!?!!?

-Porque você as salvou. Algumas de torres e vilões, outras, como você coloca, “de si mesmas”. E quando um príncipe salva uma princesa, eles se casam. É assim que o mundo funciona.

-Então é esse o seu problema? Nunca esteve em apuros? Devo seqüestrá-la para que outro príncipe a resgate, e então se casará com ele? E suponha que um belo dia eu tenha de resgatá-la de algum perigo mortal. Irá mudar de idéia em relação à nossa amizade, e ceder aos desejos de seus pais?

-Não seja bobo. Você sabe que nós dois somos exceções. Eu já lhe expliquei milhões de vezes que não me casarei com nenhum homem fora aquele pelo qual me apaixonar, príncipe ou não príncipe. Mas você... Nunca entendi seu jogo com as princesas.

-Não é jogo. Eu as encontro, elas estão em perigo, e as salvo, como é o dever de qualquer cavalheiro! Então elas se encantam comigo, passam a confiar em mim... E eu gosto de ajudá-las. Quando percebo, estou igualmente encantado, sem ter tido qualquer intenção nesse sentido! Então elas pensam em casamento, e imediatamente mudam. Tornam-se frias, distantes, mandonas...

-Você só gosta de mulheres carentes! Está explicado! Ora, pobre James! Creio então que seu caso é mais complicado do que o meu, pois jamais encontrei uma única dama que fosse um poço infinito de carência.

-Sim, estou fadado à solidão. Gostaria que seus pais entendessem isto...

-Eu não! Os seus mandariam chamá-lo, e eu perderia o amigo!

-Mas ganharia novos pretendentes. Minha presença intimida os outros príncipes, e odeio a sensação de estar atrapalhando sua vida.

-Você não está-prometeu ela, beijando-lhe o rosto. -Boa noite, James.

-Boa noite, Alisson.

E retiraram-se para seus respectivos aposentos.

Mas naquela noite, o príncipe foi acometido por um ataque de insônia. Revirava-se na cama, tentando contar carneirinhos ou outros truques do estilo, mas nada adiantava. Independente do que fizesse, sua mente sempre retornava ao mesmo tema: o bandido dos olhos de safira. Wilson tinha uma sensação estranha a respeito dele. Como se estivesse deixando escapar algo... Algo que estava conectado tanto ao bilhete enviado a Cuddy quanto à sua conversa com Cameron horas antes. E enquanto tentava dormir, frases aleatórias cruzavam sua mente: “Fui forçado a planejar um roubo bem maior do que os realizados até então, e deixo esse bilhete na esperança de que se preparem para ele”, “imagino que nesse caso a última coisa que deseje seja a companhia de uma delicada princesa disposta a resgatá-lo de si mesmo”, “Não é de atenção que precisa, é de desafios”. Última coisa que deseje... Precisa de desafios...Roubo bem maior... Se preparem... Se preparem...

E, subitamente, tudo fez sentido. Como se atingido por um raio, ele se levantou, agarrou o escudo e a espada, e saiu do quarto.

Como imaginara... Os guardas estavam dormindo! Deviam ter sido drogados! Mas... Mas por que ele estava bem? Havia o canalha imaginado que, confiante em sua guarda, a nobreza tinha sono naturalmente pesado? Ou simplesmente não conseguira acesso ao jantar deles?

Não havia tempo para despertar os reis, ou soar um alarme. Em desespero, Wilson correu até o jardim e gritou, incerto:

-ALISSON!

Um ruído abafado que soava como a voz da amiga fê-lo disparar em direção ao portão próximo à cocheira. E lá estava exatamente o que esperara ver: um grupo de seis cavaleiros mascarados, afastando-se depressa, a princesa amarrada e amordaçada no cavalo de um deles.

O príncipe, o mais rapidamente que pode, montou seu cavalo e partiu em seu encalço.

-ALTO!- gritou, sem saber o que fazer e, para seu espanto, o grupo parou e lentamente virou-se para ele. Um dos cavaleiros aproximou-se um pouco mais do que os outros, parando em frente a ele.

-Sua alteza real, o príncipe James Wilson, eu presumo.

-Presunção correta... Como seria de se esperar do “bandido de olhos de safira”.

-Ora, muito bem! Estamos apresentados. Que deseja vossa majestade?

-Que solte a princesa.

-E por que eu faria isso? Ouvi rumores de que ela queria me conhecer... Um cavalheiro não se recusa a atender a uma dama!

-Verdade. Mas você não é um cavalheiro.

-Ouch, essa doeu. - disse o bandido, ironicamente.

-Deixe-a ir. - insistiu Wilson.

-Ou...? Veja bem sua situação, meu caro. Somos seis, e estamos completamente prontos para o combate. Você tem espada e escudo, mas veio sem armadura.

Wilson pareceu desconcertar-se por um instante, e o bandido riu.

-Mas, por outro lado, você é a primeira coisa a quebrar minha rotina nestes últimos meses, e por isso sou-lhe grato. Além do mais, é de se admirar este seu instinto, que o tira da cama gritando que há uma donzela em perigo mesmo quando não há vestígios disso.

-Você deu indícios.

-Mesmo? Quais?

-Disse que estava entediado, precisava de um desafio, e eu deduzi o restante.

-O Príncipe Encantado deduziu que uma dama estava em apuros. Estou chocado! É quase o caso de me perguntar se um padre teria concluído que eu pretendia atacar a igreja.

-E como isso consistiria em um desafio? Já foi feito! Não, meu caro, a única coisa que você não roubou foram os bancos. E é inteligente o bastante para saber que é inútil tentar transpor as barreiras que os reis colocaram em todos os cofres. Portanto aquilo era uma distração. E como você cometeu todos os tipos de roubo possíveis, seqüestro era a única opção!

O bandido riu, com o que parecia deleite.

-Perfeito! Simplesmente perfeito! Ora... Seria uma pena abandoná-lo após uma explanação tão brilhante sem lhe conceder uma chance de recuperar sua princesa.

-Diga.

-Eu o desafio para um duelo de espadas.

-Como você mesmo apontou, estou sem armadura.

-Quer dizer que me dá sua permissão para levá-la?

Wilson pensou por alguns instantes. O mais provável era que perdesse a vida, mas... Mas não podia simplesmente abandonar Alisson!

-Aceito o desafio.

-HMMMMM!- gritou a princesa, em protesto, tentando se atirar do cavalo, e sendo fortemente detida pelos bandidos.

-Por que tanto escândalo, meu bem?- inquiriu o bandido, novamente irônico. -Pensei que ver um belo príncipe se arriscando por ela era o maior sonho de toda princesa.

-HMMMMM!- gritou ela de novo.

-Calma, Alisson! Vai dar tudo certo!

-Ótimo.- disse o bandido, puxando a espada e afastando-se alguns passos do príncipe. -Vamos iniciar.

-Você quer lutar a cavalo?!?!?

-Algum problema? Para um campeão de duelos...

-Problema algum. - respondeu o príncipe, colocando escudo e espada em posição de combate, e observando o bandido fazer o mesmo. Para sua surpresa, porém, enquanto se aprontava, o outro desceu um pouco a parte superior da máscara, deixando à mostra os tão famosos olhos de safira.

Essa alcunha não lhes fazia jus. Eram mil vezes mais brilhantes do que qualquer descrição poderia expressar, e... E as vítimas anteriores haviam descrito o olhar como frio. Mas Wilson via nele grande felicidade por ter a rotina quebrada, e um certo excitamento pela aproximação da batalha. Alisson tinha razão... Era fascinante.

-Agora que posso enxergar direito... Comecemos. Em guarda, alteza!

Os cavalos galoparam em direção um ao outro, e as espadas erguidas se chocaram. A princesa parou de gritar. Se tivesse prestado mais atenção ao seu redor, talvez pudesse ter fugido nesta hora, pois seus seqüestradores estavam na mesma situação que ela: incapazes de desviar os olhos da batalha.

Era uma cena incrível. Os dois eram extremamente habilidosos, tanto no manejo da espada quanto no da montaria. A maioria dos homens, executando golpes rápidos como aqueles, provavelmente feriria um dos cavalos. O silêncio sepulcral da noite era quebrado apenas pelo constante tinir das espadas que se bloqueavam, em uma luta cujos resultados, em condições de igualdade, seriam imprevisíveis.

Mas o príncipe estava em clara desvantagem, e isso se tornou evidente quando, por fim, seu adversário conseguiu atingi-lo no ombro. O corte não foi sério, porém o choque o fez perder o equilíbrio, caindo do cavalo e batendo a cabeça.

O mundo girou por alguns instantes. Ele ouviu Alisson gritar por entre as mordaças, sentiu alguém se ajoelhar a seu lado, e ouviu a voz do bandido de olhos de safira dizer:

-Não se preocupe, princesa, ele vai ficar bem. Um adversário impressionante... Caso eu decida deixá-la voltar para casa, a aconselho a não deixá-lo escapar.

Então ele se afastou, os gritos abafados da amiga morreram à distância, e tudo ficou escuro.
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