Nov 12, 2008 23:38
Estou, oficialmente, com um dia de atraso. É horrível mas tenho de admiti-lo. Amanhã de manhã quero ver se trabalho a dobrar nisto, nem que tenha de escrever coisas parvas. Não é como se alguém o fosse ler completo antes de estar revisto, não é? Portanto, se apartir de agora as coisas parecerem ainda mais mal escritas, essa é a razão ^^'
Goodwin deixou a Princesa brincar como uma criança, baloiçandose graciosamente, explorando os cantos à casa, colhendo flores. Era aquela sua simplicidade, a sua certa infantilidade, de quem tinha crescido rápido de mais, que o fizera apaixonar-se pela Princesa Benedita. Os vestidos simples, os gestos cuidados, a vergonha e inibição faziam Goodwin querer protege-la de todos os males deste mundo e do outro.
Quando o sol se pôs, os jovens apaixonados abraçaram-se na relva fria, observando o azul do céu a misturar-se com o amarelo do sol, criado belos tons de rosa e púrpura. Algo restolhou nos arbustos, fazendo Benedita saltar de susto. Um gato malhado saltou graciosamente, apanhando no ar um mosquito com boca, aterrando à frente dos jovens com um miau. Bufou e cheirou o ar, aproximando-se. Benedita chegou-se à frente e deixou que o gato lhe cheirasse a mão.
- Vem, não te faço mal - murmurou-lhe.
O pequeno animal pareceu compreender o incentivo, marrando contra a mão da Princesa, deiando que esta lhe fizesse festas no pêlo lustroso. Em poucos segundos o gato saltou para o colo de Benedita e aninhou-se, ronronado.
- Já viste? - perguntou a jovem, voltando-se para olhar Goodwin. - Os gatos acham-se príncipes de um reino inexistente. Vêm calmamente, no seu passo galante, cheiram o ar e, depois, tentam decidir se somos dignos de nos aproximarmos - riu-se, ouvindo o ronronar subir de tom. - No fim aproveitam-se de nós...
Goodwin aproximou-se dela.
- E é isso que tu fazes, Princesa Benedita? - sorriu-lhe, deixando que os seus narizes se tocassem levemente. - Depois decidir que alguém é digno de se aproximar? Aproveitas-te deles?
A Princesa Benedita deixou-se levar, enfeitiçada, e entregou-se ao beijo, sentindo uma mão quente, marcada pela erva, acariciar-lhe a face, enquanto as outras se entrelaçava em volta da sua cintura, puxando-a para mais perto.
- Sim - respondeu Benedita, levantando-se rapidamente, fazendo o gato que ronronava acordar estrebuchado e soltar um magoado miar.
Goodwin segiu-a, correndo atrás dela, saltando os obstáculos que lhe apareciam, embora Benedita se limitasse a desviar-se deles. Em poucos passos encurtou a distância entre eles, flectiu as pernas como um predador a preparar-se para atacar uma presa e saltou sobre a Princesa, voltando-se no ar para que o seu corpo a protegesse da queda.
Benedita riu-se como uma criança feliz, como ela desejava que todos os dias pudessem ser assim, longe das muralhas do Castelo, da etiqueta e das preocupações. Gostava de estar ali, só com Goodwin, onde podia sorrir e ser ela mesma. Reparou, de repente, que se tinha aninhado no peito de Goodwin e que brincava, involuntariamente, com os seus dedos, medindo-os e comparando-os com os seus.
- Não somos assim tão diferentes - concluiu, tentando mudar para uma posição menos exposta.
O jovem arqueiro apertou-a contra si, forçando-a a desistir, e suprou-lhe nos cabelos.
- Onde pensas que vais? Hoje és minha.
- E amanhã? - perguntou Benedita, tentando ignorar a sua posição sobre ele.
- Hoje, amanhã, para sempre - murmurou Goodwin, beijando-lhe os cabelos cor de trigo.
Capítulo 7
Os Campos dos Humanos
Passaram a noite abraçados, contando as estrelas, trocando promessas de amor. Quando o Sol ameaçou a Lua, Goodwin acordou Benedita gentilmente e levou-a de volta ao Castelo.
Não se via viva alma, o ar estava calmo, silencioso, triste. Goodwin partia e a Princesa não tinha como o impedir, se o queria ter consigo para sempre.
- Eu voltarei dentro em breve, prometo - sussurrou Goodwin, envolvendo a Princesa Benedita com um braço, a sua outra mão acariciando-lhe a bochecha, despedindo-se com um beijo ardente.
Ao entrar no Castelo Benedita olhou para trás, hesitante, mas ele já lá não estava. A Princesa limpou uma lágrima solitária e encontrou o seu quarto, onde se deixou cair na cama quente, chorando todas as lágrimas que havia escondido de Goodwin, tentando ela também ser forte. Quando acordasse, com a cara vermelha e os olhos secos, perguntar-se-ia se tudo não fora mais do que um sonho bastante real, mas fechou os olhos e deixou-se levar pelo calor da cama que lhe era tão familiar.
Goodwin entregou a moeda que prometera a Pedro, o rapaz da estrebaria, colocou as trouxas que levava consigo no lombo do cavalo, bem apertadas com cordas fortes, verificou se o livro estava no seu bolso, e levou Brunos até à muralha pela mão. Caminhou calmamente, observando as casas quietas, os quartos sonolentos, as pedras da calçada que imploravam por descanso. Não se passara muito tempo desde que viajara da sua aldeia para o Castelo, mas havia-se adaptado ao lugar, e custava-lhe dizer adeus, mesmo que na realidade só quisesse dizer até breve.
Chegado às muralhas, esperando que os guardas lhe dessem passagem, um outro cavalo fez o seu trote ecoar na noite, levando Goodwin a procurar o cavaleiro, surpreendido por haver outro alguém partindo àquela hora tardia.
- Goodwin de Helmswella? - chamou uma voz um tanto ao quanto familiar.
Goodwin estreitou os olhos para tentar descobrir quem era o homem debaixo da capa negra, cuja voz reconhecia sem saber exactamente de onde, mas nada viu.
- Quem sois voz? - perguntou o archeiro.
O homem a cavalo não respondeu, limitando-se a deixar brilhar, à luz da lua, o anel que envergava. Era de ouro, marcado com o brasão de Espilce, a Lua e o Sol entrelaçados no casamento real. No início dos tempos haviam sido feitos apenas dois aneis assim - um de ouro, outro de prata, um para o Sol, outro para a Lua, um para o Rei, outro para a Rainha.
- Vossa majestade - Goodwin ajoelhou-se desajeitadamente.
- Levanta-te, rapaz - disse-lhe o Rei Aemilius, indicando-o com a mão. - Não me dei a todo este trabalho para que me reconheçam aqui.
Fez como lhe foi pedido e aproximou-se do cavalo, como se o estivesse só a gabar.
- Procurava-me, vossa alteza? - perguntou. - Estou de partida, tal como lhe disse esta tarde. Tenciono voltar o mais brevemente possível, trazendo comigo o que me pediu.
espilce