Title: Habits
Autora: Pollyweasley
Ships: Harry/Draco, side Ron/Hermione, Blaise/Ginny, Pansy/Luna, Oliver/Percy
Rating: PG-13 (Insinuação e Linguagem)
Contagem de Palavras: 10,5k
Sinopse: Ele odiava os clubes, odiava a bebida, odiava os caras com quem dançava e caia todas as noites, e odiava os dias seguintes. Mas ele não conseguia parar. Ele não conseguia parar simplesmente porque estar sóbrio era muito pior do que estar de ressaca. Pensar na dor de cabeça, no gosto de bile e no esporro que levaria de Pansy era melhor do que a dor que constantemente estava ali. Que não saia mesmo depois de um orgasmo com um cara delicioso. Que não se dissipava mesmo quando ele estava rindo e dançando. Ele precisava ficar adormecido para não pensar. E fazia isso noite, após noite, após noite...
Avisos: Vício, promiscuidade, uso abusivo de remédios, TEPT, angst, amigos sendo fofos, (eu tentando ser realista).
Disclaimer: Os personagens de Harry Potter são propriedade de J.K. Rowling e Bloomsbury/Scholastic/Rocco. Fic sem fins lucrativos, feita apenas pra diversão.
N/A.: Queria deixar claro que não sei realmente como é estar num centro de reabilitação ou em abstinência. Escrevi apenas o que li em algumas pesquisas e conversas com pessoas que já passaram pelo processo.
Link no Nyah!Fanfiction. || I don't really wanna stop myself
Nobody's gonna tell me I need help,
Are you coming over soon?
I meet you at the darkest time
You hold me, and I have to shut my eyes
I'm shy. Can I be what you like? ||
- Take Shelter - Years and Years
Havia luz, e ela machucava seus olhos, mas dessa vez não veio acompanhada de uma dor de cabeça horrível. Ele ainda se sentia pesado, meio grogue, mas era bom acordar sem ressaca de vez em quando. Ele ergueu uma mão, passando nos olhos para limpa-los, e sentou-se, olhando ao redor.
Ele estava definitivamente numa cama de hospital. Na frente de sua cama havia uma grande janela, cortinas brancas estavam abertas, deixando a luz entrar. Havia um vaso de flores numa mesinha, uma poltrona que parecia confortável, um rádio na mesa de canto e um relógio. Segundo o relógio, eram oito e quinze da manhã. Qual foi a última vez que Draco acordou tão cedo? Havia outra mesinha ao lado de sua cama com uma bandeja vazia e algo que parecia uma campainha.
Lambeu os lábios. Sua boca estava seca e rachada, e ele desejou desesperadamente por um copo de água. Como se atendendo aos seus desejos, um copo apareceu na tigela vazia ao seu lado, e ele sorriu de forma sonolenta, agradecendo a existência de magia. Bebeu como um sedento, sem perceber que derrubava mais água que bebia, e foi só desejar que o copo encheu mais uma vez. Quando estava satisfeito, ele colocou o copo novamente na bandeja e, enquanto ele esperava o copo desaparecer, Draco percebeu algo.
Sua mão tremia desesperadamente.
Não era um tremor comum. Ele não estava com frio. Ele não estava nervoso, com medo ou algo do tipo. Ele não estava sentindo nada que pudesse fazê-lo tremer e, no entanto, sua mão estava tremendo tanto que ele mal conseguia manter as duas na mesma altura.
Não eram só duas mãos. Suas pernas e braços também tremiam descontrolados, e ele estava prestes a bater naquela campainha quando alguém abriu a porta.
Merlin. Circe. Salazar.
Harry Potter entrou na sala parecendo um rei vestido em vestes de um azul-claro e segurando uma prancheta na mão. Em seu peito, Draco podia ler facilmente "Dr. Potter" em letras num azul mais escuro.
- Finalmente você acordou. - Potter soou aliviado, de todas as coisas, e sorriu com gentileza. - Como você se sente, Draco?
Aquela voz carinhosa o quebrou mais ainda. Por que ele não o chamava de Malfoy? Não era como se fossem mais amigos. Fazia eras que ele não ouvia a voz do homem à sua frente. Draco não respondeu. Ele ficou olhando o rosto do homem, perdido. Ele tinha os cabelos tão bagunçados quanto sempre, mas agora ele tinha uma barba, gente ao rosto, tão negra quanto os cabelos em sua cabeça. Draco tinha tanta coisa a dizer, e ao mesmo tempo não tinha nada.
- Eu... Eu estou tremendo. - Ele respondeu, erguendo as mãos trémulas para dar o exemplo.
Potter aproximou-se, colocando a prancheta sobre a mesinha de lado e segurando suas mãos. As mãos de Potter continuavam quentes, calejadas e grandes, como sempre foram. Mas o toque era diferente. Era cauteloso, gentil demais, como se ele tivesse medo de quebrá-lo. Draco sempre adorou como as mãos dele seguravam como se fossem clamá-lo, e foi com choque que ele conhecia somente o toque que Harry dava aos seus amantes. O toque que recebia, agora, era o toque de um médico.
- É um efeito colateral da abstinência. - Harry explicou, e Draco sentiu suas mãos esquentarem ainda mais, e a magia de Harry passar por suas palmas e entrar em sua rede sanguínea. Magia sem varinha e sem palavras. Será que era especialidade dos curandeiros, ou Potter era especial, como sempre? Potter afastou suas mãos lentamente, e Draco fixou seus olhos nos dele, percebendo com o fundo de sua mente que suas mãos já não tremiam tanto quanto antes. Harry respirou fundo, engolindo em seco sem desviar o olhar, mas logo pareceu sair do feitiço. - Deixa eu te dizer, Draco. Seu quadro não estava legal quando você chegou aqui. Overdose de poção calmante e coma alcoólico. É sugerido que você permaneça bem quieto pelos próximos dias do seu tratamento. Você teve duas paradas cardíacas antes que a gente pudesse te estabilizar, e seu corpo ainda está extremamente fraco. - O moreno explicou pegando a prancheta novamente. - Uma medibruxa vai te dar suas poções diárias de oito em oito horas, e elas devem amenizar os efeitos da abstinência. No entanto, será uma quantidade muito, muito menor ao que seu corpo está acostumado. Então você vai sofrer um pouco.
- Espera. Onde eu estou? St. Mungus? - Draco perguntou, sentindo seu coração bater forte demais. Ele tinha quase morrido. Quase morrido. Céus.
- Não. Você estava logo quando chegou e durante os primeiros dias. Depois que foi estabilizado, você foi transferido para cá. Fundação Evans. - Harry explicou, e Draco deixou-se cair sobre os travesseiros.
- Não. De novo não. - Ele escondeu o rosto nas mãos, passando-as depois nos cabelos e surpreendendo-se com a maciez deles. Passara os cinco longos meses de seu trabalho comunitário trabalhando na Fundação Evans, que fora criada imediatamente depois da guerra para proteger, cuidar e reabilitar os sobreviventes. Potter era o dono, claro. E agora Draco estava certamente na ala de reabilitação química. O lugar era pequeno no início, tendo sido construído onde antes tinha sido a casa dos pais de Potter, em Godric's Hollow. Com os anos, no entanto, Potter havia comprado as casas ao redor do quarteirão e aumentado o local gradativamente. Ele atendia bruxos e trouxas, e ainda que estivessem em alas separadas, varinhas eram proibidas. Exceto para os funcionários, claro. Fazia todo o sentido do mundo que Potter tivesse decidido ir trabalhar ali.
- Sua mãe assinou os papéis. Infelizmente, você é nosso paciente por tempo indeterminado. - Potter respondeu, e Draco sentiu mais uma vez a magia dele sobre si. Abriu os olhos e viu o homem brandindo a varinha sobre seu corpo, passando feitiços de diagnóstico. Ele não conseguiu sentir raiva de sua mãe. Estava consciente, no momento, que aquela era sua única opção. Ele conseguiria viver sem álcool sem problemas. Ele definitivamente NÃO era um viciado, como gostavam de jogar na cara dele. Ele só tinha sua própria forma de lidar com a dor. - Aparentemente está tudo ok. Se estiver com fome, basta pensar de forma bem nítida o que quer comer e, em alguns minutos, deve aparecer. Tem uma lista na gaveta da cômoda das comidas que você está permitido. Desejar outra coisa não vai surtir efeito - ou seja, nada de pedir vodka. - Potter sorriu, e Draco olhou fascinado para sua boca, vendo o que queria ver há muito, muito tempo. Aquele incisivo torto era tão extremamente adorável naquele médico imponente que Draco sorriu.
- Vou conseguir sobreviver. - Draco disse, desejando perguntar como ele estava. O que ele tinha feito naqueles três anos. Se tinha um namorado. Se estava interessado. Se o amava.
Ele não perguntou nada, no entanto.
- Bem, estou indo. Se estiver sentindo algo, dor, fome incessante, tédio... Bem, pode tocar a campainha que alguém vai aparecer. Bom dia, Draco. - ele disse e virou-se para sair.
- Potter. - Draco chamou, sua coragem sumindo assim que disse o nome. Queria perguntar se ele estava num relacionamento sério, mas ao invés disso perguntou:
- Quanto tempo eu dormi?
Potter parou com o ombro encostado na porta - ele não tocava nas maçanetas - e virou-se para ele.
- Quase um mês. - Harry ficou parado, olhando-o perdido e, de alguma forma, mal. - Foi bem difícil te acordar, Malfoy. A quantidade de poção em seu corpo era o suficiente pra apagar dois elefantes em menos de cinco minutos.
Draco cruzou os braços, escondendo as mãos ainda um tanto trêmulas.
Desviou o olhar para a janela, sentindo uma lágrima escorrer pela sua bochecha. Harry suspirou, mas não se aproximou. Draco limpou a bochecha rapidamente. Queria gritar que era culpa de Potter, mas não foi Potter que enfiou as poções em sua boca.
- Os horários de visita são no sábado. - O moreno comentou, saindo, mas antes que saísse completamente, virou-se para ele. - Estou feliz que esteja bem, Draco. Fiquei preocupado. - Falou baixinho, e Draco voltou a deitar-se quando ele saiu, abraçando a si mesmo para evitar a tremedeira. Perguntou-se se Harry realmente queria dizer aquilo que disse, antes de apagar novamente.
Draco acordou algumas horas depois. Havia um sanduíche em sua bandeja, assim como um copo do que parecia ser suco de abóbora. Ele não sentiu realmente vontade de comer, mas sentou-se, pegando o sanduíche e mordendo, surpreendendo-se em perceber que estava muito gostoso, exatamente como ele preferia. Comeu quieto, em pequenas mordidas, empurrando com o suco.
Quando terminou, percebeu que voltara a tremer desesperadamente, como antes. Seu corpo parecia cansado, e sua mente estava pesada. Ele adoraria um coquetel agora, de preferência de alguma bebida bem doce. Olhou ao redor, observando o quarto impossivelmente branco e se questionando se iria ficar ali por muito tempo. Uma pressão em sua bexiga o forçou a se levantar. Havia uma porta à esquerda de sua cama, que ele supunha ser um banheiro. Sentiu-se exposto com a bata que estava usando, mas agradeceu o fato de que estava sozinho por enquanto.
Se aliviou e lavou o rosto para se livrar daquele penso em sua cabeça. Estava nervoso. Seu coração batia muito rápido e sua respiração estava instável. Se estivesse em casa, certamente teria bebido um de seus frasquinhos de calmante, mas naquele buraco em que estava, ele precisava esperar alguém aparecer. Ou talvez ele simplesmente devesse tocar aquela campainha e pronto.
Quando saiu do banheiro, no entanto, surpreendeu-se ao ver que havia uma mulher no quarto. Ela usava as vestes verdes dos medibruxos, e o nome em seu peito dizia em um bordado vermelho “Enf. Patil”.
- Olá, Draco. Eu trouxe sua dose diária. - Ela deu um sorriso leve, e Draco tentou se esforçar para lembrar quem era ela. Cabelos longos e negros, pele azeitonada, e aqueles olhos grandes e negros. Havia duas delas, não é? Essa seria a grifinória? A corvina? Lembrava-se que a mais magrinha das duas foi a que dançou com Potter no Baile de Inverno no quarto ano, mas ele não conseguia lembrar os nomes. - Eu trouxe roupas limpas. Sua mãe as trouxe há algum tempo, e já as desinfetamos. - Ela apontou uma muda de roupas que estava sobre a cama e lhe estendeu um frasquinho. - Acha que consegue beber?
Draco estendeu a mão, estranhando a pergunta, mas entendendo assim que segurou o frasco. Suas mãos tremiam tanto que ele não conseguia ao menos abrir a tampa. Frustrado, ele negou com a cabeça, entregando o frasco de volta para ela. Apertou a mão em punho, com raiva. Se tivesse bebido ao menos uma taça de vinho, não estaria tremendo daquela forma.
Patil abriu a tampa do frasco e bateu na cama para que ele sentasse. Draco devia ser pelo menos uns 20 centímetros mais alto do que ela. Ele a olhou por uns instantes, antes de soltar um muxoxo e sentar-se, abrindo a boca para que ela despejasse a poção dentro.
Tinha um gosto horrível de fumaça. Não que ele tivesse comido fumaça alguma vez, mas se ele tivesse, teria aquele gosto. Ele fez uma careta, sentindo - fisicamente sentindo - a poção circular por seu corpo antes que uma calmaria tomasse conta de si. Ergueu as mãos, e sorriu ao perceber que o tremor agora era leve, quase imperceptível.
- Pronto. Pode se trocar, agora. Vamos conversar com a Curandeira Mental e então vamos ver seus aposentos. - Ela disse, e Draco ergueu a cabeça de onde estava abaixada, olhando as roupas que tinham escolhido para si.
- Eu não estou doido. Não preciso de uma Curandeira Mental. - Draco disse, indignado, amassando as roupas dobradas com esmero.
- Ninguém disse que você estava. - Ela riu, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha. - Você vai mesmo assim. Só converse com ela, ok? Ou você quer ficar nesse quartinho branco pra sempre?
Com um grunhido, ele ergueu-se e foi ao banheiro trocar de roupa. Esperava que o tempo que passasse ali fosse rápido o suficiente. Ele odiava a sensação de estar sóbrio tanto quanto odiava ressaca.
Vestiu sua roupa rapidamente - uma calça negra, sapatos igualmente negros e seu suéter azul-claro. Lembrou-se que estava o usando no dia do jogo de Puddlemore contra Arrows, e sua garganta fechou-se com aquele pensamento. Lembrou-se das mãos do moreno tirando o suéter de seu corpo, beijando cada pedaço de pele que aparecia em seu corpo com adoração. Quando a peça de roupa saiu de seu corpo, Potter a levou para o rosto, cheirando o tecido claro e fechando os olhos.
“Você cheira à baunilha”, Harry tinha comentado, jogando o suéter de lado e encostando a cabeça em seu peito, alisando os lados de seu corpo e ouvindo seu coração. Draco lembrava-se de ter enfiado as mãos nos cabelos dele e arranhado seu couro cabeludo com as unhas, mas depois disso, lembrava-se apenas das mãos ávidas e dos movimentos do corpo do outro contra o seu. Tinha sido uma noite memorável, e Draco certamente se masturbara muitas vezes depois com as memórias dessa noite, mas por algum motivo, ele lembrava-se apenas dessa cena e das sensações físicas do ato. Era impossível esquecer as mãos quentes de Potter o segurando, ou o seu membro indo e voltando de seu corpo, mas os detalhes... Draco não lembrava se ele o olhara, ou se falara palavras sujas. Ele não lembrava dos beijos, se tinha sido mordido ou abraçado. Era estranho. Ele costumava lembrar de cada detalhe desse dia, mas agora tudo parecia vago...
Ele ergueu o suéter, levando-o ao nariz. Cheirava a desinfetante e hospital.
Com um suspiro, ele saiu do banheiro, jogando a bata em cima da cama e seguindo a curandeira para fora do quarto.
- Quando vou ter minha varinha de volta? - Ele perguntou, e Patil parecia distraída ao responder.
- Quando você tiver alta do tratamento. - Ela deu de ombros. Andavam num longo corredor. Medibruxos e curandeiros entravam e saiam de outros quartos, e tudo era tão limpo, branco e organizado que Draco sentiu vontade de riscar todas as paredes. Passaram pela recepção, onde uma moça de cabelos loiros e cacheados conversava com uma mãe chorosa. Ele lembrava-se de ela ter estado na Grifinória em seu ano, mas não lembrava de quem ela era.
Não teve tempo de perguntar. Logo a medibruxa estava entrando em outro corredor e parou na segunda porta, que tinha o número 22 pregado no topo. Ela bateu, abrindo uma fresta e colocando a cabeça dentro.
- Penélope? Estou com Malfoy. - Patil falou, e ele não ouviu muito bem o que a pessoa respondeu, mas logo a morena abriu a porta completamente, entrando na sala e o chamando.
Era uma sala pequena. Havia um sofá e duas poltronas, uma estante de livros em um lado e uma mesinha com alguns materiais de escritório e lenços de papel. Draco não questionou, enfiando as mãos nos bolsos de trás da calça e observando a mulher em sua frente. Ela tinha longos cabelos castanhos e uma expressão séria, mas não severa.
- Obrigada, Padma. Eu posso levá-lo pro quarto depois. - A mulher - Penélope - falou, e Padma entregou uma chave a ela.
- Até depois, Malfoy. - Padma disse, piscando um olho para ele antes de sair, fechando a porta. Ele sentiu-se desconfortável estando ali naquele lugar, e suspirou. Se perguntou quanto tempo demoraria para ele poder voltar para casa.
- Olá, Draco. - Ela o cumprimentou, e Draco revirou os olhos. Será que eles não sabiam que era educado chamar pessoas que não eram seus amigos pelo sobrenome?
- Vocês sempre chamam os pacientes pelos nomes? - Ele perguntou, e a mulher riu, indicando para que ele sentasse. Ele escolheu uma das poltronas e praticamente afundou nela, estendendo as longas pernas e juntando as mãos sobre sua barriga.
- É mais fácil fazer nosso trabalho sem o véu indestrutível da formalidade. - Ela disse, simples. - Eu sou Penélope Clearwater. Eu vou fazer uma perguntas para você hoje. Não precisa responder se não quiser, ok? Mas me ajudaria muito se você respondesse. - Clearwater tinha uma voz direta, mas ao mesmo tempo, calma. Lembrava Draco da forma como sua mãe falava consigo quando queria explicar porque ele não podia jogar sorvete nas visitas quando queria que elas fossem embora.
- Tanto faz. - Ele deu de ombros, claramente desinteressado. Não queria falar com ela, não queria responder perguntas. Ele estava bem. Tinha cometido um erro, mas já estava tratado e caso Pad... Como era o nome dela mesmo? Enfim, caso ela pudesse lhe dar aquelas poções, ele com certeza conseguiria ficar longe do álcool; no máximo beberia uma taça de vinho por dia. Ele não era viciado. Óbvio que não.
- Eu gostaria de dizer que tudo que conversarmos aqui vai ficar entre nós dois. Não precisa se preocupar, ok? - Ela o assegurou, e Draco assentiu com a cabeça. - Como você se sente hoje?
Draco pensou por alguns instantes antes de responder.
- Cansado. Com a cabeça pesada e uma sensação desconfortável. - Admitiu. - E não estou lembrando muito bem das coisas. E, lógico, estou tremendo. Isso me deixa bastante estressado.
- Efeitos colaterais da abstinência. - A mulher balançou a cabeça, compreensiva. - Os efeitos vão passar com o tempo durante o tratamento, mas alguns podem se tornar permanentes, como os movimentos involuntários.
- Eu vou ficar tremendo pra sempre? - Draco perguntou, chocado e sentindo a raiva subir pelo seu peito.
- Pode ser ou pode não ser. Depende do quão bem você lidar com o tratamento. - Ela falou, e ele soltou um grunhido, cruzando os braços. Não queria ver as próprias mãos. - Mas eu quis saber emocionalmente. Como você está?
- Com raiva. Eu não devia estar aqui. Eu não preciso desse circo. - Draco quase cuspiu as palavras, mas ela não pareceu se afetar pelas palavras ásperas.
- Eu entendo que seja difícil para você perceber o quanto isso é importante. Tente entender que ninguém quer que você fique aqui mais do que o necessário...
- Por quê? Não querem ficar próximos do Comensal? - Ele a cortou, e Penélope franziu as sobrancelhas.
- Porque você é um paciente e queremos sua recuperação, Draco. Não queremos que você fique aqui pra sempre porque te queremos curado.
- Eu não estou doente! - Ele se ergueu abruptamente, seus olhos ardendo e praticamente furando o rosto da mulher com a intensidade de seu olhar. - Eu estou pouco me fodendo pra o que você, ou Potter acham! Eu estou bem!
- Olhe pra você, Draco. Você está gritando comigo quando a única coisa que eu te perguntei foi como você estava. Ninguém aqui é seu inimigo, principalmente Harry Potter. Ele não saiu do seu lado durante todo esse tempo, sabia? - Ela falou, e Draco sentiu seu coração dar um saltinho de esperança. Caiu novamente na cadeira, olhando para a janela ao lado da estante.
- Mesmo? - Perguntou, querendo saber mais.
- Sim. Ele não pôde cuidar de você no St. Mungus, pois não é da área de intoxicação por poções, mas assim que você estava estável, ele o trouxe para cá. - Clearwater esclareceu, e tinha um sorriso quase terno no rosto. - Você se sente bem sabendo disso?
Draco moveu o ombro, sem realmente querer responder. Sim, ele se sentia bem em saber disso. Certamente Potter ainda estava afetado pelo que quer que eles tivessem tido no passado, e Draco sentia certa esperança. Talvez ele pudesse ficar com ele agora que estavam próximos de forma forçada.
- Draco, o que você sente em relação à sua vida? - Ela perguntou, e Draco continuou olhando para a janela.
Ele ficou vários minutos em silêncio, mas Clearwater não insistiu. Ela lhe deu tempo para que Draco pudesse organizar seus próprios pensamentos, e aquela pressão em sua garganta voltou, como se seu corpo quisesse impedi-lo de falar. Ele pigarreou, e falou de forma tentativa.
- Hm... Eu... - Ele mordeu o lábio inferior, apertando as mãos em suas costelas, sentindo-se confortável com seu abraço em si mesmo e usando-o para se acalmar. - Eu sinto frustração. - Admitiu. - Eu... Eu não queria estar bêbado o tempo inteiro. Eu só... Eu só queria... Sabe?
- Se acalmar?
- É. Isso. - Ele assentiu com a cabeça.
- Acalmar o quê, Draco? Você é muito nervoso?
Ele deu de ombros mais uma vez.
- Eu não... Eu não faço muita coisa. Eu não fiz meus N.I.E.M.S, nem... Nem nenhum curso. Nenhum treinamento ou algo assim. E dai meus amigos começaram a trabalhar, e a namorar... Eu... Eu não tinha mais com quem me divertir. - Era difícil falar aquelas coisas. Draco nunca tinha admitido esses sentimentos nem para si mesmo, e agora estava despejando as palavras no rosto dela como se não tivesse controle. Ele queria se calar, mas as palavras continuavam saindo. - E daí teve Potter e...
- Vocês passaram um tempo juntos, não foi? - Ela perguntou, e ele assentiu com a cabeça.
- Todo mundo sabe? - Draco perguntou, e Clearwater sorriu.
- Foi na mesma época em que namorei Percy Weasley. Harry nunca foi muito discreto sobre com quem ele estava. - Ela deu de ombros, e Draco a olhou com estranheza.
- Ele... Falava sobre mim? Sobre nós?
- O tempo inteiro. - Ela confirmou, e Draco engoliu em seco. - Quando vocês terminaram, ele ficou bem quieto por bastante tempo, mas acho que ele ainda tem essa tendência de querer cuidar de você.
“Quando vocês terminaram”, ela disse. Mas Draco e Harry nunca foram namorados. Como poderiam terminar? O que será que Potter falava para seus amigos?
- Você sente falta dele, Draco? - Ela perguntou, suavemente, e Draco ouviu seu próprio fungado antes de assentir com a cabeça. - Você acha que a separação foi a causa dos excessos?
- Não. Não exatamente. - Ele respondeu, parecendo meio confuso. - Eu bebia porque gostava de ficar bêbado. Era divertido. Depois disso eu... Eu tomava remédios.
- Então você acha que a separação fez com que você tomasse remédios?
- Eu ficava nervoso quando lembrava. Tenso. Estressado. Eu só queria me acalmar. - Ele disse, fungando ainda mais. - Eu não queria apagar sempre. Só...
- Amenizar a dor? - Ela perguntou, e ele deu de ombros mais uma vez. - Draco, desde quando você se sente assim? Tenso?
Ele demorou a responder mais uma vez, seus olhos mirando a janela sem realmente a ver. Imagens de um incêndio vieram à sua mente, e ele lambeu os lábios.
- Desde a guerra. Acho. - Sua voz soou tão baixinha que ele achou que talvez ela não o tivesse escutado. Quis falar mais, mas as palavras pareciam ter sumido agora.
- Você acha que ainda está com medo da guerra? - Clearwater perguntou, mas Draco não respondeu mais. Ele limpou o rosto, percebendo só agora que estava chorando, e sentindo-se envergonhado. Estranhamente, também sentia-se mais leve.
- Eu posso ir pro meu quarto agora? - Ele perguntou depois de um tempo, e a curandeira lhe estendeu um dos pacotinhos de lenços de papel. Draco aceitou, limpando seus olhos e nariz e tentando se acalmar.
- Eu te levo até lá. - Ela disse, erguendo-se.
- Eu vou ter que falar com você de novo? - Draco perguntou, juntando forças para se levantar e fazendo-o depois que ela o tocou levemente no ombro.
- Sim. Uma vez por semana. - Ela disse, e Draco suspirou. - Não se preocupe. Não precisa falar nada se não quiser quando vier. Mas me ajudaria se falasse.
Ele concordou, jogando o lenço fora numa lixeira próxima e enfiando as mãos nos bolsos.
- Vamos. Seu quarto é lá em cima. Tem uma visão linda. - Ela sorriu, e o sorriso pareceu estranho em seu rosto sério, mas Draco não quis questionar sua mente. Havia coisas demais nela e o loiro não queria lidar com todos esses sentimentos agora. Decidiu apenas segui-la sem questionar. Depois questionaria. Depois.
Andaram por longos corredores e pegaram um elevador para o nono andar. Mais corredores - eles sempre pareciam intermináveis - e pararam na frente do quarto 917. Clearwater tirou uma chave do bolso do jaleco azul-claro que usava, abrindo a porta e entrando, Draco a seguindo de perto.
O quarto era simples, mas aconchegante. Havia uma cama grande de casal, com um edredom que parecia extremamente confortável e fez com que Draco quisesse se jogar em cima imediatamente. Havia uma escrivaninha ao lado com alguns cadernos, pergaminhos, penas e tinteiro, e ao lado uma pequena estante. Tudo era branco e meticulosamente em seu lugar. À frente da cama, havia um pequeno armário para roupas e um espelho. Ao lado, uma porta que ele descobriu ser o banheiro. Na parede oposta à porta de entrada, havia uma porta de vidro que dava para uma varanda. Ele caminhou até lá, abrindo as portas e seguindo para a varanda. Havia uma namoradeira com almofadas e uma planta ao lado, perfeita para uma leitura num dia chuvoso. Draco caminhou até a borda, segurando a meia parede com as mãos e olhando para o horizonte. Estavam numa altura bastante considerável, e ele sentiu um frêmito no estômago. Há quanto tempo ele não tinha voado? Há muito anos que ele não pegava uma vassoura, certamente. De onde estava, ele podia ver a praça logo à frente, a igreja e, um pouco mais ao longe, o cemitério onde os pais de Potter estavam enterrados. Ele se inclinou um pouco para ver as casas dos trouxas abaixo e, com um som surdo, sua cabeça se chocou dolorosamente com uma barreira. Ele soltou um gemidinho de dor, erguendo uma mão e tocando em sua testa.
- O que é isso? - Ele perguntou, erguendo a outra mão e tocando na barreira invisível à sua frente, sentindo a pressão mágica contra sua palma. Era estranho, tocar em algo que você não estava vendo - mais ou menos como chutar a cara de Potter quando ele estava brincando sob a capa.
- É uma barreira anti-suicídio. - Ele a olhou chocado, e Clearwater deu de ombros. - Você não sabe quantos problemas tivemos no início quando as barreiras não foram colocadas. Principalmente com os trouxas. Do lado deles, colocamos um vidro para disfarçar. Alguns passam horas tentando quebrar.
Draco quis dizer que não precisava daquela barreira, mas achou melhor deixar o assunto morrer. Logo ela estava se despedindo e lhe dando instruções para os próximos dias.
- Suas consultas serão todas as quintas pela manhã, pontualmente às nove horas. Suas outras atividades estão num pergaminho em cima da escrivaninha. Potter escolheu ele mesmo suas atividades...
- Espera. - Draco interrompeu a mulher. - Eu tenho um horário de atividades? Que Potter escolheu pra mim?
- Bem, ele era o que te conhecia melhor entre os funcionários. E sim, você tem um horário de atividades. Acha que vai ficar aqui sem fazer nada? - Ela riu. - Enfim, siga seus horários direitinho. Sua medibruxa vai vir aqui nos primeiros dias te levar pros lugares onde você tem que ir. Depois, você vai aprender a ir sozinho e esperamos responsabilidade de você.
- Não tem nenhum jeito de eu ir pra casa, tem? - Ele insistiu, e Clearwater tocou-lhe no ombro de uma forma que ela pensou ser gentil.
- Isso só depende de você, Draco. - A mulher respondeu e logo saiu do quarto, deixando-o sozinho com seus próprios pensamentos.
Draco suspirou, fechando a porta e passando a chave, não queria ser interrompido. Foi até a escrivaninha, encontrando facilmente o pergaminho com o horário e abrindo-o. Seus dias estavam bastante preenchidos, pelo que ele podia ver. Todos os dias, a partir das duas da tarde, ele teria que trabalhar na biblioteca, organizando livros e sendo vigiado por Percy Weasley, de todas as pessoas. Pela manhã, ele tinha diferentes atividades dependendo dos dias. Nas segundas e nas quartas, ele teria aulas de yoga (o que Potter estava pensando?) logo cedo depois do café da manhã, e depois disso, aulas de pintura. Antes do horário de almoço, ele deveria estar na cozinha para ajudar a fazer o almoço do dia e, depois do almoço, seguiria para a biblioteca onde ficaria até às cinco da tarde. Depois disso, ele teria que ajudar na limpeza dos jardins antes de seguir para uma reunião com outras pessoas em tratamento antes do jantar.
Nas Terças e Quintas, a única coisa igual era o tempo na biblioteca. Logo pela manhã ele tinha Quadribol na terça, e a reunião com a curandeira na quinta. Depois disso, ele iria ficar responsável pela limpeza do seu próprio quarto e a lavagem de suas roupas. Depois do almoço, antes de seguir para a biblioteca, ele precisaria ficar na cozinha para lavar os pratos na Terça e, na quinta-feira, ele teria que trabalhar na horta. Depois da biblioteca, nesses dias, ele seguiria para a academia e faria exercícios sob vigilância de um treinador específico.
Ele não estava designado para nenhuma limpeza ou lavagem de pratos à noite - nem cozinha em nenhum dos dias. Ainda bem, porque Draco cozinhava pessimamente, apesar de ser bom em poções. Depois do jantar, ele podia fazer o que quisesse, contanto que estivesse em seu quarto ou no salão comunal ao toque de recolher, que era às onze da noite. Nas sextas-feiras ele não tinha nada planejado, mas havia sugestões do que ele podia fazer: Podia jogar quadribol, ou ficar na piscina, fazer exercícios na academia ou trabalhar com os outros pacientes que faziam reciclagem. Ele provavelmente usaria esse dia para ler alguma coisa e ficar de bobeira, já que os outros dias eram atolados de coisas para fazer. Três vezes ao dia, no café da manhã, almoço e jantar, ele iria tomar as poções designadas e, nas quartas-feiras mais ou menos às três da tarde, um médico iria analisá-lo para ver os avanços do tratamento.
Ele olhou um calendário que estava pendurado ao lado da cama. O dia 12 de Março estava marcado, e um rádio-relógio na mesinha de cabeceira lhe disse que eram quase sete horas da noite. Draco estranhou, pois não viu o tempo passar tão rápido. Ele sentia seus olhos pesados e seu corpo cansado, mas levantou-se quando ouviu uma batida na porta. Abriu, e Patil estava do outro lado.
- Hey de novo. - Ela sorriu, as mãos enfiadas nos bolsos de seu manto verde. - Vim te levar pro jantar e te dar sua dose da noite. - Patil o chamou com a cabeça, e Draco fechou a porta, trancando-a e colocando a chave em seu bolso. - Gostou do quarto?
- Bem, não é ruim. Mas aparentemente eu vou ter milhões de coisas para fazer. - Ele resmungou, e ela deu uma risadinha.
- Você precisa estar bem ocupado. O ócio leva a pensamentos destrutivos e à vontade de voltar ao vício, você sabe. - Ela deu de ombros, indo até o elevador. - A sala de jantar é no térreo. Tudo é preparado pelos internos, desde a colheita na horta, à preparação e limpeza. Ninguém vai te servir, no entanto. Cada um que ponha seu prato e escolha seu lugar nas mesas. Você vai ficar com a limpeza algum dia?
- Os pratos. Não lembro bem os dias da semana.
- Tudo bem, não se preocupe. Eu tenho seus horários comigo e vou te ajudar enquanto você se acostuma. Como estão as mãos? - Ela perguntou, atenta, e ele as levantou, percebendo que elas voltaram a tremer consideravelmente, mas não tanto quanto quando ele acordou. - O efeito da poção está passando, mas ainda tem um pouco. - Ela tirou um frasquinho e entregou-o, entrando no elevador e apertando o botão do térreo. - Beba depois do jantar. Não é bom tomar de estômago vazio, pois pode causar sonolência.
Logo saíram do elevador e ela o encaminhou para o salão de jantar. Era grande. Não tão grande quanto Hogwarts, claro, mas a estrutura lembrava um pouco do salão principal da escola. Havia grandes mesas espalhadas pelo local, onde várias pessoas já comiam e conversavam. O barulho de conversa e talheres contra pratos teve um efeito calmante imediato no loiro, e ele sentiu-se menos tenso.
- Você se serve ali. - Ela falou, apontando para uma mesa onde estavam colocadas várias panelas, potes, travessas e pratos cheios de comida. O cheiro era delicioso, mesmo de onde ele estava, e ele sentiu sua barriga roncar. O sanduíche de mais cedo nem de longe era o suficiente para mantê-lo por tanto tempo. - Depois, você pega sua bandeja e seu prato e entrega ali naquela janelinha. - Ela apontou para uma parede um pouco mais à direita da sala, onde havia bandejas e pratos empilhados para serem recolhidos e uma lixeira onde os restos deveriam ser depositados.
- Acredito que você consiga voltar para o seu quarto depois? - Ela perguntou, e Draco assentiu com a cabeça, colocando o frasquinho no bolso da frente e percebendo com estranheza que ele era acostumado com a sensação de ter poções em seu bolso. Decidiu não pensar sobre isso. - Hoje à noite você deveria ter uma reunião com o pessoal, mas como você acordou hoje, não queremos te cansar. Então você vai jantar e voltar pro quarto ou explorar o local, mas não ande muito certo? Hoje você deve estar se sentindo meio pesado e sonolento.
Era verdade. Por mais que estivesse com fome, também estava com muito sono. Patil se despediu, indo fazer o que quer que ela fazia quando não o estava vigiando, e ele seguiu para a mesa. Pegou uma bandeja, um prato e talheres, servindo-se de tudo o que achava que conseguia comer - estava meio enjoado, apesar da fome, e não queria exagerar.
Sentou-se na ponta de uma das mesas, sem realmente querer falar com ninguém, e comeu em silêncio. Suas mãos tremiam e isso dificultava seu trabalho, mas ele resistiu a tomar a poção até que tivesse terminado tudo, sentindo-se relaxar imensamente depois que finalmente a bebeu. Percebeu que os outros internos também tinham suas doses, algumas maiores que as outras, e eles conversavam animadamente. Draco sentiu seu corpo pesar e levantou-se, colocando a bandeja e o prato onde eles deveriam ser recolhidos e seguiu para seu quarto. Tomou um banho rápido e escovou os dentes. No armário, havia várias roupas suas, e ele vestiu um pijama antes de cair na cama e apagar quase imediatamente.
Draco acordou no outro dia com batidas em sua porta. Olhou para o relógio e resmungou quando viu que eram sete da manhã. Sentou-se na cama, passando as mãos no rosto tentando acordar antes de abrir a porta. Patil estava do outro lado, parecendo exasperada.
- Graças a Merlin! Estou batendo na sua porta há 15 minutos. - Ela reclamou, estalando a língua. - Hora do café e da sua poção. Vamos, troque de roupas e lave esse rosto. Vou te esperar aqui.
Ele resmungou mais uma vez, mas afastou-se, pegando roupas no armário e indo para o banheiro. Quando saiu, vestido numa calça cinza clara e um casaco branco, ele se sentia mais vivo. Foi difícil escovar os dentes com sua mão tremendo - e ele nem precisava dizer a dificuldade que foi para poder esvaziar a bexiga - mas sabia que iria receber sua poção agora e isso fazia com que ele estivesse ansioso para sair.
Patil estava observando sua cama desfeita com uma sobrancelha levantada, mas não disse nada. Sairam do quarto, e Draco estendeu uma mão tremula para que ela lhe entregasse a poção. Ela o fez, mas bateu em sua mão quando ele fez menção de abrir o frasco.
- Depois de comer. - A medibruxa ralhou, e Draco revirou os olhos.
- Eu acho que sei lidar com os efeitos de uma poção.
- É por esse motivo que você está internado numa clínica de reabilitação. DEPOIS de comer. - Ela insistiu, e Draco enfiou a poção no bolso à contragosto.
Entraram no elevador, e lá estava a mesma moça da recepção vestida em leggings e uma regata cor de rosa, os cabelos longos e loiros caindo em cachos de onde saiam do rabo de cavalo.
- Padma! - A loira sorriu, e depois virou-se para ele. - Draco Malfoy! Soube que você acordou ontem. Como está se sentindo?
- Meio enjoado. Com fome. - Ele disse sem pensar. Estava tentando lembrar-se do nome dela, tinha certeza que era uma grifinória.
- Você vai pra yoga hoje? - A loira perguntou, e Draco virou os olhos para Padma (ele tinha que lembrar o nome da própria medibruxa, pelo menos), que deu de ombros.
- Você acha que seu corpo aguenta um pouco de exercício? - Ela perguntou, e Draco balançou a cabeça em negativa. Suas pernas estavam bambas, sem energia. Ele não queria se forçar. - Tudo bem. Mas você ainda tem que ir para as outras atividades nessa semana. As atividades físicas você pode começar semana que vem. - Padma falou, e ele enfiou as mãos nos bolsos, segurando o frasco em busca de conforto.
- E se eu não quiser? - Ele perguntou, e a loira riu.
- Você não tem opção. - Ela disse, e ele resmungou. - Até mais, Pads.
- Até, Lavander. - Padma se despediu quando chegaram ao térreo, e seguiram ela e Draco para o salão.
Ao chegar ao local, mais uma vez Patil - nossa, ele definitivamente deveria anotar o nome dela em algum lugar - o deixou para cuidar de si mesmo. Ele comeu, afobado, e quando tomou sua poção foi como se tivesse sentido todos os seus músculos relaxarem. Olhou suas mãos, que pareciam normais agora, e o enjoo tinha passado. Aquela poção era o único motivo pelo qual ainda não tinha tentado fugir daquele lugar, e talvez o fato de que ainda estivesse meio dormente por ter passado tanto tempo dormindo. Entregou os pratos e a bandeja para limpeza e decidiu explorar o local, o que não tinha feito no dia anterior. Do salão de jantar, era fácil chegar aos jardins. Passou pela recepção e para fora. A luz do dia ainda estava suave por ser bastante cedo e estar um pouco nublado, mas machucou seus olhos claros ainda assim. Ele passou um tempo para se acostumar com a luz antes de seguir o caminho de pedra que dava para o jardim e a horta. Estava meio frio e ele não pensou em pegar um casaco. Dentro do prédio era tudo muito bem climatizado, e ele se abraçou para espantar o frio. O jardim era relativamente grande, e havia lírios por todos os lados, de todas as cores, mas principalmente vermelhos. Ele sabia que a Fundação tinha sido feita em homenagem à Lily Evans Potter, então fazia sentido. Algumas pessoas trabalhavam com as plantas, transportando mudas, fazendo buracos, aguando plantas. Ele caminhou pela trilha de pedra, seguindo para a horta. Havia ervas, legumes, vegetais e algumas árvores frutíferas.
- Ei! - Ele ouviu alguém chamando, e algo voando em sua direção. Sem pensar, ele pegou, seus instintos de apanhador mostrando-se ainda muito bons. - Como é seu nome?
Era um rapazote, não devia ter mais do que 17. Ele tinha cabelos escuros e compridos, meio oleosos e cortados de mau jeito na altura dos ombros. Draco imaginou que Snape devesse ter aquela cara quando adolescente. Não soube realmente se era seguro dizer seu nome. Por mais que tivesse pagado sua pena, ser um Malfoy ainda lhe levava a olhares estranhos e acusatórios. Mas foda-se.
- Draco. Draco Malfoy. - Ele disse, e o rapaz riu levemente. - Engraçado? - Draco odiava quando faziam piada com seu nome, mas o adolescente só riu mais ainda, estendendo a mão.
- Meu nome é Drake. Drake Beckett. - Foi a vez de Draco rir, e sem pensar duas vezes, apertou a mão dele. Ele parou para olhar para o que segurava, vendo uma maçã madura. Ele quase conseguia fechar os dedos ao redor dela. - Cocaína. Você é o quê?
- Oi? - Draco se surpreendeu com a pergunta. Cocaína. Uma droga trouxa. O garoto não era bruxo. O loiro se surpreendeu por não existir uma separação entre eles aqui fora, mas decidiu não demonstrar seus sentimentos.
- Por que você está aqui? - Ele perguntou, mais sério, e Draco começou a negar. Ia dizer que não tinha motivo, que estava ali forçado e por engano, mas talvez a conversa com Clearwater tivesse mudado algo.
- Álcool. Remédios. - Confessou baixo, alisando a maçã com o polegar. Drake deu um sorriso para ele.
- Quem é seu médico? - Ele perguntou, e Draco franziu as sobrancelhas.
- Temos médicos próprios?
- Bem, sim. Minha enfermeira é Cho. Cho Chang. Acho que a da ala de álcool é a Padma. Ela também é enfermeira da Jess. - Apontou com a cabeça para uma moça que estava colhendo tomates do outro lado da horta. - Minha médica é Susan Bones. Quem é seu médico? Ele deve ter ido falar com você quando você chegou.
- É... Hm... Harry. Harry Potter. - Ele disse, meio nervoso. Potter era seu médico naquele lugar? Ele teria que vê-lo naquela tarde? Ou melhor... Ele teria que vê-lo toda quarta à tarde? Seu coração bateu rápido demais.
- Sério? Eu só o vi uma vez. O cara é genial. Antony teve um ataque cardíaco no meio do salão outro dia e Potter conseguiu salvar ele. Foi tipo magia. Muito foda. - Drake tinha um brilho infantil no olhar enquanto falava de Potter, e Draco girou os olhos.
- Ele não é tão legal quanto você pensa. Pode até ser um bom médico, mas é um idiota competitivo e chato. - Draco estalou a língua, sentindo-se infantil por estar reclamando de Potter para um adolescente.
- Vocês se conhecem? - Drake perguntou, pegando uma cesta no chão e voltando ao seu trabalho enquanto conversava com Draco, pegando maçãs do pé e colocando na cesta.
- Estudamos juntos. Jogamos em times opostos. - Fomos namorados, ele esteve dentro de mim, Draco pensou, mas decidiu omitir aquilo. Ninguém precisava saber de suas desgraças.
- Você não me parece do tipo esportivo. - Drake disse, mirando-o de cima a baixo. - Jogava o quê?
Draco tentou pensar rápido. Ele não podia dizer quadribol, muito menos sabia de muitos esportes trouxas. Disse o primeiro que lhe veio à mente.
- Futebol. Jogávamos na escola. Faz muito tempo. - Draco disse, e o rapaz assentiu com a cabeça.
- Está fazendo alguma coisa agora? Se quiser, pode nos ajudar. Antony não está aqui e a gente meio que está deixando pro pessoal da tarde uns trabalhos. - Drake admitiu, coçando o nariz, como uma mania.
- Eu... Eu acho que preciso voltar antes das nove...
- Ainda são oito e pouquinho. Vamos, você ganhou uma maçã. - Drake sorriu, e Draco deu de ombros. Não faria mal colher algumas frutas.
Patil apareceu na horta para buscá-lo cinco minutos antes das nove. Ela tinha um pergaminho na mão, mas guardou-o logo quando Draco se despediu de Drake e Jess.
- Fazendo amigos? - A mulher perguntou, e Draco deu de ombros.
- Estava entediado. - Ele respondeu, e ela riu de canto. - Eu preciso ir mesmo pra... O que quer que seja isso que eu esteja indo?
- Está difícil lembrar seus horários? - Ela perguntou, e Draco deu de ombros mais uma vez, enfiando as mãos nos bolsos. - Tudo bem. Ainda está muito cedo.
A aula de pintura foi enfadonha. Dean Thomas era o instrutor, e tinha sugerido que ele e mais outros 15 que estavam na sala desenhassem algo nas telas que lhes lembrassem infância. Draco tinha horas, mas ficou olhando pela janela por muito tempo antes de desenhar um pomo de ouro minúsculo na tela, pintar de amarelo e entregar. Dean ergueu uma sobrancelha, mas não comentou nada. Ele colocou em um canto da parede para secar, onde já havia vários das outras pessoas. Patil já estava o esperando do lado de fora, e seguiram para a cozinha.
Draco admitia que nunca fora muito bom em cozinhar, mas era ótimo em cortar, fatiar, limpar e misturar. Por um momento, esperou que a Sra. Weasley estivesse ali, mas a maioria eram mulheres de meia idade trouxas, alguns rapazes calados e uma garota que tremia ainda mais do que Draco. Ela era responsável pela limpeza e sempre acabava tropeçando em algo. Apesar do clima estranho, o barulho dos gritos e conversas paralelas, batidas de panelas, pratos e talheres, o calor horrível daquele lugar e o trabalho que não acabava mais, Draco se sentiu útil. Pela primeira vez, ele sentiu-se parte de algo, de uma unidade.
Quando saiu da cozinha, almoçou rapidamente e bebeu a poção que a medibruxa lhe dera como se fosse morrer sem ela. Chegou a chacoalhar em sua boca para ver se alguma gotinha a mais escorria do frasco. Patil deixou que ele tomasse um banho para se livrar do cheiro da cozinha antes de ir para a biblioteca, e seguiram logo depois.
Percy Weasley era extremamente organizado. Cada livro era bem cuidado, como se nunca tivesse sido lido, e catalogado por temas, tamanho, ordem alfabética e frequência de procura. O sistema era fácil de decorar, e ele não demorou muito para sair organizando os livros dispersos que os outros internos deixavam por ai, sob o olhar vigilante do homem. Verdade seja dita, Draco tinha esquecido o quanto gostava de livros. Por muito tempo, ele passara os dias dormindo o dia inteiro e acordando para sair e curtir a noite, o que lhe dava pouco tempo para sentar com um livro e aproveitá-lo. Estava tão concentrado que teve um susto quando virou uma esquina e Potter estava na sua frente, mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo azul-claro.
- Merlin, Potter! Quer parar de me espionar? - Draco colocou uma mão no peito, tentando acalmar seu coração e não olhar muito para o curandeiro.
- Costumes antigos são difíceis de se livrar. - Potter disse, rindo levemente com a atitude dele. - Vamos, tem um pequeno consultório aqui do lado. Só preciso fazer um check-up.
Draco olhou para Weasley na mesa, pegando os livros que estava nos braços e colocando em cima de um criado mudo antes de seguir com Potter. Seu coração não parada de palpitar. Ele estava nervoso, tinha que admitir. Potter estava sendo profissional desde que Draco acordou, mas sua vontade era de perguntar tantas coisas, tantas coisas que estavam entaladas em sua garganta. A cada passo que dava em direção ao consultório para seu check-up, mais ele sentia vontade de sair correndo. Observava as costas do moreno, lembrando-se com detalhes de como seus músculos se moviam quando ele estava sem camisa. Sua pele estava ainda mais bronzeada, Draco podia perceber. Sempre adorara o tom marrom em contraste com o seu branco leite, quase como creme e capuccino, e seus dedos tremeram com vontade de tocá-lo. Draco pensou que faria qualquer coisa para tocá-lo novamente.
Entraram na sala, e Potter guiou o loiro para uma maca. As mãos do moreno eram quentes e calejadas, como Draco lembrava-se, e Harry o tocava com quase devoção, verificando o pulso em seu braço e pescoço, sua respiração, antes de pegar sua varinha e começar com os feitiços de diagnóstico. Draco o olhava com atenção, e Potter não mirava em seus olhos em nenhum segundo. Talvez porque soubesse que era óbvio que não precisava ter tocado o loiro para verificar aquilo.
- Como você está? - Draco perguntou, procurando alguma marca de aliança em seus dedos, e não encontrando nenhuma. Sentiu alívio percorrer seu corpo, mas conseguiu disfarçar bem.
- Estou ok, acho. - Harry disse, finalmente parando os movimentos com a varinha e, com certo esforço, olhando para ele. - Você está fisicamente melhor do que da última vez. Seus batimentos estão normalizando, o fígado está se recuperando e sua pressão está normal. O risco de diabetes está bem menor e o colesterol também diminuiu bastante. Parece que as poções estão fazendo efeito.
- Potter. - Draco soou sério, e Harry engoliu em seco, seu sorrisinho gentil se dissipando. Era tão óbvia, a vulnerabilidade naqueles olhos verdes. Draco se perguntava como não tinha notado antes o quanto Harry parecia uma criança perdida. - Você um dia vai me perdoar?
A expressão do curandeiro pareceu confusa, e então surpresa, para no fim parecer entender. Ele passou a mão pelos cabelos negros, desviando o olhar.
- É passado. Eu não guardo rancor do que aconteceu no passado. - Potter falou, e soltou um suspiro. - Realmente não...
Ele parou quando a mão de Draco foi estendida na sua frente. Uma memória longínqua de sua infância veio à mente do loiro, de quando fez o mesmo no Expresso de Hogwarts, e Harry ergueu os olhos para ele. Sem pensar duas vezes, o moreno apertou sua mão, e Draco não resistiu a puxá-lo para um abraço.
Potter estava entre suas pernas, e Draco percebeu que ele também não hesitou em lhe abraçar de volta. O loiro fechou os olhos, aspirando e parando para apreciar o cheiro de chocolate, poções, hospital e desinfetante que emanava de Harry. Era um cheiro diferente do que sua memória lembrava, mas ao mesmo tempo o acalmava, o deixava centrado e corajoso. Talvez por isso ele não tivesse conseguido controlar suas próximas palavras, que saíram num murmúrio quase imperceptível.
- Não vá embora de novo...
Potter se afastou dele, olhando-o como que assustando, e pigarreou, abraçando a si mesmo.
- Não esqueça de ir para suas atividades, das reuniões com o grupo e de falar com Clearwater. É muito importante. Você está bem melhor. Te vejo semana que vem. - Harry atropelava as palavras, e seu rosto estava afogueado. Draco teria achado bonito se não estivesse ficando furioso por ter sido ignorado. - Eu... - Harry virou-se para ele, como se quisesse dizer algo, seus ombros caídos como um cachorro que esconde o rabo entre as pernas. - Eu não fui porque quis. - Ele disse, apertando a varinha em sua mão. - E vou estar aqui sempre quando precisar de mim. Até mais, Dray.
Draco não sabia se continuava com raiva, se dava vazão à tristeza ou se sentia-se relativamente feliz pelas palavras dele. Deixou que Potter saísse e saiu correndo do consultório, passando por ele e indo direto para seu quarto. Foda-se a biblioteca.Quando chegou no aposento, ele não pensou duas vezes. Vasos, canetas, pergaminhos: jogou tudo contra a parede. Rasgou lençóis, tirou as roupas do armário e as jogou pelo quarto, rasgou cortinas, socou o colchão e gritou. Gritou tanto que sua voz estava rouca depois de meia hora, e ele sentiu-se mais leve, mais tranquilo. Apagou sobre o colchão nu, e não se importou quando ouviu Patil batendo em sua porta à noite. Ele não queria a poção daquela vez. Ele só queria morrer.
Quando acordou no dia seguinte, estava tão enjoado que não conseguia pensar. Não conseguiu sair da cama, cada movimento era doloroso. Seu corpo inteiro estava rígido e dolorido, como se ele estivesse prestes a perder seus movimentos, e sua mente parecia vazia. No fundo de sua mente, ele imaginava que estava com Potter em seu consultório, e ele dizia que o amava e que jamais iria deixá-lo sozinho. Nunca mais. Draco não percebeu que chorava. Nem percebeu quando sua porta abriu sozinha e mãos quentinhas tocaram sua testa.
- Pansy... - Ele murmurou, com voz roupa, e viu a pele escura e os cabelos negros em sua linha de visão. Sabia que não era Pansy, mas ao mesmo tempo era. Não conseguia diferenciar.
- Draco, você está fervendo de febre! - A voz disse, que era e não era de Pansy. Mãos assim quentinhas só podiam ser dela. Ninguém o tocava desse jeito além dela.
- Pansy, por que ele não gosta de mim...? - Sua mente adormecida perguntou, e Não-Pansy-Mas-Pansy limpou seu rosto devagar, antes de jogar algo em sua boca. Sentiu seu corpo relaxar imediatamente, e um sono delicioso tomar conta de si. Não era Pansy mesmo, ele percebeu quando a nuvem saiu de sua mente temporariamente. Era Patil.
- Está tudo bem, Draco. Você vai ficar bom. - Ela estava sentada ao lado de sua cama, alisando sua testa e limpando suas lágrimas. Draco mirou seus olhos castanhos por muito tempo, e, lentamente, seus olhos foram fechando... Fechando... Até que a única coisa que sobrou foi o vazio.
Era noite quando Draco abriu os olhos novamente. Ele estava sozinho em seu quarto, que estava tão organizado que ele duvidou se realmente tinha o destruído. Sentou-se na cama, zonzo e enjoado. Suas mãos tremiam como loucas, e ele não conseguia lembrar direito o que tinha acontecido. Era como se uma memória distante estivesse no fundo de sua mente e ele não conseguisse percebê-la com clareza. A luz do relógio era como um farol no quarto escuro, a luz vermelha doendo em seus olhos. Era depois das oito da noite, e ele apertou os olhos quando seu estômago roncou. Ele precisava de comida.
Como se chamada por magia, Patil abriu sua porta carregando uma bandeja. Ele a olhou confuso, mas calmamente ela moveu a varinha que tinha em sua mão. A luz acendeu no quarto, mas muito suave, só um pouco mais forte do que a luz do relógio, e foi aumentando lentamente de intensidade. Ela colocou a bandeja na mesa de cabeceira e guardou a varinha no bolso frontal de seu robe verde-claro. Sem falar nada, ela o ajudou a sentar, colocando o travesseiro atrás de si para que ele ficasse confortável.
- Você consegue segurar a colher? - Ela perguntou, pegando o objeto da bandeja e estendendo para ele. Draco ergueu uma mão fracamente, e ela tremia tanto que ele nem ao menos conseguiu segurá-la antes dela cair em cima de seu colo. Ele grunhiu. - Vamos, você precisa comer. Seja um bom menino enquanto eu dou a você, ok? - Patil falou, sentando-se na borda da cama dele e pegando a colher.
- Por que... Não... Poção...? - Ele tentou perguntar, sua voz enrolada e grogue.
- Eu precisei lhe dar a poção mais cedo enquanto você estava de estômago vazio, e olha como você está agora. - A curandeira falou, olhando-o de forma séria, como uma mãe fala com uma criança mimada. - Comer primeiro, poção depois.
- Não... Criança... - Draco virou o rosto quando ela pegou a bandeja e colocou no próprio colo com a colher. Era vergonhoso precisar ser alimentado na boca por um pessoa que, por mais que não fosse mais uma estranha, ainda não era um amigo ou familiar.
- Draco, você é meu paciente. Eu não vou julgar você por algo que você está passando. Deixa eu te ajudar. - Ela pediu num tom sincero, e ele virou o rosto para ela, querendo dizer que não precisava de ajuda. No entanto, era óbvio que ele precisava. Respirou fundo, abrindo a boca e deixando que ela o alimentasse, o que ela fez sem nenhum comentário. - Você está bem, se quer saber. Seu tipo de abstinência é bem menor, já que você passou o primeiro mês em coma. Seu corpo se desintoxicou bastante durante esse período, mas foi muito difícil te acordar. - Ela explicou, com paciência e gentileza. Era como se Draco nunca tivesse conhecido a corvina na escola. - O problema foram as convulsões nos primeiros dias, vômitos... Bem. Não foi bonito. Você teve sorte de estar apagado. Está tendo problemas para dormir?
Draco negou com a cabeça, engolindo forçadamente a comida. Estava enjoado e escutá-la falando sobre vômitos não estava ajudando. Patil limpou seu queixo com um guardanapo antes de continuar com seu trabalho.
- Enjoos? - Ele assentiu com a cabeça. - Os tremores eu posso ver. Está tendo alucinações?
- Sonhos... - Ele tentou explicar sob a voz enrolada. Memórias que pareciam reais, mas ele sabia que não eram. Como Pansy cuidando dele.
- Ao menos não são pesadelos... - Ela comentou, e ele virou o rosto quando não conseguia engolir mais. Se tivesse que comer mais alguma coisa, provavelmente não conseguiria manter nada dentro do estômago. - Enjoado? Calma, sua poção está aqui. Ao menos comeu quase tudo.
Patil esperou que ele abrisse a boca e despejou o conteúdo do frasco que tirou de seu bolso. A sensação maravilhosa tomou conta do corpo inteiro de Draco, e ele sorriu, tranquilo.
- Draco. - Ela o chamou, fazendo-o olhá-la por entre os olhos semicerrados. - Você entende que precisa participar das atividades do seu calendário, não é?
Ele suspirou, assentindo com a cabeça, bocejando e apertando uma mão na outra. A sensação de abstinência era horrível. Os tremores, os enjoos eram ruins o suficiente. Saber que poderia estar acordado durante as convulsões era pior ainda.
- Como... Como os trouxas passam por...? - Ele tentou perguntar, a voz voltando ao normal lentamente.
- Eles sentem o mesmo. A diferença é que não podem tomar uma poção como você. São tratados com remédios trouxas, que são lentos e com longos efeitos colaterais. - Ela explicou, tocando no braço dele com afeição. - Por favor, Draco. Faça isso por você. Não quer ficar melhor?
- Eu nem sabia que... Estava doente... Pra começo de tudo. - Ele disse, desviando o olhar, mas não afastando o braço.
- É por isso que o vício é algo tão perigoso. Muitos acham que não têm um problema, que está tudo bem, que conseguem parar. Você acha que, se você saísse daqui amanhã de manhã, conseguiria ficar longe de uma garrafa de álcool? - Ela perguntou, e ele riu.
- Eu fico imaginando a adega da minha casa nas horas vagas. - ele confessou, e a medibruxa riu junto com ele, colocando a bandeja de volta na mesa de cabeceira.
- Você pode pensar que não tem um problema, Draco, mas seu corpo está te dizendo o contrário. Ele está pedindo ajuda. Por favor... Não faça o que fez hoje novamente.
Ele sentiu o bom humor saindo de seu corpo e cruzou os braços.
- Não é minha culpa se Potter é um babaca. - Ele grunhiu entredentes.
- Não é culpa do Harry se você o trocou por bebida e sexo fácil. - Ela disse com um tom frio na voz, e Draco ergueu os olhos para ela.
- Ele te disse...?
- Harry ficou uma merda por meses até a gente conseguir arrancar da Pansy o que aconteceu. Por que acha que paramos de ir para o Dedo de Fada? - Ela se apoiou mais confortavelmente na cama, os olhos negros o encarando. - Ele quis voltar pra você, como o idiota que ele é, mas fizemos ele prometer que ele só ficaria contigo se você aparecesse sóbrio por pelo menos uma semana.
- Estou sóbrio há mais de um mês. - Draco falou, teimoso, e ela riu.
- Está em abstinência e em tratamento. Ele é seu médico. - A medibruxa bateu em sua perna levemente, erguendo-se. - Não o pressione tanto. Não SE pressione tanto. Tudo vai dar certo no final. Amanhã, 6:45 vou estar aqui.
- Muito cedo... - Draco murmurou, voltando a deitar-se confortavelmente na cama.
- Você promete que vai participar de tudo? - Ela perguntou, e Draco suspirou.
- Eu estava tentando, OK? Eu até cozinhei.
- E isso é maravilhoso de sua parte! - Ela falou como se ele tivesse 6 anos. Draco revirou os olhos. - Mas você precisa de mais. Dissipar essa energia acumulada. Vá para o quadribol amanhã, vai ser divertido.
Draco suspirou, balançando a mão para que ela fosse embora. A medibruxa levantou-se e abriu a porta antes de apagar a luz, deixando o quarto iluminado apenas pela luz do corredor. Ela pegou a bandeja e, com um ultimo olhar, fechou a porta, deixando-o no escuro confortável.
Chapter 4 Chapter 2