Título: Taion
Autora: Ni~ya
Banda: Nightmare
Parings: Ni~yaxSakito
Status: NC-17, AU ;3
Sinopse:Certas vezes ele está no jardim, as pernas cruzadas elegantemente uma sobre a outra, descascando uma maçã ou contando as horas naquele relógio prateado-- nas outras ele está estático na janela, a pele pálida encostada contra o vidro, te vendo chegar bêbado e trôpego em casa.
Notas: Oi, eu não morri 8D (ainda) *samba*!
É o tempo exato que você contou estar sob vigilância constante de um estranho. Sempre à noite, de dia as cortinas negras estão pesadas sobre as janelas de madeira rústica e o carro escuro não se encontra na vaga.
Certas vezes ele está no jardim, as pernas cruzadas elegantemente uma sobre a outra, descascando uma maçã ou contando as horas naquele relógio prateado-- nas outras ele está estático na janela, a pele pálida encostada contra o vidro, te vendo chegar bêbado e trôpego em casa. E provavelmente ouvindo os gritos de sua mãe ao te ver nesse estado.
O rapaz que te olha não é muito mais velho que você, as mechas louro-pálido clareiam ainda mais sua pele, mas destacam os finos lábios rosados-- que você sempre pôde notar como o detalhe mais proeminente naquele rosto branco lívido. Os olhos negros se espremem num sorriso malicioso sempre que você tropeça num dos anões do jardim de sua mãe e xinga-- ele, o mundo, o maldito anão que já quebrou seu dedo uma vez, a grama úmida que agora cola na sua roupa, a sua roupa cheirando a cigarro, maconha, perfume barato e qualquer outro cheiro que havia grudado em si daquela festa. Você vira e bagunça ainda mais os cabelos castanho-avermelhados, sujando-os de terra úmida no processo, e o loiro continua estático ali; seus ombros se sacudindo de uma suave risada.
Você volta à xingá-lo, agora mais alto, o buldogue irritante da vizinha começa a latir, sua mãe já está com um cabo de vassoura na mão olhando para você e a voz irritante corta seu momento de contato com o estranho vizinho.
"SAKITO! JÁ PRA DENTRO!"
4 meses, 3 semanas e 6 dias.
Mais uma das festas da faculdade. Você se pergunta se está ali ou pra beber ou pra estudar arquitetura; não que suas notas sejam ruins, pelo contrário, são ótimas, mas tudo aquilo parecia tão ínfimo perto do bacanal diário universitário.
Dessa vez sua presença não é efetivada, a cabeça ainda está pesada da ressaca da última festança e seus trabalhos estão se acumulando sobre a escrivaninha. Nada de caos na madrugada dessa vez. Seus passos são silenciosos e firmes, mesmo munido de quatro pesados livros em seus braços.
"Nada de álcool por hoje?" A voz grossa que interrompe sua silenciosa caminhada vinha de uma figura pálida sentada sobre o banco da calçada, descascando uma maçã, e você reconhecera ser seu querido e confinado vizinho-- pela primeira vez em 4 meses, 3 semanas e 6 dias fora de sua casa. Seu cérebro registra a voz sedosa e grossa nunca ouvida, e ordena que um calafrio corra sua espinha dorsal e gele a ponta dos seus dedos. Seus olhos registram uma mulher monera enrolando suas pernas com as dele, rindo--provavelmente efeito da garrafa de absinto em suas mãos.
"Nada de álcool por hoje. Você não vai se divertir-- não às minhas custas." Seu queixo aponta para a garota rindo efusivamente ao lado do homem e ele sorri. Um sorriso de dentes brancos e perfeitamente alinhados-- como os do homem do comercial da Colgate.
"Infelizmente não. Mas não fique com ciúme." Ele corre sorrateiramente um dos longos dedos pelo maxilar delicado da garota até seu queixo, o segurando na altura de seus lábios. E seus braços não podem evitar entrar num complô com suas pernas e bambear devido ao gesto. "Você vai ter sua vez."
"Vá sonhando."
Você entra, seu coração disparando aos poucos, até o último lance de escadas você acha que ele vai quebrar todos os ossos de seu peito, o baticum cada vez mais acelerado.
Naquela noite suas canetas, lápis, compassos ou esquadros não realizaram qualquer movimento, mas seu braço no dia seguinte estava dolorido. Demais.
4 meses, 4 semanas, 1 dia.
E mais uma vez você se encontra trôpego e bêbado além do limite, se perguntando como não conseguiu entrar em coma alcoólico; dessa vez você não agüenta e vomita contra o meio fio. Toda tequila, vodka, cerveja, vinho e salgadinhos pareciam finalmente surtir o efeito contrário; sua garganta queimando com tudo aquilo mais ácidos gástricos.
Ele está a cinco metros, a camisa preta com detalhes prateados cobrindo o peito pálido, as calças jeans escuras combinavam com o sapato negro e o sorriso branco combinava com sua irritação por estar ali vomitando de quatro no meio fio.
"O que foi dessa vez?!" Você está irritado e nauseado-- embora bem mais fracamente do que antes. Seus joelhos doem e subitamente a memória de ter os batido contra o asfalto rústico afloram em si. E seu querido vizinho continua apoiado no poste, sorrindo.
"Achei que você ia entrar na linha, criança." A voz macia parece ainda mais debochada e sua mão se fecha, a vontade de meter um murro naqueles dentes brancos perfeitos e estragar aquele rosto angelical parece corroer suas entranhas, o álcool o fazendo mais corajoso. Suas pernas acham forças pra se erguerem e seu punho abre e fecha, flexionando levemente todos os ligamentos, prontos para esmigalhar aquele sorriso, aqueles olhos castanhos belos, aquele nariz perfeito, manchar de vermelho aquela pele pálida e sujar com poeira de chão aqueles cabelos tão imaculados.
Mas suas pernas subitamente ficam moles; é um crime tentar desfigurar tal divindade. Você é politicamente correto, você nunca destruiria uma obra de arte. Com isso em sua mente você ignora mais dentes brancos mostrados-- frutos de um sorriso mais largo, enquanto ele puxava um cigarro de um maço amarrotado em seu bolso.
"Isso não tem nada a ver com você, criança." Com a voz carregada de sarcasmo, seus pés te levam até sua casa, entrando, pela primeira vez em toda sua vida universitária em total e completo silêncio e se jogando em uma ducha fria.
Era melhor ele dizer logo o que queria. Sua paciência embriagada estava se acabando.
4 meses, 4 semanas, 3 dias.
Sua rotina festeira fora interrompida por alguns exames de período, e isso te dera tempo pra virar o jogo. Dessa vez era você que o observava e deixava que ele soubesse nitidamente. Quem era ele para te questionar? Toda noite uma mulher-- ou homem diferente, entrava na casa escura e ficava até uma hora que você não conseguiu definir, sempre caíra no sono antes de suas companhias deixarem o recinto.
Você não pôde deixar de notar que ele morava sozinho naquele casarão-- sem pai, sem mãe ou irmão. Sem regras. O loiro era uma criatura noturna, a vida dele parecia acabar quando seu despertador tocava.
Cinco e meia da manhã pragmaticamente você desliga seu despertador e olha pela janela ao lado de sua cama; apenas para vê-lo deslizar por toda a casa, a trancando e sumindo pelo resto do dia.
Sem trabalho. Sem obrigações.
Aquilo era estranho. A não ser que ele fosse um garoto de programa, você sabia que a situação era suspeita.
E agora toda vez que às duas da manhã você olha por cima de seus livros e ele está com alguém imprensado contra a janela-- ou sendo imprensado; não pode deixar de sentir que algo está terrivelmente errado.
E quando os olhos negros de luxúria encontram os seus, um calafrio volta a correr por sua espinha e você se acha inapto a continuar qualquer outra coisa.
Porque a sua imaginação já está trabalhando contra você e seu desejo te corroendo.
5 meses, 1 semana, 2 dias.
O relógio pareceu voar durante o tempo que você estudava e desenhava todas as planilhas de prédios pedidas; a raiz negra de seu cabelo já passava dos dois dedos agora, seus olhos queimavam secos de noites e noites trabalhando-- e espiando, espreitando, se deliciando com tudo que o loiro da frente fazia. Não era só você que havia percebido os estranhos hábitos promíscuos do homem do lado par da rua. Sua mãe comentava toda manhã.
"Esse tal de Ni~ya é muito estranho" Seus ouvidos captaram o nome proferido; era surreal que em 5 meses, 1 semana e 2 dias você nunca chegara a sequer saber o nome dele-- não que houvesse muita utilidade, mas agora finalmente você teria por quem chamar durante as longas noites.
"É esse o nome dele?" Sua mãe faz um movimento positivo, enchendo uma colher de café para o fazer, seus olhos grudados na jarra de vidro mas você sabe que a mente dela está longe.
"Ao menos foi assim que ele se apresentou quando te trouxe bêbado uma vez." A voz dela fica mais ríspida enquanto seu coração dispara. Quer dizer que você já esteve nos braços daquele anjo pálido e nem se lembra?
Que vergonha, estar tão bêbado que não se consegue recordar de algo tão doce e sutil! Seus dedos passeiam freneticamente por seus cabelos os despenteando enquanto seus dentes mordem um sonho de doce de leite.
Agora você sabe o quanto da vida se perde enquanto está bêbado...Demais
5 meses, 1 semana, 6 dias.
Novamente você bebeu, fumou, se empolgou demais e o caminho parece ainda mais tortuoso do que o normal. Mas mesmo assim você segue, olhos firmes no caminho e mãos se apoiando nos muros alheios. Certas vezes a diversão efêmera das risadas provocadas pelo álcool parecem não valer nem a metade do valor que você dá.
Mas o sorriso do homem sentado em um dos muros baixos parecia compensar tudo. Os cabelos louro-pálidos combinando com o rosto lívido, a camisa de botões vermelho-bordô e a calça negra nunca pareceram tão atraentes. Aqueles lábios nunca pareceram tão cheios e o sorriso nunca parecera tão faminto.
Finalmente você sorri, trôpego, bêbado e cheirando a cigarros baratos, mal se agüentando sobre os dois pés que Deus te deu (por que ele não te fez com três?); ele parece tão superior, sentado naquele muro, os dedos tamborilando suavemente um ritmo que se assimilava aos batimentos de seu coração-- acelerados, sem compasso.
Um garoto, quase da sua idade surge de um lugar qualquer--ou talvez ele estivera ao lado do loiro e você não se dera conta-- e se enfia entre as pernas dele. Seus lábios grudando-se na pele pálida do peito de Ni~ya e você não pode deixar de desejar ser ele, estar ali venerando aquele pedaço de pele. Os dedos brancos se enrolam nos cabelos negros do garoto, mas os olhos não desgrudam dos seus. Ele não geme, ele não reage a não ser pelos dedos acariciando os cabelos negros.
E você sabe que tem algo de estranho ali quando o laço entre dedos e cabelos se torna um puxão e o garoto solta de Ni~ya com um gemido doloroso, mas finalmente os olhos negros do loiro grudados nos do menino parecem um alívio, e os lábios deslizam pelo pescoço moreno do garoto enquanto a outra mão tapava sua boca.
Você vê o medo estampado nos olhos do menor e a fome nos do loiro. Vê o borrão de dentes perfurando a carne e sangue escorrendo pelos cantos dos lábios pálidos, olhos se revirando de prazer, se focando em seus novamente e um grito abafado é quase imperceptível na noite silenciosa de sua rua tortuosa, enquanto toda a cena se desenrola em frente ao apavorado você.
5 meses, 2 semanas, 1 dia.
Os gritos insuportáveis de sua mãe novamente unem força com a terrível dor de cabeça e o detestável enjôo do dia seguinte da bebedeira. Você dormiu no jardim, abraçado com o maldito anão de jardim.
Finalmente os fragmentos da noite passada vêm a sua cabeça quando você é violentamente colocado debaixo de um chuveiro frio, com direito a roupas e sapatos. Os vultos de memória são intercalados com as lamúrias da sua mãe ( "Ahh como seu pai morreria de desgosto se estivesse vivo para ver isto Sakito! Você não pensa no que os outros vizinhos falam de você? E de mim?!").
Ni~ya. Garoto. Mordida. Sangue. Vampiro.
Você ri, finalmente lavando seus cabelos sozinho, se despindo e mandando sua mãe calar a maldita boca. Só a dor de cabeça e a confusão eram o bastante para o fazer faltar a faculdade.
Com dificuldade, suas pernas o levam ao conforto de seu quarto, várias aspirinas e uma garrafa d'água já o esperam sobre seu frigobar. O caminho até a cama nunca parecera tão longo, mas agora que você o cumprira ela nunca parecera tão deliciosa.
E por entre as cortinas você espia a casa escura, as cortinas fechadas hermeticamente. Sua mente doentia não para de desejar que ele seja mesmo um vampiro.
E você sua próxima refeição.
5 meses, 2 semanas, 5 dias.
Você bebeu novamente, Whisky, casamento de um grande amigo seu. Se ofereceram para te levar até em casa, mas a sua modéstia bêbada concordou que apenas te levassem até a esquina-- o que para você, ainda assim, será um grande caminho. O carro azul te larga aonde sua voz comanda, você salta, acena e berra, bêbado, alto e débil para outros tão embriagados quanto você mesmo.
A rua escura , agora encarada de frente, parece fácil-- pudera, há dois anos você repete os passos sobre as mesmas condições alcoolizadas.
E há 5 meses, 1 semana e 6 dias ele te observa, agora você não tem mais medo de encará-lo, seus olhos e todo seu corpo respondiam ao chamado silencioso do rapaz, vestido hoje em uma jaqueta de couro marrom escuro, uma camisa verde musgo e um jeans desbotado. Nenhum fio de cabelo em desalinho, nenhum dente manchado no sorriso, apenas alguns obscurecidos por um cigarro aceso.
"Quantas vezes eu ainda vou te ver bêbado?" A sua única resposta é um sorriso zonzo, amarelado de cigarro e bebida, enquanto dá seus passos incertos como os de um infante para perto do loiro.
"Quantas forem necessárias para te encontrar no meio do caminho debochando de mim." Ele sorri e seus olhos mal conseguem registrar a trajetória do cigarro até o chão; a última cosia que você sabe é que os braços dele te puxam pela cintura, o hálito frio está colidindo com seus lábios e seus olhos estão sendo perfurados pelo olhar dele.
"Se for assim, eu creio que serão muitas." Então os lábios frígidos cobrem os seus, não há como evitar um gemido surpreso devido ao choque de temperaturas; e o loiro toma essa pequena falha como um convite para explorar sua boca.
A princípio é estranho, você não reage. Espera a língua fria e o gosto metálico despertarem seus sentidos para enfim responder ao beijo, enlaçar seus braços no pescoço dele, mover sua língua contra a invasora apenas para ser dominada; partir ligeiramente as pernas para que ele se acomode melhor e alivie a pressão ali, sentir as costas contra a cerca viva que adorna o muro no qual agora ele te imprensa tão deliciosamente, e por fim, sentir os afiados e longos caninos roçarem contra seus lábios.
Aquilo tudo era pecaminosamente divino, era o primeiro beijo, o primeiro contato de muitos.
5 meses, 2 semanas, 6 dias
Tudo agora te parece uma nuvem de algodão doce. Não ouvira a sua mãe reclamar do horário em que você chegara e como tudo aquilo a preocupou; também não prestou a atenção em nenhuma aula-- a geometria euclidiana e as leis da física entravam por um ouvido e saiam pelo outro-- ou sequer ouviu a conversa de seus colegas ao redor-- apenas concordava com um aceno de cabeça.
Era incrível o que apenas um beijo de Ni~ya fora capaz de fazer. Todas as expectativas retidas de um breve futuro encontro foram liberadas pouco a pouco no caminho para o bar na esquina da faculdade-- essa parte sim, a que envolvia álcool e consumação do mesmo você fora capaz de assimilar-- e agora os copos de cerveja e os cigarros de menta pareciam ser as cornetas da anunciação de uma noite maravilhosa, você os consumia em uma velocidade quase inumana.
O percurso dessa vez fora mais comprido, a ansiedade revirava o álcool em seu estômago e você sabe que está mais nervoso que uma colegial em seu primeiro encontro. Você sabe que está brincando com fogo-- e que muito provavelmente vá sair queimado dessa brincadeira.
Mas o sempre presente sorriso-- antes debochado e detestável, agora amável-- sempre torna mais simples e fácil a sua caminhada vacilante até os braços lívidos e gélidos recobertos por um casaco camuflado. E a cacofonia do beijo da noite passada se repete; só que agora ele está te conduzindo até a casa escura como um cavalheiro conduz uma dama no tango.
Você concorda silenciosamente com tudo aquilo, sua mão quente envelopada naquela maior e gelada. Se antes você não entendera como os romancistas poderiam colocar em seus contos coisas como "seu coração pulou uma batida", agora sabia perfeitamente o que aquilo queria dizer, já que seu coração parecera se esquecer de bater enquanto ele te levava pela rua escura.
O crepitar da porta ao se abrir fez com que seu corpo gelasse por dentro, Ni~ya estava de costas, portanto não teria como aquele sorriso branco te prover a calma e segurança das quais você precisa. Mas o toque suave e cadavérico da mão branca contra a sua o faz sentir melhor, subir as escadas em espiral no escuro não fora difícil, você se grudou nele como uma criança gruda na mãe e ele aceitou aquilo.
Finalmente vocês alcançam o quarto e você já se sente mais à vontade, já havia espiado tanto aquele cômodo escuro que ele te é mais que familiar. Os lábios frios pousando ora sim, ora não sobre sua nuca também não são mais estrangeiros, nem os dedos que te privam do casaco e do resto da roupa.
Ele agora está correndo as mãos frígidas sobre seu corpo, te conduzindo para a cama grande e cinzenta, mas não é aquilo que você quer. Não agora, e com muito esforço você se afasta do loiro, a confusão estampada naqueles olhos negros é quase cômica, mas você não vai deixar a noite continuar assim. Você tem planos melhores.
Seus dedos alcançam o fecho de seu cordão e o abrem com um clique suave, movendo lentamente o pingente metálico até a sua mão, você o carregara o dia inteiro tão cuidadosamente esperando por esse momento. Os olhos dele ainda estão confusos, não entendem do que se trata o brilho metálico entre seus dedos, mas apreciam o braço branco que você esticou para ele.
E você toma o próximo passo, a gilete em sua mão desliza contra a pele, não fundo o bastante para marcar, nem raso o suficiente para não sangrar. Os capilares sanguíneos rasgados se abrem lenta e dolorosamente, sua mente mal registra a dor ou o incômodo do corte. As vantagens de se estar bêbado, afinal, eram muitas.
O loiro finalmente pareceu entender o que você fizera e antes mesmo de o sangue se acumular na ferida os lábios gelados estão contra a ferida, seguidos quase instantaneamente pela língua. O costume de sentir um corpo frio contra o seu ainda não foi fixado em sua mente e seu corpo se retrai com o susto, ele te olha, temeroso de ter te machucado, mas você sorri mostrando novamente a lâmina e os olhos negros acompanham todo e qualquer movimento.
Você tem o loiro a sua mercê, sob seu controle e da navalha. E o próprio parece feliz com essa condição.
O fluxo de sangue na ferida já está diminuindo e você sabe que é hora de abrir um novo corte, faz um pequeno suspense para ele tentar adivinhar aonde será esse corte, tirando o tempo para pensar e finalmente flui a lâmina contra o seu peito. Ni~ya grunhe, soltando de seu braço e o empurrando para a cama, sua boca colando-se contra a fenda, a abrindo, a saboreando, gemendo contra seu peito. Tudo que você pode fazer é enrolar seus dedos nas mechas loiras e as pernas ao redor dos quadris dele, sentir seu sexo roçar contra o corpo nu dele. Perdido na sensação você não percebe os dígitos do loiro se sujarem na saliva dele, percorrer o caminho até o meio de suas pernas e forçar sua entrada. A princípio não é fácil, a sensação nunca é das melhores no primeiro momento, mas os lábios dele-- agora contra seu pescoço, plantando beijos e suaves mordiscadas te relaxam e logo os dedos pálidos movem-se, provocando alguns gemidos fracos, você empurra seu corpo mais para baixo procurando por mais contato.
"Mais." Você sussurra febrilmente e ele acata seu pedido, posicionando o sexo rijo contra a sua entrada.
"Respire fundo e relaxe." Seus pulmões estão cheios de ar enquanto ele te preenche, lenta e maravilhosamente e quando o loiro está completamente parado, seus pulmões expulsam todo o ar e o renovam. Seu peito dói com a contração do corte mas você ignora isso sorrindo para Ni~ya, empurrando seus quadris contra os dele, o loiro parece captar o recado se movimentando a princípio bem devagar.
Você está frustrado, não quer aquilo, não agora. Empurra os quadris em um ritmo mais rápido; ele não se surpreende e combina a velocidade dos movimentos. É tudo um grande borrão cinza e agora os lábios frígidos estão na junção de seu pescoço com seu ombro e você sabe o que ele quer ali, assim como sabe que está mais que disposto a dar aquilo à ele.
"Vá em frente." A dor pungente das presas se cravando não te fazem gritar, apenas enrolar mais os dedos nos cabelos dele, e a pior parte são as presas saindo e dando lugar a uma suave sucção de seu sangue para a boca do mais velho. O corpo dele parecia mais quente agora que ele bebe seu sangue, enquanto seu corpo parece mais gasto e caminhando ao ápice de seu orgasmo; a mão livre dele enrola-se em seu sexo, combinando a velocidade das estocadas com o movimento de seu corpo.
Apesar de ter doído no início, Ni~ya parece ter achado o ângulo correto para te fazer se debater de prazer sob ele, controlando os pequenos pontos brancos que piscavam diante de seus olhos de tanto prazer. Ele continua acertando o mesmo ponto impiedosamente e finalmente você grita o mais alto que pode, chamando o nome dele e apenas aquilo junto com a pressão que você faz contraindo seus músculos contra o sexo dele, é o bastante para fazê-lo gozar também.
Por um minuto você perde a consciência, resfolegando, seu coração novamente parecendo que vai quebrar todos os ossos de seu peito de tão forte que está batendo. Por um minuto você inveja o corpo sobre o seu, ele não respira, o coração dele não bate, ele não está sentindo dor alguma.
Durante o tempo que seu sistema sofrera um black-out você pôde sentir as mãos deles se movendo por entre as cobertas cinzas para pegar alguma coisa e quando seus olhos se abrem fracamente, aquela figura de boca suja de sangue está parada sobre si, segurando a lâmina perto do próprio pulso.
"Eu estou te dando essa chance. Se você não quiser, eu entendo." O mundo parou de girar, de um lado você tem uma vida incerta como um brilhante arquiteto, e do outro uma eternidade na penumbra da noite. Quantas chances dessas que rondavam a sua cabeça você teria? Lentamente você concorda e ele sorri, os lábios rubros colando-se em seus.
"Eu quero, Ni~ya." A sua voz está vacilante pela perda do sangue que ainda pinga nas cobertas escuras, mas mesmo assim o loiro te compreende e mostra o braço do mesmo jeito que você havia feito, corta o pulso com a mesma gilete que você usara, pressionando a ferida contra sua boca.
O líquido é negro e não tem lá muito o gosto do sangue que você conhece, é espesso e queima a sua garganta, mas mesmo assim você gosta e bebe mais. Prende o braço dele contra seus lábios, o dono do braço solta um grunhido dolorido e o puxa para longe de você. Vagamente você sente o sexo dele deslizar para fora de seu corpo e o corpo frio mover-se para seu lado e segurar em sua mão.
Agora cada órgão seu dói, seus pulmões parecem queimar e seu coração lentamente diminui os batimentos, todas as suas sensações estavam à flor da pele e seus dedos agarram como vinhas os dele--ele mantém o mesmo sorriso calmo e com a outra mão acariciava os seus cabelos. Finalmente o mundo parou e todas as luzes se apagaram, tudo parecia um grande vazio e a única coisa que te mantém conectado ao mundo real são os dedos do loiro enlaçados com os seus.
Você abre os olhos lentamente, uma de suas mãos passando por seu peito e percebendo que o corte que estivera ali segundos antes, não existe mais. O coração não bate e seus pulmões parecem queimar a cada golfada de ar.
"Bem vindo ao mundo dos mortos." Você olha para o lado apenas para se deparar com aquele sorriso lindo e aquela pele branco-lívido. "Eu sei, você vai tentar respirar, mas isso pra nós é inútil. Com o tempo você se acostuma Sakito." Era a primeira vez que ele te chama pelo nome-- pelo que você se lembrava dos momentos de embriaguez. E seu nome parecia tão mais maravilhoso saindo dos lábios dele! Ni~ya parece ter visto a sua estupefação e inclina a cabeça sorrindo. "Acho que você não acordou ainda."
"Claro que eu acordei, só que não me lembro de ouvir você ter me chamado pelo nome, só isso." Ele sorri enviesado para você, daquele jeito meigo de sempre e se inclina apenas pra sussurrar em seu ouvido.
"Se acostume, vai ter que ouvir isso durante uma ou duas eternidades." Você sorri, afastando algumas mechas castanhas de seu rosto, as palavras dele finalmente surtindo efeito quando o loiro está deitado ao seu lado, sua cabeça está recostada no peito pálido e sem batimentos.
5 meses, 3 semanas, 1 dia.
Você esquece tudo o que tem feito, bagunça seus cabelos vendo as cortinas fechadas hermeticamente e o loiro adormecido ao seu lado.
É besteira contar todos os dias em uma eternidade.