Borrões

Nov 05, 2007 21:12

Título: Borrões
Capítulos: oneshot
Autora: lahy
Gênero: angst
Bandas: Irodori
Pares: Ruri x Kanoe
Classificação: PG
Disclaimer: infelizmente eles não me pertencem ._.
Sumário: E não haverá primavera para o meu amor.



Borrões

Os braços erguidos, as vozes entoando a mesma canção. Todos cantando juntos, enquanto tudo ao meu redor se tornava nublado. Todos eram apenas borrões no tempo a medida que eu cantava cada vez mais alto, tentando passar a mensagem da canção para manchas que apenas se afastavam, mais longes, mais distantes. E eu estava sozinho naquela escuridão vazia.

O som grave foi lentamente me trazendo de volta. Uma nota, duas notas, e eu já podia ouvir os gritos ao fundo. Meu corpo se movimentava sem que eu tivesse controle. Eu podia sentir meus braços se erguendo e abaixando, minhas pernas andando de um lado a outro, os berros.

Mais uma nota grave. E então pude ouvir minha própria voz, cantando, me esgotando, arrancando meus sentimentos de dentro do peito e tentando jogá-los no ar, de maneira que ele visse, ouvisse, percebesse que aquelas palavras eram para ele; que eu cantava apenas para ele ouvir.

Porém, por mais alto que eu cantasse, por mais sinceras que fossem minhas palavras, eu apenas me afundava mais naquela solidão.

Um toque no meu ombro e eu olhei para o lado, vendo meu guitarrista. E então eu estava novamente lá, vendo as pessoas gritando, chamando nossos nomes, pedindo por mais.

Pude ver Dai levantando, jogando as baquetas para frente. Curvei-me, agradecendo não sei o que. Talvez a solidão na qual eu havia sido jogado, talvez o fato de eles entenderem minha canção, se emocionarem com ela. Então, por que eu me sentia tão incompreendido? Talvez porque eu via ao meu lado ele, agradecendo ao público com um sorriso no rosto, abraçando Dai e Itsuki.

- Você esteve perfeito, Ruri. - ele me abraçou e eu senti vontade de chorar, de gritar implorando para que aquela dor passasse.

Eu não quero ser perfeito, eu não quero cantar lindamente, agitar o público, pular, dançar. Eu não quero nada disso.

É tão difícil entender? É tão difícil ver que todas as canções que eu fiz são apenas várias formas de dizer "Eu te amo"? É tão difícil perceber que minhas cores são Kanoe e que as flores são eu mesmo?

Não podem existir flores sem cores. E eu sinto como se fosse uma flor no fim do outono. Secando, caindo, morrendo.

E não haverá primavera para o meu amor. Só a solidão completa que eu sinto quando estou no palco. Será que eu conseguirei fugir disso? Encontrar outra forma senão em função dele?

E mesmo que eu veja, ouça, sinta tudo o que ocorre ao meu redor, eu permaneço sozinho. E é tão cruel, pois a minha felicidade está a dois passos adiante e eu não posso andar. Não posso prosseguir e dizer o óbvio, porque ele simplesmente não quer ver, sentir, viver qualquer um dos sentimentos que eu estou disposto a lhe mostrar.

Tudo isso porque, enquanto eu imploro o seu amor, alimento-me de suas migalhas de atenção. Ele olha para outro lado, seus olhos sempre caindo em outra direção. E por isso eu canto, canto, canto cada vez mais alto na tentativa de fazê-lo me ouvir, me ver, saber que estou ali, aguardando seu amor.

E como não me sentir simplesmente miserável nesta situação?

Não. Eu não estive perfeito, eu não pude fazê-lo me ouvir. Eu não consegui que a única pessoa que precisava ter ouvido minha canção a ouvisse. Sendo assim, eu apenas falhei. Apenas me tornei, para ele, um dos borrões. Como todo o público era apenas um borrão para mim.

E mesmo assim eu continuei cantando, implorando seu amor naquela solidão.

Fim

2007.1105

irodori

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