Para assinalar condignamente o último dia de férias, às nove e meia da manhã já estava despachado da inspecção obrigatória ao automóvel (é oficial: o meu carro é velho), e aguardava a minha vez na fila da caixa do intermarché, onde tinha ido comprar alguns produtos de higiene pessoal para levar à clínica onde está o meu pai.
A senhora à minha frente estava a ver os cd’s num escaparate junto à caixa e eu, por reflexo, também olhei. Chamou-me a atenção uma capa fantástica, a ironizar com o célebre disco da banana dos Velvet Underground and Nico, cuja capa foi desenhada pelo Andy Warhol, com um bacalhau amarelo e, usando o mesmo tipo de letra, o título Luso Pop.
Olhei para a lista das 18 canções, a maior parte grandes êxitos dos anos 80, primeira metade. Para além de nomes seguros como os Heróis do Mar, os Rádio Macau ou os GNR, outras pérolas da época, como a Concha, as Doce ou a Anamar, ou ainda o Carlos Paião, o Variações, o José Cid ou a própria Amália. Ao preço de seis euros, claro que comprei o disco.
Prevalecem no alinhamento da antologia dois grandes ‘troncos’ da pop tuga. Por um lado, temas da dupla António Pinho / Nuno Rodrigues, que nos intervalos da música que faziam para a Banda do Casaco, escreviam canções pop irresistíveis, tanto nas melodias como nos arranjos como sobretudo nas letras. O outro tronco foi o da Fundação Atlântico, com temas de Miguel Esteves Cardoso, Ricardo Camacho ou Pedro Ayres Magalhães.
A compilação é da autoria de Rodrigo Affreixo, que escreve o texto de apresentação, e o grafismo genial de Hugo Piteira. O que é quase uma epifania é um tipo de repente constatar que por entre nomes de ’enésima’ linha da pop portuguesa, estão aqui alguns exemplos do que poderá ter sido uma das fases mais criativas da música popular portuguesa. Não sei se a música pop que se fez em Portugal nesta época foi influente ao ponto de se poder dizer que mudou o panorama musical nacional; mas seguramente que não houve muitos mais tempos em que se tenham feito canções tão divertidas e entusiasmantes.
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