Título: CONFESSIONS ON A LIZARD FLOOR
Autora: Scarlet Mana
Pairing: Sugizo x Hakuei
Gênero: 8D LIZARDS & SNAKES. Gênero próprio, manja?
Classificação: NC-17
Sinopse: Oneshot/side story/whatever, parte integrante do universo da fic LIZARDS & SNAKES. Mas quem não lê L&S (8D o azar é só de vocês, belê?) pode ler a oneshot sem boiar belamente. Era uma vez um mafioso chamado Sugizo e um cara sacana chamado Hakuei... 8.....D
Observações: Finalmente estou cumprindo meu desafio da máfia XD E este aqui pertence à nossa companheira aracnídea SPIDER (
leveldevil), e espero que ela me perdoe pela demora eterna i.i queria ter terminado a tempo pro níver dela, mas eu perdi o controle sobre as desgraças que tem ocorrido na minha vida 8x Bom, aproveitem pra reler tudo e lembrar sobre o que era a fic mesmo, e conferir a parte que faltava MWAHAHAHA ;D.....e desculpem-me mais uma vez pela demora .3. espero que gostem!
XXX Confessions on a Lizard Floor =D XXX
[02:30 a.m., sexta-feira, Salão Nobre da Toca]
Não, nenhum motivo em especial.
E, mesmo sem ser impelido por algum motivo plausível ou no mínimo racional, eu, Yasuhiro Sugihara, venho por meio desta, despido de qualquer coerência sóbria e sólida, divagar a respeito de um assunto que me persegue há, no mínimo, dois anos. Na verdade não é um assunto. É um carma, um fardo. Talvez seja uma maldição, sei lá. Se bem que às vezes eu repetia a mim mesmo que se tratava de um momento de fraqueza, impulsividade.
E eu huh.... ............ espera só um pouco.
(- Não Taka, estou sem o meu maço de cigarros. Pergunta pro.... pro... hm. Perdeu alguma coisa, Hakuei?)
(- Gostou do meu absinto, Sugi?... heh.)
Corrigindo: um momento de burrice. Uma burrice, idiotice tremenda, sem limites e sem comparação à altura em toda a minha vida. Mas é claro que -eu- não cometi tantas falhas assim. Estamos falando de -mim-, afinal das contas. Mas, pra efeito de comparação, foi um fiasco. Digo, não o acontecimento em si. Quero dizer... o durante. Me refiro aos resultados que isso trouxe. Fiasco. E como toda pessoa boa demais, no caso, esta que vos fala, uma besteira já basta para condenar todo o seu histórico brilhante de sucessos.
Ou algo assim. Talvez não condenar tudo, isso seria enérgico demais. Talvez no caso de outra pessoa... não no -meu- caso.
Pois bem, isto é uma declaração. Justificação, erhm... confissão. E eu estou bêbado. Mas não importa, por que -naquele- dia, eu não estava, e isso é o pior de tudo. E eu não acredito que eu estou contando isso pra você, meu caro.
(- Sugizo, você está falando com um camaleão empalhado.)
(- E você fala com o Miyavi o dia todo. Este aqui se mexe um pouco menos, mas presta mais atenção no que eu falo.)
(- Okay, já chega de absinto por hoje. Me dá isso, vou levar pra cozinha.)
As pessoas não param de interromper a gente, companheiro camaleão.
Sem mais rodeios, agora:
Eu, Yasuhiro Sugihara...
...
Espera, preciso de um trago. Recomendo, você também irá precisar.
Porra, onde eu deixei meu maço?
...
Ah, verdade. Estou sem ele hoje.
Quero deixar bem claro que eu não estou admitindo que -errei-, ou algo dessa natureza. Veja bem, eu não erro. Jamais. O que ocorreu foi uma alteração de... planos! Pois bem, foi isto.
...
Eu acho.
...
Não precisa ficar impaciente! Já vou dizer.
...
..
.
Acho melhor você respirar fundo, pode não estar preparado para isto:
...
..
.
Eu, YASUHIRO SUGIHARA, CONFESSO que, em plenas posses de minhas faculdades mentais (e físicas), numa noite abafada de verão, há exatamente dois anos, um mês e dezessete dias, num lugar de procedência questionável e higiene pouco provável, me envolvi deliberadamente numa atividade de intercurso com TANAKA HIROHIDE.
...
.
..
...
Ou seja...
Eu fodi o Hakuei.
* * *
> PRELIMINARES I
Minha pequena desventura começa numa noite abafada no início de Julho, num local conhecido por Indigo Blue, uma mistura de casa de jogos e bar freqüentado por ricaços, mafiosos e aspirantes. E ali estávamos eu, minha trinca de ases e mais duas cartas, e uma mesa lotada de vários tipos de bebidas sendo ingeridas por pessoas cujos rostos eu mal tenho condições de lembrar, dadas as circunstâncias da presença do álcool no meu sangue naquela noite. Eu estava confiante, é claro. Sempre estou. Estamos falando de mim.
Optei por descartar meu cinco de copas e receber uma nova carta. Após a rodada de trocas, deixei que meus olhos passeassem furtivos pelas expressões de meus adversários. Afinal, pôquer não se trata de sorte - e sim de quem faz o melhor blefe. E eu tinha nas mãos um Four of a kind composto por quatro ases, e aquela noite simplesmente não poderia ficar melhor.
Foi durante a rodada de apostas que eu reparei -nele- pela primeira vez. Um jovem loiro de ar impetuoso, que empurrou três pilhas de fichas para o centro da mesa, e fez com que a maioria dos olhares se arregalassem na sua direção, estupefatos. Como naquela época eu não o conhecia, supus que estivesse blefando ou simplesmente tentando chamar a atenção. Hoje, porém, eu tenho plena certeza de que ele estava concentrado na segunda possibilidade. Quando retirou a mão tatuada com uma borboleta de cima do bolo de fichas, nossos olhares se encontraram. Ele não parecia nem um pouco preocupado com a quantidade de dinheiro que arriscava perder, era como se sua vitória estivesse garantida. Talvez ele tivesse captado estes meus pensamentos, porque seus lábios se curvaram num sorriso ganancioso, o qual dirigiu à minha pessoa.
- Estou fora. - anunciou um dos jogadores, deitando as cartas de costas na mesa. Foi seguido por mais uma desistência, e o terceiro titubeou, mas acabou por cobrir a aposta. Chegada a minha vez, fiz a única coisa aceitável, digna de um Sugihara:
Dobrei a aposta.
O loiro pernicioso demonstrou visível deleite ao ter seu desafio rebatido.
Um velho à minha esquerda engasgou com a bebida, tentando avisar antes que sufocasse que jamais cobriria aquela quantia. Os dois restantes da mesa retiraram-se aos palavrões, e eu não podia culpá-los. A borboleta voltou a arrastar para o centro da mesa verde um novo bolo de fichas.
- Ótimo. Mostre as cartas. - anunciei, ansioso em pegar o monte de fichas que eu tinha certeza que me pertenciam. O loiro não respondeu verbalmente, apenas devolveu um olhar de atrevimento irritante, e desvirou o seu jogo, o sorriso esticando no seu rosto assim que ele observou minha expressão assombrada.
- Um Four of a kind... de quatro ases. - balbuciei, reconhecendo o meu próprio jogo idêntico nas mãos do adversário.
- Oh...! Parece que houve um empate. - seu tom de voz era sonso e provocador, como se ele soubesse o tempo todo o conteúdo das cartas nas minhas mãos.
- Quantos ases tem nesse baralho? - inquiri, desconfiado.
Ele riu, um riso solto e agradável de ser ouvido, mas não para mim, não naquela dita situação. Parou logo assim que percebeu que eu estava ficando bem mais impaciente. Mas o seu olhar era sempre o mesmo, superior e dono da verdade. Eu só conhecia até então um homem capaz de olhares daquela verocidade. Um Dragão de Komodo.
- Eu sou bom demais, não acha? - passou a língua pelo lábio inferior, provocativo. - Faço o milagre da multiplicação dos Ases.
- Adorável. - repliquei sarcástico, retirando as minhas fichas do centro da mesa, mas sendo interrompido pela mão com a borboleta, que rapidamente agarrou meu punho.
- Não banque o esperto, lagarto. - falou entre dentes, um tanto mais ameaçador que antes. - Eu posso facilitar algumas coisas para você esta noite... ou dificultar. Depende de você.
Senti algo sendo escorregado para debaixo da minha mão esquerda, e logo em seguida o loiro me virou as costas, afastando-se.
Descobri, abaixo da minha palma, um outro Ás, contendo um número de celular, o de um quarto na hospedaria ao lado, e o nome de dois homens; o primeiro, que eu acabara de conhecer, e o segundo, por quem eu aguardava há pouco mais de uma hora.
Hakuei e Toshihiko Seki.
> PRELIMINARES II
Curvei-me breve num cumprimento automático respeitoso, que não condizia muito com a minha expressão entediada.
- Diga a Tokage que é sempre um prazer fazer negócios com ele. Mas creio que não posso seguir com a minha parte do acordo até eu receber a informação de que o carregamento foi mesmo entregue. Você compreende, não é mesmo? Trivialidades.
Oh, claro que entendo, pensei comigo mesmo, mantendo a boca fechada para evitar que o ácido proveniente do meu sarcasmo vazasse em forma de algum comentário mal-intencionado sagaz. Naquele momento pensei sobre a incrível habilidade que alguns japoneses têm de ser incrivelmente chatos e pedantes na maneira como falam a respeito de si mesmos por intermináveis minutos a fio sem se dar conta do interesse não existente estampado na cara de seu ouvinte. Toshihiko Seki fazia isso com o adicional de ter um rosto bonachão e uma voz que às vezes adquiria tons meio diferentes.
- Vim aqui preparado para ficar no máximo duas noites, se é que você me entende. Quanto mais isso demoraria? - indaguei, não contendo uma parte do meu nervosismo ao lembrar-me do quarto 3x4 cheirando a mofo no qual eu estava instalado há dois dias.
Toshihiko se limitou a coçar a cabeça, olhar para o alto e pescar a resposta como se as palavras estivessem voando no meio do ar.
- Talvez mais uns cinco dias. Ou mais. Não tenho certeza. Depende de quando o carregamento partiu, não é mesmo?
Tive a impressão de que o gosto de ferrugem que começou a aparecer em minha boca vinha da pressão que eu aplicara sobre a minha própria língua.
- Olhe, veja bem... - eu iniciei, esperando que o homem à minha frente tivesse o mínimo de noção a respeito da situação que ele criava. - Eu apenas tenho como me manter aqui mais -um- dia. E depois, em três dias eu preciso encontrar o outro comprador, que está a mais ou menos cinco horas de trem deste local. Nada disso foi mencionado quando você acertou os detalhes com os Lagartos, Toshihiko-san. - tentei esboçar um sorriso forçando simpatia. O homem estava começando a me dar nos nervos.
- Bem, se você não tem dinheiro para pagar um quarto por mais 3 ou 4 dias, o problema não é meu, não é? - sorriu Seki, refletindo o meu sorriso sonsamente. - E como não foi mencionado? É uma dedução comum... o dinheiro pelo produto. Boa camaradagem e voto de confiança não funcionam muito na nossa linha de negócios, não acha, rapaz? Pois bem, até o final da semana. Qualquer problema, não hesite em ligar para o meu assessor - e me entregou um cartão de visita amassado, dando as costas e saindo da área do balcão do bar logo após.
Acho que permaneci olhando para o cartão pelo que deve ter sido um período enorme de tempo, pois depois de alguns segundos percebi que o incômodo que sentia no ombro era o bartender do restaurante da hospedaria me cutucando e perguntando pela segunda ou terceira vez se estava tudo bem comigo. Dei um aceno afirmativo com a cabeça e um sorriso amarelo:
- Escute, você tem certeza de que não têm um tipo de quarto mais barato do que aqueles do terceiro andar?
---
- Anou... preciso falar com o Tokage.
- Sugi-chan?
Desferi um palavrão ao homem a minha direita que praticamente berrava ao telefone público ao lado. Troquei o telefone de orelha e tampei a outra, quem sabe assim conseguindo abafar o som. No final das contas não deu muito certo.
- Você pode encontrar o Niikura pra mim? Diga que é urgente.
- É o Sugi-chan, não é?...=) Sugi~~~~~~~~~~
Suspirei.
- Miyavi. Miyavi, o Niikura...
- Sugi~~~ ei, Taka, é o Sugi! Vem cá! x3
- ...
Barulhos do outro lado da linha me fizeram entender que era noite de Gala no Salão Nobre.
- E aí, Sugi, tudo bom? Tirando umas fotos, comprando uns souvenirs...?
- Não estou fazendo um passeio turístico.
- Não esquece de trazer umas lembranças pra gente. o Taka pediu um---
- MIYAVI. chame o Niikura. AGORA.
- ALOHA!!!
Naquele momento eu apenas queria uma explicação lógica pra ouvir o Taka berrando cumprimentos havaianos perto do bocal do telefone.
- Ei, Sugi! É o Taka! Olha, se você for surfar, aproveita para---
- Peraí, quem disse que eu estou no Hawaii? - resmunguei contrariado para a confusão do outro lado da linha. O homem do meu lado desligou finalmente o telefone e me olhou como se eu tivesse acabado de sair dum sanatório.
- Ora, o Yomi que disse!! Como assim você não está no Hawaii?! Quer dizer que todos aqui estamos morrendo de inveja por nada? - Miyavi havia tomado o telefone novamente, indignado.
- Bem, eu descobri nove espécies de aranhas no muquifo onde eu estou hospedado aqui em Kabukicho, e tem uma coisa verde não identificada do lado da cama que parece prestes a criar vida. Morram de inveja disso. - é sempre bom exercitar o cinismo para mantê-lo em forma, é o que eu sempre digo.
- Oh... - Miyavi parecia bastante desapontado, e a parte triste da coisa era que o absurdo disso não me surpreendia nem um pouco. - Pra que você ligou então?
- Eu--
*thuu~~~~~*
Que hora ótima para o cartão de telefone acabar, pensei, sentindo-me derrotado.
Agora eu penso comigo mesmo que todos os fatos do mundo estavam mancomunados para fazer as coisas ao meu redor darem tão incrivelmente errado a ponto de eu precisar da ajuda -dele-. Não aconteceria de outro modo. E esta é, meu caro companheiro camaleão empalhado, a questão Fundamental da minha confissão para você. Não que o fato de eu estar cercado de incompetentes e lagartos piadistas de menos de um metro e meio de altura fosse uma novidade com a qual eu não estivesse acostumado. Mas foi quando eu subi os dois lances de escada na direção do quarto onde eu estava hospedado, e vi minhas coisas sendo postas do lado de fora por um barbudo mal encarado que explicou entre grunhidos que se eu quisesse um quarto devia pagar antes da hora do check out, mesmo quando o meu check out estava agendado para o final da tarde do dia seguinte, que eu entendi que havia algo estranhamente 'incompetente' demais no ar. Porém, foi um pouco tarde demais quando eu descobri o causador daqueles eventos de mal murphyniano.
> PRELIMINARES III
- Sinto muito por interromper o seu banho. - eu disse polidamente, com o automatismo de um processador de alimentos triturando beterrabas. E eu estava não apenas sem quarto, mas também talvez um pouco faminto.
- Sem problemas. - eu pude enxergar um sorriso no rosto do loiro, mesmo enquanto seus cabelos molhados e a ação de secá-los com a toalha estivessem escondendo-o. - Acho que esta é a parte em que eu digo 'ora, mas eu sabia que você viria'.
- Sabia? - levantei uma sobrancelha, parando de inspecionar o quarto que era bem maior e mais arrumado do que o meu antigo.
- Na verdade, não. - ele riu com gosto, desistindo da tarefa de secagem na qual se empenhava, jogando a toalha por cima de uma cadeira. Não vi muito nexo em secar o cabelo quando você mal havia secado o resto do corpo. Ele estava vestindo nada mais que um jeans escuro, e instintivamente, eu senti frio por ele. Mas ele não parecia se incomodar nem um pouco com isso. - Mas eu esperava que sim. Você parece ser bastante esperto. Isso é bom. Beleza não funciona sozinha.
Ele se levantou da cama e me deu as costas, enquanto eu pensava se devia agradecer o que parecia ser um elogio direcionado a mim ou questionar se aquelas palavras não eram apenas uma auto-afirmação do próprio loiro. Talvez fosse para ambos, pensei.
- Está sem quarto agora, não é? - a pergunta me deixou surpreso, mas segundos depois vi que ela não tinha nada de especial, dado o fato de que eu tinha duas malas a meus pés. - Se você estiver interessado em ouvir o acordo que eu tenho a lhe propor, você pode ficar com este quarto sem ter que pagar por ele.
Investiguei as suas costas ainda molhadas, procurando algo que me assegurasse que as suas palavras haviam sido sérias.
- Apenas por ouvir? - perguntei suspeito, e o loiro que havia se apresentado por Hakuei através de um Às de Ouros voltou-se para me encarar, um dos cantos dos seus lábios se curvando para cima, quase que imperceptivelmente.
- Se você acha fácil demais, eu posso dificultar pra você.
Suspirei impaciente, e ele compreendeu aquilo como uma resignação minha. O loiro aproximou-se da pilha de roupas sobre a cadeira, tirou de um dos bolsos duma calça um maço de cigarros e um isqueiro. Após acender um para si próprio, ele aproximou-se e estendeu-me o maço, do qual tirei um cigarro. Quando eu estendi a mão em busca do isqueiro, ele retrocedeu-o. Apanhou um banco pequeno, sentou-se de frente para mim e acendeu o meu cigarro, ele próprio. Nos breves segundos em que estávamos próximos o bastante para eu me enxergar em seu olhar e sentir um pouco da respiração dele perto do meu rosto, tive o sentimento de estar diante de alguém que com muita freqüência conseguia aquilo que desejava. Ele afastou-se logo, e esqueci-me desta impressão.
- Toshihiko Seki é uma pessoa difícil de lidar, como você já deve ter percebido. É o tipo de coisa que acontece com gente que já está há tempo demais no ramo - acham que simplesmente têm controle de tudo. - ele deu uma longa tragada, expelindo a fumaça para cima alguns segundos depois, de modo calmo. - Provavelmente cria problemas pra todos com quem faz parcerias, e o curioso é que está tão cheio de si, de toda a sua carreira bem sucedida, que mal se apercebe disso. Vocês já devem ter encontrado vários caras como ele por aí, e vão continuar encontrando. Agora, a parte que importa é... você pode dar de ombros e aceitar que pessoas como ele pisoteiem o orgulho e credibilidade da sua máfia, ou pode se aproveitar da situação. O que parece ser incrivelmente justo, a meu ver.
Tive a clara certeza que toda aquela argumentação estava planejada em seus mínimos detalhes, e que Hakuei fazia questão de que eu soubesse disso. Percebi também o quanto ele sabia a respeito de mim, dos lagartos, e da nossa relação com Toshihiko Seki. E do que se tratava a negociação. Mas ele colocava a argumentação de maneira que eu priorizasse apenas as suas últimas palavras e constatações, e deixasse passar batido ou fizesse vista grossa ao fato de ele saber muito mais do que o necessário. O que podia funcionar com qualquer um menos atento e desprovido de uma inteligência maior, mas não comigo. Mas isto... isto ele também já aguardava.
- Pessoas como o Toshishiko são o meu ganha pão atual, Sugihara. - ele sorriu de um jeito perigoso, pronunciando o meu verdadeiro nome com o gosto de quem prova do seu doce favorito. - É normal que eu me esforce nesse sentido. Mas eu gostei bastante de você, assim que o vi. Soube na hora que você é do tipo de pessoa que persegue as boas oportunidades que a vida te dá.
Não que eu não tivesse percebido assim que o vi pela primeira vez, mas a capacidade de Hakuei de emanar um innuendo sexual em certos momentos era por demais perturbadora. Naquele dado instante, eu tinha os lábios do loiro sussurrando próximos ao meu ouvido, e eu posso dizer que estava, se não bastante, pelo menos consideravelmente perturbado.
Então o que eu fiz foi basicamente afastá-lo de mim, empurrando a minha mão direita que desde não sei quando havia ido parar ao redor do pescoço do loiro:
- Não tente nada engraçado, Hakuei. - interrompi-o, causando nele um inusitado acesso de risos.
- É você quem é engraçado, Sugi. - Falou entre risos. Olhei para ele expressando óbvia raiva diante do uso inapropriado do que seria meu apelido. Eu sequer gostava dele em outras situações; mas tentava ser mais paciente quando ele era usado por algumas espécies de lagarto.
O loiro deve ter pressentido que eu estava prestes a levantar-me e sair dali, pois de repente sua feição voltou a ser a séria e controlada de antes, por exceção de um sorriso malicioso que volta e meia despontava nos seus lábios. Enterrou o cigarro num cinzeiro que se encontrava ao pé da cama à qual eu me sentara, e caminhou até a estante, tirando de uma gaveta uma pasta cheia de papéis... e uma pistola.
- Quero que olhe bem para isto. - ele me disse, mostrando-me a pequena arma, que tomei em mãos e manuseei atentamente. - E me diga o que acha. Quantos anos você acha que essa pistola tem?
- Sequer é semi-automática. Parece bastante antiga.. uns cinqüenta anos. Já foi bem popular esse modelo. - constatei superficialmente, dando de ombros e devolvendo-lhe o objeto. Hakuei não o aceitou, apenas balançou a cabeça negativamente.
- Consegue encontrar a marca do fabricante?
- Sim. - fitei a parte inferior do cabo, que mostrava inclusive a sigla do modelo e série. - Por quê?
- Porque é uma réplica. É falsa.
Pisquei, absorto, e voltei rapidamente a verificar a pistola com o triplo de atenção. Não havia nada que denunciasse tratar-se de uma imitação. Pelo menos nada que meus olhos enxergassem, e a minha afinidade e familiaridade com armas era bem maior do que a que eu já chegara a ter com qualquer ser humano. Eu estava sem palavras. E esta era a deixa de Hakuei.
- No momento atual, eu tenho centenas destas estocadas, esperando solitárias por alguém que se interesse por elas... - anunciou, dramaticamente falso e sarcástico. - Não é uma pena? Tanto empenho, um trabalho tão bem feito para produzir algo que não tem utilidade real. Vai entender...?
Algo se iluminou de súbito em minha mente. Mas foi Hakuei quem traduziu em palavras:
- Diga, Toshihiko não aceita fazer o pagamento sem ver as armas antes, não é?...
Sorriu, lânguido.
Ah, o innuendo.
....
> PRELIMINARES IV
Por detrás de todo plano mirabolante vem uma execução planejada e cuidadosamente seguida à risca. O que eu queria, de fato, era manter as coisas simples, a um nível terreno e controlável. Mas o meu companheiro loiro escapava pelas beiradas e em direção ao céu; o terreno era pouco demais para ele. E eu precisava dele - portanto, não poderia censurar todas as suas opiniões e objetivos, mesmo que muitos deles me parecessem exacerbados em sua ambição e que poderiam por tudo a perder. Eu não tinha temores, de modo algum. Mas o meu nível de prudência ao pisar em território desconhecido era bem maior do que o do jovem que agora anunciava que iríamos ganhar uns bons milhares de dólares. Madrugada adentro, portanto, nos debruçamos sobre planilhas, orçamentos e uma lista de falsos contatos que serviriam como compradores em potencial do nosso mais novo estimado lote de "armas".
Em primeira instância, não era prudente que ligássemos este novo lote ao nome de Tokage e ao nosso carregamento pessoal proveniente da Toca. Na realidade, isso devia ser evitado a todo custo, pois ao primeiro fracasso, seria o meu couro exposto ao sol no jardim dos lagartos, e o de mais ninguém. Tokage, há cerca de 5 anos, fez várias parcerias com um homem chamado Miki Shinichirou, que tinha contatos infiltrados na embaixada de determinados países dentro do Japão e ajudava a escoar todo o contrabando de armas para o Ocidente. Tokage é especialmente cuidadoso nessa questão, uma vez que, pasme, todo o estoque pessoal de armas dentro da Toca e utilizado por Lagartos é obtido através de fabricantes e comerciantes totalmente dentro da lei. Como, é uma outra questão. Pode-se dizer que a arma que eu carrego junto a meu corpo é ilegalmente legal, de certo modo.
O passo seguinte era associar o lote das réplicas a qualquer um que não fosse Tokage, mas que já tivesse tido prévio contato com ele. No caso, Shinichirou. Mas também não poderia ser o próprio. Curiosamente, uma das extensões do contrabando de armas do Shinichirou havia escoado para a Europa oriental um lote de réplicas há poucos meses, e confirmamos isso ao conferir o número da série daquelas com o nosso próprio lote. Eram idênticos. Isso por um lado constituía uma falha nos planos, mas por outro, se conseguíssemos repassar esse lote como sendo de propriedade daquele contato, qualquer suspeita passaria desapercebida. A quantidade de informação que Hakuei possuía em mãos era absurda e com um nível de detalhe inacreditável. Eu não podia imaginar em sã consciência como ele as havia obtido, e o mais importante, o porquê. O fato de não entender ou sequer ter pistas dos seus objetivos e motivações garantiu até os dias de hoje a minha desconfiança em relação ao loiro. O fato era, ele conhecia muitas das atividades dos lagartos sem ser um deles. Se isso não deveria constituir desconfiança aos olhos de Tokage, sinceramente, eu não sei o que deveria.
Hakuei dispôs um esquema rabiscado numa folha de papel, e explicou as providências que tomaríamos com uma racionalidade digna de um romance policial. Eu não podia acreditar no que os meus olhos viam.. não havia maneira daquilo dar errado, dadas as circunstâncias. Todas devidamente postas no papel e explanadas, encaixando-se umas com as outras. O que eu aprendi, veja bem, é que coisa perfeitas demais têm uma tendência irresistível a darem errado. É como se essa perfeição entrasse em conflito com as leis naturais do universo que dizem que apenas Deus é perfeito, nada mais. Quando outra coisa além de Deus é perfeita, só pode dar merda. Eu sei muito bem disso, pois eu sou perfeito. Mas as coisas dão certo comigo na Toca? (...) Argumento comprovado.
- Devíamos ir dormir - sugeriu Hakuei, sonolento em meio a um bocejo. Eram três da manhã, e eu buscava algumas informações acerca do comércio de armas pelo laptop do loiro. Parei no mesmo instante o que fazia e pisquei uma, três, cinco vezes, meu semblante nulo.
- Ok. Tchau. - voltei minha atenção para a tela do laptop. Após alguns minutos de silêncio, estranhei, e voltei o rosto.
Notei o nascimento da incredulidade brotando no rosto bonitinho porém irritante do meu parceiro de tramóias.
- Eu não vou sair deste quarto, Sugizo. - anunciou, entediado.
- Pensei ter entendido que apenas por ouvir a sua proposta mirabolante eu poderia ficar com o quarto.
- Eu não mencionei em momento algum que sairia dele.
Soltei um riso engasgado, sarcástico, e apontei a cama sobre a qual me recostava.
- Não sei se você percebeu, mas só tem uma cama aqui. Espero sinceramente que você não esteja pensando em dividi-la.
Eu não precisava olhar para ele. Eu podia praticamente -ouvir- o sorriso malicioso que Hakuei exibiu. Se é que sorrisos fazem algum barulho.
- Esquece. Eu durmo no chão. - optei de súbito. - Mas o travesseiro é meu. - declamei, roubando o dito objeto da cama.
~
No dia seguinte, conforme o plano tecido por Hakuei, telefonei ao assessor de Toshihiko Seki e anunciei que haveriam mudanças nas negociações. Em menos de uma hora o homem já estava pisando o Indigo Blue, com a típica preocupação estampada no rosto de quem teme perder os lucros.
- Você deveria se considerar um homem de sorte, Toshihiko-sama. Como você deve saber, é praticamente impossível obter um lote com esta quantidade por um preço tão barato. São praticamente relíquias. Se precisar, olhe os laudos e a lista de compradores à espera de que você recuse o negócio. Tudo está perfeitamente claro e em ordem. Vai obter a garantia através do contato que a repassará, e se fecharmos negócio ainda hoje, posso encaminhar o restante do lote de 300 para você até o final desta tarde. O lote inicial já está aqui conosco, além desta porta, no estacionamento. Peço a seus seguranças que façam a gentileza de verificar. - quatro homens de preto avançaram pela porta, e voltaram três minutos depois com um aceno afirmativo de cabeça para o seu chefe.
(De repente, tive a impressão de que o Hakuei seria um ótimo vendedor porta-em-porta.)
Toshishiko pareceu comprimir-se ansioso na cadeira diante das palavras de Hakuei.
- Ainda hoje? - apertou excitado a pistola que o loiro lhe havia entregue para a inspeção.
- Isto deve ser o bastante para servir como uma entrada ao carregamento que negociou inicialmente com o Tokage, correto? Será um bom negócio para todos. Não precisaremos aguardar mais, e cada um pode seguir adiante com os seus projetos pessoais. Acredito que o Toshihiko-sama seja um homem muito ocupado.
(Sinceramente, gostaria de saber com o quê.)
- P-pois sim... sim, sou. - balbuciou automaticamente, enquanto sua mente procurava calcular se aquele era mesmo um negócio tão bom quanto parecia. O homem parecia estar travando uma batalha com o seu inconsciente. Eu apenas assistia, plenamente satisfeito e confiante. Eu podia sentir o -cheiro- do dinheiro. Hakuei também, e não fazia o menor esforço para esconder seu sorriso vitorioso.
- E então? Temos um acordo? - inquiriu confiante, consciente de que a pressão sobre Toshihiko estava ajudando a desestabilizá-lo e torná-lo mais maleável a aceitar nossas imposições.
- Sim. - Toshihiko Seki levantou-se, seguro e mais determinado que antes. - Preciso fazer algumas ligações antes, no entanto.
(Para a mãe dele, a começar.)
- Por favor. - sorriu Hakuei, estendendo a mão num gesto que dizia a Seki que ficasse à vontade para prosseguir.
E foi o que ele fez. Aguardamos enquanto éramos servidos bebidas variadas, e Hakuei bebia copos seguidos de absinto como quem bebesse suco de laranja. Perguntei-me o que passava pela sua cabeça, que tipo de planos ele teria para o dinheiro. Eu, por minha vez, ainda não tinha nada certo. Um lagarto, enquanto atado à Toca, não tem possibilidade alguma de passar por dificuldades materiais. Tudo o que ele precisa está ali. Mas do outro lado dos muros da Toca, não há nada. Para os que largaram casa e família, talvez haja um lugar para onde retornar. Pessoas como eu, que não tem mais ninguém, não possuem muita escolha. Talvez fosse por isso que a questão monetária me atraia às vezes. Não digo que eu tenha planos de sair dos Lagartos, o que é incabível diante das regras impostas por Tokage, ou melhor dizendo, a regra única: Uma vez Lagarto, você só deixa de sê-lo depois de morto. Porém, nunca se sabe.
O Indigo Blue começou a encher, e a ausência de Toshihiko já começara a me incomodar. Hakuei parecia alheio à isso, e estava mais compenetrado em manter o guarda-chuva do coquetel preso na rodela de limão do que preocupar-se de fato com algo importante.
Talvez Toshihiko Seki estivesse investigando as fontes que passamos como sendo responsáveis pelo lote. Mas não haveria ninguém que pudesse negar o fato, exceto talvez pelo próprio contato do Shinichirou. Mas era algo muito, muito improvável de acontecer.
Observei que Hakuei agora se ocupava de lamber os dedos melados com o limão e bebida. A palavra 'perturbador' mais uma vez cruzou meus pensamentos.
- Peço desculpas pela demora - ressurgiu Toshihiko, um sorriso bonachão no rosto e seguido por dois seguranças carregando quatro grandes pastas pretas, que atraíram imediatamente meu olhar e o do loiro levemente ébrio a meu lado. - Como acertamos, vou aceitar o lote inicial que vai me valer como o recebimento do resto. Peço desculpas por agir com tanta precaução.. mas nessa linha de trabalho todo o cuidado é pouco.
- Oh, entendo. - respondi, simpaticamente falso. Em seguida me virei para Hakuei, sussurrando-lhe: - Suponho que seja algo comum, entrar numa casa de jogos portando quatro pastas que obviamente estão lotadas de dinheiro?
- E por que não seria? Ele é dono de metade disto aqui. - Hakuei sussurrou de volta, e algo otimista morreu de súbito dentro de mim.
- Por favor, me diga que você estava brincando. - resmunguei baixinho entre dentes, tentando sorrir. - Você por um acaso sabe quem é o outro sócio do Índigo...?
Toshihiko aproximou-se, e eu estendi-lhe a carta escrita por Tokage, com as instruções da negociação inicial. Se tudo o mais falhasse, pelo menos o plano inicial funcionaria. Em seguida, dois seguranças aproximaram-se e depositaram duas das pastas a nossos pés.
- Estas são pelo acordo com o Tokage. As do lote de entrada são estas outras duas. - Indicou Seki, e as outras duas pastas também foram postas no chão.
- Com licença... - iniciou Hakuei, a atenção de todos voltando-se para ele. - Se não se importam, vou até o banheiro. Acho que bebi demais...
Arregalei os olhos, tendo bastante dificuldade em acreditar nos meus ouvidos. Não sei se a parte mais estranha foi o pedido de Hakuei, ou todos os outros terem aceitado-o com completa naturalidade. Não tenho a menor idéia do que fez menos sentido. O fato é que Hakuei se retirou, e três segundos depois surgiu Tomokazu, o sócio de Toshihiko e também proprietário do Indigo. Em outras palavras, o contato de Miki Shinichirou responsável pela revenda de centenas de réplicas de armas reais como sendo verdadeiras. Eu congelei dos pés à cabeça. Seríamos descobertos e mortos, ali mesmo. Ou -eu- seria, enquanto Hakuei estivesse no banheiro.
- Gostaria de apresentá-lo a meu sócio, Tomokazu. Não poderia consolidar um novo acordo sem a opinião dele. É um perito em armamento.
- Imagino... - sorri o mais cordial dos sorrisos amarelos, olhando com desespero para as quatro maletas ao meu lado e calculando quantos tiros eu levaria antes de conseguir fugir com todas dali. - Prazer, Tomokazu-san.
- Me desculpe, mas será que posso inspecionar uma das armas deste lote? Toshihiko me falou tanto a respeito delas, fiquei incrivelmente intrigado. - falou o homem, e eu senti que o sangue em minhas veias já estava começando a desistir de circular. Daqui a alguns instantes não ia fazer diferença, mesmo.
- Claro que pode. - respondeu uma voz familiar atrás de Tomokazu, e em seguida eu vi algo semelhante a uma garrafa de absinto sendo quebrada sobre a cabeça do sócio, que desmaiou prontamente, sem tempo de entender o que havia ocorrido. Hakuei surgiu correndo a meu encontro, apanhando duas das maletas e iniciando uma corrida da qual eu demorei mais do que devia para começar a participar. Digamos que eu, assim como Toshihiko Seki e os dois seguranças, estava tentando entender o que diabos havia acabado de acontecer ali. Eu apanhei as outras duas e comecei a correr uns três segundos antes de ouvir os primeiros tiros e Toshihiko berrar exasperado pela nossa captura.
> PRELIMINARES FINAIS.
- Pra onde?!! - Berrei, desviando de transeuntes na calçada, sentindo uma dor aguda no tórax que mais tarde eu identificaria como sendo um tiro de raspão.
- Pra Hospedaria!!!! - Respondeu Hakuei num berro, uns bons quatro metros à minha frente, já virando a esquina. - Vamos subir pela escada de incêndio!
Digamos que foram os seis lances de escada mais penosos da minha vida, e pareceu durar uma eternidade. Eu não podia de forma alguma derrubar as malas com a grana; mas o meu ferimento doía, e subir a escada com a ajuda de uma mão só para manter o equilíbrio era quase impossível. E fazer isto tudo enquanto eu discutia com Hakuei também não ajudava.
- Isso é imbecil! Por que estamos voltando para o primeiro lugar onde eles irão nos procurar? - gritei, enquanto Hakuei terminava de subir mais um lance.
- Vê se pensa um pouco! Eles sabem onde -você- estava hospedado. Não fazem idéia de que eu estava aqui também. Usei uma identidade falsa, não vai ter problema. Mas de qualquer jeito, chegar pela entrada principal daqui é burrice. Já ouviu falar que o melhor esconderijo às vezes é bem na frente do nariz de quem procura?
- Não, mas foda-se. Aproveitando o ensejo, me explique por que raios você nocauteou o Tomokazu. E banheiro? Você perdeu o juízo?!
Ouvi um riso enquanto o loiro fazia força para arrombar a janela do seu quarto por fora.
- Eu tenho um timing muito bom, não acha? Ora, é claro que foi planejado. Tirando a parte do Tomokazu ser sócio e tal. Isso foi apenas uma coincidência infeliz.
- Pra quem tinha todos os detalhes planejados, deixar essa informação passar batida foi algo bem idiota. - provoquei, encarando-o de frente.
- Bem, mas no final das contas funcionou, não foi? Eles sequer entenderam ainda o que aconteceu. Cale a boca e sinta-se feliz. - retrucou ríspido, voltando-se para a janela e abrindo-a com certa irritação. Adentramos e fechamos a janela e as venezianas. Hakuei certificou-se de que a porta estava trancada, e andou para o outro lado do quarto.
Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Nervoso, testei eu mesmo a tranca da porta, recostando nela, ainda ofegante da nossa fuga. O tiro superficial que Toshihiko me havia feito sangrava livre, e eu fiquei surpreso com a quantidade de vermelho que tingia a minha camisa branca. Enquanto a minha preocupação era livrar-me da roupa e estancar logo aquilo, a de Hakuei era abrir uma das duas pastas e retirar afobado os gordos bolos de dólares que agora nos pertenciam.
- Nós temos que sair daqui. E se eles vierem e obrigarem o dono do local a abrir todos os quartos? - Ofeguei, amarrando uma tira de tecido ao redor da minha cintura e abrindo as gavetas da cômoda atrás do revólver extra que eu havia deixado ali na noite anterior. Não estava na primeira, nem na segunda gaveta... eu sabia que meu raciocínio não estava fazendo muito sentido, graças à adrenalina do instante. Mas havia alguém com efeitos bem maiores provenientes desta do que eu.
- Você já quis saber a sensação de nadar em dinheiro, Sugizo? Como nos desenhos animados? - ouvi a estranha pergunta, seguida por um de seus risos soltos e provocantes. Seu humor parecia ter mudado radicalmente, assim que cruzara a janela. Provavelmente estava bêbado, então ignorei-o. Toda a utilidade dessa parceria havia chegado ao fim, de qualquer maneira. Eu ainda não havia desistido da busca pelo revólver, e então lembrei que havia trocado o lugar do seu esconderijo para o criado-mudo ao lado da cama de solteiro. E realmente, ali estava ela. Chequei a munição e descobri que eu ainda contava com 3 balas.
Empunhei-a, tentando pensar no que fazer a seguir. Seria melhor fugir pela mesma saída de incêndio pela qual havíamos entrado. Se eu conseguisse atingir o distrito de Shinjuku poderia contatar algum lagarto caso eu ainda estivesse sendo perseguido, ou mesmo chamar um para me buscar nos arredores. Mas antes eu tinha que esconder o fruto daquela trapaça, num lugar muito longe aos olhos de Tokage. Meu antigo apartamento veio de encontro às minhas lembranças, e eu só podia torcer para que eles ainda não tivessem demolido aquele prédio condenado.
- Sugihara.
Pisquei, surpreso, quase me esquecendo que estava acompanhado no quarto. Ah, mas é claro.
- Huh?... - iniciei, mas logo minhas palavras ficaram engasgadas na garganta, perdendo-se irremediavelmente.
E então eu achei que meus olhos estavam me pregando algum tipo de peça. O loiro havia aberto a pasta do dinheiro, e havia dólares espalhados por todo o chão, num tapete verde malfeito. Hakuei estava sentado no chão, em cima delas, apontando uma pistola na minha direção. E me peguei pensando em qual tinha sido o momento em que o loiro havia tirado a camisa, e o que teria o levado a fazê-lo. E no porquê daquilo ter a menor importância. Ele ofegava, o suor emprestando um brilho curioso ao seu torso forte e tatuado. (E eu não entendi por que eu havia reparado naquilo. Talvez pelo fator perturbação de experiências anteriores.) Mas havia algo que brilhava com mais intensidade, e isso eram seus olhos, que exibiam a ameaça de um felino prestes a atacar... um lagarto.
- O que você pensa que está fazendo? - Perguntei irritado, devolvendo a ameaça e apontando o revólver em sua direção. E isso causou nele um sorriso perigoso, que transbordava com malícia. A única resposta que eu obtive foi o passar de língua que ele deu pelos próprios lábios. Desisti de participar daquele momento de maluquice, jogando a minha arma em cima da cama. - Hakuei, você enlouqueceu?
Eu sabia que aquele quarto era abafado. Contudo, naquele instante, ele ficou um pouco mais. Maldito innuendo.
Aproximei-me com passos lentos, observando o modo como ele subia o cano da arma para acompanhar a proximidade da minha cabeça. Eu pude ouvir a sua respiração, e ela me pareceu pesada e ansiosa ao mesmo tempo. E era para esse estado que a minha também caminhava. Ele não parecia prestes a atirar, e aquilo me confundiu, pois ele tampouco parecia disposto a baixar a arma. Tive a impressão de que meus movimentos e menores reações estavam sendo estudados cuidadosamente, como se eu realmente fosse a sua presa e ele estivesse de certo modo divertindo-se comigo. Antes do meu próximo passo, ouvi finalmente o barulho do seu dedo movendo-se sobre o gatilho, e parei.
Parei por dois motivos distintos e de naturezas diferentes.
O primeiro motivo, como podem perceber, é o que antecederia um disparo de um calibre de nove milímetros contra o meu crânio. Não há nada extraordinário nisso, e qualquer um agiria de maneira semelhante. É uma coisa que eu gosto de chamar de "prudência", e a qual já abordei diversas vezes nesta mesma confissão.
O segundo, último e não menos importante, se deu a partir de um movimento da perna direita de Hakuei. Trivialidades à parte, qualquer um é passível de cansar de ficar na mesma posição por muito tempo. Mas essa possibilidade não se encaixa aqui, e posso afirmar isso baseado nas descobertas que eu fiz assim que o joelho direito do loiro encostou no chão; primeiramente, me pareceu bem mais claro o motivo da sua respiração ofegante apesar da posição confortável em que ele se encontrava, e logo me pareceu igualmente óbvio o fato da camisa de Hakuei ter sido abandonada no canto do quarto, entre várias notas de cem dólares. Somado a isso a intenção contida naquele movimento, posso dizer que várias coisas ficaram bem explicadas pra mim.
Ou seja, é incrível a quantidade de coisas que você pode descobrir a partir de um jeans apertado.
Hakuei acompanhou o foco do meu olhar, seus lábios curvando-se chamativos, o dedo pressionando o gatilho com mais força.
- Você vai danificar a grana espalhando tudo assim, Hakuei. Isso não é brinquedo. - não faço idéia do porquê do estado dos dólares no chão preocupar-me mais do que o estado do cérebro que em breve não estaria mais contido apenas dentro da minha cabeça.
- Parece a cena de um filme que eu vi uma vez. - ele disse, e sua voz me soou algo familiar a um ronronar de gato vira-lata no cio.
Levantei uma sobrancelha. Ele não estava prestando atenção alguma no que eu dizia.
- Oh? Que tipo de filme? - questionei com interesse falso.
- Daqueles que passam só depois das duas da madrugada. - sorriu malicioso, retribuindo um próprio meu que havia escapado diante daquela resposta absurda.
- E depois dessa parte em que estamos agora, acontece o quê?
- Eu atiro. - Respondeu como se a minha pergunta tivesse sido incrivelmente óbvia.
Antes de eu abrir a boca para protestar, percebi os segundos eternos em que o dedo do loiro apertou por fim o gatilho, e senti meu corpo congelar com um pavor surdo.
Clic!
...Clic?
Um clique parco soou no quarto, e no momento seguinte Hakuei deu de ombros, jogando a pistola sem balas com descaso para o lado, que deslizou até sumir por debaixo da cama. Quando nossos olhares retornaram do caminho feito pela pistola de volta ao rosto um do outro, eu estava mais do que pronto para jogar um certo alguém janela do terceiro andar afora. Avancei para o loiro, possesso:
- SEU FILHO DUMA---
E foi bem por ali, caro companheiro camaleão empalhado, que tudo foi para o inferno.
Eu me pergunto o que aconteceu para eu cair numa armadilha tão idiota e óbvia. Minha cabeça devia estar lotada de certa culpa pelo que eu havia acabado de fazer utilizando-me dos contatos e nome do Tokage, e por isso eu não tinha enxergado. Isso aliado ao meu excesso de confiança de controle na situação, que eu havia perdido há uns bons minutos. O que aconteceu foi que Hakuei alcançou o cordão que eu usava em torno do meu pescoço e puxou-o com força, trazendo minha cabeça e todo o resto junto consigo, e assim que conseguiu a distância mínima necessária, avançou vorazmente, e eu tive minha boca presa pelos lábios mais exasperados que eu havia provado até então. Eu não chamaria aquilo exatamente de um beijo, e a denominação a meu ver é casta demais para o que o loiro praticava. Eu sequer me recordo de quando foi que percebi o adentrar da sua língua invasora na minha boca, ora e outra sugando a minha própria enquanto seus lábios revezavam-se com mordidas contra os meus. Eu lembrei-me vagamente de que estava zangado, mas já não sabia explicar o motivo. Para ser franco, o puxão da minha corrente era a última coisa da qual eu recordava com clareza. Depois disso, não consigo separar a iniciativa de um ou de outro para coisa alguma. Dali em diante, se você perguntasse o meu nome, talvez eu tivesse que pensar a respeito.
Naturalmente, uma coisa levou à outra. São efeitos em cadeia. Por exemplo, se alguém semi-deitado puxa você por cima dele, você não tem como se equilibrar e acaba caindo por cima desse ser. É de conhecimento geral que o tato é o sentido mais forte do corpo humano, ou seja, estende-se por todos os membros, mesmo os cobertos por roupa ou jeans apertados. Isso quer dizer que a menos que você tenha algum problema de sensibilidade ou esteja usando camadas de roupas muito grossas, casos que não se encaixam neste momento, vai ignorar a dificuldade de permanecer prensado sobre alguém com um denunciável volume na região do baixo-ventre. E é um fator agravável caso a situação ocorra com ambos. Podemos dizer que este era o caso, ou se tornou rapidamente, só como fator didático. Didaticamente, também, é fácil entender que queiramos aliviar sensações que nos incomodem, e isso explica completamente onde o livrar-nos de nossas peças de roupa contribuía para esse tal alívio. Do mesmo jeito esse incômodo explica fatores conseqüentes como pequenos sons desconexos que brotam das nossas cordas vocais buscando atenção uns com os outros para toda a problemática que é essa parte do resolver esta importante questão do... alívio.
Findas as proposições didático-explicativas, voltemos à nossa programação normal.
Quando me desequilibrei por cima do loiro, senti um pequeno murmúrio de protesto abafado entre nossas bocas, e as unhas dele cravando-se com força na minha nuca, impedindo-me de retroceder um centímetro sequer. Uma de suas pernas enlaçou as minhas, prensando nossos corpos, e o meu tremeu com um arrepio involuntário, respondido imediatamente com uma mordida satisfeita sobre meu lábio inferior. Eu me tornava mais ansioso e irritado diante da sua impaciência, e o modo agressivo como eu respondia parecia apenas dar-lhe mais combustível para isso. Em algum ponto eu tentei ajeitar-me sobre o loiro, mas uma de minhas mãos apoiadas escorregou em uma nota de cem dólares. Foi quando eu reparei que algumas das notas abaixo das minhas mãos estavam com vários borrões vermelhos, que eu reconheci como sendo meu próprio sangue. A tira de tecido que eu tinha amarrado no ferimento estava caída ao lado, e o sangue não estancado descia livre ao encontro dos dedos de Hakuei que apertavam com força o meu corpo. O loiro percebeu negativamente o meu milésimo de hesitação, pois foi com impaciência que me jogou para o lado, invertendo as nossas posições de modo brusco e ficando por cima de mim, esta ação arrancando um palavrão meu quando senti minha cabeça bater em uma das malas com a grana.
- Não se preocupe, Sugi. Garanto que vai sobrar sangue o bastante pras áreas que interessam. - O loiro lambeu um dos seus próprios dedos sujos do meu sangue, e eu me lembro de ter pensado que se seres humanos ronronassem como felinos na época de cruza, eles soariam como Hakuei. Eu estava ocupado demais suprimindo um gemido resultante do modo como ele se mexia sentado sobre o meu baixo-ventre como se demonstrasse seu argumento, para responder ao loiro, é claro. Enquanto ele livrava-se apressado de sua própria roupa, duelando com fivela e cinto da calça, eu me percebi hipnotizado por uma nota de cem dólares manchada. Pensando bem, acho que a conexão que tivemos neste acontecimento foi bem estranha, pois ele continuou, como se tivesse lido os pensamentos que tive naquela hora: - E quando terminarmos isto, pode ter certeza que as manchas não vão ser só de sangue.
Posso dizer que o jeito provocador do Hakuei daquele dia me irritou profundamente, mas não deixava de funcionar em um momento sequer. Pelo contrário, atiçava-me, levando minha impaciência além de seus não muito longos limites. Ergui meu corpo ao máximo para que minha mão alcançasse uma daquelas mechas loiras e puxei-a com força, trazendo a cabeça do futuro gecko e consequentemente a sua boca a meu encontro, para capturá-la com uma mordida que se transformou num beijo faminto tão violento como todos os que trocamos em cerca de quinze minutos. Hakuei emitiu um gemido agradável aos meus ouvidos, suas mãos trabalhando então na minha calça, puxando o tecido para baixo com inquestionável exasperação. Não houve ali qualquer tipo de cerimônia, preocupação com o bem-estar alheio ou pudor. Era um exercício de afirmação do nosso próprio ego, uma corrida desenfreada pela auto-satisfação que não culminaria em qualquer outra coisa que não fosse um clímax sexual. E para ambos, isto estava ok, e que o resto se fodesse. Aliás, falando em foder, o fato de o loiro insolente impedir qualquer possibilidade de invertermos as nossas posições para tirá-lo de cima de mim começava a me fazer questionar algumas coisas... mas vamos deixar isso de lado, ao menos por enquanto.
Enfim, eu falava a respeito de auto-satisfação, correto? Assim, quando uma das mãos do loiro apanhou meu pulso, unhas quase fincadas na minha carne, levando minha mão de encontro a seu membro de maneira que meus dedos massageassem-no, a mensagem clara dele era: 'me satisfaça'. Coisa que eu atenderia (e que geraria o meu nome gemido duma maneira deliciosamente agradável como recompensa), transformando a seguir, com alguns movimentos mais ritmados do meu quadril, num aviso velado porém direto de que a vez de ser satisfeito era então a minha, que seria atendida pelo loiro. A ansiedade mútua exigiu por vez uma pausa para que nos livrássemos de vez das peças de roupa que restavam, apenas para que Hakuei não permitisse mais uma vez que eu invertesse a ordem das coisas, mantendo a situação sob seu controle. Tão logo se livrou do jeans inconveniente (e o fato de ter apenas o jeans para descartar me fez suspeitar que o maldito gecko já tivesse muito mais coisa do que eu imaginava planejada), voltou a pressionar seu corpo contra o meu, com a fricção de nossos membros unida à respiração ofegante de Hakuei próxima do meu ouvido causando um tremor que se iniciou por mim e espalhou-se pelo corpo dele. Hakuei tornou mais urgente a movimentação ritmada na região baixa de nossos corpos, aproveitando uma das mãos mais livres para unir numa fricção cadenciada as nossas ereções, dando uma mordida forte em meu pescoço para evitar o tipo de gemido exasperado que eu havia acabado de falhar em conter. Surpreendendo-me, ele parou subitamente, mudando sua acomodação para que cada joelho seu estivesse apoiado no chão na altura do meu quadril, e eu sentisse o calor daquele corpo afastando-se, para a minha impaciência. O loiro sorriu malicioso, e voltou a aproximar-se com seus lábios quase encostados no meu ouvido, me arrepiando com a sua respiração alterada.
- Agora é a parte em que eu mostro porque os filmes que passam depois das duas da madrugada.. passam depois das duas da madrugada, Sugizo.
Hakuei afastou-se mais uma vez, e em vez de desesperar-me com a demora fui tomado por uma curiosidade incontrolável acerca de suas ações seguintes. Além de suas habilidades com provocações insolentes, o desgraçado também era mais do que bom em criar o tipo de clima de expectativa quase torturante. Inspirei fundo quando senti seus dedos habilmente trabalhando o meu membro, irritantemente lentos demais para a urgência que a minha excitação demandava no momento. Ele suprimiu um riso divertido quando percebeu meu quadril mover-se, reivindicando minhas necessidades não atendidas. Fechei os olhos quando finalmente senti que ele aumentava o ritmo. E foi deste modo que me surpreendi quando seus dedos foram substituídos por algo muito mais quente, que envolveu-me naquele calor profundo, apertado, iniciando um ritmo que aumentava gradativamente, meu nome sendo sussurrado com prazer por aqueles lábios habilidosos... lábios desocupados. Oh. Será que preciso completar a explicação, ou vocês já conseguiram captar a coisa?
Posso dizer que se fosse em outra situação eu teria ficado perturbado, mas eu estava ocupado demais tendo as minhas satisfações atendidas, então o resto que se fodesse. Ou que o Hakuei se... Ahn. Desculpem-me, mas o trocadilho foi inevitável.
Era Hakuei que fornecia o corpo que eu invadia, mas ao mesmo tempo o controle parecia ser tão exclusivo dele que me confundia. O loiro sentava-se sobre mim, construindo o ritmo a seu bel prazer, suas entradas e saídas ganhando ritmo e força, ao ponto da diferenciação entre quem satisfazia e quem era satisfeito, quem estava no controle ou era controlado ser totalmente ambígua e indiferenciável. Meu quadril acompanhava-o, e eu forçava a minha necessidade de satisfação à dele, como se aquela fosse a competição decisiva para coroar o maior ego. Dois lagartos, sujos de sangue, disputando auto-satisfação em cima de uma pilha de milhares de dólares.
Não posso dizer quem venceu a disputa, mas posso afirmar que a parte de auto-satisfação foi consideravelmente bem sucedida.
> EPÍLOGO DE UMA CONFISSÃO.
.
.
- Estou dando o fora. Você tem como sair daqui? - perguntei mais por automatismo do que verdadeira preocupação, lançando um olhar na direção de Hakuei. O loiro tinha voltado a vestir apenas os jeans, e fumava um cigarro distraído, sentado em uma das malas de dinheiro.
- Um amigo vem me buscar. Marquei o ponto de encontro em um lugar perto daqui, mas pra ele fica um pouco longe, então preciso fazer hora até ele chegar. - expeliu a fumaça do tabaco, abrindo um de seus sorrisos cínicos. - Por quê? Está preocupado que eu vá te dedar ao chefinho ou esta só esperando que eu te passe o número do meu telefone pra uma segunda rodada?
- Vá se foder, Hakuei.
- Mais quinze minutos e a gente resolve isso.
Revirei os olhos, tentando ao máximo ignorar o loiro, que ocupava-se em rir da sua própria tirada maliciosa. Fechei a minha segunda mala, após ter checado se todos os bolos de dólares estavam ali.
- Suponho que eu não te deva nenhum favor em retorno por isso. - falei contrariado, acompanhando o olhar de Hakuei sobre as minhas malas. Levando em conta que ambos estávamos saindo com uma boa quantia de dinheiro, eu acharia realmente absurdo se ele quisesse algo mais em retorno.
- Não se preocupe. Eu já consegui aquilo que queria. - mais um ronronar insinuante, que foi o bastante para que eu virasse-lhe as costas e finalmente fosse embora daquele prédio.
Não seria naquele instante, porém, que eu compreenderia que as últimas palavras de Hakuei dentro daquele apartamento não eram uma mera brincadeira de cunho libidinoso. Mas foi a partir daquele dia que eu redobrei o cuidado com o tipo de informação que eu levava comigo nos bolsos da calça. Mesmo simples e amassado, um mero flyer de restaurante que eu havia utilizado para anotar o telefone de Toshihiko era mais que o bastante para que um futuro gecko encontrasse o caminho da Toca.
E foram alguns meses depois, em meados do outono, que, para a minha desgraça, as parcelas de pagamento da minha pequena traição ao Tokage começaram a ser cobradas. A primeira delas era bastante familiar. Chegou de óculos escuros, cabelos loiros, casaco de pele de onça jogado aos ombros e um sorriso malicioso e desafiador que eu bem gostaria de nunca ter conhecido na vida.
Mas, a partir daí, é uma outra confissão.
Uma confissão que precisa muito mais do que qualquer bebida alcoólica para vir à tona, e que assinaria a extinção de um camaleão no mundo dos lagartos.
...
MYV: Sugi? O Taka acha melhor você ir dormir por hoje.
SUGI: extinção....
MYV: Sugizo? 8D....
TAKA: Miyavi, me lembra de sugerir pras iguanas só comprarem suco de laranja pra próxima festa.
***
...continua...
...em L&S ;D.