Décimo Primeiro Dia

Nov 11, 2008 22:45

Estou super atrasada. Estive a tarde inteira com os meus amigos e não tive tempo de escrever o que era preciso. Só se contam 17,334 palavras...

A jovem Princesa gargalhou baixinho, excitada com a ideia de se escapulir das muralhas que sempre a rodearam. Suavemente procurou o peito de Goodwin no escuro, colocando uma mão sobre o seu coração batente, usando-o como guia.
No fundo do túnel encontraram umas escadas escorregadias, cobertas de musgo verde, de degraus irregulares, que parecia leva-los ao nada. Goodwin deixou Benedita passar à sua frente, subindo as escadas lentamente atrás dela, conseguindo apenas ver a luz branca que, por vezes, se reflectia na saia de cetim prateado da Princesa.
As escadas terminavam numa sala escura, de chão e paredes de pedra. Também ali estava frio e húmido e podiam ouvir o sibilar suave de uma nora, no exterior da casa. A divisão em que se encontravam era pequena e sem janelas, tendo apenas uma porta de madeira escura, que parecia não ter sido movida em muitos anos.
- Como sabias que ia funcionar? Já tinhas experimentado esta passagem? - perguntou Benedita, curiosa, vendo Goodwin descobrir o engate secreto que fez a porta ceder e se abrir perante eles.
Goodwin encolheu os ombros, não querendo explicar porque procurara aquela passagem antes. Quando vivia na aldeia, com os pais, habituara-se a sair de casa durante a noite, passando os campos adormecidos, vendo as janelas embaciadas, os cotos de velas apagadas, caminhando até ao lago, às margens do qual gostava de se deitar e adormecer a ouvir os animais. Sabia que era perigoso e que, se os pais o descobrissem, certamente o proibiriam, mas essa era a melhor parte da aventura - a adrenalina nas veias, o saber que estava a fazer algo de que seria proibido, quebrar as regras.
A divisão a que a passagem secreta os levou fazia lembrar as casas de que se ouve falar nos contos de fadas. Era uma sala ampla, com cantos e recantos, uma lareira que ardia à direita, um banco no fundo, uma janela por trás dele. Pequenas depressões nas paredes guardavam velas que já ardiam, como se os esperassem. Havia uma pequena mesa e algumas almofadas espalhadas pelo chão de madeira.
- É lindo - sussurrou a Princesa Benedita, olhando à sua volta.
Goodwin sorriu-lhe e mostrou-lhe a água que descia na parede ao seu lado, lentamente, de pedra em pedra, delineando todas as diferentes pedras que haviam sido sobrepostas, desaparecendo numa calha que a levava ao exterior da casa. Havia uma pequena cozinha na esquerda, e uma porta atrás de si que abria passagem para o exterior.
O exterior da casa era tão magnifico como o interior. Havia uma pequena mesa com bancos feitos de pedra, uma árvore grande, de onde pendia um baloiço de madeira, grandes sebes de flores que os escondiam de olhares curiosos e uns pequenos degraus, feitos de pedras espaçadas, que conduziriam à aldeia mais próxima das muralhas do castelo.
- Quem é que aqui vive? - perguntou Benedita, passando a mão na mesa rugosa. Era belo de mais para que ninguém a habitasse.
- Segundo os contos nunca cá viveu nenhum humano - respondeu o jovem arqueiro, colhendo uma flor que ofereceu a Benedita num gesto delicado. - Dizem que as fadas criaram-na, há muitos anos, logo após a edificação do Castelo, e que a mantêm assim para todos os casais apaixonados que procuram abrigo fora das muralhas. Eu nunca cá vi fadas nenhumas, talvez não confiem tanto em nós, desde a batalha, mas o que é certo é que há sempre pão quente, leite fresco e mel na mesa, de manhã. Há um quarto, que não te mostrei, e a cama está sempre feita e os lençóis frescos. Se não é trabalho de fadas, então não sei.
Benedita sorriu e experimentou o baloiço, deixando os cabelos esvoaçarem atrás de si, impulsionando-se com as pernas na relva brilhante. Encostado à árvore, Goodwin obeservava-a, tentando memorizar todos os pormenores, como se pudesse guardar aquele momento na sua memória como uma fotografia que se guarda no bolso da camisa, para olharmos para ela sempre que precisamos.

espilce

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