Nov 10, 2008 22:41
Isto do discurso directo é giro, porque me dá *imensas* palavras x) Lalala. Cheguei a casa tarde e, mesmo assim, consegui escrever todas as palavras que precisava de escrever! =D Contam-se 16.681. Amanhã tenciono terminar este capítulo e levar Goodwin a outras aldeias dos Humanos.
Procurou o Rei Aemilius e a Rainha Gaiana nos seus aposentos. A Senhora Eleanor tentou impedi-lo de os ver sem marcação prévia, chegando mesmo a ameaça-lo com os seus escuros olhos púrpura. Felizmente a Princesa Benidita chegava para se reunir à mãe, numa tarde de poesia e canto, oferecendo-se para introduzir Goodwin nos aposentos, garantindo a senhora Eleanor que ela mesma se responsabilizaria.
- Chamaram-te? - murmurou-lhe Benedita, roçando a mão na sua ao esperar que a porta fosse aberta para lhes dar passagem.
Goodwin negou-o com a cabeça. Dos aposentos chegava-lhe uma voz suave e melodiosa, entoando baixinho uma qualquer canção que ele já ouvira não sabia bem onde. A Princesa Benedita, ao seu lado, sorriu largamente e endireitou as costas, caminhando de encontro aos pais com um passo decidido.
- Goodwin gostaria de vos falar - comunicou-lhes, sentando-se entre os dois, no degrau, com as pernas cruzadas sobre o vestido, atenta a Goodwin e à maneira como ele parecia hesitar a cada batimento do coração.
- Aproxima-te, rapaz - convidou o Rei Aemilius, fazendo-lhe um gesto com a mão.
Goodwin obedeceu, beijou a mão do Rei e da Raina, recuando um passo para se manter erecto, de olhos no chão e mãos cruzadas à frente.
- O que te traz por aqui hoje? - perguntou a Rainha Gaiana, cuja voz parecia ter vindo a suavizar desde o primeiro encontro que tinha tido com o jovem arqueiro.
- A minha perna, Senhora - respondeu Goodwin, apontando embaraçado a perna esquerda. - Como sabe fiquei gravemente ferido na Batalha da Madrugada, incapacitado de montar por alguns tempos. Já se passaram algumas luas, e hoje, pela primeira vez, consegui cavalgar sem problema algum.
Os Reis anuíram em silêncio, esperando que Goodwin tomasse a iniciativa.
- O que o meu coração mais quer, vossas majestades, é desposar a Princesa Benedita, que aqui se senta entre vós - sorriu à amada, aproveitando para respirar fundo. - Gostaria, então, de partir o quanto antes na demanda que me enviam.
A Rainha Gaiana comentou que ele iria perder o que havia melhor no Castelo, as festas da Primavera, da Luz e do Renascimento. O Rei Aemilius descansou a mulher, dizendo-lhe que se o jovem fosse bem sucedido teria muitas outras festas de Primavera, das quais até ele mesmo faria parte.
Goodwin esperou, nervosamente, para que lhe fosse dada autorização para partir nessa mesma noite, já perto da madrugada. O Rei Aemilius pareceu-lhe pensativo durante alguns segundos, examinando-o de alto a baixo, batendo com o indicador nos lábios e no nariz.
- Poderás partir assim que o desejares - disse Aemilius por fim. - Espero que envies à corte notícias de duas em duas luas, mas que não nos procures antes do tempo.
- Caso regresses e não haja alteração, lembra-te, não terás uma segunda oportunidade - avisou-o Gaiana. - Ou o fazes bem da primeira vez, ou não o farás. Agora vai.
Goodwin estremeceu levemente. Procurou o olhar de Benedita enquanto fazia uma vénia aos regestes e retirou-se num passo lento. A Princesa Benedita observou-o como que em transe, não tendo ainda conseguido processar a ideia de que Goodwin partiria nessa mesma noite numa jornada para que a pudesse ter. Num só momento tudo se tornava tão mais real. Benedita tinha imaginado como seria saber que ele partia mas, agora que o observava somente a sair dos aposentos Reais, o coração apertou-se. Desculpou-se rapidamente aos pais e correu atrás do amado, lutando as lágrimas fáceis, segurando o vestido.
- Goodwin! Espera! - chamou-o quando passou os guardas dos aposentos reais.
O jovem, mesmo no seu passo lento, meditativo, afastara-se até às portas do salão principal. Benedita alcançou-o ofegante no momento em que ele se virou para ela, apanhando-a nos braços, sentindo o corpo dela colidir com o seu.
Goodwin apertou-a contra si e beijou-lhe uma lágrima que lhe descia o rosto, deixando um trilho salgado. Não se ia importar com quem os visse, não naquele momento. Benedita passou a mão no maxilar de Goodwin, sentindo a sua pele quente e a barba rala. Afastou-o o suficiente para sentir o seu respirar na pele e beijou-lhe os lábios molhados, tentando mostrar-lhe tudo aquilo que não tinha palavras para explicar.
- Não suporto a ideia de que partes hoje mesmo - confessou, de nariz e testa encostada nos de Goodwin. - É como deixar ir parte de mim. Mesmo sabendo que é a única maneira de nunca mais te perder...
- Shh - acalmou-a Goodwin, enterrando a cabeça nos seus cabelos encaracolados, apertando-lhe os ombros. - Eu vou voltar dentro em breve, e depois seremos um só.
A Princesa Benedita soluçou e escondeu a cara no peito de Goodwin. Perdera toda a postura de princesa, deixara de se preocupar com quem é que a via, com o que diziam. Queria senti-lo consigo para sempre, cheirar o seu cheiro a chuva e terra molhada, beijar-lhe os lábios suaves.
Goodwin passou-lhe a mão pela cintura e procurou-lhe os pulsos, que lhe puxavam o colete fortemente. Entrelaçou os dedos nos seus e guiou-a através do jardim interior até à fonte. No centro, cravada em pedra branca, estava uma bela sereia, de seios descobertos, longos cabelos lisos, enrolando-se em volta de um marinheiro jovem, amarrado a um poste do qual jorrava água, escondendo-os de olhares alheios, dando-lhes privacidade.
Olhou à volta e subiu para a fonte, caminhando cuidadosamente na borda, equilibrando-se de braços abertos. Procurou o fim da cauda da sereia, disfarçado pela cascata suave, e afagou-a rapidamente, procurando uma escama que sobressaia, no meio de todas as outras. Empurrou-a suavemente e desceu para o pé da Princesa o mais rapidamente possível. Benedita observou-o confusa, vivera toda a sua vida no castelo e nunca aprendera as passagens secretas que a levavam a sítios pacíficos, onde podia estar sozinha consigo mesma.
Goodwin mostrou-lhe a pedra que se deslocara, no chão, num canto do jardim, perto de uma amendoeira. Não se via nada para dentro do buraco, apenas a escuridão, e o ar era frio e húmido.
- Queres que eu desça primeiro? - perguntou Goodwin, sentando-se com as pernas baloiçando para o desconhecido.
A Princesa Benedita acenou afirmativamente, mordiscando as unhas. O arqueiro sorriu-lhe e saltou. Ouviu-se um uma pancada seca, o eco de algumas palavras proferidas sem querer, um chamamento.
- Vamos, eu apanho-te - assegurou-lhe Goodwin, olhando para de onde vinha a luz.
Benedita hesitou momentaneamente. O jovem amado daria o mundo por ela, certamente não lhe diria que a apanhava na queda se achasse que não o conseguiria. Sentou-se no chão de areia, sentindo os grãos misturarem-se com as suas roupas e picarem-lhe as mãos. Fechou os olhos com força e impulsionou-se para a frente, deixando-se cair.
Não era uma queda tão longa quanto esperara, na verdade, antes mesmo de se aperceber de que caia livremente, sentiu os braços fortes de Goodwin fecharem-se à sua volta como um colete protector. Colocou-a suavemente no chão e procurou uma tocha, no escuro, apalpando as paredes húmidas.
- Consegues acende-la? - perguntou a Benedita, entregando-lhe a tocha fria.
Uma chama branca cresceu rapidamente, iluminando o espaço que os rodeava. As paredes eram curvas, bastante próximas, parecendo-se fechar sobre eles, húmidas como um poço. Sob os pés deles havia uma camada irregular de areia molhada, o que confirmava as suspeitas de Benedita de que estavam num antigo poço.
- Como é que encontraste isto? - perguntou a Goodwin, girando sobre si mesma para tentar achar uma saída.
- Contos - respondeu-lhe. - Quando era pequeno os sábios viajantes contavam-nos histórias de príncipes e princesas, reis e rainhas, moços de estrebaria e moças das cozinhas. Levaram-nos a acreditar que todas as passagens secretas que diziam eram verdades, e que todas as histórias têm finais felizes. Descobri, desde que vim para a corte, que nem todas as passagens secretas são reais. Quanto aos finais felizes, ainda estou a tentar decidir-me.
Benedita sorriu-lhe, aproximando-se do corpo quente do amado. Ele abraçou-a e pegou na tocha, aproximando-a do chão, procurando algo que escapara à Princesa. Quando encontrou o que desejava devolveu-lhe a tocha e largou-lhe o ombro, acocorando-se. Contou as pedras em alta voz, apontando-as no escuro, depois pressionou uma delas e a luz natural estinguiu-se por completo, sendo a chama branca a única coisa que os mantinha fora da escuridão completa.
Goodwin pegou na mão de Benedita e puxou-a consigo, mostrando-lhe que devia empurrar a parede da mesma maneira que ele fazia. Sentiram-na ceder sobre o seu peso um pouco, tremendo aqui e ali. Forçaram-na uma outra vêz e ouviram as pedras a deslocar-se, roçando umas nas outras. Tentaram mais uma vez, descarregando na parede toda a força do seu corpo, sentindo os ossos contra a pedra, a humidade na pele e o frio levantar-lhe os cabelos da nuca. A parede moveu-se um ou dois metros para trás, revelando uma passagem que os levaria para Este, para fora das muralhas do Castelo.
- E como voltamos? - perguntou Benedita, percebendo que não conseguiriam fazer tudo no sentido oposto.
- Sair do castelo é que é complicado, não o regresso - explicou Goodwin, liderando no caminho escuro e incerto.
espilce