"True Detective" é uma série de TV sobre a investigação de assassinatos de rituais satânicos conduzidos por homens misteriosos. Enquanto que a temporada tenha terminado de certa forma um tanto direta, o excesso de símbolos e referências salpicadas ao longo dos episódios mandavam profundas mensagens sobre forças influenciando sutilmente a sociedade. Vamos observar o significado mais profundo da primeira temporada de "True Detective".
Tomando como cenário os sertões pantanosos de Louisiana, True Detective capturou a atenção das audiências com personagens interessantes e atmosfera obscura. Pelos oito episódios, o seriado acompanhou dois detetives ao ponto que desvendavam uma série de assassinatos ritualísticos cujos rumores apontavam serem conduzidos por homens ricos e poderosos. Enquanto que, semana a semana, fãs da série ficavam obcecados com pequenos detalhes na esperança de "desvendar o caso", a série acabou de forma meio simplória: o assassino era o estereótipo de um caipira sujo e maluco que fora identificado pelos detetives em episódios anteriores. Portanto não houve nenhuma reviravolta no enredo (exemplo: um dos detetives estava por trás de tudo) ou conspirações de alto nível. E isso deixou muitos fãs, de certa forma, desapontados.
No entanto, revisitando as referências, o simbolismo, e os diálogos enigmáticos passados em cada um dos episódios, alguém certamente se perguntaria porquê alguns aspectos da história (exemplo: A vida familiar de Marty Hart) se desenvolviam tão extensivamente, apesar de não possuírem relevância quanto ao desfecho da investigação. Será que, por meio das histórias alternativas, a série estava tentando comunicar algo que ia além da investigação? Algo que englobe a todos nós?
Apesar da conclusão precipitada da história, há uma mensagem mais profunda comunicada por meio da série: Que rituais de assassinatos não eram simplesmente fruto da mente doentia de caipiras solitários - elas são resultado de uma mentalidade pré-estabelecida que rebusca de diversas gerações passadas e afeta todos os aspectos da sociedade. Esse conceito pode ser resumido em: “atmosfera psicótica" - palavras que o detetive Rustin Cohle usa no primeiro episódio. Por variados símbolos e mensagens, True Detective nos mostra como a obcessão doentia da elite se infiltra, por fim, na vida cotidiana das massas.
Vamos analisar a premissa da história.
A Premissa
A série começa com a descoberta do corpo de uma jovem garota, exposta de forma ritualística.
A mulher foi encontrada nua, amarrada, com marcas de facada no estômago. Ela está usando uma "coroa de chifres" e galhadas na cabeça
Nas costas dela está tatuada uma espiral, o símbolo do grupo que está cometendo os assassinatos
Rapidamente as autoridades concluem que foi um assassinato de ritual satânico. Rustin Cohle descreve o autor como "metapsicopata".
❝É uma representação fantasiosa, um ritual, um fetichismo, uma iconografia. Essa é a visão dele. O corpo dela é um mapa de amor parafílico - Um acessório de luxúria física para fantasias e práticas proibidas pela sociedade❞.
Depois da autópsia, os detetives descobrem que a vítima foi drogada, amarrada, abusada, torturada com uma faca, estrangulada e exposta do lado de fora, para que o mundo visse. Resumindo, agrega todos os sinais de um mega-ritual de Abuso de Ritual Satânico.
Ao redor do corpo estão estranhos triângulos feitos de gravetos.
Um reverendo conta aos detetives que estas coisas são "redes do diabo" e que são usadas "para pegar o diabo antes que ele se aproxime".
O reverendo acrescenta que ele pensava que essas redes do diabo eram apenas "algo paras as crianças fazerem, mantê-las ocupadas, contar estórias sobre o porquê de atar gravetos". Enquanto o reverendo diz essas palavras, a câmera dá zoom em outro conjunto de gravetos amarrados juntos.
Conforme o reverendo fala sobre as redes do diabo serem "Estórias para manter as crianças ocupadas", a câmera focaliza em uma cruz feita de duas ripas presas juntas - implicando que religião pode ser "estórias pra crianças". Isso também prediz a conexão entre as redes do diabo e os líderes da igreja de Louisiana.
Rustin Cohle e o ambiente psicótico
Protagonizado por Matthew McConaughey, Rustin Cohle se classifica como um realista ou, em termos filosóficos, um "pessimista". O mínimo que alguém diria é que ele tem pouca fé na humanidade e que ele não entende as construções acerca dela - incluindo a religião.
❝Acho que a consciência humana foi um erro trágico na evolução. Nos tornamos muito autoconscientes. A natureza criou um aspecto seu separado de si. Não deveríamos existir pela lei natural❞.
Como um "pessimista" que odeia a humanidade em geral e um texano trabalhando em Louisiana, Cohle é um eterno estranho no ninho. Ele tem, de fato, tendência a ver o mundo por uma perspectiva externa, quase como se ele fosse uma figura transcendental. Para acentuar esse fato, Cohle aparenta ter uma espécie de sexto-sentido - beirando a percepção extra-sensorial. - que se manifesta durante a investigação. Ele tem visões, ele "lê" as pessoas em poucos segundos, e ele pode até sentir o "gosto" das cores.
Logo no primeiro episódio, Cohle diz ao seu parceiro uma frase que resume a mensagem principal de toda a série. Enquanto estão dirigindo pelas estradas de Louisiana, Cohle se refere a um conceito obscuro que tem grande influência em círculos de ocultismo.
❝Sinto um gosto ruim na boca quando estou aqui. Alumínio, cinzas... é como se sentisse o cheiro do ambiente psicótico❞.
Ambiente Psicótico
O termo ambiente psicótico não é muito comum na linguagem inglesa. Ele origina da literatura de ficção científica de autores como Roland C. Wagner e H. P. Lovecraft - O criador da estória de Cthulhu.
"Ambiente psicótico" pode ser definido como um "círculo de consciência humana" e tem suas raízes no conceito "inconsciente coletivo" de Carl Jung. Basicamente ele afirma que todos os pensamentos que passam pelo cérebro humano são "convertidos" pelo neo-córtex e projetados pra fora em dimensões etéreas. Portanto humanos vivem em uma "atmosfera de pensamentos", um conceito que também é citado como "noosfera" por Vladimir Vernadsky e Teilhard de Chardin. De acordo com eles, a existência do ambiente psicótico faz com que os humanos sejam forçados a reagir a idéias similares, mitos e símbolos.
Embora seja referido por outros termos, o conceito do ambiente psicótico é importante em círculos de ocultismo que conduzem mega-rituais para influenciar o "consciente coletivo" - muitas vezes com fins perversos.
Em 1940, o poeta e diretor de teatro francês Antonin Artaud preveu a chegada dos mega-rituais do ocultismo na mídia. Artaud era adepto de diversas doutrinas de ocultismo e muito ciente dos poderes de transformação de rituais de grande escala: ele criou o terrível "Teatro da Crueldade" que pretendia mudar profundamente a audiência. A respeito da conferencia da mentalidade em grupo, Artaud escreveu:
❝Tirando a bruxaria medíocre de feiticeiros do país, existem truques de
hoodoo universal no qual toda a consciência alertada participa periodicamente... É assim que forças obscuras são despertadas e levadas à cúpula astral, ao escuro domo composto acima de tudo da... agressividade venenosa das mentes más da maioria das pessoas... à formidável opressão de uma espécie de magia cívica que em breve surgirá sem disfarces.❞
Pesquisadores de ocultismo diversas vezes identificaram assassinatos ritualísticos como rituais em massa feitos para chocar e perturbar o ambiente psicótico.
❝[Alguns assassinatos] são rituais envolvendo uma seita protegida pelo governo dos Estados Unidos pelas grandes corporações, com forte aliança da polícia.
Tais crimes são, na verdade, cerimônias meticulosamente coreografadas; feitas primeiramente de forma um tanto íntima e secreta entre os próprios iniciados, visando programá-los para que, quando então em grande escala, ela cresça desenfreadamente pela mídia eletrônica.
No final o que temos é uma transmissão ritualística e simbólica feita para milhões de pessoas, uma transposição satânica; uma massa Negra, onde os bancos das igrejas estão lotados com toda a nação e pelo qual a humanidade é brutalizada e degradada nisto, a fase "Nigredo" do processo alquímico.❞
- Michael A. Hoffman II, Secret Societies and Psychological Warfare
É disto que True Detective realmente se trata.
Rustin Cohle, que tem uma tendência à percepção extra-sensorial, afirma que ele pode "sentir o cheiro do ambiente psicótico" e que ele tem "gosto de alumínio e cinzas". Em outras palavras, o ambiente do pensamento humano em torno da cena do crime não é nada além de tóxico e podre. No entanto, sendo ele mesmo parte deste ambiente, Cohle não pode evitar estar envolvido e, de certa forma, até aceitar isso.
Nas cenas do "presente", Cohle bebe latas de cerveja e fuma cigarros... alumínio e cinzas. Enquanto que, quinze anos atrás, Cohle sentia nojo do gosto do ambiente psicótico, o mesmo agora é parte dele.
O primeiro assassinato ritualístico descoberto em True Detective foi propositalmente encenado para atrair a atenção das massas. Não foi somente uma manifestação física do pútrido ambiente psicótico, mas também uma tentativa de afetar este massivamente. Esses mega-rituais são encenados de propósito para chocar e traumatizar as massas, que coletivamente mandam estes pensamentos ao ambiente psicótico, criando o tipo de ambiente na qual a elite oculta se deleita.
Durante a série, uma imagem aparece em diversos lugares e por diversas pessoas: cinco homens ao redor de uma garota. Este "pentagrama de homens" representa a elite oculta abusando de uma criança de forma ritualística. Pelo ambiente psicótico, o mundo parece estar a par disso, quase que inconscientemente.
Os detetives encontram um vídeo de uma garotinha sendo abusada e sacrificada pelo cinco homens mascarados. O fato de que o ritual foi filmado representa a propensão da elite em criar material "snuff".
Enquanto visitava a casa de uma mulher cuja filha desapareceu misteriosamente, Cohle nota uma foto emoldurada de uma garota cercada de cinco homens mascarados.
Audrey, uma das filhas de Marty Hart, posiciona cinco bonecos cercando uma boneca sem roupas. Mais a frente veremos como esse personagem está subitamente conectado aos rituais.
Ao passo que contava sua história aos agentes, Rustin Cohle transforma estranhamente cinco das latas de cerveja em cinco homenzinhos e os coloca em círculo. Estaria ele inconscientemente dizendo aos detetives que ele nunca conseguiu capturar os verdadeiros culpados - o pentagrama de homens?
Por meio de símbolos, a série nos diz que o ambiente psicótico está perturbado pelos rituais da elite e que seus efeitos passam através da realidade das massas. No entanto, esses efeitos não são apenas simbólicos: eles influenciam a moral da sociedade, seus valores e comportamento. Isso é representado pela evolução da família de Martin Hart.
Martin Hart e sua família
Contracenado por Woody Harrelson, Martin Hart é absolutamente o oposto de Rustin Cohle. Um breve olhar no nome dos personagens dá uma boa idéia da mentalidade de ambos. O nome Rustin Cohle soa como "rust (ferrugem) e coal (carvão)" - dois materiais associados ao tóxico e ao decadente - o que representa sua visão do mundo. Em contraste, o sobrenome de Martin Hart soa como "heart (coração)" - o órgão muscular que mantém as pessoas vivas. Longe de ser isolado do mundo material, como Cohle, Martin vive intensamente as aflições e sofrimentos emocionais da experiência humana. Como a maioria dos humanos, ele também é profundamente defeituoso. E embora se considere cristão, ele possui tendência ao adultério e a violência.
No entanto a evolução de sua família é que causa maior impressão. Enquanto a mesma não possui nenhum vínculo com a investigação principal, a série passa grande parte do tempo descrevendo seus avanços. Mais do que um mero "desenvolvimento de personagem", a família Hart representa como cidadão comuns são, enfim, afetados pelo imundo ambiente psicótico e pela depravação moral daqueles que a governam.
Apesar de Audrey, filha de Marty, não aparentar ter conhecimento ou contato com aqueles que conduzem os rituais, ela parece ser profundamente afetada por eles, mesmo assim. Como visto acima, Marty encontrou a filha brincando com bonecas que pareciam recriar o "pentagrama de homens". Mais tarde, ele encontra um caderno cheio de desenhos decepcionantes.
Um dos desenhos sexuais feitos por Audrey mostra um homem mascarado tocando uma mulher cujas mãos estão atadas em suas costas.
Em outra cena, as filhas de Marty aparecem usando uma tiara com fitas - que remete à coroa satânica de galhadas com fitas, colocada nas vítimas durante os rituais.
A tiara acaba presa em uma árvore, não muito diferente das vítimas dos rituais.
A sujeira do ambiente psicótico parece afetar o comportamento de Audrey e sua própria alma. O avô dela prevê seu futuro enquanto conversa com Marty sobre "as crianças de hoje em dia".
❝Eu vi as crianças de hoje. Todas de preto, usando maquiagem, cheias de porcarias no rosto. Tudo é sexo!❞
Enquanto Marty basicamente ignora essas palavras como se fossem ladainhas de um velho, Audrey eventualmente cresce e se torna exatamente aquilo que seu avô havia dito.
Audrey, vestida de preto e com maquiagem no rosto. Nessa cena, ela foi pega pelo pai fazendo sexo com dois rapazes em uma caminhonete. Isso fez Marty chamá-la de "vadia".
A transformação de Audrey de garota inocente à adolescente promíscua representa como a depravação e a imoralidade da elite oculta afetam a população inteira no final das contas. Mesmo ela não sendo uma vítima direta da elite oculta, ela é uma vítima indireta pela sujeira do ambiente em que cresce. Nós descobrimos mais tarde que, quando adulta, Audrey "esquece de tomar seus comprimidos", implicando que ela tem problemas mentais e que foi indiretamente traumatizada por esse contexto. Portanto, por vários meios, a série mostra como o ambiente psicótico é propositalmente perturbado no intuito de criar uma geração moralmente perdida.
Vamos dar uma olhada agora no grupo secreto por trás de tudo isso.
A Espiral - Representando a elite oculta da "vida real"
Conforme o progresso da investigação, os detetives ficam sabendo de um grupo de "homens ricos" que sacrificam crianças. Eles também ficam sabendo da mitologia que circula isso.
❝Ele (Reggie Ledoux) disse que tem um lugar no sul onde homens ricos vão para fazer adoração ao diabo. Ele disse que eles sacrificam crianças e por ai vai. Mulheres e crianças são todas assassinadas lá e tem algo sobre um lugar chamado Carcosa e o Rei Amarelo. Ele disse que tem todas essas pedras antigas no meio da floresta, onde as pessoas vão para fazer adorações. Ele disse que tem matanças das boas por lá.
Reggie tem uma marca nas costas, tipo uma espiral - ele diz que é o símbolo deles.❞
Logo descobrimos quem está por trás destes rituais: a elite de Louisiana, membros de uma geração antiga, a família Tuttle. Como um texano, Cohle rapidamente descobre que um dos membros da família Tuttle é Governador e que outro lidera a Igreja - abrangendo os círculos de poder que são a política e a religião.
Quando os detetives descobrem que os rituais basicamente são um affair familiar, eles começam a construir a árvore genealógica da família Tuttle.
Depois que os detetives capturam o caipira maluco, a câmera se foca de forma ameaçadora em uma árvore solitária - a árvore que é vista diversas vezes durante a série. Com suas raízes firmemente agarradas ao solo de Louisiana, esta árvore representa a linhagem da família que domina a região.
Os detetives notam que os Tuttle são responsáveis por um grande número de crianças desaparecidas que foram abusadas e mortas em rituais de sacrifício. Visto que a família é extremamente poderosa, a execução da lei e da media local são completamente silenciadas. A família aplica sua própria marca em Louisiana de voodoo misturado com clássicos rituais satânicos de abuso em Louisiana, como praticado pela elite oculta. Enquanto que a área de atuação da família é bem regional, não é preciso muito raciocínio para entender que os Tuttle representam [parte] da elite oculta que atualmente domina o mundo inteiro.
O gosto da Espiral por rituais satânicos, torturas, controle da mente e abuso de crianças é uma representação das obsessões mais obscuras da elite oculta. Mesmo o símbolo da Espiral da série é usado de verdade em redes da vida real para que homens indecentes possam expor suas "preferências". Aqui está um arquivo do FBI descrevendo símbolos usados pelos "amantes de meninos".
Arquivo real do FBI de 2007 descrevendo símbolos usados por redes de pedofilia. Um trecho diz:
"Na intenção de incluir aqueles que abusam sexualmente de crianças, assim como aqueles que produzem, distribuem e trocam pornografia infantil, pedófilos estão usando vários tipos de logos de identificação para reconhecerem uns aos outros e distinguir suas preferências sexuais. Para indicar a preferência do pedófilo, membros destas organizações encorajam o uso de descrições como "amor por menino", "amor por menina" e "amor por criança". Esses símbolos estão sendo gravado em anéis, correntes e em moedas."
A Espiral aparece em um crânio em Carcosa (Recriada por Joshua Walsh, responsável pelo cenário da série)
Em True Detective, os rituais da Espiral são repletos de uma mitologia específica inspirada por literatura de terror e ficção científica, particularmente de H. P. Lovecraft.
A Mitologia
Em True Detective, sacrifícios são feitos ao "Rei Amarelo" que basicamente é uma representação de um deus de chifres, e ela se passa em uma estrutura abandonada denominada Carcosa. A mitologia acerca da Espiral é muito inspirada por literatura de ficção científica, notavelmente de O Rei de Amarelo (aka o Rei Amarelo) de Robert W Chamber, que menciona uma cidade perdida chamada Carcosa.
A onda de nuvens se rompe o longo do litoral,
Os sóis gêmeos afundam sobre o lago,
As sombras se estendem
Em Carcosa.
Estranha é a noite onde estrelas negras surgem,
E estranhas são as luas circulando através dos céus
Mas mais estranha ainda é
A perdida Carcosa.
Músicas que Hyades cantará,
Onde batem os farrapos do Rei,
Devem morrer sem serem ouvidas na
Escurecida Carcosa.
Música da minha alma, minha voz está morta;
Morra tu, sem ser cantada, como lágrimas nunca derramadas
Ão de secar e morrer na
Perdida Carcosa.
O termo Carcosa também foi usado por H. P. Lovecraft em sua famosa estória sobre o Cthulhu. Por quê Lovecraft é atribuído tantas vezes na série? Seus trabalhos são aclamados em diversos círculos ocultos e, considerando o fato de que a série trata de assassinatos de rituais satânicos, isso faz sentido.
H. P. Lovecraft
Enquanto que a estória de H. P Lovecraft sobre o Cthulhu costuma ser considerada quase como um trabalho ateu satírico de ficção (é sobre deuses alienígenas monstruosos, poxa), ainda assim ela ganhou grande notoriedade entre sociedades com uma visão mais metafísica sobre o mundo. Por exemplo, o livro Os Rituais Satânicos de Anton LaVey inclui um capítulo intitulado "A Metafísica de Lovecraft".
Os Rituais Satânicos considera Lovecraft como uma ligação de tipos de "Poderes ocultos": "Sejam suas fontes de inspiração reconhecidas conscientemente e admitidas ou se foram notável absorção "psíquica", podemos apenas especular. Os rituais consistem na evocação de nomes da estória de Cthulhu, juntamente com o inevitável "Hail Satã," em uma cerimônia debochada invocando o anúncio elaborado e a resposta da comunidade do povo Católico.
- Dennis P. Quinn, Cults of an Unwitting Oracle: The (Unintended) Religious Legacy of H. P. Lovecraft
Kenneth Grant, um ocultista que foi membro ilustre da Ordo Templi Orientis (O.T.O), sociedade secreta de Aleister Crowley, escreveu extensivamente sobre a importância dos trabalhos de Lovecraft.
Para Grant, escrevendo em 1980, Lovecraft deveria ser elogiado por suas habilidades de "controlar a mente sonhadora que é capaz de projetar dentro de outras dimensões." É de bom conhecimento que Lovecraft costumava ganhar inspiração para suas estórias em seus sonhos. Para Grant, Lovecraft na verdade recebeu conhecimento arcano em seus sonhos, que eram então expressados pela estória do Cthulhu. Grant inspirou muitos feiticeiros, alguns dos quais se mudaram mais ao reino da escrita fictícia de Lovecraft.
- Ibid.
As obras de Lovecraft são, portanto, muito conceituadas por grupos satânicos ou ocultos que aderem a rituais. Alguns símbolos associados a essas sociedades aparecem pela série.
Reggie Ledoux, um dos culpados (mais pra um bode expiatório) realizando os rituais tem uma tatuagem de Baphomet dentro de um pentagrama invertido - o sigilo da Igreja de Satã.
Embora os detetives tenham pego e matado Reggie Ledoux, no final das contas eles ficam sabendo que os assassinatos ainda estão acontecendo. Mesmo no final da série, quando os detetives põe as mãos em Errol Childress (o estereótipo de caipira louco), há duas pistas alegando que ele não é o real culpado - ele é apenas um bode expiatório.
Errol Childress - o Bode Expiatório da Elite
Ao investigar a família Tuttle, os detetives descobrem que o reverendo tem filhos de uma amante. Um deles é Errol Childress, um "filho bastardo" que foi muito maltratado. Francamente, tudo sobre ele indica que tenha sido vítima de um culto satânico multi-geracional.
Errol tem cicatrizes em seu rosto porque foi desfigurado, quando criança, por sua família.
Nessa cena importante, nós vemos que o símbolo da Espiral foi cravado no corpo de Errol, como se ele fosse "marcado" pelo mesmo. Em resumo, ele não é o cabeça do grupo, ele é mais uma vítima traumatizada.
Ao fim de um episódio, Errol diz, de maneira estranha ❝Minha família está aqui há muito, muito tempo❞. - e então continua a cortar a grama em forma de espiral. Simbolicamente, isso representa como tudo que a elite oculta faz é às abertas - para que aqueles que tem "olhos para ver". Também mostra como Errol é obcecado e programado pelo símbolo.
A série oferece várias pistas apontando que Errol Childress é realmente uma vítima de controle da mente por trauma. Primeiramente, ele fala em sotaques diferenciados - um sintoma clássico de pessoa com múltiplas personalidades. Errol alterna com agilidade entre a fala pausada típica de Louisiana e um distinto sotaque britânico. Os objetos de sua casa também são bem reveladores.
A casa de Errol é cheia de bonecos (muitos dos quais estão sem cabeça). Não só esses bonecos contribuem com o fator "bizarro", mas eles também são um símbolo clássico da representação de múltiplas personalidades pelo Controle da Mente.
Na sequência de abertura da série, o rosto de uma criança é projetado em um telefone (o mesmo que está na casa de Errol). O discador fica na cabeça da criança, uma forma de retratar como as vítimas da Espiral são controladas pela mente.
Enquanto seu pai é um dos homens mais ricos e respeitados de Louisiana, Errol vive na imundice de uma cabana com sua irmã, igualmente imunda, com quem ele trepa. Em outras palavras, Errol claramente não faz parte da "elite", é apenas um subproduto ilegítimo dela. Apesar de ele ser o "vilão" decisivo da série, fica bem claro que ele é simplesmente mais uma vítima da Espiral. Até as pessoas que trabalharam para a família eram vítimas.
Quando os detetives visitam Delores Jackson, uma ex-empregada que trabalhou para os Tuttle, nós vemos sinais de controle da mente.
Apesar de Delores ter ficado mentalmente debilitada e, de forma geral, com pouca reação (como se estivesse traumatizada com algo na vida), ela fica muito agitada quando Rust mostra a ela imagens das redes do diabo - como se elas a afetassem fortemente. Ela, então, começa a recitar frases, como se tivesse sido programada para isto.
❝Você conhece Carcosa? Aquele que se alimentado tempo. Seu manto... É um vento de vozes invisíveis. Anime-se! A morte não é o fim!❞
Fica, portanto, evidente que os reais culpados por trás da Espiral nunca foram pegos durante a série. Ela acabou da mesma forma que histórias reais envolvendo a elite oculta acabam: um bode expiatório com a mente controlada toma as dores e morre, deixando os reais culpados intocados. Embora Errol realmente tenha cometido crimes horríveis, ele foi produto de um sistema muito mais complexo.
Quando os detetives finalmente encontraram e mataram Errol, eles foram levados à um hospital para se recuperarem de seus ferimentos. Lá, podemos ouvir um noticiário anunciando:
❝A Procuradoria Geral do Estado e o FBI desconsideraram os rumores de que o acusado estava envolvido de alguma forma com a família do Senador Edwin Tuttle, de Louisiana.❞
Essa pequeno fragmento de informação confirma que a Procuradoria Geral do Estado, o FBI e a media em geral possuem "conchavos" com a Espiral, visto que eles estão usando informações falsas para limpar o nome da família.
Rust diz a Marty que, apesar de eles terem pego Errol Childress, o trabalho ainda não tinha acabado.
❝Os Tuttle, e os outros homens do video.... Não pegamos todos eles.❞
Ao que Marty responde:
❝E não vamos pegar. O mundo não é assim, mas nós pegamos o nosso [assassino]❞
O veredito cruel de Marty sobre "o mundo não ser assim" basicamente significa que a elite oculta de verdade não pode ser pega. Ao dizer que "nós pegamos o nosso", ele quer dizer que eles pegaram quem deveriam ter pego: o bode expiatório escolhido. Essa não é uma notícia reconfortante sobre a elite oculta, mas é a triste realidade.
Conclusão
A série True Detective provocou todos os tipos de discussão sobre a identidade do assassino. No entanto, além dos trejeitos clássicos de mistério das estórias de suspense, há uma mensagem sendo constantemente comunicada por cada episódio. É sobre nossa sociedade, sobre quem domina ela e sobre forças ocultas que influenciam a todos. É sobre o ambiente psicótico, um conceito obscuro para a maioria de nós, mas que de toda forma é extremamente importante nos círculos da elite oculta. Por mega-rituais amplificados pela mídia, a elite está sempre procurando por meios de causar choque, medo e desânimo na população, cujos pensamentos são projetados de volta ao ambiente psicótico. Essa perturbação faz com que a raça humana viva em uma atmosfera tóxica, dominada por símbolos e pensamentos. Além disso, como retratado por Audrey em True Detective, um ambiente psicótico perturbado faz com que a sociedade desmorone, se tornando imoral e obcecada por pensamentos sombrios. É nisso que eles se vangloriam.
Fora tudo isso, a série termina com Rustin Cohle tendo um
insight e "vendo a luz" porque, por um momento, ele viu o "mundo espiritual", onde sua filha falecida esperava por ele. Cohle percebeu que, além deste mundo material, que é controlado por famílias poderosas e sádicas, há uma outra dimensão - uma que é eterna - onde eles não possuem poder algum.
「
Source」