[Hiphop] Lista dos 50 inde rap must have e o que é Indie rap

Sep 03, 2006 16:40

Nunca tinha ouvido falar numa revista qualquer chamada HipHop Connection, mas a edição deste mês vem com uma lista dos 50 álbuns singles essenciais na área do Indie Rap.

Não sabia que havia assim tantos...

Enfim, não conheço muitos nomes e outros não entram no meu conceito de indie rap... mas no geral, acho que estão todos referenciados e já ouvi ou tenho uma boa parte deles. Como o próprio autor do post diz, pode-se ver que a lista não se refere ao indie actual mas sim à explosão dos anos 90, donde se pode concluir que não há nada da Rhymesayers, DefJux ou Anticon, nem sequer a Ex-Third Earth. Vê-se Dilated Peoples, MF DOOM e Non Phixion (ai... pronto... Ex-Non Phixion D:) que, para um ouvinte indie dificilmente é considerado indie rap.

Isto leva-me a pensar: afinal, o que é o indie rap?

No sentido tradicional do termo, "indie" vem de "independente". Se um artista não tem contracto assinado com uma major, se pelo contrário, vai ser editado por uma editora indepentende, é indie. Daí os nomes como Dilated Peoples e Arsonists na lista dos 50 indies essenciais. Mas com o passar do tempo parece-me que o surgimento das editoras de El-P e do colectivo que preside a Anticon, assim como a Rhymesayers de uma forma menos radical, a etiqueta "indie" começou a tomar contornos de um certo estilo e até postura musical que já nada tem a ver com o tipo de editora a que pertence o artista.

"Indie" começou a ser o estilo de rap que se afasta das ruas, que se pretende libertar da responsabilidade de ser um modelo a seguir para quem anda na má vida, é a faceta mais profissional do Hip Hop. São os mcs que se auto intitulam de músicos, os produtores que não fazem Hip Hop mas música em geral, são as rimas esquisitas em instrumentais esquisitos com flows esquisitos.

Ser indie é ser esquisito.

As diferenças sonoras entre as editoras são mais que evidentes. A Rhymesayers será talvez a mais suave, a que menos entra em choque com o Hip Hop tradicional, artistas como Atmosphere, Brother Ali ou mesmo Eyedea continuam a soar bastante "hiphop" e mantém flows bastante regulares - apenas o conteúdo e estilo das rimas muda nessa direcção indie que mencionei (o caso de Eyedea é um pouco diferente). Boom Bap Project então, de esquisitos têm muito pouco - são, no entanto, um Hip Hop muito mais interessante de ouvir do que o costume da polícia a querer prender os coitadinhos dos traficantes. Atmosphere tem uma abordagem completamente diferente dos temas, não há "bitches" mas sim pequenos diabos que lhes dão cabo da vida mas sem as quais não conseguem passar; Brother Ali tem um rap bem humorado e muito colorido nos instrumentais; Eyedea é o rapaz mais no "Weird Side", com ou sem o DJ Abilities, prima pela originalidade dos temas, do flow e de gostar de rimar depressa e com rimas muito pequenas. E por aí além.

A Definitive Jux faz talvez o meio termo. Tem artistas mais excêntricos e artistas mais comuns (Cage, Cannibal Ox, Camutao, Hangar 18, Mr. Lif, RJD2, Murs, etc), todos eles encabeçados pela dupla maravilha Aesop Rock e El-P. Como este último ex-Company Flow (grupo que faz parte da lista dos 50 indies) produz por aqui e por ali ao longo de quase todas as edições jukies, é de prever que mesmo o mais corriqueiro mc soe meio esquisito. Aesop Rock atingiu sem dúvida o pódium com os instrumentais de El-P que ultimamente se tornam mais "jukie bounce" (como "nós indies" gostamos de dizer), ou seja, estranhos mas com um certo groove, e as suas rimas que conjugam imagens disconexas e nada habituais com encadeamentos de rimas quase sem assunto mas que soam muito, muito fixes. Mesmo RJD2 se destaca dos seus colegas produtores das outras editoras - ninguém confunde RJD2 com Oh No, Alchemist, Edan ou Blockhead. Tem uma sonoridade própria que floresce quando se liberta e se arrisca a experimentar. Samples repetitivos ou orgãozinhos e uma batida com "clap" não dizem nada a este produtor e ainda bem. Cannibal Ox conta com Vast Air, um mc com uma voz inconfundível e uma capacidade para ser ou terrívelmente banal ou terrívelmente genial. Cage já é mais regular, tem melodias menos ao estilo de El-P. Isso não quer dizer que sejam corriqueiras, antes pelo contrário, são apenas mais calmas e sonhadoras, tal como o seu próprio estilo de rima.

A Anticon fica do outro lado, com a sonoridade mais experimental e menos "catchy", com artistas hiphop muito estranhos (Sole, Alias, Pedestrian, Why?, Dose One) e artistas completamente fora do Hiphop (Telephone Jim Jesus, Dosh, Alias & Tarsier, etc). Sage Francis e Buck 65 já pertenceram a esta editora, e enquanto Buck 65 se encaixava bastante bem dentro do estilo "Hiphop muito esquisito", se eu tivisse de escolher uma editora para Sage Francis, seria sem dúvida a Rhymsayers. No geral, os artistas da Anticon, mesmo os mais ligados ao Hiphop, tendem para se afastar do "HipHop" esquisito e ficarem-se mesmo só pelo "esquisito". Isto porque o que torna os Anticons mais difíceis de se ouvir é a parte instrumental - até mesmo o flow arrastado e mutilado de Sole ou o flow anasalado e irritante de Dose One se conseguiriam ouvir normalmente, não fosse o instrumental estar a milhas de distância de qualquer coisa parecida com rap. A Anticon gosta muito dos ritmos não-ritmados, das melodias decompostas e de utilizar ruído ou distorção nos intrumentos/samples. Não é portanto de espantar que a Anticon se afaste cada vez mais do Hiphop, embora Dose One e Sole ainda façam muito parte da comunidade Hiphop.

E é a este "diferente" que os ouvintes indie se referem quando dizem que algo soa a indie ou que é "mais ao lado", apesar de indie ser, ao fim ao cabo, "independente".

Este texto todo não são só ideias da minha cabeça, é o resultado de vérias conversas com outras pessoas, tais como: Nerve, Notwan, Stray, Martinêz... O crédito vai para eles também :)

Ah, e para os interessados em saber de que raio estou a falar, aqui estão os links para os sites das editoras:
Rhymesayers
DefJux
Anticon

indie, opinião

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