Nov 12, 2022 18:12
Hoje, um dia tedioso e moroso. Tédio, inação produzem picos de ansiedade e de sonolência. Para matar o tédio fumarei um e escreverei sob o efeito da droga. Dia silencioso. O silêncio é rompido por um bando de quero-queros que voam brigando entre si. O céu hoje, cinza, de várias tonalidades e nuvens mal definidas é uma perfeita aquarela. O corretor automático corrige algumas palavras. Cadê aquela vida despreocupada quando não havia tensão com o futuro? Talvez tudo se resuma a (haveria aqui uma crase?) simples falta de tempo. O ritmo da vida é tão intenso, é necessário sem parar desempenhar algum papel, não há espaço para estar só, se perceber, tomar conta de si no sentido de ter consciência de suas ações. Saber o que está fazendo, aí, exatamente aí. Sinto-me desempenhando vários papeis e funções o tempo todo, sem tempo todo o tempo. Sinto que falta-me tempo para o mais importante - os sonhos. Frescar, olhar as nuvens, sem pressa. Pronto, cheguei no ponto que a mente trava e passa a delirar inutilizando a escrita. Porém, faltam ainda tantas palavras para concluir a tarefa de hoje que é praticar a escrita. Pois bem, a mente já foi longe. Palavras bonitas: mariposa, candango, citadel, epifânia, coisas boas. Faltam noventa e cinco palavras. Sequências de letras e de significados. É como que fossemos deseducados de usar as palavras aleatoriamente, caos, desordem é o que mais nos assusta e nos atrai pela sensação de liberdade, estados liminares, experiências, quando é só seguir espontaneamente as ações e os acontecimentos, tempos pulsantes, cheios de vida e de perigo. Será? O que será que será? E será que ainda algo assim acontecerá em minha vida? Ou viverei para sempre a sensação de tédio, rotina e dever? Prazeres mínimos do cotidiano. E não se trata mais nem de correr risco mas da ausência de risco numa vida confortável e sossegada. Lerdeza, lordose e losandrina. Lontras. A morça e meu filho amado. Queria pegar os momentos, momentinhos felizes dessa vida, curtos e circunscritos e incrustá-los em joias deslumbrantes. Porto-as com elegância. O que vivi e que era tão infinitamente interessante. Escapava da vida operária de hoje. Meu front é minha casa e meu trabalho. Luto nos dois ao mesmo tempo. É luta pra caramba. O bom é que há muito tempo não me sinto só no cair da tarde, não sinto medo deste momento.
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