Dois contos que valem por um (e meu pé está zoadaço)

Jan 04, 2011 01:25

Meu pé está lleno de pontinhas vermelhas, minha cara está totalmente inchada e VERMELHA, eu provavelmente estou com princípios de catapora, meu cabelo está mais seco que palha ENFIM estou começando 2011 com toda dignidade \o/

Fora isso, seguem dois pequenos contos que a srta dona Berseker eventualmente continuará (mas ela nao sabe que eu estou dizendo isso)



Brasília estava quase hiperventilando.

Ele não sabia se Paulo tinha feito de propósito, se todos os outros tinham feito de propósito, mas, claro, naquela família todo mundo se atrasava o tempo todo só que aquele cara se atrasava um pouco menos, então, claro, isso tinha mesmo que acontecer.

Ele tinha mesmo que passar um dia inteiro pajeando São Paulo.

“Maldito Goiás”, Brasília pensou, tentando se concentrar na estrada e o trânsito e o semáforo e o raio que o parta “maldito Goiás, maldito Mato Grosso, Maldito Minas Gerais, malditos aeroportos que atrasam família retardada que não consegue nem se programar pra chegar cedo por que isso só acontece comigo?”

-E o que é aquele ali? - Paulo perguntou, virado pra trás, tirando o cigarro da boca. Mais essa. Ele tinha insistido pra fumar e ligar o ar-condicionado, como se isso não fosse deixar os dois doentes cancerígenos à beira da morte.

Merda.

Brasília olhou pelo espelho retrovisor:

-Ahn, aquela é a Ponte JK. A gente pode ir lá depois, se você quiser.

E se não quiser vamos do mesmo jeito, porque eu já estou ficando sem idéias.

-Não é muito longe?

-Na verdade, não. Quer dizer - e Brasília aproveitou pra fazer o assunto render - de carro é perto, a pé levaria um século. Como a minha casa é plana, tudo parece muito mais perto do que realmente é, tem lugares que você leva sete minutos de carro e duas horas andando.

-Sei - e Paulo hesitou alguns segundos - na minha casa é bem o contrário. Cinco minutos andando e uma puta demora de carro.

Brasília olhou para ele com o canto dos olhos.

Decidiu considerar isso um elogio.

***

Eles tinham acabado de parar na frente da Praça dos Três Poderes, e Paulo tinha enfiado o cigarro na boca para não dizer nada de que fosse se arrepender depois.

Claro que isso o fazia parecer caipira como seus irmãos mais queridos, mas fazer o quê? Seu humor estava puta oscilante e ele que não ia se arriscar a ABRIR A ALMA LOGO COM BRASÍLIA.

Não que o cara não estivesse sendo legal e anfitrião e tudo o mais, mas, meu. Paulo tinha uma reputação a zelar. Então, depois que os comentários negativos foram acabando (logo depois de sair daquela catedral toda azul) e aquela idéia mesquinha foi surgindo em sua mente, ele decidiu que era hora de calar a boca.

Porque ele queria ser um Patrimônio da Humanidade também.

-E se você vier mais pra cá - Brasília disse, parado a uns cinco ou seis metros de distância - aí você vai ver que o prédio forma um H. De “humanidade”, no caso.

Paulo olhou para ele, perguntando-se se o cara tinha começado a ler pensamentos. Segurando um suspiro (que soaria muito mais desagradável e mal-educado que o necessário), andou até ele e encarou as duas torres de novo.

-Então - Brasília continuou - está vendo? Tem uma bandeira ali na frente.

-Eu vi. É muito bonito.

A frase deixou um gosto amargo na garganta, e fez Brasília arquear as sobrancelhas. Logo em seguida, ele sorriu:

-Que bom que você gostou. Se quiser, a gente pode descer pra tirar fotos.

-Pode ser - Paulo respondeu, desviando o rosto (puta vento forte, meu) e buscando qualquer forma de mudar de assunto - Então. Tem altas áreas verdes por aqui, né?

-Tem. E provavelmente vai continuar assim.

Isso fez Paulo se virar para ele, e Brasília encolheu os ombros:

-Porque a cidade foi tombada, então não pode alterar nada dentro dela. A gente só vai construir o que já estava planejado no projeto original.

-Jura? Mais nenhuma casa ou apartamento ou prédio comercial?

-Só o que foi planejado - ele repetiu, franzindo a testa - Por quê? O que tem de tão engraçado nisso?

-Eu não falei nada. É só… sei lá.

Brasília soltou o ar com força:

-Bom, imagino que, quando você é só um estado voltado pro lucro e não uma cidade planejada, não tem mesmo problema sair construindo casas e prédios feito um demente.

Paulo sorriu, pegando a câmera pra tirar uma foto do H da Humanidade.

Decidiu considerar isso um elogio.

Brasília, sao paulo

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