the post, call me by your name

Jan 29, 2018 12:47

Fui ver dois belíssimos filmes este fim de semana.

O primeiro foi The Post, a reconstituição que Steven Spielberg fez do episódio dos Pentagon Papers que, em 1971, abalou a administração norte-americana de Richard Nixon, e ajudou a consolidar o jornal The Washington Post como grande órgão de imprensa escrita de dimensão nacional. De resto, o filme termina com uma “ponte” para o célebre escândalo Watergate, novamente desencadeado pelo Post, e que ditou a renúncia de Nixon da Casa Branca.

Spielberg faz as coisas como ele só sabe fazer: grande sentido e economia narrativas, progressão constante da acção, muito rigor no conjunto dos elementos narrativos (a música, como habitualmente de John Williams, a reconstrução do ambiente das grandes redações dos jornais) mas sempre ao serviço da história.

Ajuda muito à eficácia do filme o trabalho da muito notável dupla de protagonistas: Meryl Streep e Tom Hanks são dois actores maduros, com pleno domínio da sua arte, que arrancam aqui dois desempenhos brilhantes (mais ele do que ela, acho eu, já vimos várias vezes Meryl usar recursos que aqui se repetem).

O outro filme visto foi igualmente fantástico: Call Me By Your Name, realizado por Luca Guadagnino, de quem vi aqui há uns anos, um inesquecível Io Sono L’Amore. Tal como este, Call Me... é um filme de grande beleza, com uma luz, natural, que nos inunda de uma sensação de quase transcendência, de grande inspiração. O olhar da câmara sobre a paisagem em redor, sobre os personagens, essa espécie de imanência da beleza que nos resgata o olhar, são, de certa modo, o tema e a essência do filme, o drive que, afinal de contas, conduz o enredo e os seus protagonistas.

O ponto fulcral do filme, e que lhe dá o tom, é a personagem de Elio, desempenhada por Timothée Chalamet, que funciona simultaneamente como objecto do desejo, nosso, do espectador, mas que tem igualmente o seu próprio objecto de desejo, a personagem de Oliver, interpretada por Armie Hammer. A adolescência de Elio e a espantosa (e mesmo perplexa) luz solar da fotografia, são uma e a mesma coisa, e são quem nos conduz através de um romance em que o único sobressalto parece ser aquele que resulta das próprias personagens.

É ainda de notar que o argumento, baseado num romance da autoria de André Aciman, foi escrito por james Ivory, ele próprio um cineasta de grande renome, e que na sua obra não é alheio ao deslumbra da paisagem do norte de Itália, onde a acção do filme decorre.

spielberg, cinema

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