Fall

Dec 05, 2007 18:07

Título: Fall
Capítulos: oneshot
Autora: lahy
Beta: Kiira thefrustraded
Gênero: angst
Bandas: Irodori
Pares: Ruri x Kanoe
Classificação: PG
Disclaimer: infelizmente eles não me pertencem ._.
Sumário: "...eu queria morrer assim, coberto pelas pétalas de cerejeiras e saudado pelo canto dos pássaros."



Fall

Eu sentei em um dos bancos do parque, vendo a terceira primavera sem cor. Era um hábito que eu nunca conseguiria perder: Admirar as flores se abrirem coloridas, ver os pássaros planarem, piarem, entrarem em seus pequenos refúgios para alimentar seus filhotes, observar as crianças brincando - mesmo que elas estivessem maiores a cada estação. Deixei que meus olhos se perdessem por aquele cenário; que minha mente voasse com os pássaros e passasse por todos os lugares nos quais eu já havia estado.

Pela primeira vez eu não queria voltar àquele lugar.

Fui trazido de volta por uma bola que encontrou meu tornozelo como obstáculo para continuar rolando. Olhei para o objeto redondo, segurando-o em mãos e procurando seu dono com os olhos. Vi um menino acenar efusivamente, pedindo que eu jogasse a peça fundamental do pequeno jogo de futebol que acontecia ali. Não neguei, nem poderia. Coloquei a bola no chão, chutando para o rapaz e observando com atenção a bola rolar, girando, girando, ultrapassando os obstáculos com pequenos solavancos até chegar ao garoto.

Quanto tempo será que aquela bola poderia agüentar os solavancos antes de ser abandonada por estar rasgada, suja ou velha demais? Mesmo assim, ela ainda seria capaz de rolar, girar e girar para alguém poder se divertir?

Quanto tempo será que eu conseguiria agüentar com aquela dor em meu peito?

Meus devaneios foram cortados pelo toque do celular que mostrava no visor o nome e número de alguém já há muito conhecido. Sorri levemente, atendendo a chamada e só então percebendo que eu estava atrasado.

Aquele não era o dia que eu podia me atrasar.

Apesar disso, eu caminhei sem pressa, sem vontade de chegar. Talvez porque eu realmente não quisesse chegar. Eu poderia inventar uma desculpa qualquer, mas não ia valer a pena. Simplesmente porque eu deveria estar lá, para provar que ele estava feliz.

Um carro parou ao meu lado e o vidro se abriu. A voz familiar me convidando para entrar. Éramos amigos há tanto tempo que eu sabia que ele não questionaria meu silêncio, nem meu olhar perdido enquanto eu observava as pessoas que caminhavam nas calçadas lotadas. Ele não interromperia meus pensamentos que vagavam e divagavam a respeito de tudo e nada. Querendo lembrar, relembrar e esquecer. Eu não queria ser chamado para a realidade que viria e não queria tomar parte dela. Eu apenas queria ficar ali, pensando e pensando, vendo a primavera sombria que aflorava a minha a frente.

Mas eu não poderia ficar apenas como um estranho diante dos acontecimentos que ocorreriam naquele dia. Eu fazia parte do espetáculo, e boa parte das pessoas sabiam disso.

O carro parou, e eu tive bastante tempo até que percebesse onde estava. Olhei para o lado, vendo o sorriso compreensivo de Tatsuya.

- Você não precisa ir se não quiser. - ele me disse e eu apenas pude pensar que eu tinha sorte pelos amigos maravilhosos que possuía.

Educadamente, eu recusei a oferta que ninguém mais recusaria. Talvez porque eu achasse que precisava estar lá. Precisava ouvir cada palavra, ver cada imagem, até que ele sumisse da minha frente enquanto seria saudado por todos. E quem sabe assim, eu conseguiria me livrar daquela dor presente há tantas estações.

Ao sair do carro, fui brindando pelas cerejeiras floridas que derramavam uma chuva de pétalas pelo pátio.

Toda a florada, por mais bela que seja, cai um dia.

Eu parei para admirar o rosa das flores de cerejeira que se derramavam ao chão e, como há muito tempo atrás, eu me abaixei para juntar apenas uma das pétalas, admirando-a enquanto procurava suas cores. Eu sabia que ela era rosa. Eu tinha certeza que uma vez aquelas flores haviam sido rosas. E novamente eu não via nenhuma das cores, elas fugiam de mim e da minha frente, tornando tudo cinza e branco.

Senti os braços calorosos de Tatsuya em torno do meu corpo, abraçando-me com força. Só então percebi que as lágrimas escorriam abundantes dos meus olhos. Agradeci mentalmente por ter, pela primeira vez, um ombro para chorar.

Enxuguei as lágrimas, ouvindo palavras de conforto para me encorajar. O sorriso que surgiu em meu rosto deveria ser tão opaco quanto a última folha a cair da árvore no outono. Mesmo assim, eu agradeci antes de caminhar em direção a sala de espera onde ele deveria estar.

Abri a porta, vendo-o nervoso com toda a situação. Não pude deixar de achá-lo adorável, assim como me achar estúpido.

- Você não precisa ficar nervoso. - sorri da maneira mais verdadeira possível. Não seria eu a nublar o dia de sol que pertenceria somente a ele.

Eu ajeitei seu cabelo loiro e sua gravata, deixando-o impecavelmente belo para aquele momento tão importante de nossas vidas: O desabrochar das flores para ele, a queda da florada para mim.

Olhei novamente para aquele rosto infantil, vendo os olhos castanhos e sem lente completamente marejados.

- Obrigado, Ruri. - as palavras foram baixas e emocionadas, mas o suficiente para acalentar meu coração. E eu tive certeza que ficaria ao lado dele até o fim.

Saí da sala, indo até o lugar que cabia a mim e ao subir os pequenos degraus para me posicionar ao lado de uma moça bonita que faria par comigo, eu pude ver tudo começar a se nublar. Aquela sensação familiar de quando eu estava no palco e tudo se tornava um borrão para eu poder cantar. Tudo se nublava enquanto a melodia daquela antiga canção voltava a minha mente, carregando-me novamente para a escuridão vazia da minha alma.

Meu pequeno devaneio acabou no momento que ouvi as notas tão diferentes. A marcha nupcial iniciava; em minha mente eu não pude deixar de lembrar, a marcha nupcial era também a marcha fúnebre. Não poderia haver música mais perfeita para aquele momento.

A jovem aproximava-se lentamente, com seu sorriso radiante em seu maravilhoso vestido branco. Eu apenas acompanhava com o olhar enquanto a cena acontecia em câmera lenta a minha frente. O vento soprou levemente, fazendo com que as cerejeiras jogassem suas pétalas sobre os noivos que se encontravam no meio do caminho.

Eram as flores caindo.

E a letra daquela música novamente estava ali, na minha mente. As flores, uma bela e momentânea vida. Seria assim sempre. Eles se aproximaram do altar de mãos dadas enquanto meus olhos passearam pelo lindo lugar no qual estávamos. Um casamento ao ar livre era perfeito para alguém tão iluminado quanto ele.

Ouvi fracamente as palavras sobre amor, afeto, amizade, confiança, fidelidade e honestidade. Meus olhos atentos aos noivos enquanto minha atenção estava verdadeiramente voltada ao canto dos pássaros. O maravilhoso canto dos pássaros que me levava para longe daquele lugar terrível.

E eu queria morrer assim, coberto pelas pétalas de cerejeiras e saudado pelo canto dos pássaros.

Mas eu fui obrigado a sair de meu refúgio quando ouvi a pergunta crucial.

Olhei para ele e sua noiva, ambos sorrindo um para o outro.

Fechei os olhos, sem coragem de ver aquele momento, desejando estar surdo para a resposta que eu sabia que viria. Pelo menos, eu finalmente estaria liberto das gaiolas de esperança que me prendiam.

E assim como as flores de cerejeira, eu ia viver outras primaveras.

2007.0512

Nota: Para aqueles que estão acompanhando essas oneshots de Irodori eu pergunto: que tipo de final vocês gostariam? Um angst, um final feliz com Ruri e Kanoe juntos, ou um final mais ou menos feliz com um Ruri pronto para novas coisas? Ou uma deathfic? O que vocês gostariam? XD Eu tenho idéias para vários tipos de finais e saber o que vocês preferem vai me ajudar a decidir mais fácil. Por isso, manifestem suas opiniões e quem sabe seus desejos serão atendidos? xD

E lembrando novamente a ordem cronólogica: Tumbalalaika - Saite Chiru - If I could see your heart - Borrões.

irodori

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