when it rains ;

May 10, 2010 04:27

Sempre que paramos para pensar, descobrimos algo que nos passava despercebido, ou algo que não deveríamos saber. Descobrimos vontades que faziam melhor jazendo escondidas, e medos que não fazem mais sentido uma vez que sejam analisados imparcialmente. Também são encontradas frases antigas, paixões esquecidas, ressentimentos sem-teto, memórias morrendo de fome.

Você pode encontrar tudo, só por parar para pensar em tudo.

Houve um tempo, há muitos anos atrás, em que era tão simples entender as descobertas, que elas figuravam quase inúteis. Havia pouco a ser acrescentado, pouco sobre o que refletir. Havia pouco tempo para compreender as verdades profundas, e elas eram relegadas a cantos esquemáticos da mente.

Alguns dias atrás, remoendo um desses cantos esquemáticos, onde as lembranças se organizam de maneira tão ordenada que parecem catalogadas, surgiu uma verdadezinha incomôda que - e eu poderia apostar muita coisa nesse fato -, assola muitas pessoas. Nós dificilmente conseguimos o que queremos, quando queremos, e da maneira exata como queremos. Todos sabem disso. Mas quase ninguém se preocupa em tentar entender o que isso significa.

Ora, não sou Ph.D nesse tipo de coisa - mesmo que fosse, provavelmente não adiantaria - e não pretendo fornecer respostas a coisa alguma; só lanço a questão. Mas por que não conseguimos ter tudo nesses três parâmetros (onde, quando e como) sem qualquer decepção, ou erro?

Podemos ser científicos. Podemos usar coisas como o Princípio da Incerteza de Heisenberg, numa escala fora de padrões, convenções e - por que não? - talvez até de senso, extrapolando a academia, e dizer que é impossível se obter 100% de qualquer coisa em qualquer coisa, porque 100% é certeza e toda certeza inexiste. Podemos dizer que nossos pedidos e desejos vêm com impurezas que os afastam da perfeição, e que essas impurezas não podem ser removidas. Podemos dizer que a nossa pressa em obter tudo não dá às coisas tempo para virem perfeitas. Podemos dizer que o Universo conspira da maneira como ele deseja, e não da maneira como qualquer um de nós desejaria.

Dom Esteban Lanart já dizia que o mundo continuará como quer, e não como você ou eu gostaríamos.

Honestamente, não sei se acredito em qualquer explicação que já me tenham dado sobre esse fato - e as pessoas que se confrontam com ele sempre tentam achar uma. Adepta de alguma coisa que eu não sei o nome, mas que funciona bem feito a fé, acredito que as imperfeições nos nossos pedidos trazem a graça para esse mundo. Trazem sentido à vida. Clichê? Provavelmente. Eu sou uma pessoa clichê.

Eu queria ter uma vida perfeita - e quem não queria, José?

Admito que não sei o que faria com ela. Admito que provavelmente sentiria falta de cair no chão, me cortar com papel, perder o ônibus. Sentiria falta dos amigos desafinados e dos presentes indesejáveis. Sentiria falta dos pedidos de desculpas.

Pensando bem, talvez eu não queira uma vida perfeita. Só melhor.
O truque é ser melhor.

Hoje é o décimo dia de Beltane. Pela primeira vez, perdi o Festival.
Que a Deusa tenha piedade de nós.

reflexões

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