Título: Sobre (não) namorados e chocolates
Autora:
hachiCategoria: Bandas
Fandom: the GazettE
Casal: Aoiha
Gênero: Yaoi. Shounen-ai. Comédia.
Classificação: Livre
Sinopse: Nessas horas eu queria poder ser um idiota narcisista e dizer: eu me amo, e isso supera qualquer coisa. Mas o nome já diz ‘idiota narcisista’, um não existe sem o outro. E idiotas narcisistas acabam sozinhos com a própria mão no final do dia. Ou seja, dá tudo no mesmo.
Status: Oneshot
Disclaimer: Não são meus e eu não ganho nada com isso.
Outras informações: Fiz essa fic há tempos atrás, na ocasião do dia dos namorados, era um presente para a minha namorada. Bom, não estamos mais juntas há um looongo tempo agora, entretanto bons momentos me serão sempre valiosos. Exatamente por isso, essa fic será eternamente dela.
[ Sobre (não) namorados e chocolates... ]
[ Run just as fast as I can
To the middle of nowhere
To the middle of my frustrated fears
And I swear you're just like a pill
Instead of making me better
You keep making me ill
You keep making me ill ]
[ P!nk - Just like a Pill ]
Dia dos namorados.
Geralmente as garotas estão em polvorosa nesse dia. Preparando ou comprando chocolates para dar aos garotos dos quais gostam.
Entretanto, essa coisa generalizada não me agrada. Garotas dando chocolates para garotos. E depois, no White Day, garotos retribuindo.
Eu prefiro pensar que você dá chocolates para o garoto que gosta e fim. E é exatamente isso que eu pretendo fazer.
Infelizmente, o problema não é só de gênero. Antes fosse. Não era o fato de eu querer dar chocolates para um garoto. O problema era o garoto para o qual eu queria dar chocolates. Porque todas as outras garotas pareciam pensar exatamente como eu.
Leia-se: no dia dos namorados vou entregar uma caixa de chocolates para o Shiroyama-senpai.
Trágico. TRÁGICO. T-R-Á-G-I-C-O.
Ainda assim, eu não podia nem mesmo culpá-las por isso.
Shiroyama Yuu estava no último ano do colegial. Sorriso perfeito, lábios fartos. Olhos negros, exatamente aqueles nos quais você pode tranquilamente se perder. Cabelos cor de ébano caindo nos ombros de forma desleixada e repicada, emoldurando perfeitamente o rosto de traços fortes e bonitos. Corpo desenhado, olhar arrebatador e sorriso... Ah, e que sorriso!
Deixando meus ataques de lado... Ele também era o capitão do time de basquete. Além disso, suas notas paginavam entre as melhores da escola. Uma mistura perfeita de beleza e inteligência. Ele também tinha sido aceito na classe de Direito da Toudai desde o início do ano.
Ele nem precisava ser gentil, educado e agradável. E, claro, rico. Mas como desgraça pouca é bobagem, ele era tudo isso e mais um pouco.
Resumo da obra: mais inatingível impossível.
Quer dizer, não era como se eu fosse aquele arquétipo clichê de contos de fadas açucarados, sabe? O bonitão e o nerd feioso. O príncipe encantado e o mendigo ferrado. Não. Eu não sou um mendigo, e mesmo não sendo a sétima maravilha do mundo, eu também não era exatamente feioso. Muito menos nerd. Eu sou... Normal.
Aparência normal. Ok, talvez mais magrelo e alto que a média. Cabelos pretos levemente repicados que batiam no pescoço, caindo de forma irregular. Talvez os olhos cor de âmbar chamassem alguma atenção... No máximo.
Sem olhar arrebatador. Sem sorriso perfeito. Sem corpo desenhado.
E eu também era preguiçoso demais pra fazer parte de algum clube e relaxado demais para ter as melhores notas da escola. Sempre andava na média. Às vezes me lascava em física e química. Mas nada irrecuperável.
O problema é que, até pessoas débeis e socialmente excluídas chamam mais atenção que eu.
Pelo menos as pessoas lesadas são notadas. Sabe, quando elas fazem algo ridículo ou quando você não tem mais nada pra fazer nem ninguém pra zoar. Olhar pra pessoas excluídas te faz sentir menos idiota às vezes. Isso até você notar que elas fazem mais sucesso que você.
Meu caso.
O que interessa nisso tudo é o seguinte: Shiroyama Yuu jamais notaria a insignificante, normal e não-nerd presença de Takashima Kouyou. É, esse sou eu.
O calouro parado na frente do próprio armário com um pacote de chocolates caseiros. Eu passei a noite trabalhando neles. Ainda assim, não tinha certeza de que eram exatamente... Comestíveis.
Nada que se compare aos chocolates caros que ele ganharia aos montes daqueles seres peitudos e cheios de maquiagem.
Porque, é claro, tem o fato de que Shiroyama-senpai não tem como ser mais hétero. Sempre com aqueles sorrisos de tirar o fôlego para todas elas.
Carregar o título de ex dele, na minha escola, era MUITA coisa. Só aquelas garotas que davam socos na auto-estima de todas as outras o faziam.
Não que eu visse alguma graça em qualquer uma delas, mas enfim...
O que importava é que naquele exato momento, eu tinha a minha chance. Minha chance de provavelmente levar um fora. Mais de metade da escola já tinha levado um fora dele...
Ao menos, dizem por ai que ele é muito educado ao quebrar corações alheios. Adorável, não? Deve ser o costume e a prática.
E isso tudo me deixa exatamente aqui. O armário de Shiroyama-senpai era próximo ao meu. Foi como eu o conheci. Ok, ele não fala comigo mas... Foi como eu o vi.
Eu já mencionei que ele tem SEMPRE aquele sorriso perfeito, sincero e avassalador nos lábios? Pois é, ele tem. E eu tenho uma réplica idiota, boba e consideravelmente desfigurada nos meus desde que notei isso.
Lembro bem desse dia. Foi quando eu passei a acreditar nessa coisa de amor. Leia-se: o dia em que me ferrei infinitamente e passei a achar a minha vida ingrata. E todas as demais adjetivações dramáticas, poluentes e desnecessárias que pessoas rejeitadas e com dor de cotovelo utilizam.
Por isso esse exato momento, representado pelo agora, me trazia uma espécie de dejà-vú. Eu estava ali, com uma cara de idiota, olhando pra ele, a três armários de distância. Sorriso perfeito e cabelos molhados cheirando a shampoo cítrico preenchendo o ar com o cheiro que eu adorava sentir todas as manhãs.
Era início da manhã, minha oportunidade de falar com ele. Yuu sempre chegava cedo. Eu passei a chegar também desde que tomei consciência disso. Esses poucos minutos na porta do armário representavam meu momento com ele. Mesmo que ele mal se desse conta da minha existência, ao menos ele estava ali.
Respirei fundo. “Shiroyama-senpai, são pra você.” Era só isso. Só cinco palavras. Nenhum bicho de sete cabeças. Eu posso fazer isso.
Peguei a caixa de bombons e dei o primeiro passo decidido em sua direção. Eu já esticava o braço com meu embrulho improvisado quando fui literalmente atropelado.
Gritinhos de “Kyaaa~” podiam ser escutados. Proferidos por vozes gasguitas e esganiçadas. Quatro ou cinco vozes. As mesmas que soaram em uníssono no instante seguinte;
-Shiroyama-senpai, são pra você!
Nesse momento, além de arrasado, eu me senti completamente humilhado. Eu era definitivamente comparável a uma kouhai apaixonada. Até nas palavras.
Na verdade, um pouco pior. Elas são mais corajosas que eu.
Escondi meus chocolates na blusa, pensando sinceramente em jogá-los na primeira lixeira que encontrasse no caminho. Eu não queria ficar ali escutando a voz gentil de Yuu agradecer os chocolates daqueles seres histéricos.
Mas não é preciso ser nenhum gênio para adivinhar que eu passei por mais de dez latas de lixo e não tive o menor impulso de concretizar meus pensamentos.
O que me traz até aqui; final do quarto tempo de aula, logo antes do intervalo, girando o maldito embrulho entre os dedos enquanto o professor falava.
No começo pensei que foi uma coisa racional não ter jogado os chocolates fora. Seria desperdício. E eu poderia comê-los na hora do intervalo com Reita, meu melhor amigo.
Então eu lembrei que - além dos chocolates, muito provavelmente, não serem comestíveis - Reita iria passar o intervalo com o novo namorado.
Além de uma kouhai apaixonada, eu era provavelmente o único encalhado que eu conhecia. Ia ficar o resto do dia sozinho com uma cara de babaca como se na minha testa tivesse um aviso em neon: Idiota rejeitado.
Eu odeio o dia dos namorados.
E odeio ainda mais nesse exato momento. Assim que o sinal tocou, e as portas da sala se abriram, lá estava ele. Encostado na parede aposta à da entrada da minha sala. Aquele jeito despojado que pessoas que são lindas sem precisar de mais nada além de existir tem. E que as deixam ainda mais bonitas.
O mundo não é um lugar pra mim. Vida cruel. Além de me deixar aos pedaços por ai, ele ainda me persegue como uma assombração e... Ok, ele não estava me perseguindo. E muito menos tinha me deixado aos pedaços. Porque pra me dar um fora, primeiro ele deveria estar informado da minha existência.
Impressionante, eu falo, falo e acabo parar no mesmo lugar. A minha não existência no mundo do meu não namorado para o qual eu não darei chocolates porque sou um covarde.
É claro, ele estava fazendo tudo, menos me esperando naquele momento. Suspeita que se confirmou quando não fui eu e sim Ayaname Myu quem correu segurando seu braço. Ayaname Myu, vamos especificar, é uma garota daquelas que tem todas as características acima citadas: o soco no ego e todo o resto.
Oh, e ela também tem o braço de Shiroyama Yuu enroscado ao seu nesse momento. Mas tudo bem, porque eu tenho um embrulho mal feito de chocolates (provavelmente) não comestíveis. Porque eu precisaria de Shiroyama Yuu?
Eu odeio o dia dos namorados. Odeio. Odeio.
Nessas horas eu queria poder ser um idiota narcisista e dizer: eu me amo, e isso supera qualquer coisa. Mas o nome já diz ‘idiota narcisista’, um não existe sem o outro. E idiotas narcisistas acabam sozinhos com a própria mão no final do dia. Ou seja, dá tudo no mesmo.
Então eu me poupo disso e concentro todas as minhas energias no meu mau humor.
E sabe como é, mau humor se acentua quando você não tem ninguém pra descarregar, ou pelo menos compartilhar. E eu preferi não ter. Passar o intervalo com Reita seria passar o intervalo escutando todo o tipo de babação digna de um casal recém formado no seu primeiro dia dos namorados.
Tenha santa paciência.
Hoje eu só queria que o mundo me esquecesse. Eu queria ficar na minha, esquecer as malditas pessoas que andam por ai soltando coraçõezinhos enquanto andam e principalmente...
Shiroyama Yuu. Lá estava ele. No banheiro, assim que eu sai do box. Passando os dedos cumpridos pelos fios negros, completamente alheio a minha presença. Quanto mais eu rezo, mais assombração me aprece.
O embrulho redondo de chocolates parecia pesar uma tonelada no meu bolso quando eu engoli em seco indo para a pia ao lado dele lavar as mãos. Ele não olhou pra mim. Estávamos sozinhos. Eu poderia falar algo como: Por favor, aceite esses chocolates. Parecia menos ridículo.
É, eu faria isso. Abri a boca. A voz não saiu. E eu fiquei lá com a boca escancarada e uma cara de otário com a mão no bolso, apertando fortemente o embrulho.
Além de ruins meus chocolates agora deveriam ser quebrados e mutantes.
Mas pelo menos a minha cara de otário serviu para alguma coisa. Yuu virou a cabeça na minha direção e torceu ligeiramente o pescoço, como quem se pergunta: mas o que diabos deu nesse idiota?
É. Ele não ia querer chocolates ruins e amassados provenientes de um babaca. Abaixei a cabeça e saí correndo. Kouhai apaixonada, encalhada e idiota. A lista anda aumentando ultimamente.
Eu devia ir pra casa. Devia me afogar em sorvete barato de baunilha. Devia bater uma em casa em homenagem ao meu retardo mental e emocional.
Mas não, eu insisto em voltar para a sala de aula e mentir para mim mesmo dizendo que talvez eu ainda tenha salvação, que ainda existe a hora da saída e que não importa o que houvesse, eu entregaria os malditos chocolates para ele!
Agora era uma questão de honra! O problema é que a essa altura do campeonato eu estava mesmo me perguntando se eu ainda possuía alguma...
Porque meu orgulho já estava no ralo há alguns anos luz.
Ok, hora da saída. Se concentre Takashima. Não importa quem esteja com ele, vá lá entregue os chocolates e saia com a cabeça erguida e o que restou da sua dignidade.
Mas a medida que os ponteiros do relógio se aproximavam da saída eu já não estava tão seguro assim da minha dignidade e todo o resto...
Vamos lá. “Shiroyama-senpai, eu ficaria muito feliz se você pudesse aceitar isso.” Parecia melhor. Mais bem formulado. Deveria dar certo.
Um passo. Dois passos. Três passos. E cada passo a mais que eu dava no corredor, rumo a saída do colégio, menos convencido eu estava.
E eu o vi novamente. O paletó do uniforme seguro entre os dedos e jogado sobre os ombros, cabelos já secos e despojados, gravata frouxa e o primeiro botão da camisa aberto...
A quem eu estava querendo enganar? As definições ainda eram exatamente as mesmas do começo do dia. E cá entre nós estava bem claro que não daria certo desde... Sempre.
Ele estava cercado de... Pessoas bonitas, ricas e populares. Garotas daquele padrão previamente citado e caras do time de basquete. E eu continuava sendo Takashima Kouyou. Eu não parecia mais bonito e despojado do final do dia. Eu parecia mais patético com meus chocolates amassados.
A kouhai apaixonada, encalhada, idiota e covarde. E assim fechamos a lista. Eu não vou comprovar minha falta de tato mais uma vez antes de me dar por vencido. Eu já estava vencido e pronto.
Eu odeio mesmo o dia dos namorados.
Era hora de ir pra casa e digerir a minha derrota. Eu era bom em me sentir um fracassado, pelo menos essa parte eu sabia. E na melhor das hipóteses, eu ao menos não tinha levado um fora concreto.
Meus passos eram lerdos e destoados. E eu acabei indo parar na mesma praça de sempre. Perto de casa, com o sol de final de tarde aparecendo alaranjado no horizonte.
Finalmente tirei o pacote circular do bolso, girando entre os dedos enquanto sentava em um banco qualquer. Talvez eu devesse mesmo ter entregado. Pelo menos eu teria uma razão para arrependimento concreto.
Se eu tivesse mais uma chance, acho que teria coragem. Sabe, só pra tirar essa dúvida chata da cabeça. Não que eu achasse que fosse ser diferente do esperado, mas um fora concreto pelo menos me direi: Siga em frente.
E um siga em frente me faria chorar como uma garotinha, mas ao menos me faria parar de ficar estacado naquilo. Pensando nele, sentindo seu cheiro e vendo-o em todos os cantos...
Por exemplo agora, sentado na fonte da praça a alguns metro de distância de mim com um sorriso nos lábios e...
MEU DEUS! Meu deus ele estava ali. ELE ESTAVA ALI.
É agora ou nunca Takashima. Ou vai ou racha. E eu tentei formular palavras como de todas as outras vezes, mas tudo que eu consegui foi marchar na direção dele e abaixar a cabeça sem querer ver o estrago enquanto lhe estendia os bombons.
Mas eu devia mesmo ter olhado. Devia porque assim notaria o sorriso estonteante nos seus lábios.
-Achei que você nunca fosse entregar. - a voz grossa e gentil de Yuu soou.
-Huh? - eu escutei mesmo?
-Bom... Você sabe. - ele deu de ombros enquanto eu me virava para encará-lo. - Primeiro te vi com isso nos armários. Então as garotas chegaram e eu resolvi te esperar na porta da sua sala, e depois no banheiro... Mas você saiu correndo antes que eu pudesse perguntar se você estava se sentindo bem... E como eu sei que você sempre vem aqui... Cá estamos...
“Obrigado, Kouyou. Eu fiquei com medo que fossem pra outra pessoa...”
E então ele sorriu. Um sorriso perfeito que eu sabia que era SÓ meu. Sabia que era só meu, assim como descobri que ele sempre me notou. Que sabia meu nome...
E eu também sorri, completamente desconcertado pela minha falta de tato.
-Quando... Quando eu estou olhando pra você, nunca existe outra pessoa.
E eu sabia que corria o risco de parecer brega e piegas, mas pela primeira vez eu pensava em não calcular as palavras, simplesmente dizer o que eu achava que deveria ser dito. E aquilo era completamente verdade. Eu estava tão perdido nos olhos de Yuu que não notaria nem se mais mil pessoas estivessem ali.
-Feliz dia dos namorados... - ele disse quase sem jeito. - Posso te acompanhar até sua casa?
-É. Feliz dia dos namorados. Sabia que eu adoro essa data?
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N/A: estou passando meu acervo de fics aqui pro LJ, mas nem todas elas eu terei paciência de postas nas comunidades de fic, então se você quiser dar uma olhada no acervo completo, basta ir
aqui no arquivo de fics do meu LJ!