sonho

Aug 18, 2010 11:54

Ela ergueu os olhos, os cabelos grudados na testa suados. A luz dos postes e dos carros se contorcia e se esticava em linhas esquisitas. Ela riu. Abriu ainda mais os grandes olhos negros juntamente com os lábios como se estivesse conectados por algum mecanismo escondido dentro das marteladas do seu cérebro. Ela riu, porque naquele estágio alcólico, parecia ser a coisa mais pertinente a se fazer. Alguém riu também. Mais alguém.
Sabe que alguém a pegou nos braços e levou até um lugar barulhento e depois pra um lugar escuro. Era uma voz macia, e ela sempre respondia que não. Sentia pele áspera tentando levá-la pela mão, pele áspera em sua nuca, dedos pontudos na cintura. Ela dizia não sem fazer ideia do que negava, mas parecia mais seguro que sair topando tudo. Viu que vultos foram e voltaram e alguém pareceu conversar longamente, uma voz fininha e monótona, insistente. Uhum, ela dizia Uhum uhum, claro. A pessoa insiste mas ela só quer dançar e ao levantar cai. E bate o queixo em algo, e ela ri do lábio ficando vermelho e bonito. E Alguém a segura por trás e ela tem medo. E as cores e as luzes tremem e ficam mais fracas, e o corpo vai ficando dormente.

Toda noite, a irmã Maria de Anunciação tem esse tipo de sonho. Toda noite ela aguarda esse sonho, esperando o dia que terá coragem de escapar e colocá-lo em prática. Não teve.

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