o baloiço oscila ao vento

Jul 23, 2005 19:37

O baloiço oscila ao vento.
Eu costumava jogar futebol com os pacotes de leite vazios que sobravam do lanche da escola. Uma vez, por engano, chutei um que ainda estava cheio e sujei as calças. Deu-me para chorar, e aos outros para rir. Ela deu-me a mão e levou-me para a sombra das únicas duas árvores que viviam ali, e nem soube o quão longe elas estavam dos que riam. Ou então soube, e o bem que me fez. Depois passámos a dar as mãos todos os dias. Porque éramos crianças nunca houve sexo. Deve ser por isso que ainda a amo, e também porque nunca mais a vi, e por isso, ao contrário de todos os outros, ela nunca cresceu.
O baloiço oscila ao vento.
Depois os que riam passaram a chamar-nos namorados. Às vezes atiravam-nos uma pedra que nunca acertava e fugiam. Começámos a sair da escola durante o intervalo grande, que era de trinta minutos, acho eu, e desfrutávamos o facto de àquela hora o baloiço do parque estar sempre livre. Às vezes a meia hora passava a uma, ou mais, até que a professora chamou os nossos pais por mau comportamento. O que é que eu andava a fazer com a Helena, perguntou-me a minha mãe à noite. Andamos de baloiço, respondi.
E o baloiço oscila ao vento.
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