É difícil não gostar de um livro de José Eduardo Agualusa. A sua escrita é irresistível, leve e cheia de bonomia, sobretudo pelos personagens, ágil, colorida e bem-humorada. Tudo caracteristícas presentes em A Vida no Céu, uma história pós-diluviana, em que a humanidade sobrevive em artefactos aéreos, desde os imensos dirigíveis, com nomes de grande cidades, até às pequenas balsas, com nomes de lugares mais secretos. Um fio de aventura conduz a narrativa, que está cheia de boas ideias, como o dicionário nefelibata com que abre cada capítulo. O universo temático é o habitual no autor, nomeadamente o aspecto alegórico, e as referências geográficas são fieis ao mundo onde se fala português. Achei, todavia, o livro demasiado fácil, até um pouco preguiçoso na sua concretização. Lê-se quase como se fosse um simples divertimento, e se é verdade que há divertimentos que resultam em grandes obras, francamente não me pareceu ser o caso. É Agualusa, sem dúvida, e para quem gosta do autor, e muito, como eu, ele cumpre, mas não deixa de provocar saudades por outras obras suas mais substanciais.