Title: Habits
Autora: Pollyweasley
Ships: Harry/Draco, side Ron/Hermione, Blaise/Ginny, Pansy/Luna, Oliver/Percy
Rating: NC-17
Contagem de Palavras: 4k
Sinopse: Ele odiava os clubes, odiava a bebida, odiava os caras com quem dançava e caia todas as noites, e odiava os dias seguintes. Mas ele não conseguia parar. Ele não conseguia parar simplesmente porque estar sóbrio era muito pior do que estar de ressaca. Pensar na dor de cabeça, no gosto de bile e no esporro que levaria de Pansy era melhor do que a dor que constantemente estava ali. Que não saia mesmo depois de um orgasmo com um cara delicioso. Que não se dissipava mesmo quando ele estava rindo e dançando. Ele precisava ficar adormecido para não pensar. E fazia isso noite, após noite, após noite...
Avisos: Vício, promiscuidade, uso abusivo de remédios, TEPT, angst, amigos sendo fofos, (eu tentando ser realista).
Disclaimer: Os personagens de Harry Potter são propriedade de J.K. Rowling e Bloomsbury/Scholastic/Rocco. Fic sem fins lucrativos, feita apenas pra diversão.
Link no Nyah!Fanfiction. ||You can run free, I won't hold it against ya
You do your thing, never wanted a future
Fuck if I knew how to put it romantic
Speaking my truth, there's no need to panic||
- Cool Girl - Tove Lo
Não estava doendo. Nenhum pouco. Draco estava em sua mesa com os outros sonserinos, seus melhores sapatos em seus pés, uma bebida em sua mão e um prato de batatas fritas horríveis no meio da mesa. Ele olhava para a mesa do outro lado do bar, observando-o. Potter parecia feliz. Ele parecia tão feliz que Draco tinha vontade de pegar a garrafa de sua cerveja e jogar nele. Como ele podia estar sorrindo daquele jeito quando Draco se sentia miserável?
- Daqui a pouco Potter vai engasgar com uma azeitona se você não parar de olhar pra ele assim. - Ele ouviu a voz de Theodore, distante, e revirou os olhos, bebendo de sua garrafa.
- Talvez ele deixe de ser um babaca depois de uma experiência de quase morte. - Foi sua resposta. Ele pegou um punhado daquelas batatas horríveis e enfiou tudo na boca, mastigando. Blaise, maldito traidor, estava na outra mesa procurando petróleo com sua língua dentro da garganta da Weaselette. Draco queria matar todos eles.
- Nossa, você precisa de sexo. Nunca pensei que iria te dizer isso, mas depois que Potter decidiu que não queria mais sua bunda magra, você anda um saco. - Pansy falou, e Draco jogou batatas em cima dela, fazendo-a soltar um gritinho de nojo.
- Eu só não entendo! Ele disse que não tinha tempo, mas está bebendo feito um desgraçado. Num sábado! - Draco reclamou, colocando a garrafa sobre a mesa. - Maldito mentiroso.
- Bem, você não podia esperar que ele fosse ficar brincando com você pra sempre, não é? - Theo perguntou, erguendo uma sobrancelha. - Nem todo mundo quer viver de diversão.
- Desconheço aquele que iria preferir uma vida doméstica caso pudesse escolher outra coisa. - Draco disse, e Pansy apontou para a outra mesa com uma batata frita antes de enfiá-la na boca.
- Um bando de grifinórios e um traidor. Grande merda. - Ele resmungou, virando o rosto para o moreno mais uma vez. Bem, ele nunca tinha pedido compromisso. Realmente, Draco não tinha por que estar tão chateado.
- Vem, cansei disso. - Pansy o puxou pelo pulso. - Vamos prum clube dançar até cair. Theo, paga a conta. Draco vai beber até desintoxicar Potter do sistema dele.
Draco riu. Ao sair, seus olhos se encontraram com os de Potter, e talvez ele tenha visto tristeza naquele olhar. Mas se viu, bem. Ele não lembrava muito bem. Depois daquela noite, ele nunca lembrava muito bem.
|| Pretty boys, they didn't teach me things I didn't know
They don't have the thing that I need, but they don't know they don't
You got that old thing about ya, and I can't hide my feels
Pretty girls, they always die out, need another sex appeal
I said come on, zero fucks about it
Come on, I know I'm gonna get hurt
Come on, zero fucks about it
Come on
Keep playing my heartstrings faster and faster
You can be just what I want, my true disaster ||
- True Disaster - Tove Lo
Setembro de 2004
A tintura do teto estava desbotando. Draco estava com uma vontade enorme de pegar sua varinha, que estava em algum lugar em cima de sua roupa dobrada, e descascar aquilo. Ele sentia a respiração de seu parceiro em seu pescoço, e seu corpo ia e vinha com o corpo em cima do seu. Ele estava com as pernas abertas, os tornozelos na cama, se concentrando na tinta descascada para não pensar na ardência entre suas pernas. Céus, aquilo era horrível.
- Sabe, você pode tocar no meu pau. Ele não vai cair. - Draco disse, e o cara em cima dele ergueu a cabeça. Seus olhos eram de um lindo tom de verde quando Draco o chamou para a cama, mas agora pareciam um odioso tom de musgo. Talvez o efeito do álcool tivesse passado.
- Ah, certo. - Sabe-se lá Quem assentiu, a respiração pesada, e Draco revirou os olhos, fechando-os depois para ver se esquecia a tinta descascando no teto. Os movimentos voltaram, junto com uma mão que agora masturbava seu membro meio-duro.
Draco mordeu o lábio inferior, concentrando-se. Mãos grandes e quentes estavam sobre si, e o masturbavam como se tivessem sido feitas para aquilo.
“Vamos, meu gatinho”, a voz dizia em seu ouvido. Rouca, lenta, ao mesmo tempo dominadora e gentil. “Você é tão lindo gozando... Goza pra mim.”.
Draco abriu os lábios, soltando um gemido baixo. A sensação fantasma que aquelas memórias o causavam o levaram lentamente ao orgasmo. Seu corpo se contorceu levemente, um gemido mudo morrendo em seus lábios, e ele logo depois sentiu o corpo do outro homem em cima de si. Empurrou-o, fazendo uma careta quando seus corpos se separaram.
- Tem certeza que essas coisas trouxas funcionam mesmo, não é? - O rapaz perguntou, puxando a camisinha que protegia seu sexo.
- Claro que funciona. - Foi a resposta de Draco. Em poucos segundos ele já estava vestido e aparatando para casa. Quando reapareceu em seu quarto, sentiu seu estômago revirar. Definitivamente ainda estava sob influencia do álcool. Mas não o suficiente. Saiu de seu quarto, indo até a adega e pegando uma garrafa de vinho.
Seus olhos pararam numa edição do Profeta Diário. Harry Potter estava na primeira página, o que era estranho, porque fazia algum tempo que ele não aparecia no jornal. Não era a matéria principal, no entanto. Apenas uma nota pequena no canto esquerdo, indicando que a reportagem estava na área de atualidades do jornal. Draco o pegou, lendo a manchete.
Menino que Sobreviveu Duas Vezes começa segundo semestre em St Mungus no topo da classe!
Draco sorriu de lábios fechados, observando o rosto sorridente de Harry na pequena imagem. Fazia meses que eles não conversavam um com o outro. Depois das primeiras tentativas estranhas e desconfortáveis, eles acabaram se afastando. Não houve um pedido oficial, claro. Aconteceu. Simplesmente aconteceu.
Ele sentiu seus olhos arderem e engoliu em seco. Colocou a garrafa de vinho em cima da mesa, procurando a reportagem dentro do jornal. Quando achou, ele rasgou com cuidado a foto que ilustrava a matéria. Quando estava com a foto em suas mãos, ele limpou sua bochecha molhada, pegou a garrafa de vinho e, depois que guardou a imagem num lugar seguro, bebeu até esquecer que tinha visto aquela imagem em primeiro lugar.
|| I, I'm not the prettiest you've ever seen
But I have my moments, I have my moments
Not the flawless one, I've never been
But I have my moments, I have my moments
I can get a little drunk, I get into all the drugs
But on good days, I am charming as fuck ||
- Moments - Tove Lo
Dezembro de 2004
- Draco! - Ele ouviu a voz exasperada de Pansy gritando, mas ele não se importava. Seus pés descalços arrastavam-se sobre a mesa do Buffet, evitando os pratos de comida enquanto ele rebolava no ritmo da música alta que tocava. Ele conseguia ouvir a risada de Blaise em algum lugar, mas sua mente estava num delicioso limbo. Em sua cabeça, o véu de Ginevra Weasley - ou seria Zabini, agora? - lhe dava um ar puro junto com seus robes brancos caríssimos.
- Deixa ele, Pans! Olha como ele está feliz. - Blaise disse, e Draco riu para ele, segurando os lados do véu e girando, movendo seus quadris no ritmo da música.
- Você - Draco disse, abrindo os olhos sem parar de dançar, olhando para Blaise. - é um idiota! Mas pelo menos vai fazer sexo todo dia! Todo. Dia! - Blaise riu, e ele ouviu a risada de Ginevra em algum ponto ao seu lado. Olhou ao redor, e surpreendeu-se ao ver que ela também estava ali em cima. - Você é uma noiva linda. Mesmo ruiva e sardenta.
- Obrigada, Malfoy. Você é uma noiva linda. Mesmo descalço e bêbado. - Ela respondeu, e ele riu, pegando-a pelas mãos e puxando-a para que ela dançasse consigo.
Ele riu, sua mente uma bagunça. No fundo dela, no entanto, ele se perguntava se o cara que ele encontrou enfiando sua língua na boca de Harry Potter chupava tão bem quanto ele.
Draco esperava que não.
|| Denying
Saying 'Time will heal'
Keep lying
To make me feel
I'm OK
So you believe
I'd forget you
Seriously?
Are you kidding me?
You're out of your mind
To think that I could keep you
Out of mine. ||
- Out of mind - Tove Lo
14 de Fevereiro de 2005
Draco estava sozinho no bar do Dedo de Fada. Ele olhava meio perdido para o copo em sua mão. Estava tarde. Ele se perguntava em que momento Pansy iria passar pelas portas e o puxar pelas orelhas. Ele limpou as bochechas, uma lágrima caindo dentro da bebida e fazendo pequenas ondas.
Fazia um ano. Merlin, um ano que ele se sentia completamente miserável. Fazia quase dois anos desde o primeiro beijo.
Draco lambeu os lábios secos, enfiando uma mão no bolso de trás de sua calça e pegando uma cartela de comprimidos. Era só relaxante muscular. Não tinha problema, tinha? Ele estava tenso e precisava. Empurrou o plástico em cima dos comprimidos, colocando três em sua palma. Pensando melhor, ele colocou mais um. Granger tinha garantido que eles eram bons, apenas demoravam um pouco mais a fazer efeito porque eram mais fracos do que uma poção.
Bem, ele não precisava de prescrição médica para esses. E Merlin o protegesse de ter que passar em qualquer lugar perto do St. Mungus. Enfiou os comprimidos na boca e engoliu com ajuda da bebida, fazendo uma careta e enfiando o que restava da cartela de volta no bolso.
Ele esperou alguns minutos enquanto circulava o polegar sobre o topo do copo. Percebeu quando um rapaz lindo de cabelos ruivos sentou ao seu lado, mas ele não estava realmente escutando. Tudo parecia meio que em câmera lenta. Ele sorriu, no entanto, porque queria ser educado.
O mundo apagou por alguns segundos e, quando voltou, Draco estava olhando para Pansy. Estava num lugar muito claro. Hm... Parecia o apartamento novo dela.
- Hey, Pans. - Ele falou com voz rouca, e ela soltou um grito estrangulado. Viu quando ela ergueu a cartela com os comprimidos, balançando-os na frente de seu rosto.
- Quantos desses você tomou? - Era uma pergunta, mas parecia uma facada. Sua cabeça doia muito. Ele percebeu que os olhos dela estavam vermelhos.
- Uns dois, três... Sei lá, Pans. É só relaxante muscular. - Ele disse, balançando uma mão.
- Você apagou por quase 24 horas, seu idiota! - Ela gritou com ele, jogando os comprimidos no chão. - Se eu tiver exagerando nessas coisas de novo, eu vou te internar, Draco Malfoy! - Pansy reclamou. - E levante-se. Theo vem pro jantar e você vai me ajudar a fazer.
Draco bocejou, virando-se no sofá para escapar da luz das janelas. Massageou sua têmpora. 24 horas, hm? Será que se ele tomasse uns seis desses, dormiria por dois dias?
|| Baby, listen please
I'm not on drugs, I'm not on drugs,
I'm just in love (Oh)
Baby, don't you see?
I'm not on drugs, I'm not on drugs,
I'm just in love
You're high enough for me.||
- Not on Drugs - Tove Lo
14 de Fevereiro de 2007
Draco abotoou sua camisa, mas deixou os dois primeiros botões de cima abertos. Afastou-se do espelho para ter uma visão geral de seu corpo, gostando do que viu. Sorriu para si mesmo, mas o sorriso desapareceu rapidamente. Ele tocou suas bochechas, percebendo como ele parecia magro. Há alguns anos atrás, ele tinha bochechas rosadas e carne o suficiente para esconder seus ossos angulosos, mas agora as linhas de seu rosto estavam afiadas, e seus olhos fundos. Ele mordeu o lábio inferior, mas depois soltou um muxoxo, colocando perfume e pegando sua varinha. Ele não era tão bonito quanto antes, grande merda. Ele continuava rico, e tinha sempre um idiota em seu ombro toda noite.
Pansy tinha dito, no dia anterior, que Draco precisava se acalmar. Bem, ele não tinha motivos para aquilo, tinha? Ela só dizia aquilo porque agora tinha um anel de barbante ao redor do dedo anelar e provavelmente estava recebendo orais todos os dias de Lovegood. Merlin. Ela não parava de falar que ele ia morrer sozinho e que em breve ele seria o único solteiro do grupo. E era verdade. Theodore estava rondando as irmãs Greengrass há algum tempo, e ele nem queria pensar em Blaise. O filho da puta já estava dando cria. Não que ele pudesse culpá-lo. O fato que Ginevra parecia uma baleia em miniatura só provava que eles fizeram sexo, mas aquilo só fazia com que Zabini o julgasse constantemente. Ele nem ia mais para os encontros no clube, só naquele maldito bar.
Draco nunca mais tinha frequentado do Dedo de Fada. Na verdade, a última vez que estivera naquele bar foi nessa mesma data significativa, no ano anterior. Seus pés bêbados e idiotas sempre acabavam levando-o para lá.
Andou até sua cômoda, pegando alguns frascos de poção que estavam em cima. Eram pequenos, a medida certa que ele precisava de poções calmantes. Ele pegou um, abrindo a tampa e engolindo o conteúdo. Passara algumas horas para prepará-los, mas além de terem saído bem fortes, que era o que ele queria, Draco ainda teve a prova de que ele ainda era bom naquilo, mesmo passando séculos desde que ele fizera alguma poção. Pegou alguns outros frascos, colocando-os em seu bolso e saindo do quarto.
Desceu as escadas em direção à sala de estar, onde sua mãe estava sentada com um livro nas mãos.
- Você vai sair? - Ela perguntou, erguendo a cabeça, e ele franziu as sobrancelhas.
- Sim. - Draco disse simplesmente. Ela nunca tinha questionado suas saídas - claro, ela nunca o tinha visto completamente bêbado, apesar de terem tido brigas horríveis quando seus excessos apareciam no jornal. Mas já houveram tantos que o Profeta não se preocupava mais em publicar notícia velha. De qualquer forma, ela dificilmente o via sair ou chegar.
- Draco, é uma quarta-feira. Que tal você ficar em casa hoje? Os elfos vão fazer um jantar ótimo. - Ela disse, colocando o livro de lado e erguendo-se. Draco percebeu que ela estava mais magra também. Como ele não tinha percebido como as mãos dela estavam ossudas? Ele costumava olhar as mãos de Narcissa o tempo todo. Sempre adorou o fato de que as suas mãos eram iguais às dela.
- Mãe, é dia dos namorados. Eu não vou ficar em casa mofando. - Ele disse, revirando os olhos e movendo a varinha, mas não conseguiu aparatar. Tentou novamente, com o mesmo resultado. Ele respirou fundo, a poção que tinha acabado de tomar o ajudando a manter o controle. - Mãe. As barreiras.
- Draco, eu não posso deixar que você continue vivendo assim. - Ela disse, erguendo uma mão e tocando-o no ombro, fazendo-o se afastar com um movimento brusco. Narcissa pareceu extremamente magoada com aquela atitude, e Draco sentiu seu estômago doer. Ele costumava ser melhor amigo de sua mãe, o que diabos tinha acontecido naquele meio tempo?
Ele tinha se apaixonado, quebrado seu coração e perdido o juízo. Em algum lugar ali no meio, Draco acabara se afastando da pessoa que fizera de tudo para protegê-lo. A culpa o agarrou por dentro, remoendo seus intestinos e apertando seu coração com tanta força que ele quis se jogar pela varanda. Sua vontade era quebrar tudo. Diabos!
- Eu não sou mais uma criança. Eu faço o que eu quiser. - Ele disse, áspero, e Narcissa balançou a cabeça.
- Exato, Draco. Você não é mais uma criança. Você é um homem de quase 26 anos, que não tem um emprego, um namorado, um hobbie, nada! Você não tem nada além de sua bebedeira e sua inconsequência! Isso vai parar agora, Draco Malfoy, nem que seja por força! - Ela disse, seu rosto tornando-se severo, lágrimas presas em seus olhos vermelhos.
- E de quem é a culpa? - Ele perguntou, maldoso, sentindo a raiva subir até sua cabeça. Draco puxou a manga da camisa até o cotovelo, praticamente esfregando a marca negra no rosto da mãe. - De quem é a culpa disso estar no meu braço? De quem é a culpa, mãe?!
Ela apertou os olhos, virando o rosto, incapaz de olhar a marca no braço do filho.
- Draco, eu fiz o que podia...
- Não fez o suficiente. - Ele cuspiu, venenoso. - Ele ainda colocou isso na minha pele, não colocou? Ele me fez quase matar várias pessoas. Ele me fez torturar outras tantas. Ele me fez sentar na mesma sala que ele e lamber seus dedos. - Draco riu, nervoso. - Acho que mereço sair desse inferno de vez em quando, não é? - E sem esperar por nenhuma resposta, ele saiu em direção à porta da frente. Andaria o caminho de dez minutos até os portões e aparataria do lado de fora.
Quem diabos ela pensava que era para trancá-lo em casa como uma criança mimada?
Merlin!
Duas horas depois, Draco estava movendo a cabeça lentamente no ritmo da música. Seus pés estavam descalços - ele não sabia onde suas botas tinham ido parar - e observava os casais ao seu redor. Celestina Warbeck estava cantando a plenos pulmões no rádio, a mesma música que ele lembrava de Potter cantando no palco de karaokê, que estava desligado naquele dia por causa do dia dos namorados. Ele já tinha tomado mais dois frasquinhos da poção, mas ainda se sentia nervoso.
- Você ainda vai beber isso? - O barman perguntou, indicando a garrafa quase vazia ao lado do loiro.
- Hm. Vou sim. - Draco disse, meio aéreo, pegando a garrafa pelo gargalo e bebendo tudo de uma vez só. O líquido descia ardendo por sua garganta, e ele nem percebeu quando ela esvaziou. Afastou a garrafa do seu rosto, olhando-a com as sobrancelhas franzidas.
Olhou para o meio do bar, onde alguns pares dançavam. Pares... Bem, ele achava. Sua visão estava embaçada e ele não conseguia distinguir muito bem o que estava acontecendo.
Ergueu-se do banco onde estava, tropeçando em direção ao banheiro, sentindo sua cabeça girar. Ele não soube muito bem como chegou, mas logo abriu um dos boxes, fechando a porta e tentando trancar, mas sem sucesso. Decidiu que não se importava, e sentou-se na privada, sem levantar a tampa. Ergueu uma perna e empurrou para fechar a porta e deixou sair.
Ele abraçou a si mesmo e deixou sua dor sair, suas lágrimas escorrerem e seu rosto se transformar na imagem da dor. Ele sentiu seus lábios rasgarem, secos, mas não conseguia se importar. Céus, ele nunca sentira tanta dor. Aquele dia era sempre o pior dia do ano. Era o pior dia da vida. Por que ele simplesmente não fizera o que seu coração disse e foi embora com ele? Por que ele não segurou a jaqueta do moreno quando pôde e disse que queria ir embora com ele?
Dolorosamente, Draco lembrava-se do nome dele o tempo inteiro. Ivan. Ele nem era bom, tinha piadas ruins e o sexo foi tão vazio que Draco decidiu ir embora antes mesmo de gozar. Ele trocara Harry por aquilo, e porque ele “podia”. Porque ele não queria que Potter achasse que era importante por ficar com ele no dia dos namorados. Dia dos namorados era pra ser passado com quem você amava. Draco não amava ninguém.
Ao menos ele tentava se convencer disso.
Fazia anos, mas a decepção, a culpa e o arrependimento de suas ações nunca tinha passado. Nunca. Ele encostou a cabeça na parede atrás de si, soluçando. Até sua mãe. Céus, como ele era horrível. Ele a tinha magoado tanto. Que tipo de filho ele era? Que tipo de filho magoa tanto uma mãe que sacrificou a própria vida por si? Ela estava certa. Ele não tinha nada. Ele não tinha um objetivo, ele não tinha um futuro, ele não tinha nenhum motivo para estar vivo. Ele não tinha absolutamente nenhum motivo para estar vivo.
- Por que você me tirou do fogo, então? - Ele perguntou entre soluços, para o vazio do banheiro, sem esperar uma resposta.
Sem pensar, ele pegou os quatro pequenos frascos em seu bolso da frente e tirou a tampa dos quatro. Ele só queria apagar. Apagar e dormir até que a dor passasse. Virou as poções na boca e engoliu como água. Sua língua queimada nem sentiu o sabor da poção forte que o dopou instantaneamente. Os frascos caíram no chão, quebrando. A perna dele escorregou da porta para o chão, fazendo com que o Box abrisse levemente, e ele deixou seu corpo pesado escorregar. Não que ele pudesse se segurar, claro.
Aquela era melhor sensação do mundo. Sem som, sem dor, sem mágoa. Draco sentia como se estivesse afundando no Lago Negro. Era frio, escuro e leve... Leve, e ele não conseguia respirar. Se ao menos naquele dia ele pudesse ter dito o quanto estava apaixonado. O quanto ele se sentia feliz em ver o sorriso dele, o quanto amava seus gestos de carinho e perguntas preocupadas. Se Draco simplesmente tivesse aceitado seus abraços e seu carinho quando foi oferecido. Se ele somente tivesse dito que o amava.
Tudo era um vácuo.
[ Why don't you tell me, in your own words, why you did what you did?
Was it the narcotics?]
Draco sentia seu corpo ser movimentado de um lado para o outro. Ele não conseguia abrir os olhos, mas sentia os movimentos.
(Maybe.)
Colocaram-no sobre algo fofo. Seria sua cama?
[Were you unhappy?]
Havia gritos. Pessoas falando alto.
(No.)
Uma sirene.
[Was it him?]
Colocaram algo sobre seu rosto. Ele quis bater quem quer que fosse para longe, mas sua mão estava presa.
(No.)
Havia uma luz sobre seus olhos, e ele tentou afastar-se, mas seu corpo era tão, tão pesado...
[Well, then what was it?]
Ele sentia magia sobre si. Mais movimento. Mãos.
(I don't know what you mean.)
Seus olhos abriram um pouco. Luz. Muita Luz. Ele fechou novamente com força. Sentiu seu corpo leve, mais movimento.
[I know what's wrong with you.
You're just... broken... inside.
You never did anything right.
You're fucked up.
Say it with me.]
Draco conseguiu abrir levemente os olhos, e apesar de tudo estar embaçado, ele via um teto. Luzes passavam rápido por sua linha de visão. Havia alguém empurrando-o para algum lugar, com pressa. Um homem. Draco conseguia ver o brilho de lentes de óculos sob a luz. Ele tinha cabelos lindos e escuros. Ele sentiu-se caindo num parque, tão, tão verde...
(I’m broken.
I never did anything right.
I’m fucked up.)
O homem o olhou. As luzes do teto faziam com que ele parecesse um anjo caindo do céu. Ele falava algo para si, mas Draco estava perdido da preocupação tão evidente naquele rio de esmeraldas que estavam no rosto dele. Era possível que alguém tivesse esmeraldas no lugar dos olhos? Draco tinha certeza que sim. Ele sorriu. Talvez tivesse morrido. Isso... Ele morrera, e estava no céu, onde Harry era um anjo e o levava para uma cama fofinha onde eles dormiriam até tarde, e Draco iria acordar olhando pro sorriso dele, e perceber mais uma vez que ele tinha um dentinho torto adorável, e iria contar todas as sardas de seu nariz, e refazer os cachinhos de seus cabelos com os dedos, beijar todas as cicatrizes e abraça-lo contra seu peito. Harry amava ouvir seu coração. Ele sabia. Harry fazia isso sempre. Ele fechou os olhos e deixou-se ser levado.
Finalmente, ele estava morrendo.
[Do you feel better?]
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Chapter 1 Chapter 3