Nov 20, 2008 22:16
Yay me! Vou adientada! 33.917 palavras quando só precisava de ter 33.333 palavras hoje! :D YAY!
Estou inspirada. Mais ou menos. A Pep Talk ajudou imenso. Vou meter estes dois nas piores situações, só pela piada de o fazer ^^ Eu adoro-os e não os quero matar, mas... tortura-los um bocadinho é sempre saudavel.
Vou comemorar indo mais cedo para a cama! =) Yay!
- Então estás aqui para me ajudar? - perguntou Goodwin esperançoso. - Vais levar-me de volta a terra?
- Sim e não. Ajudar-te-ei, mas não te posso levar comigo. Moura chora dia e noite, pode-se ouvi-la em todo o Oceano, assim que submergisses serias enfeitiçado pelo seu chamamento e estarias nas mãos dela - bateu com a cauda na água para dar ênfase. - Mas pedirei ajuda em terra. Farei com que o teu pedido de socorro chegue ao Rei.
O Rei? Aemilius enviara-no nesta demanda que se tornara mais perigosa do que Goodwin suposera, dissera-lhe que teria de compreender ser Espilce... Certamente não enviaria os seus homens na procura de um arqueiro, quando tinha tantos, especialmente sabendo que ele fora capturado por uma sereia. Seria como enviar os seus guerreiros para uma morte certa.
- Aguenta firme, Goodwin de Helmswella - despediu-se o tritão, mergulhando agilmente nas águas turbulentas.
Goodwin viu a cauda prateada partir velozmente, quebrando as ondas, lutando contra a chuva feroz e a força marítima. Um outro relâmpago rasgou os céus e Goodwin estremeceu. Agora só podia esperar e acreditar que alguém viria em seu socorro.
A chuva acalmou lentamente, tornando os dias negros em cinzentos, as noites escuras em noites de suaves luares. O Sol subiu ao céu e desapareceu quatro vezes. A pele de Goodwin tornava-se quebradiça, enresequida, a sua boca seca e maltratada. Caçava os pequenos peixes que se aventuravam na margem, uma ou outra vez encontrara um caranguejo perdido, abrira-lhe a casca e comera-o mesmo assim. Desejava ser capaz de criar fogo como fizera, há tanto tempo atrás, na gruta mágica, mas o seu corpo estava fraco, sem forças para concentrar tanta energia.
Laquemy, o tritão, prometera-lhe que lhe traria ajuda, mas Goodwin temia que não viesse a tempo. Todos os movimentos se haviam tornado dolorosos, fazendo com que caçar os pequenos e velozes peixes fosse quase impossível. Lutava contra a fome e sede, na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, alguém viesse em seu salvamento. Teria Laquemy avisado a Princesa Benedita? As saudades da Princesa toldavam-lhe a visão, faziam-lhe um nó na garganta até que uma lágrima solitária escorresse pela pele seca. Depois Goodwin sorria, lembrando o sorriso de Benedita, os seus gestos ingénuos e indefesos, os seus caracóis cor de trigo.
Goodwin deixou que os seus olhos se fechassem, concentrando-se na sua memória da jovem Princesa Benedita. No seu sonho ela procurava-o e encontrava-o, abraçava-o contra o corpo e chorava lágrimas de alegria. Benedita passava-lhe as mãos pelo cabelo e chamava-o suavemente.
- Goodwin! - chamou a voz de Benedita, vinda de tão longe que podia ser parte do sonho. Sentiu areia ser remechida e sacudida, cairem-lhe nas pernas nuas, mãos quentes que tremiam sentirem-lhe a cara, como se se certeficassem que não lhe faltava um bocado - Goodwin! Goodwin, por favor acorda...
A Princesa encostou a sua cabeça ao peito do jovem adormecido e, aliviada, ouviu o bater do seu coração. Os seus cabelos soltos fizeram comichão no nariz de Goodwin e ele soltou uma gargalhada.
- Goodwin... - Benedita sorriu e apertou-o contra si.
Abriu os olhos, devagar, tentando perceber o que fora sonho e o que fora realidade. Os olhos púrpura de Benedita brilhavam, presos aos seus, preocupados, felizes. Os seus cabelos estavam soltos, como se não recebessem cuidados há algum tempo, tinha grandes olheiras e o seu vestido era simples.
- Ben... Benedita... - murmurrou Goodwin, sentindo a boca tão seca que lhe era complicado falar.
Uma lágrima gorda formou-se no olho esquerdo de Benedita e escorregou suavemente, perdendo-se nos cabelos de Goodwin. A Princesa soluçou e sorriu, fazendo festas cuidadosas na face do amado, que fechou os olhos, apreciando o momento. O seu toque era mais suave do que se lembrava, a sua voz mais calma, os seus olhos mais belos, as suas sardas mais rebeldes, os seus lábios mais ingénuos.
Benedita passou-lhe o seu cântaro e deixou que Goodwin o esvaziasse, garantindo-lhe entre lágrimas e sorrisos que tinha mais no pequeno barco.
- Como me encontraste?
- Laquemy... Ele sabia que me deveria procurar. Parti durante a noite, a cavalo, deixando para trás a corte e o meu título de Princesa. Cavalguei dias a fio, cortei caminho sempre que pude, não consegui pregar olho. Ao chegar a Mardiel encontrei um nobre senhor que me informou que tinha perdido um jovem para o mar, não havia sinais dele, cria que tinha sido levado pelas sereias e, daí, ele não podia fazer mais do que o lamentar. No entanto, quando lhe disse que te buscava, ofereceu-me um barquinho pequeno, sem tripulação, pois para enfrentar uma sereia ele não oferecia os seus homens a ninguém.
Benedita contou-lhe, enquanto Goodwin comia um pouco de pão e queijo que a jovem trouxera de terra, sobre a tempestade no mar, como a chuva acalmara, como o encontrara depois de um dia inteiro de navegar as ondas teimosas.
- Temos de partir agora - concluiu Benedita. - As sereias têm ouvidos em todo o Oceano e, esta, deve estar a prestar estrema atenção a tudo o que se passa nesta tua gruta.
Goodwin levantou-se devagar, o seu corpo rijo e dorido. Arrastou os pés até ao pequeno barquinho de madeira, mais apropriado para a pesca num lago do que para um salvamento em mar alto. Benedita entrou depois dele, meteu as mãos dentro de água, fechou os olhos, e murmurou algo numa língua que Goodwin não entendia. O barco deu um solavanco e Benedita pegou nos remos.
- Como sabes para onde ir? - perguntou olhando à volta.
Tudo o que via era mar e a pequena ilha rochosa em que fora enclausurado. Muito ao longe conseguia ver a silhueta de uma ou outra montanha, ou uma ilha, talvez, mas certamente não viera de tão longe.
- Quando dás a volta à ilha, podes ver a costa de Espilce - respondeu com um sorriso.
- Deixa que te ajude - pediu Goodwin, fazendo menção de segurar o leme à sua direita.
A Princesa olhou-o de alto a baixo e recusou-o.
- Far-nos-ias andar em círculos - gozou-o com uma careta.
As lágrimas tinham-lhe deixado os olhos e o nariz vermelho, o vestido pérola e castanho estava coberto de areia, os cabelos num desalinho completo. Sorria involuntariamente, olhos presos nos de Goodwin. Remava a um ritmo regular, embora mais lento do que o normal de um homem dos mares, mordendo o lábio de vez em quando, não deixando escapar qualquer mostra de que estava cansada. Goodwin reparou que Benedita tinha uma espada à cintura, envolta numa capa de couro claro, cujo cabo fora trabalhado delicadamente numa linha curva que brilhava como se fosse feita de estrelas. Queria perguntar-lhe se era dela, se a sabia manusear, mas decidiu que, naquele momento, o mais importante seria descansar.
Uma nuvem escura tapou o sol, fazendo a temperatura descer imediatamente. As ondas ganharam força e o pequeno barco começou a girar em torno de si mesmo. Uma mão forte e delicada roupeu as águas e agarrou a proa do barco, por trás de Goodwin, tentando içar-se.
Benedita gritou assustada e Goodwin rodou, empunhando a sua arma, procurando o que quer que fosse que a Princesa vira. Uma outra mão seguiu a primeira. Eram morenas, cuidadas, com longas unhas pérola. Do oceano emergiu Moura, com os seus longos cabelos de chocolate e lábios escarlate. Os seus olhos tinham adquirido um tom vermelho, cegos pelo desejo e raiva, a sua cara contorcia-se. Entoava uma canção suave, como se não pensasse nela, o seu olhar fixo em Goodwin.
Como seria fácil ir com Moura, deixar-se levar pela sua canção, perder-se nos seus beijos e carícias... Como seria fácil resistir.
Os remos foram deixados, pendurados no barco que girava. A Princesa desembainhou a sua espada e cortou o ar com ela. Afastou Goodwin com um gesto rápido e fez a sua espada descer na mão de Moura. Separou-a do braço com um corte limpo, ouvindo a mão cortada cair na madeira do barco com um som oco. Moura gritou alto, numa voz estridente, perdendo Goodwin das garras do seu canto mágico. O sangue da sereia era claro como a água, tão líquido e frio também. Benedita rodou a espada no ar, com um movimento gracioso, e tentou degolar a sereia, que se escapou por uma mera fracção de segundo.
Goodwin olhou a cena, em choque, tentando perceber o que se passava. A sereia mergulhou e a sua cauda submergiu com força, bateu nas costas de Benedita e puxou-a consigo para o mar tempestuoso.
- Não! - gritou o jovem, tentando apanhar a Princesa.
Viu-a ser puxada para baixo e mergulhou de cabeça atrás dela, com o punhal na mão. A água salgada fez os seus olhos arderem e a sua garganta secar de novo. A sereia puxava a Princesa Benedita consigo para o fundo do oceano, para longe da luz. A Princesa ficava pálida lentamente, embora continuasse a tentar lutar contra Moura, os seus lábios tomavam uma tonalidade azulada. Goodwin esperneu e pontapeou a água, seguindo a sereia tão rápido quanto pôde.
- Voltaste - ouviu o sibilar suave da sereia dizer, alegremente.
Moura largou a Princesa inconsciente e nadou velozmente de encontro a Goodwin. Começou a entoar a sua canção, baixinho, prendendo os olhos de verdes nos seus. Tocou-lhe nos cabelos que flutovavam e passou-lhe as costas da mão na cara. Goodwin lutou contra a música enganadora, concentrando-se no corpo inerte de Benedita que lentamente regressava à suprefície. Quando a sereia se aproximou o suficiente Goodwin forçou o seu punhal no estômago da sereia com tanta força quando conseguia. Segurou fortemente a arma, apoiou um pé no corpo que se controcia em dor sobre si mesmo e usou-o como impulso para chegar à superfície. Apanhou o vestido da Princesa Benedita e puxou-a até si, nadando desajeitadamente até ao barco.
- Respira, Benedita, respira - murmurou, tentando levanta-la para o barco. Acabou por a ter de atirar rudemente para o seu interior e içar-se depois.
Respirava pesadamente, tentando recuperar o folgo. A Princesa estava pálida, mas o seu coração ainda batia. Goodwin pressionou o seu peito e expirou na sua boca, como vira um camponês fazer ao filho mais novo, quando ele caíra ao rio uma vez há muitos anos. Fê-lo duas vezes e afastou-se um pouco, esperando.
- Vá lá... - pediu, voltando a pressionar no peito de Benedita e a expirar para dentro dela, enchendo-lhe os pulmões.
O corpo da Princesa mecheu-se e contorceu-se, Benedita tossiu e cuspiu a água salgada que tinha engolido durante a luta. A sua respiração rápida acompanhava o batimento do coração que Goodwin ainda sentia debaixo das suas mãos.
- A se... - tentou perguntar. Agarrou as mãos de Goodwin com força, cravando as suas unhas nas palmas das mãos dele.
- Shh... Está tudo bem...
Passou-lhe a mão na cabeça, tentou acalma-la dizendo-lhe que estavam a salvo, que a sereia perecera sob o seu punhal, que regressariam a terra o mais rapidamente possível, não se teriam de preocupar mais com Moura. Benedita deixou-se ficar deitada, a sua respiração lentamente voltando ao ritmo normal, apertado entre as suas mãos as de Goodwin.
O mar acalmou-se a nuvem passou. Espilce via-se, tal como Benedita dissera, ao rodear a ilha. Goodwin tomou os remos e levou-os a terra, esperando encontrar alguém lá que pudesse cuidar de Benedita. O sol já se punha quando atracaram no porto de Mardiel e Goodwin estava estafado.
Pediu ajuda a um rapaz que por ali passava para levar Benedita até à aldeia e caminhou morosamente atrás deles, carregando a sua mochila e a espada da Princesa consigo. O jovem, que se apresentou como Ricks, levou-o à curandeira da aldeia. Morava mais longe do mar do que seria desejável, mas a sua casa era seca e quente, e tinha um cheiro doce e complicado em vez do forte cheiro a sal que torturara Goodwin nos últimos tempos.
- O que aconteceu? - perguntou a mulher, de cabelos castanhos presos num carrapito, de avental branco e vestido carmim.
- Ataque de sereia - disse Goodwin sucintamente.
A curandeira preparou uma bebida para Benedita e uma outra para Goodwin. Agradeceu ao jovem Ricks por os ter trazido até si e dispensou-o com um desejo de melhoras à sua mãe e um pequeno pacote de ervas. Fechou a porta atrás dele e mandou que Goodwin se despisse.
- O que faz a Princesa tão longe de casa? - perguntou a senhora, examinando as horríveis nódoas negras espalhadas pelo corpo do jovem. - E o que te aconteceu a ti?
- Veio salvar-me - suspirou. Como podia negar que Benedita fosse a Princesa?Se a mulher já a tivesse visto antes certamente lembrar-se-ia dela e, mesmo que assim não fosse, compreenderia que Benedita não pertencia ali assim que visse os seus olhos púrpura e mãos delicadas. - Uma sereia capturou-me há vários dias atrás, perdi-lhes a conta. A Princesa Benedita veio em meu auxilio.
- Uma Princesa que salva um jovem rapaz em apuros? - riu-se a senhora, cobrindo as marcas na pele de Goodwin coma pomada fria e verde.
espilce