[Fanfic] A Terceira Lei de Newton

Jan 22, 2011 23:06

Título: A Terceira Lei de Newton
Personagens: Br/Arg 
Rating/Warning: ... implied sex, mas nada gráfico. 
Sumário: É mais ou menos baseado nisso aqui, mas você não precisa ter lido pra entender.



Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e sentido contrário
3ª Lei de Isaac Newton

Até agora, era certo dizer, Martin Hernandez tinha total e completo controle sobre a própria vida. Ele tinha problemas como todo mundo, claro, mas (e era isso que o diferenciava da maioria dos idiotas com quem era forçado a conviver) ele tinha as ferramentas, o conhecimento necessário para identificar a causa primária do problema e, melhor que isso, tinha a presença de espírito necessária para resolvê-lo.

Até agora.

Se bem que, Martin pensou, apoiando as costas na pia do banheiro, identificar o problema ainda era fácil. Nesse caso específico, ele conseguia não só identificar o ponto problemático como também rastrear a sua origem.

No caso, o problema era Luciano da Silva.

E a origem datava de dois meses atrás, em Buenos Aires, na reunião de feedback com sua antiga gestora - muito mais competente muito mais séria e muito mais pontual.

-Você é competente e tem futuro aqui, trabalhando nessa unidade. - ela tinha dito naquela ocasião - Mas, sinceramente, Martin, você não parece muito feliz. Há algo errado?

E Martin correra os dedos pelos cabelos loiros:

-Eu… eu gosto muito daqui, de verdade. Mas as vezes eu acho que eu devia ter uma experiência internacional. Isso está na minha cabeça há um tempo.

-Entendi.

E, pelo que Martin se lembrava, tinha sido só isso. Uma pequena reunião, um comentário de menos de dois minutos sobre uma cisma que ele tinha desenvolvido e agora isso. Agora ali.

“Como coisa que trabalhar aqui é uma experiência internacional”, Martin pensara hoje de tarde, torcendo a boca para o computador. Francamente. Na verdade não queria nem colocar isso em seu currículo, tão fuleira era aquela unidade para a qual tinham lhe transferido.

-E aí, amor - a voz soara em seus ouvidos, quase matando-o de susto - já terminou?

Luciano, o seu mais novo e mais incompente e mais idiota gestor, tinha parado atrás de sua cadeira e agora apertava seus ombros, grudento a ponto de sua boca quase encostar no ouvido de Martin.

-Claro que terminei - Martin respondeu, virando a cadeira giratória para trás e escapando do toque dele - eu falei há duas horas que tinha terminado. E já passei pro seu e-mail.

-Eu não vi - Luciano disse, o sorriso deixando seus olhos na forma de duas meias-luas - Abre aí pra gente dar uma conferida.

Ele se sentou na mesa do funcionário (dignidade zero, impressionante), e Martin não teve outra escolha a não ser obedecer. Então teve que ficar em silêncio enquanto aquele idiota conferia o seu trabalho, cheio de caras e bocas, volta e meia perdendo a concentração e mexendo com quem passava, algumas vezes lhe contando fofocas que não o interessavam em nada (“ah, você ficou sabendo que a Maria da Tesouraria vai embora? Parece que deu a maior briga entre ela e a Catalina, cara, eu queria muito ter visto!”), e a proximidade, o cheiro dele, os toques acidentais-

Mas socar o chefe dava demissão por justa causa.

Por isso Martin aguentou, resiliente, contou a própria respiração e, assim que Luciano ficou de pé dizendo que estava tudo certo, ficou tão feliz e aliviado que abriu-lhe o sorriso mais radiante do mundo.

Ao ver sua alegria, a reação de Luciano foi fazer um carinho em seu queixo:

-Você foi uma boa aquisição pra nossa unidade. Que bom que o pessoal lá em Buenos Aires te chutou pra cá.

O sorriso morreu nos lábios de Martin:

-O quê?

-É, quando me falaram que eu ia ter um argentino na minha equipe, juro que eu me preocupei. Mas agora que eu vi que você é bom, tou vendo que nem é tão argentino assim. Tipo, não aqueles da gema. O que é bom, senão nunca teria dado tão-

-O quê?

Martin tinha ficado tão indignado com esse insulto que se levantara e encurralara Luciano contra a parede:

-Eu vim pra cá porque eu quis - disse, o rosto vermelho - Porque eu achei que ia ficar bem no meu currículo. E claro que eu sou argentino!

(Mas socar o chefe dava demissão por justa causa e, puta merda, do que é que nós estamos falando?)

-É mesmo? - Luciano sorria, mesmo precisando erguer o rosto para olhá-lo nos olhos - Porque não foi isso que eu ouvi. O que me disseram foi que te mandaram pra cá à força.

Martin precisou de toda a força de vontade para manter os punhos baixos, afastando-se alguns milímetros. O sangue ainda latejava no ouvido.

-Bom, depois que me falaram que a minha experiência internacional ia ser aqui e com você, eu confesso que não fiquei muito animado.

Pra dizer o mínimo. Mas não teria sido muito digno de sua parte admitir que só faltara implorar à chefa que o poupasse dessa estadia naquele forno de país.

-Não, mas foi mais que isso - Luciano insistiu, abanando a cabeça - O que eu fiquei sabendo foi que você tinha arrumado confusão lá na sua antiga unidade, e que por isso tinham te mandado pra cá.

Dessa vez, Martin ficou realmente sem palavras. O chefe continuava sorrindo, totalmente à vontade descansando as costas contra a parede.

Em vez de ficar ofendido, a reação de Martin foi perguntar:

-Que confusão?

-Ah, uma merda daquelas. Mas eu não posso te contar aqui, o pessoal vai escutar e você vai ficar sem graça. Melhor deixar pra lá.

Martin cruzou os braços:

-Então você não vai falar? É pra eu aceitar isso?

-Eu posso até falar - Luciano se endireitou, ajeitando a gravata - Mas não aqui. Não agora. Depois que todo mundo for embora, eu te falo.

Martin torceu a boca, sem responder, e Luciano ainda fez um carinho em seu ombro antes de se afastar.

Aquele ignorante. Que confusão? Que merda? Se a diretoria em Buenos Aires tinham precisado contratar três funcionários para substituí-lo!

O resto do dia passou devagar e, como ainda por cima Luciano não tinha lhe passado mais nada pra fazer, Martin também começou a ir tomar café (no seu caso, mate. E estava longe de ser bom como aquele que tomava em sua casa) a cada cinco minutos, então longas idas ao banheiro, acessou sites, checou seu e-mail, conferiu as notícias do Clarín, enfim.

Já eram sete e meia (tinha esperado todo mundo ir embora e depois mais alguns minutos para não parecer muito desesperado) quando Martin foi até a mesa de Luciano e apoiou as mãos nela, inclinando-se e projetando sua sombra sobre o chefe.

-E então?

-Então o quê?

Ele até conseguiria enganar alguém assim, concentrado como estava. Talvez, se não abrisse a boca, alguém pudesse confundi-lo com um chefe competente e responsável. Mas, mesmo quieto, os olhos castanhos de Luciano ainda tinham aquele brilho infantil, o cabelo espetado demais para passar seriedade e o sorriso que enchia todo o rosto brincando em sua boca.

Martin mordeu o lábio inferior. A convivência estava lhe deixando tão avoado quanto aquele cabeçudo.

-Fala o que você ouviu. Que confusão disseram que eu fiz?

Luciano concordou com a cabeça, como se só tivesse se lembrado agora do que é que ele estava falando. Então, depois de dar uma olhada para os dois lados, inclinou o rosto para frente, de forma a poder cochichar:

-Aqui não. Vai pro banheiro da diretoria e espera que daqui a cinco minutos eu vou pra lá.

Martin franziu as sobrancelhas, endireitando-se:

-É tão sério assim?

-Muito - o chefe respondeu - Dá uns cinco minutos e eu já te falo.

Dito isso, Luciano voltou a atenção para seu computador e Martin não teve escolha a não ser seguir para o banheiro, cada vez mais confuso.

(Mas com certeza o seu chefe estava biruta, ou então tinha lhe confundido com outra pessoa, porque Martin simplesmente não errava.)

Uma vez lá dentro, ele não pode deixar de notar que o banheiro da diretoria era realmente muito melhor que o banheiro para os outros funcionários. Não era muito grande, isso é fato, mas todos os móveis pareciam ser de mármore (ou, mais provável, imitação de mármore), e havia detalhes de dourado nas torneiras e cabideiros.

Como Luciano levou bem uns quinze minutos para chegar, Martin teve tempo de sobra para reparar em tudo isso. E de lembrar do antigo controle que costumava ter sobre a própria vida.

A primeira conclusão a que chegou é que nada disso estava certo. Ele não devia estar ali, preso naquele banheiro idiota só porque Luciano tinha mandado. Não importava se ele era seu chefe, se ele tinha informações valiosas a seu respeito, isso tudo era muito errado.

E agora nem adiantava saber identificar a causa do problema (no caso, Luciano), porque em algum lugar de sua mente Martin não queria sair dali, pior ainda, queria que o idiota chegasse de uma vez e então os dois estariam sozinhos e então-

Então não haveria nenhuma câmera e nada que pudesse fornecer provas que lhe valessem uma demissão por justa causa, então-

Martin sentiu o rosto esquentar e mordeu o lábio inferior (foca na raiva, ele disse a si mesmo, foca na raiva), evitando encarar seu próprio reflexo no espelho, e já estava quase amaldiçoando todos os antepassados de Luciano quando finalmente a porta se abriu e ele entrou.

-Oh, ótimo, quando você diz “cinco minutos”, são cinco minutos mesmo - disse num fôlego só, cruzando os braços na frente do corpo - Não admira que essa sua unidade só dê prejuízo.

-Do que você está falando? - Luciano franziu a testa, fechando a porta atrás de si - A minha unidade é o que sustenta a nossa empresa na América Latina.

-Desde quando?

-Desde que eu assumi a gestão - outro sorriso luminoso - Mas a gente não veio pro banheiro discutir negócios, não é mesmo? Onde foi que eu parei?

-Você tinha acabado de inventar que eu tinha-

-Ah, sim, que você tinha feito a maior lambança no seu antigo emprego. E não fui que inventei, já falei mil vezes, foi o que me disseram.

Martin não sabia o que era “lambança”, mas, sinceramente, não se preocupava muito em saber. Por isso, só esperou, os braços ainda cruzados.

Luciano avançou um passo, tentando engolir o sorriso e parecer mais sério:

-Então, cara, tenta não ficar muito ofendido, tá? Mas o que me disseram… o que eu escutei… foi que você foi pego fazendo sexo com alguém. E sabe que isso dá demissão por justa causa, né?

Martin ficou tão espantado que não sabia se ria ou batia nele.

Luciano esperou.

Por fim, Martin disse:

-Isso nunca aconteceu.

-Tem certeza?

-Claro que tenho. Eu saberia se tivesse acontecido.

-Vai saber se você não está mentindo - outro passo, a distância entre eles ia diminuindo - Vai dizer que você nunca quis ficar com ninguém no trabalho.

-Eu não disse isso - Martin respondeu com cuidado, recuando à medida que o outro avançava - mas há um longo caminho entre querer ficar com alguém e transar no escritório.

-Ah, agora você se entregou! Eu nunca disse que foi no escritório!

As reações de Luciano eram realmente difíceis de se prever.

Martin, que já sentia a parede do banheiro contra as costas, segurou os ombros de Luciano para impedi-lo de continuar se aproximando:

-Ô, animal. Você não acabou de falar que te disseram que eu fui pego transando no trabalho?

-Sim, mas eu não falei que foi no escritório - sorriso, mais um passo. Martin tinha precisado dobrar os cotovelos e agora estavam cara a cara, centímetros de distância - Poderia muito bem ter sido no banheiro.

-Nem tem câmeras no banheiro.

-Então você faria sexo no banheiro.

Martin o soltou para apertar a base do nariz:

-Você está colocando palavras na minha boca.

Luciano ergueu a mão para segurar seu rosto:

-E você preferia que eu colocasse outra coisa.

-Eu preferia que você fosse tomar no cú! - Martin segurou o pulso dele - Duvido que tenham te dito qualquer coisa-

Então Luciano ficou na ponta dos pés e beijou seus lábios, empurrando-o contra a parede.

Martin arregalou os olhos e Luciano não parou, enfiando a mão em seus cabelos e puxando sua cabeça para baixo. E num nível da consciência Martin sabia que devia, não sei, empurrá-lo, bater nele até matá-lo, qualquer coisa que recuperasse o controle que ele costumava ter sobre a própria vida.

Porém, no final, o que acabou fazendo foi apertar as costas de Luciano, e seu chefe beijava tão bem, e as mãos dele nos cabelos e pescoço de Martin conseguiam ser tão suaves e pesadas e- e o joelho dele se dobrando e subindo entre as pernas de Martin de forma a separá-las e então-

Controle, Martin pensou, procurando qualquer âncora que o mantivesse ali presente, foco, porque Luciano não podia (e agora a mão direita dele descia por seu peito até a calça) ele não podia achar que era só ir chegando assim e pronto, então Martin subiu as mãos por dentro da camisa dele e apertou suas costas nuas ao mesmo tempo em que mordia seus lábios.

(Porque pra toda ação existe uma reação.)

-Ei - Luciano reclamou, afastando-se alguns centímetros - eu posso te despedir por isso, sabia?

-Você que começou - Martin respondeu, arquejando um pouco - Agora você vai ver o quanto eu sou argentino.

Luciano sorriu e não respondeu, rendendo-se a outro beijo, dessa vez sem mordidas. E era bom mesmo que não tivesse nenhuma câmera ali, porque não foi nem cinco minutos até eles retomarem o raciocínio e ficarem totalmente sem roupa e sem vergonha.

(E, também, porque ali era um ótimo lugar para quando Martin perdesse a paciência de vez e decidisse dar um soco no nariz de seu chefe. O que, como todos já sabem, dá demissão por justa causa.)

***

AN:... tipo, muito errado o Martin ser o chefe. Daí eu promovi o Luciano ♥

fanfic, br/arg

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