O Não-Conto sobre a Não-Sereia

Jun 13, 2011 21:11

Ele andava durante o entardecer no calçadão da praia. Estava frio, resultando em poucas pessoas no lugar. Ótimo, era o que ele queria.
Andava de forma desolada, aparentando não saber aonde ia. Porém, também aparentava não buscar um lugar para onde ir. Seu olhar vagava para o mar, voltava triste para seus passos. Às vezes parava suspirava e continuava.
Retirou algo do bolso, apertou. Continuou a andar, parou, sentou-se num banco. Abriu a mão e encarou o cordão. Não era nenhum item único ou perfeito, muito menos parecia caro. Havia um pingente, uma medalha, era o que parecia. Voltou seus olhos para o mar.
De repente parecia ter acordado de seu estupor. Levantou com uma fúria não antes percebida por um observador. Era possível ver lágrimas não derramadas em seus olhos e a dor refletida nelas. Andou de forma desajeitada e rápida movido por sua raiva até a beira do mar. Com dor e remorso jogou a medalha no oceano e olhou enquanto ela afundava.
Ficou um tempo observando o ponto onde a medalha havia sumido, recuperando o fôlego. Desespero e arrependimento povoaram seu rosto e se lançou no mar xingando seus antepassados.
A água estava mais fria e escura do que ele esperava e teve que parar um pouco para se acostumar. Afundou tateando o chão em busca de seu tesouro e teve medo de não mais encontrá-lo.
Estava absorto em sua busca que não sentiu a água se agitar a sua volta. Retornou a superfície para respirar e se preparou para submergir novamente. A escuridão da água se intensificava cada vez mais assim como seu medo, até que avistou um brilho, tão fraco quanto a esperança que se instalou em seu coração. Nadou em direção a ele. Quando se aproximou percebeu uma luz diferente, assustadora. Duas órbitas amarelas estavam voltadas em sua direção. Pulou com um grito mudo voltando para a superfície.
No susto havia bebido água e lutava para expulsa-la de seu pulmão enquanto andava para trás. Esbarrou em algo. Assustado se virou, estava mais longe da margem do que imaginava. Era uma mulher. Sorria para ele de forma sedutora e simpática.
“Você... Você...”
“Olá,” sua voz era melodiosa e convidativa, “você estava procurando por isso?” Ela levantou a mão da água e estava segurando sua medalha.
“Si-sim,” ele não conseguia acreditar em seus olhos, se virou olhando para o horizonte e voltou seus olhos para a mulher ainda recuperando o fôlego, “como... Como você conseguiu...?”
“Sou uma ótima nadadora,” ela cantou sorrindo mais ainda. Ele reparou em seus olhos, castanhos opacos. Não combinavam com aquele sorriso. Nesse momento percebeu no seu cabelo. Era de um branco límpido e resplandecente, com cachos largos que desciam até sua cintura e sumiam na água. Mas...
“Seu cabelo,” ele apontou com uma voz que externava sua confusão, “está seco...” Somente nessa hora reparou que ela estava sem a parte de cima de seu traje de banho, somente seus cabelos encobrindo seus seios. Sua voz sumiu.
“Deve ser um colar importante para você pular na água assim por ele,” ela voltou a falar tirando a atenção de seu interlocutor de seu corpo. Enquanto recitava erras palavras uma onda mais forte passou pelos dois fazendo-a derrubar a medalha que afundou mais uma vez no mar.
Ele olhou perturbado tentando alcançar seu cordão e sua companheira tomou uma de suas mãos na dela, “eu te ajudo a achar,” com mais um de seus irresistíveis sorrisos.
Sem saber o que fazer e sem outra opção, afundou com a mulher, somente para reencontrar os olhos amarelos e ter seu medo desesperador abafado pela água. Dessa vez, não voltou a superfície.

lisie

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