Noite
My dream
is to fly
over the rainbow
so high
Olho-me no espelho e nao me reconheço. Inclino o rosto, procuro algo, uma tentativa de sorriso e a imagem é a mesma. Desisto. Puxo o cabelo do rosto, traço a linha dos olhos, carrego no risco preto, até que no final a imagem ser tao artificial como me sinto. Não importa que não me reconheça, pelo menos ninguem mais o vai fazer.
A musica rodeia-nos e mechemo-nos ao sabor dela. Nao interessa porque, apenas o fazemos, viciados naquele som que nos faz sentir parte de algo.
O copo na minha mão esta quase no fim e nem lembro de o ter comprado. Puxo um trago do cigarro...Quando começei a fumar? Um acaba e puxo outro, quase que num ritmo proprio.
Ajusto a vista a realidade e procuro quem veio comigo. Encontro-os, agarrados a corpos estranhos. Não preciso olhar para saber que é a regra geral na pista. Corpos que se encaixam, que se roçam, bocas que se encontram e linguas que se procuram. Vulgar, simples, sujo, desejado...Tudo se confunde e baralha na minha mente e ja não sei o que penso realmente ou o que me obrigo a achar. Fingir é ja parte da minha vida. Sorriu, tão facil.
Pequenos papeis em cores metalicas caem, levantamos os braços numa adoraçao aos ceus. Ninguem ali esta como entrou, ninguem ali percebe a adoração que fazemos a algo que não vale nada, a algo que no final da noite vai estar pisado no chão, esquecido e sujo, tal como a nossa alma.
O meu copo volta a encher-se e pisco o olho ao barman. Ele sorri para mim e penso que tenho que começar a ir ao outro bar, no lado contrario. Balanço pela pista, as ancas ondulam, o peito revelado pelo grande decote, que nem me sinto confortavel em usar. Passo a mão pela cintura de uma amiga, sorriu para ela e balançamos juntas naquele som. Por um momento sou feliz, por um momento a verdade esta ali ao alcançe dos meus dedos. A musica passa e a verdade tambem. Sinto que gostava de chorar, em vez disso levando o rosto e fixo o tecto. Fico assim no que parecem horas mas nao passam de minutos. Um corpo roça-se por detras de mim. Balanço as ancas ao ritmo do que me pedem. Sinto-me suja. Nao paro e agora as maos apertam a minha cintura, os labios no meu pescoço. Os meus olhos fixam o vazio e o corpo move-se, o controle cedido a outro.
No fina da noite visto o casaco e fecho-o ate ao pescoço. Ajeito o cabelo e coloco um sorriso nos labios. Apanho um taxi e vou para casa. O que interessa o que realmente acho?
My dream
is to fly
over the rainbow
so high