Título: Sangreal
Autora: Yoko Hiyama
hirenkoiLivro: Harry Potter
Beta:
bela_chanClassificação: Yaoi
Par: Sirius & Remus
Comentários: Universo Alternativo. Baseado nos RPGs de Vampiro, Lobisomem e Mago. Com algumas adaptações livres. Aqueles que não têm intimidade com RPG, não deixem de ler as notas explicativas! ~Missão 30 fics~
Palavras: 2.375
Tema: Comida
Capítulo 6
- Onde pensa que vai, seu maldito Sabá?
Harry ficou paralisado ao ouvir aquela voz bem às suas costas, mais ressentido por estar numa posição desfavorável para um ataque do que por ter sido surpreendido.
Voltou-se lentamente, evitando qualquer movimento muito brusco, até que finalmente pôde visualizar o dono daquela voz tão ameaçadora.
- Oh, é você, Draco? - Harry perguntou, casualmente, mal contendo um pequeno sorriso de satisfação.
O descaso do Tzimisce pareceu irritar o loiro ainda mais, mas ele conseguiu se controlar em tempo recorde.
- Pensei que Dumbledore havia lhe dito para não deixar o castelo. - falou em tom de ameaça.
- Disse, é?
- Você sabe. - Draco rangeu os dentes.
Harry fingiu estar pensativo:
- Sabe, por mais que eu me esforce, não consigo me lembrar dele ter me dito algo parecido. Nossa, que cabeça a minha. - Harry botou a mão na testa, teatral - Ainda bem que você me lembrou a tempo. Nenhum de nós quer um sabá malvado solto pelas ruas, não é verdade?
- Cale-se! Quero ver se você vai continuar bancando o idiota quando estiver na frente de sua Majestade.
- Falando em lapsos de memória, veja só como são as coisas... Quando eu ouvi o seu sobrenome que, presumo, você herdou do seu mestre, senti que ele era estranhamente familiar. - Harry continuou, sem se importar com as ameaças de Malfoy.
- O que está tentando dizer, seu desgraçado?
Potter levantou as mãos:
- Nada... Só estou tentando dizer que a minha memória anda péssima ultimamente. Mas quem sabe com a ajuda de Dumbledore eu consiga lembrar de alguma coisa?
A expressão de Draco pareceu refletir perfeitamente a repentina confusão que se passava em seu interior. O loiro hesitou, visivelmente irritado com a ameaça velada que Potter acabara de lhe fazer, mas logicamente sem saber o que dizer.
Não importava muito. Harry apenas se deixou apreciar aquela bela visão, sem demonstrar qualquer pressa em ouvir a resposta. Por fim, Draco pareceu se decidir e, avançando um passo, segurou a camisa do Tzimisce, puxando-a furiosamente, quase ao ponto de rasgá-la.
“Nunca olhe nos olhos de um vampiro” (1). - A voz do mestre de Harry surgiu em sua cabeça numa lembrança tão vívida que parecia que estava ouvindo aquele conselho naquele exato instante. E por mais que desejasse se deliciar com o ódio daquele Ventrue arrogante, Harry apenas segurou as mãos que o tornavam cativo.
- E então... o que me diz de esquecermos as adversidades? - Harry sugeriu, enquanto sua mão acariciava as de Draco, ainda presas em sua camisa.
Draco empurrou o vampiro e deu dois passos para trás, furioso.
- Não pense que você vai conseguir se sair tão bem assim.
- Eu prometo. - Harry respondeu, divertido, enquanto via o vampiro desaparecer pelo interior do castelo.
Draco não quis falar com ninguém pelo resto da noite. Estava perturbado demais com as palavras de Potter e tinha muito o que pensar sobre elas. Bateu a porta do quarto com força, começando imediatamente a andar de um lado pro outro.
Antes de tudo, deveria manter a calma. Era grande a possibilidade de que Harry estivesse apenas blefando. Mas por outro lado, Draco duvidava muito que aquele Sabá houvesse tirado aquela idéia do nada.
O loiro estava certo de que Harry sabia de alguma coisa e ele tinha que descobrir de alguma forma o quanto aquele maldito vampiro sabia antes de tomar alguma atitude precipitada.
Segurou a mão que há poucos minutos havia sido acariciada pelo Tzimisce.
- Maldito! - Draco rosnou de ódio ao lembrar da satisfação que aquele vampiro sempre demonstrava, zombando dele daquela maneira.
Estava tão entretido em amaldiçoar Potter que demorou pra perceber que as costas de suas mãos pareciam estar bem mais macias (2)...
Apesar das duas semanas de viagem para chegar naquele lugar isolado, Sirius não se sentia nem um pouco cansado. Alguma coisa naquela floresta o deixava relaxado e satisfeito. Seu sangue Gangrel o fazia apreciar lugares como aquele.
Sentindo-se em casa, o vampiro em forma de cão negro andava com naturalidade, já farejando os primeiros vestígios de presença humana desde uma pequena aldeia mais ou menos próxima pela qual havia atravessado na noite passada apenas para se alimentar. Apesar de já estar acostumado a se alimentar do sangue de animais durante suas viagens, ele não dispensava o gosto humano sempre que a oportunidade surgia.
Depois de mais algumas horas de caminhada ligeira, o cão aproximou-se sorrateiramente do seu destino final.
Estava disposto a conhecer melhor o território antes de simplesmente se apresentar àqueles magos. Então, aproximou-se do local com muito cuidado, usando as árvores e arbustos como esconderijo.
A primeira pessoa que viu foi um rapaz forte, de cabelos pretos revoltados e o peito nu e suado. Estava com um enorme machado na mão, aparentemente pesado demais e cortava grandes toras de madeira. Sirius sentou-se, considerando-se bem escondido o suficiente para observar o trabalho do mago.
O rapaz posicionou um toco na posição vertical e levantou o machado, quebrando com agilidade a madeira em duas partes. Ao final, recolheu os pedaços de lenha, jogando-os sobre uma enorme pilha bem ao seu lado. Após isso, o rapaz ajeitou os óculos que haviam deslizado para a ponta do nariz, limpou a testa suada com o braço e virou-se na direção de seu esconderijo, com um sorriso:
- Bem vindo.
Um barulho prolongado perturbou os sonhos de Sirius, ao mesmo tempo em que gotas de um líquido quente pingavam sobre o seu rosto. Incomodado, o Gangrel forçou-se a abrir os olhos, ainda muito sonolento e confuso.
Um enorme lobo estava bem em cima de seu corpo, rosnando de forma prolongada e ameaçadora. As presas tão expostas que o bicho chegava a babar em cima dele.
- Merda! - conseguiu se movimentar antes do bicho, evitando por pouco que seus dentes enormes se enterrassem em sua garganta.
Sem perder um segundo, Sirius se desvencilhou do animal, transformando suas duas mãos em enormes garras negras, utilizando-as para escalar as paredes da casa.
- Acorde, seu lupino idiota! Não sou seu inimigo! - Sirius gritou, bem preso ao teto do quarto. A resposta que ganhou veio na forma de rosnados ainda mais ameaçadores.
Definitivamente aquele bicho não estava pra brincadeira. E pra provar isso, ele já estava equilibrado em duas patas, arranhando a parede na tentativa de alcançar as pernas de Sirius a qualquer custo.
- Certo... Então você quer brigar, seu lobinho pulguento? Muito bem... Suba aqui, suba!
Sirius não precisou pedir duas vezes. Dois segundos depois e o lobo dava um pulo alto o suficiente para, com uma patada só, lançar Sirius do teto para o outro lado do quarto. Ato contínuo, o lobo se jogava em cima dele, sendo recebido pelas garras do vampiro, que arranhou profundamente seu peito de cima baixo, fazendo-o uivar de dor.
Ainda atordoado pela pancada que sofrera, o vampiro aproveitou o fato do outro ter levantado um pouco o tronco para tentar sair debaixo dele, mas quando estava prestes a se libertar, sentiu um forte puxão no seu tornozelo.
- Arght! - Sirius gemeu quando Remus o puxou com os dentes, trazendo-o para mais perto de si.
Foi com imenso desprazer que Sirius notou que a ferida que tinha acabado de causar no oponente já estava se curando com uma velocidade espantosa. Tentou renovar o ferimento com um golpe similar, mas dessa vez Remus foi mais rápido e reagiu com uma patada ainda mais forte do que a primeira que havia levado, quando ainda estava preso no teto. Sirius sentiu como se seu corpo não tivesse peso algum, tamanha a velocidade com que foi lançado pelo ar, só sendo aparado por uma escrivaninha antiga que se partiu em pedaços com o seu peso.
Um filete de sangue deslizou pela testa do vampiro, que novamente sentiu seu tornozelo ferido sendo puxado pelos caninos do lobo, sem a menor gentileza. Remus o arrancou do meio dos escombros do móvel, atirando seu corpo no chão com toda a força, a ponto de fazer com que Sirius cuspisse sangue. Pra terminar, subiu sobre o peito do desnorteado vampiro, rosnando possessivo sobre sua presa antes de se abaixar para morder-lhe o ombro direito.
Alucinado pela dor, Sirius golpeou desesperadamente o dorso do animal rasgando-o com suas garras, porém sem forças para afastar a mandíbula lupina.
- Aaaaaah! Remus, seu desgraçado! Controle-se! - Sirius gritou ao ver que o lobo puxava um pedaço de sua carne, destrinchando-a sem maiores dificuldades.
Remus não parecia prestar atenção a nada, nem parecia notar as garras do outro enterradas nas suas costas. Tudo que importava naquele momento era o sabor da carne de Sirius. Foi somente quando o lobo levantou a enorme cabeça para uivar um festejo que o vampiro aproveitou a oportunidade e reuniu o que restava de suas forças para se transformar num enorme cão negro, na tentativa de se afastar do seu agressor com mais facilidade.
Porém, a mudança do vampiro pareceu criar uma reação inesperada. O lobisomem olhou para o outro por alguns segundos e então aproximou o focinho de seu pescoço para farejar, desconfiado. Sirius rosnou pra ele, incomodado com aquela tentativa de reconhecimento e ao mesmo tempo desorientado pela dor produzida por suas feridas, mas Remus não pareceu se importar. Segundos depois, com uma fungada mal-humorada, o lupino deixou-se desabar no chão, bem ao lado de Sirius.
O vampiro não teve muito tempo pra pensar no milagre que tinha acabado de acontecer, salvando por pouco a sua pele. Apenas fechou os olhos, sem forças sequer para se afastar.
- Draco. - Lucius se surpreendeu ao ver sua cria surgir na porta do seu escritório - Pensei que você estivesse no castelo de Dumbledore...
- Não teve aula hoje. - Draco respondeu, aparentando indiferença - Resolvi passar aqui pra pegar algumas coisas.
- Sim... - Lucius se deu por satisfeito com aquela resposta, mas antes que Draco lhe desse as costas, o vampiro o chamou novamente - Ah... Draco?
- Sim?
- Não tem nada pra me contar?
Draco estreitou os olhos imperceptivelmente:
- Sobre o quê, precisamente?
- Sobre aquele Sabá infiltrado no nosso território...
- Ah... - Draco finalmente pareceu se dar conta do que seu mestre queria saber - Nada de interessante, ele é esperto demais pra mostras as asinhas tão fácil.
- Certo. - o ancião Ventrue respondeu, pensativo - De qualquer forma, fique atento. E não deixe de me contar absolutamente nada.
- Claro que não, senhor. - Draco respondeu - Posso ir agora?
- Sim, vá.
Draco fechou a porta do escritório e se dirigiu pro seu quarto, aproveitando a solidão dos corredores para convocar mentalmente seus servos, os quais vieram a seu encontro imediatamente, como não deveria deixar de ser.
- Senhor. - dois carniçais (3) se curvaram com veneração perante seu mestre.
- Entrem. Não temos muito tempo. - Draco respondeu secamente - Ouçam bem, Crabble e Goyle. Eu quero que vocês dois acompanhem de perto todos os passos de Lucius. Não importa como vocês vão fazer isso, apenas façam. Eu quero saber absolutamente tudo! Com quem ele falou, quando saiu e pra onde foi, sobre quem conversou... Vocês estão entendendo?
- Sim, senhor. - os dois responderam em uníssono.
- Não quero falhas. Juro que arranco a cabeça de vocês se falharem. - Draco ameaçou, rangendo os dentes - E agora vão embora.
Uma longa reverência e os dois carniçais se afastaram. Draco balançou a cabeça e entrou no seu quarto, jogando algumas peças de roupa numa sacola para que seu mestre não o visse sair dali de mãos vazias e, não antes de se despedir, retornou ao castelo de Dumbledore.
As palavras de Harry acerca de Lucius não lhe saíam da cabeça. E Draco definitivamente descobriria se elas eram ou não verdadeiras.
Remus foi o primeiro a acordar depois de horas de sono intranqüilo e repleto de pesadelos.
Levantou a cabeça assustado ao perceber que estava deitado sobre Sirius, e que ambos estavam nus, feridos e imundos.
O quarto todo parecia ter sido palco de uma verdadeira guerra. Não havia nada mais do que destruição para todos os lados. As paredes pintadas de branco estavam manchadas de sangue e marcadas pelas suas unhas. No teto havia um grande buraco feito pelas garras metamorfas de Sirius quando este se segurara de cabeça pra baixo. Remus lembrou-se da ameaça estúpida feita pelo vampiro que só servira pra acabar de vez com qualquer possibilidade de controle que ele viesse a ter sobre seu lado lupino.
Gastou alguns segundos olhando atentamente para o vampiro adormecido. Sirius com certeza precisaria de um longo banho para limpar todo aquele sangue pisado e de mais algumas horas para se curar de um ferimento particularmente feio no ombro, mas nada que pusesse em risco sua não-vida. Remus por sua vez ainda sentia as costas arderem onde as garras de Sirius haviam penetrado mais profundamente, mas sabia que aquele tipo de ferimento não era nada pra ele.
Apesar da violência da briga da véspera, felizmente nada de muito grave acontecera além de um quarto destruído. Mas poderia ter sido diferente, eles poderiam ter se matado. Fora uma sorte terrível que Sirius tivesse se transformado em cão. Aquilo tinha sido providencial para acalmar o lobo, dando-lhe tempo suficiente para que Remus tivesse a oportunidade de retomar algum controle sobre suas ações.
Remus suspirou. Esperava que Sirius pelo menos tivesse aprendido a lição e que da próxima vez ao menos tentasse dar ouvidos a ele. Com esse pensamento, reuniu algum ânimo para apoiar as mãos nuas no chão e levantar o corpo, disposto a deixar o quarto para pegar qualquer um esfregão, um balde e qualquer coisa que servisse para limpar toda aquela sujeira, mas foi surpreendido pelos olhos arregalados de Sirius.
- Sirius? - Remus logo percebeu que havia algo de muito errado com ele, seus olhos pareciam alucinados, famintos, era como se eles buscassem alguma coisa em seu corpo. Tentou recuar, mas dessa vez o outro tinha sido mais rápido e antes que o lobo tivesse a oportunidade de piscar os olhos, o vampiro já o prensara contra a parede, sua língua lambendo seu pescoço de uma forma quase indecente.
Continua...
(1) Um sábio conselho, não se pode ter dúvidas. Alguns vampiros possuem uma disciplina chamada Dominação. Um Vampiro ou humano dominado não é nada mais do que um fantoche, ainda que temporariamente, se vier a cair vítima desse poder. O único problema é que é necessário contato visual para que o ataque mental seja bem sucedido.
(2) Vicissitude, baby!
(3) Carniçal - escravo humano de um vampiro. Depois de provar do sangue vampírico por 3 vezes consecutivas, um humano fica inevitavelmente preso ao seu mestre, sendo impossível pra ele desrespeitar suas ordens. Um vampiro pode convocar um carniçal mentalmente, sem necessidade de usar Dominação. Além disso, se tomar do sangue regularmente, o envelhecimento desse humano é retardado. O carniçal também herda alguns poderes de seu mestre, ainda que diminutos.
Carniçais são muito úteis, principalmente para proteger o refúgio do vampiro de ataques durante o período da manhã onde ele dorme, praticamente indefeso.
Lobisomem “Rowling” x Lobisomem “RPG”
Acho que é importante fazer um breve apanhado sobre esse assunto para que os leitores compreendam um pouquinho a respeito das minhas escolhas para esta fic. Pra começar, esclareço que, ao contrário do que acontece em HP, os lupinos do RPG não “nascem” quando um lobisomem morde um ser humano. No RPG, a licantropia é transmitida geneticamente. Foi esse o critério, aliás, que preferi adotar nessa fic por um motivo muito simples: não sou muito fã dessa idéia da Rowling de que ser um lobisomem é uma maldição terrível. Lobisomens são legais. Eu gosto deles. :x
Também decidi ser fiel ao RPG quanto ao fato dos lupinos poderem se transformar quando bem entenderem. E mais: eles têm várias formas possíveis, algumas delas muito poderosas. (Na forma Crinos por exemplo, o lobisomem chega a ganhar mais um metro de altura, além de uma massa corporal estúpida. Se Remus tivesse tido a péssima idéia de usar essa forma durante a batalha com Sirius, eu teria que terminar esta fic aqui).
Por outro lado, resolvi adotar a versão da Rowling quanto ao detalhe do Remus ficar mais calmo quando o Sirius estiver na forma animal. Até parece que um lobisomem do RPG ia deixar um vampiro escapar só porque ele se transformou num cachorrinho. Também acho que aliviei bastante a “fúria” lupina. Tudo com a intenção de tornar a história mais plausível.
Por enquanto é só isso. Talvez eu tenha que voltar a tocar nesse assunto mais adiante, entretanto...