(no subject)

Dec 24, 2005 06:23

Tantos dedos apontados pra mim...
Tem certeza que são pra mim?
Sei da minha consciência e de tudo que fiz.

O ventilador anêmico cambaleando voltas
pelo teto espalha o ar ébrio da garrafa
dourada, o banco gira da porta pra balcão
e o bêbedo busca o copo, entorna de vez
um esquecimento para solidão.
Deixa algumas moedas baratas sobre o
balcão, indiferente, e vai procurar sua placa
turva, de um ônibus mole, de uma estrada
de vento.
As malas leves carregando um mundo,
cartas de quem um dia teve um perfume e
anotações pelas metades quase sempre
com o papel furado pelo lápis que pesa,
trazem a lembrança que arrepia das mãos
aos cílios postiços nos olhos palavras de amor
que não eram dele, um amor eterno que não era
dele, palavras que o marcaram a ferro e fogo,
a cachaça e cigarro, para nunca mais esquecer
que quando a gente ama é pra valer,
mas que o sentimento é só nosso e a reciprocidade
que faz do amor algo um sonho.
- Parei!
Encarando a porta do ônibus a paz toma conta
quando lembra de sua cidade natal, das
árvores na frente de casa, dos sorvetes...
E os pássaros que passam de manhã.
O bêbedo tropeça, bate a cabeça na porra
da escada e morre.
Previous post Next post
Up