Utopicamente atrás de... Sol

Feb 27, 2005 21:26

Certa vez fui atrás do Sol, para ver onde dava...
E depressa pensei, "Se calhar o sol não acaba."
Mas... que mais resta, senão caminha, a quem não caminha,
Com a ajuda da minha alma e dos meus olhos que tudo vêem?

Perdi-me por entre ruas e estradas, não olhava para o chão,
Olhava para o sol, para não o perder de vista, nunca mais.
Atrás de velhos, à frente de carros, sempre a fugir à escuridão,
Até que cheguei à formosa rua, abandonada, pequena, cheia de sol, ampla.

Deixei de olhar à minha volta; que eu ainda olhava.
Estava interessado, para não me perder, em saber onde estava,
Mas era inútil.
Já estava perdido.
Perdido naquele Éden de vivendas, gatos, carros estacionados,
Olhei uma última vez à volta: a rua é minha!
Aqui finalmente encontro, aqui a rua é minha. E dos gatos.

Totalmente desconhecido, embriagado, imerso,
Ninguém me vê, ninguém que me faça frente,
Totalmente centro do universo,
Ninguém que me impeça de ser eu para sempre.

Surgiu um gato: deitou-se, e ocupou um muro.
Surgiu ainda outro, e ocupou um carro.
Surgiu uma gata, firme, leve, de odor puro
Que me afastou, fez meu corpo sentir-se barro!

(sim, porque meu corpo não me pertence.)

Falhava-me qualquer coisa, os meus olhos falharam,
"Há aqui algo que me escapa e que eles não vêem."
Tirei-os. Tirei-os e de repente todos os gatos olharam.
Os meus olhos eram cristal, sinceros. Sinceridade, oh!,
coisas que eles não têem.

Quando os tirei, decidi por fim enfrentá-los, sem fraquezas.
Olhei para um, e falámos:

"Este não é o teu lugar, nunca te vi nas redondezas."
"Não sou daqui, mas encontrei este mundo e ele é meu."
"Não podes exigir algo como teu, se nunca cá hás-de viver."
"Tenho o tempo todo para vos conhecer, e vocês para me amar."
"Amar-te-emos como as pedras ao sal, que as corrompe e destrói."
"Vocês, gatos, hão-de ser sempre gatos. Reles e desumanos."
"Tu, homem, hás-de ser sempre homem. Reles e humano.
Tu, homem, não pertences aqui. Este não é o teu mundo."

Ele tinha razão!! Meu corpo ardeu, e fugi, e fugi.
Procurei de novo o sol, tinha-me afastado, estava de novo no chão.
Estava agora embrenhado unma terrível e densa escuridão,
Tal que não via o sol... será que morri?
Não, meu corpo ainda me obedece, ainda sou eu.
Não, não obedece... obedece apenas ao negro vazio e profundo,
Daquele que chega ao fundo,
Que pensa demasiado,
E vê.

Corri ao sol, para fugir à sombra, à escuridão,
E vi-me arder em novo chão.
Agora quero voltar atrás, mas estou apagado,
Tenho a virtude de um homem condenado,
Que outrora se sentiu pleno e amado,
E agora se sente plenamente desencontrado.

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Meow! Este é o meu maior poema de sempre... vai gerar merda para estes lados. :D Sim saki foi por isto que fui dar uma volta hoje. *
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