oneshot; kyoxgara

Mar 28, 2007 15:20

Título: Acima do céu
Autora: Mô-chan
Bandas: Dir en grey, Kagerou, Merry e MUCC.
Casal: KyoxGara.
Gênero: Songfic, drama.
Classificação: PG-13
Música: Inverno, da Adriana Calcanhoto. Letra entre [colchetes].
Sinopse: O frio aterrorizante que ele sentia vinha muito mais de dentro de si do que da neve que caía lá fora.

Avisos: Partes sublinhadas são o que o Gara está escrevendo; partes em itálico são flashbacks.
Os asteriscos (* e **) na letra da música são para as explicações que tem no final da fic.

Ni~ya, obrigado por ter betado. ^_______^x

XXX

Gara ficou olhando para a folha pautada, praticamente toda branca, exceto pelas tais linhas negras entre as quais ele escreveria. Tentou organizar seus pensamentos de modo que se concentrasse apenas na carta que pretendia deixar para Tatsurou e Daisuke, mas parecia difícil.

No momento, ele estava pensando em como dirigir-se a eles. Era algo bobo, insignificante perto do que viria depois disso... mas como se tratava da última vez que escreveria, e da última vez em que se comunicaria com seus dois amigos, o vocalista do Merry queria que fosse algo impactante, e que os fizesse rir apesar de tudo.

Então o moreno abriu um pequeno e secreto sorriso, e começou a carta.

Tatá e Dadá,

Eu sei que vocês não vão entender nem aceitar...

Gara franziu o cenho, desgostoso com aquela primeira linha. Mas era assim mesmo; qualquer coisa que ele escrevesse agora soaria estranha e errada.

Talvez fosse porque o motivo que ele tinha era errado. Também sabia disso; mas não havia outro jeito.

...mas eu queria que vocês tentassem. Por favor.

Por mim e pelo Kyo.

Seu lábio inferior tremeu. Obrigou-se então a largar a pena sobre a mesa e reclinar-se na cadeira em que estava sentado, de maneira que suas lágrimas não manchassem a folha de papel.

[No dia em que fui mais feliz]
[Eu vi um avião]
[Se espelhar no seu olhar até sumir]

O avião sumiu no horizonte e o sorriso no rosto de Kyo permaneceu lá, em seus lábios, enquanto ele fitava o mais alto.

- E então? Não mereço um abraço?

Gara fez mais do que atender ao pedido “indireto” feito pelo loiro, e os dois rolaram na grama enquanto a necessidade de ficar perto um do outro os unia outra vez, compensando pela saudade que haviam sentido e por tudo que haviam passado naquele meio tempo.

[De lá pra cá não sei]
[Caminho ao longo do canal]
[Faço longas cartas pra ninguém]
[E o inverno sem você* é quase glacial]

Gara usou a ponta do cachecol para secar os olhos. O grande pedaço de tecido negro simplesmente pendia de seu pescoço, porque o moreno não se dera ao trabalho de enrolá-lo direito para se esquentar. Também devia ter se agasalhado melhor; talvez até pegado um cobertor ou algo assim - mas isso não faria diferença agora.

O frio aterrorizante que ele sentia vinha muito mais de dentro de si do que da neve que caía lá fora.

Gara respirou fundo e voltou a dar atenção à carta, que precisava de uma continuação.

Vocês sabem que é por ele que eu fiz isso.

O moreno fungou, praguejando contra a vontade que tinha de chorar; mas ele já havia feito-o bastante nos últimos dias.

Era só o que ele conseguia fazer desde aquele acidente.

E que eu não poderia fazer mais nada depois do que aconteceu.

Pensem que...

Gara precisava acreditar que o que escreveria agora se tornaria verdade.

...eu já estarei com ele quando vocês lerem isso. Eu estarei bem. E feliz.

[Há algo que jamais se esclareceu]
[Onde foi exatamente]
[Que larguei naquele dia mesmo]
[O leão que sempre cavalguei?**]

Era bom demais pra ser verdade.

Mas Gara sabia; ele sempre soubera que Kyo ficaria ali por pouco tempo - o que não diminuía sua dor e frustração por ter que vê-lo indo embora outra vez.

Outra vez...

- Vem comigo - o loiro disse, beijando sua testa, seus cabelos, suas mãos - enquanto o mais novo tentava buscar conforto entre seus braços tatuados, e também tentava se conformar com o fato de que ele sempre teria de se contentar com um pouquinho só de passageira e ilusória felicidade, para depois voltara encarar a solidão quando Kyo partisse.

- Eu não posso.

Gara sabia que aquela não era a resposta que o baixinho queria; entretanto, era a única que o moreno poderia lhe dar.

- Por quê, Mako-chan? Por que tem que ser assim?

Era a mesma pergunta que vivia perseguindo Gara.

[Lá mesmo esqueci que o destino]
[Sempre me quis só]
[No deserto sem saudade, sem remorso, só]
[Sem amarras, barco embriagado ao mar]

- Eu devia ter ido com você.

Surpreendeu-se ao ouvir a própria voz, em meio ao assustador silêncio da casa. Dissera mesmo aquilo?

Sim, dissera.

- Kyo...

Gara balançou a cabeça e fechou os olhos, que doíam tanto quanto o nó em sua garganta, o vazio de sua alma, a solidão eterna de sua vida.

Não; eterna, não.

Ele acabaria com isso. Dali a pouco.

Amo vocês. E eu sei que ficarão bem sem mim.

Comportem-se.

É idiota, mas eu vou terminar assim:

Abraços,

Mako-chan.

Gara deixou-se rir em meio ao choro, para em seguida cobrir o rosto com as mãos, em prantos. Não que alguém pudesse vê-lo, de qualquer forma; mas quem sabe assim, encolhido contra o próprio corpo, ele pudesse se proteger da própria dor.

Ou talvez não. Provavelmente não.

[Não sei o que em mim]
[Só quer me lembrar]
[Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois]
[Pouco antes do ocidente se assombrar]

Os dedos de Kyo percorreram os contornos faciais de Gara, cujas pálpebras se fecharam enquanto ele encostava sua testa na do outro. Um beijo suave se seguiu, além de um breve sorriso por parte do vocalista do Dir en grey.

- Você vai mesmo tentar vir comigo da próxima vez?

Gara assentiu, abraçando-o. - Prometo.

Era algo que ele pretendia cumprir. E o teria feito, se qualquer que fosse o poder maior que eles não tivesse tornado tal decisão desnecessária.

[Não sei o que em mim]
[Só quer me lembrar]
[Que um dia o céu reuniu-se à terra um instante por nós dois]
[Pouco antes do ocidente se assombrar]

Gara dobrou a folha de papel, pôs num envelope e a deixou sobre a mesa. Colocou o pote de nanquim em cima da carta de modo que esta não voasse, caso algum vento passasse ali quando alguém abrisse a casa.

Ele saiu, ignorando o olhar preocupado de Katsuo, que parecia conhecer as intenções de seu dono.

E o furão estava certo.

[No dia em que fui mais feliz...]

Kyo viria outra vez. Gara estava ansioso pela chegada do loiro; ansioso para contar a ele que, a partir de agora, quando o baixinho fosse embora novamente, ele poderia estar na companhia do moreno sempre que quisesse.

Eles não precisariam mais ficar separados por tanto tempo. Gara chegava a sorrir enquanto andava pelo aeroporto, olhando para as pistas de pouso sempre que o lugar por onde passava permitia.

Mas os únicos aviões que chegaram não traziam Kyo ao seu encontro, porque o avião do loiro havia...

Já que Kyo não pudera vir ao seu encontro e Gara não suportava a idéia de continuar sozinho, ele daria um jeito de ir ao encontro do baixinho.

[...]

Quando Tatsurou e Daisuke leram a carta deixada por Gara, este já estava na companhia de Kyo. E o que ele havia escrito se tornara verdade: o moreno estava bem.

E feliz.

XXX

*No original, a letra seria “E o inverno no Leblon é quase glacial”. Mas eu obviamente tive que adaptar.
**“O leão que sempre cavalguei” faz referência à coragem, geralmente relacionada ao leão, mesmo.

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