segundos.

Mar 07, 2006 15:24



Era domingo.
Uma nuvem cinza e gorda se arrastou com a graça de uma obesa mau-humorada e cobriu o sol. E o vento agudo não demorou muito, chegou histérico, balançando as cortinas. Não era inverno, mas era quase natal, e tinha neve (artificial) pela casa. O feijão no fogo. A janela aberta. A panela que assim não fervia.
A casa fica vazia em poucos segundos.

Paranóia, praia, paranóia. Medo do morador do último andar, que anda quebrando as janelas, anda batendo nas pessoas. Ficou louco, ou foram as drogas, ou desistiu de sonhar. Quem sabe os motivos do outro? Vamos apenas salvar nossas cabeças.

Todas as paredes do apartamento são brancas. Fiquei sozinha porque só tenho medo de mim. Tem jornais, livros televisão aqui e nada para matar o tédio. Nada para matar as horas. Talvez o vizinho se jogue la de cima. Ele não precisa de nada para se matar. Talvez já tenha morrido. Eu já morri algumas vezes, será que ele também? Seria o assunto principal das conversinhas de elevador por semanas. E aí esqueceriam. Sempre, sempre esquecem.

Já esqueceram.
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