Oct 18, 2008 01:48
Título:Era uma Vez
Autora:Saavik
Pares:Hilson, 14, Chameron e CPI
Classificação: PG-13 (esse capítulo. Ainda não decidi o resto)
Era uma vez, há muito tempo atrás, dois reinos vizinhos. Ambos eram belos e felizes, existindo grande amizade entre seus habitantes e entre suas famílias reinantes. Ninguém conseguia se recordar de alguma guerra ou confronto em que os dois não estivessem posicionados do mesmo lado, ou de algum problema realmente sério que o soberano de um dos reinos tivesse solucionado sem se consultar com o do outro.
Por isso ninguém estranhou quando, uma tarde, a comitiva da rainha de Princetown foi vista cruzando o reino vizinho em direção ao castelo, sem aviso prévio. Pelo contrário, todos suspiraram aliviados, pois não era difícil imaginar o motivo da reunião de emergência, e já fazia algumas semanas que se perguntavam porque os reis não haviam discutido o assunto entre si.
Chegando ao destino, a rainha permitiu que a comitiva fosse repousar, mas, ao invés de fazer o mesmo, decidiu ir direto à sala de reuniões.
-Lisa! - exclamou o rei ao ver a amiga entrar. -Sua mensagem nos assustou! O que aconteceu de tão grave?
Antes que ela pudesse responder, ouviu-se outra voz.
-Boa tarde, majestades.
-Ah... Boa tarde, Conde Foreman. - responderam os soberanos de Candylot, embaraçados.
Embora soubessem bem que a rainha Cuddy jamais ia a uma reunião sem seu conselheiro, viviam esquecendo-se de sua presença, pois se tratava de um homem calado e introspectivo em excesso. Inteligente, sem sombra de dúvidas, uma das melhores mentes que já haviam conhecido. Mas jamais o haviam visto abalado com nada, nem nas piores crises, e isso os desconcertava.
-Boa tarde - completou Cuddy, sentando-se. -Lamento tê-los assustado, mas isso ultrapassou todos os limites!
-Se refere, naturalmente, a...
-Ao maldito “bandido dos olhos de safira!”.
À menção do nome, os quatro reviraram os olhos. Ninguém sabia quem inventara aquele apelido ridículo, mas o fato é que ele se popularizara, e era inútil tentar tratar de outra forma o misterioso homem que vinha infligindo caos e terror aos dois pacíficos reinos.
Os primeiros ataques haviam ocorrido há cerca de dois meses. De início, pareciam crimes isolados, pois o estilo do crime e o número de homens eram sempre diversos. Com o tempo, porém, começou a se desenhar um padrão. O mais visível: eles sempre usavam máscaras, e atacavam apenas durante a noite. Segundo: havia um homem, reconhecível pela atitude arrogante, que sempre estava presente, sempre montado a cavalo, e era inquestionavelmente o líder. Duas vítimas haviam conseguido espiar seus olhos através da máscara, e os descreveram como de um azul mais intenso e brilhante do que quaisquer outros olhos já vistos: daí o apelido.
E terceiro, a complexidade e a audácia dos crimes aumentava em um ritmo assustador. Primeiro ocorreram furtos quase banais, na ausência de testemunhas. Então se passou a assaltos à mão armada em pequenos negócios. O raio de ação se expandiu com rapidez, logo atingindo os centros das grandes cidades. Aumentar o policiamento de nada adiantava, pois o bando era inteligente demais e sempre parecia ter o plano de fuga perfeito.
Então, em uma noite estranha, que ainda era o assunto mais comentado em ambos os reinos, eles estavam se retirando após roubar a casa de um rico comerciante, quando de súbito o “bandido dos olhos de safira” se virou para a dona da casa, mulher extremamente querida pelos vizinhos, por ser gentil e generosa, e disse:
-Espero que saiba que é rica porque seu marido rouba um bocado dos clientes.
-O que?!?
-Não pude deixar de notar que um dos volumes na biblioteca dele é falso. Abri, e vi um livro de contas que duvido muito que seja o que ele mostra às outras pessoas. Boa noite!
E se retirara, veloz como sempre. A mulher correu à biblioteca para verificar, e descobriu que era verdade. O casal estava separado, e ela podia se considerar a única pessoa já beneficiada pelo bandido. Todos comentavam o caso, mas ninguém conseguia concluir porque ele a ajudara. À parte este episódio, o homem não trouxera mais do que ruína e desespero para Princetown e Candylot, porém os soberanos haviam decidido conduzir investigações sigilosas e tentar descobrir algo de mais significativo sobre ele antes de discutir medidas sérias. O acordo havia sido respeitado... Até esta manhã, quando um bilhete chegara a Candylot da parte de uma Cuddy furiosa que pedia uma reunião de emergência.
-O que fez ele desta vez?
-Atacou uma joalheria, e em vez de esvaziar por completo o cofre deixou uma nota no lugar. - Explicou ela, passando aos colegas o seguinte bilhete:
Prezada Majestade,
Embora meu objetivo nem de longe seja chamar sua atenção, ou a de seus amigos em Candylot, devo confessar-me decepcionado com Vossas Altezas. Esperava que se esforçassem um mínimo que fosse para dificultar minha vida e, como não o fizeram, entediei-me. Não é bom, alerto-a, deixar-me entediado. Fui forçado a planejar um roubo bem maior do que os realizados até então, e deixo esse bilhete na esperança de que se preparem para ele.
Atenciosamente, “o bandido dos olhos de safira”.
PS: Não se preocupe, meu alvo não são seus vestidos. Eles são tão curtos e decotados que revender o pano não me traria lucro algum.
Os quatro nobres permaneceram por alguns instantes em silêncio, refletindo.
-Seria um blefe?- perguntou a rainha de Candylot. -Afinal, não há muita coisa que ele não tenha roubado... Exceto os cofres dos bancos.
-Também creio ser este seu alvo - disse o conde. -Deveríamos montar um plano de proteção a...
Antes que pudesse completar a frase, porém, foram interrompidos por um som abafado do outro lado da porta, que indicava que alguém estava escutando por trás dela. Cuddy e Foreman pareceram preocupados, mas o rei e a rainha simplesmente se entreolharam com ar cansado por um instante, antes que ela se levantasse, abrisse a porta e gritasse para o fim do corredor.
-Alisson! Volte aqui imediatamente!
Com ar culpado, a princesa surgiu à porta e ouviu de sua mãe um grande sermão sobre maneiras, estar grandinha demais para ouvir conversas escondida e a importância de se manter segredos de Estado.
Lisa Cuddy observou a cena com olhos ligeiramente úmidos. Os homens notaram mas, educadamente, não disseram nada. Sabiam perfeitamente o que se passava pela mente da rainha porque, depois do bandido, esta era a maior crise enfrentada pelos dois reinos.
Quando o último rei de Princetown morrera deixando apenas uma filha, o povo sentiu-se mais do que feliz em se colocar nas mãos de sua amada princesa. Porém conforme o tempo passou, ocorreu algo que ninguém havia previsto: apesar de extraordinariamente bela e inteligente, ela não se casou. E, embora tivesse tido amantes, não engravidara. Isto era para ela uma grande tragédia pessoal, pois seu maior desejo era ser mãe. Mas era uma tragédia ainda maior para o reino, que se via sem príncipe herdeiro e não conseguia pensar em nenhuma solução, ninguém que pudesse substituir aquela dinastia que os governara por tanto tempo.
Candylot acompanhava a situação a princípio com pena, então com apreensão. Pois estava se tornando impossível fugir da idéia de que pudessem acabar da mesma forma. Alisson, única Cameron dessa geração, era a melhor princesa que alguém pudesse desejar: gentil, altruísta e delicada. A fama de sua beleza atravessava reinos e um por um diversos príncipes haviam vindo ao reino pedi-la em casamento nos últimos anos... e um por um, foram recusados pela princesa. Quando inquirida, permanecia calada. Os pais começavam a se irritar, e não ajudava muito o fato dela persistir em atitudes infantis como a em que acabara de ser pega.
-E agora tenho de voltar para a reunião!- finalizou a rainha. -E terei de chamar uma criada para escoltá-la a seu quarto, e garantir que fique por lá, como se tivesse 5 anos! Espero que esteja satisfeita!
-Com o perdão de Vossa Majestade-interrompeu o conde Foreman- Eu não me importaria de salvar à princesa este embaraço, escoltando-a eu mesmo e dizendo à governanta para lhe fazer companhia porque está adoentada.
Os reis se olharam, vagamente surpresos. Apesar de tão fechado, o conde parecia dar-se muito bem com sua filha, talvez por ser pouco mais velho que ela e conhecê-la desde a infância.
-Obrigada, conde, eu aprecio - disse a princesa, puxando-o pelo braço sem esperar a resposta paterna.
Caminharam por um tempo solenemente, mas ao virar uma esquina abandonaram a formalidade e começaram a se tratar como irmãos.
-Deixe-me ver se entendi... A bela princesa disputada por quase todos os príncipes do mundo... Está com uma quedinha pelo infame bandido dos olhos de safira?
-Por que diz isto?
-Ora, Cameron, não me venha com essa! Eu vi como você estava vermelha...
-Está quente hoje. E estamos no meu quarto, obrigada. Retorne à sua importante reunião!
-Não posso deixá-la sozinha. Está de castigo, lembra?
-Está bem-suspirou ela. -Então me faça a gentileza de mandar chamar James. Jogaremos xadrez e juro-lhe que ele não me deixará sair daqui antes de no mínimo três partidas.
-James?!?!?- exclamou o conde, surpreso. -O príncipe Wilson ainda está aqui?
-Sim -riu ela.- Chocante, não é, Foreman? Eu também não pensei que fosse possível alguém ter pais tão insistentes quanto os meus, mas aí está ele!
-Mas pelo que vejo, vocês estão lhes dando motivos para ter esperanças!
-Oh, de forma alguma. Já disse mais de mil vezes a papai e mamãe que somos apenas bons amigos, mas eles não acreditam! Explique-me uma coisa... Como eles podem achar que ao serem colocados juntos, dois problemas se anulam? Ao contrário, eles se somam! James apóia minha decisão de não casar com um homem a quem não ame, e eu digo o mesmo dele e todas aquelas suas princesas, apesar de desaprovar sua conduta para com elas.
-Vejo que seus pais arrumaram um problema e tanto. Certo, vou chamar seu noivinho. Agora, se me dá licença, preciso retor...
Ele interrompeu a frase no meio quando soou uma batida na porta e Cameron mandar entrar, pois a jovem que surgiu era simplesmente a coisa mais bela que já vira na vida. Não era apenas a beleza física que impressionava, mas seu ar meio arisco, selvagem, misterioso.
-Necessita de alguma coisa, Alteza?
-Na realidade... Sim. Poderia chamar o príncipe Wilson e poupar ao conde Foreman este incômodo?
-Claro. Com licença, Alteza. Conde Foreman. - ela se retirou após uma reverência, que em tudo gritava que se portava daquela forma por obrigação, e detestava ter de tratar outras pessoas daquela forma servil.
-Cameron... Quem é ela?
-Deixe-me ver se entendi... O belo e solitário conde disputado por quase todas as nobres que conheço... Está com uma quedinha por uma garota que viu por menos de um minuto?
-Ah, cala a boca.
Cameron riu. -É Rèmy, minha nova criada de quarto. E eu o aconselharia, meu caro, a tomar cuidado. Cuddy desaprova homens “nobres” que seduzem criadas.
-Ela não me parece do tipo seduzível. Mas não se preocupe, minha posição a esse respeito é a mesma da rainha. Agora, com licença... É melhor que seu namorado não me encontre em seus aposentos.
-Pela milionésima vez, ele não é meu namorado!
Sentindo-se vingado, o conde saiu aos risos.