Oct 24, 2008 00:28
Ela estava cansada de sentir dor. Não era uma dor física e talvez esse fato tornasse tudo ainda mais grave. A dor era apenas uma manifestação do desespero, da desesperança. Durante muito tempo, ela optara por não saber. Acreditara que a incerteza tornava tudo mais fácil. Claro que isso sempre fora uma mentira, mas era também uma forma de escapismo. Ninguém precisa lidar com aquilo que desconhece. Agora ela já não podia fugir. A verdade a atingia em cada uma das manhãs, quando ela acordava sem nem sequer lembrar o nome da pessoa com quem dividira os lençóis na noite anterior. Dormia de pura fadiga, ou por conta do excesso de álcool consumido, e levantava-se apenas porque o trabalho era ainda a única certeza que possuía.
A última confusão em que se metera quase lhe custara essa única fuga. House a readmitira e ela sabia que ele ou Lucas estariam espionando-a pelas próximas semanas. Era ainda difícil reconhecer, mas alguma parte dela ficara feliz ao saber que Spencer encontrava-se em uma situação semelhante à sua. Será que ela era um monstro por sentir-se dessa forma? Se Spencer estivesse condenada da mesma forma que ela, haveria uma possibilidade, uma chance de não estar mais tão sozinha. Contudo, a paciente estava a salvo e somente a solidão restara. A solidão e essa dor insuportável que ela tentava aplacar a cada noite, em cada um dos bares que freqüentava, junto a cada uma das garotas que ela levava ao seu apartamento, em cada uma das línguas que ela deixava passear por seu corpo.
II
Ela sempre o intrigara. Não havia como negar. Mas ele nunca pensara tanto nela quanto nos dois últimos dias. A princípio, fora por achar que o seu comportamento tivera sido irresponsável demais. É, ele pensara isso. O que provava que tanto House quanto Chase estavam certos em relação à sua personalidade. Será que era assim tão errado não querer correr riscos? Quando jovem, ele arriscara bastante e vira seu irmão arriscar ainda mais. Cansara-se de correr riscos desnecessários. De agir de forma impensada e posteriormente pagar pelas conseqüências de suas ações. Será que era tão errado assim querer se manter a salvo?
Thirteen, ao contrário, estava arriscando tudo que tinha. Mas será que ela realmente tinha tanto assim? O quão solitárias não seriam as noites dela, ouvindo apenas o bater de seu coração confundido com o tic-tac de um relógio imaginário que apenas marcava o quanto de tempo ainda lhe restava. Foreman já estivera nessa situação, ele sabia o que era sentir a morte aproximando-se mais e mais a cada minuto que se passava. Geralmente, evitava pensar naquele evento, em quando se contaminara com a doença daquele policial, entretanto, hoje, não pensar nisso mostrava-se tão impossível quanto tirar de sua mente aquele azul gelado dos olhos dela. Ele estava tomado por um sentimento inesperado de identificação com Thirteen. Ele não lembrava quando começara a preocupar-se com ela apenas sabia o quão apavorada ela devia se sentir e por esse motivo estava indo procurá-la.
III
Ela iria para casa. Ou talvez a mais um bar a procura do alívio daquela noite. Spencer estava certa. Ela a usara. Sexo fazia com que ela não tivesse que pensar. E a ausência de qualquer pensamento por qualquer instante que fosse era uma sensação tão agradável. Preparava-se para sair do vestiário quando ele entrou. Ela, na mesma hora, desejou ter sido mais rápida. Sabia que ele insistiria em saber como ela estava. Ele manifestara essa preocupação irritante ao longo de todo o dia e estava fazendo com que ela ficasse sem ação. Não que fosse de todo desagradável saber que havia alguém que, de alguma forma, preocupava-se com ela, mas ela estava tão acostumada a valer-se por si mesma que se sentia incomodada em ter aquele tipo de atenção que via emergir dele misturada, é claro, com a reprovação explícita ao seu estilo de vida que ele já expressara.
- Spencer vai ficar bem - Foreman disse assim que abriu a porta do vestiário dos
médicos, onde ele a encontrara.
- E eu ouvi que você ganhou seu emprego de volta - ele continuou sem ter dela nenhum tipo de reação.
- E eu vou ficar aqui até você dizer alguma coisa.
Thirteen queria fugir, mas estava tão cansada que não sabia se tinha forças para realizar esse último ato. Um dia ela teria que admitir a alguém o quão difícil vinha sendo levantar-se a cada manhã. Ela mais uma vez passou as mãos no cabelo antes de fitar aqueles olhos negros que a interrogavam e optou pela verdade.
- Eu me sinto sozinha. Ela não está indo para lugar nenhum - Thirteen sabia que esse poderia parecer um pensamento egoísta, mas ela não podia evitá-lo e, naquele momento, ela não se importava em confessar.
- Ela vai viver. - ele dissera enquanto, uma vez mais, passava por sua cabeça a dúvida imbecil que o atormentava cada uma das vezes que ela o encarava e uma vez mais ele pensou se podiam olhos azuis serem ao mesmo tempo tão verdes?
Todo o cansaço dos últimos dias parecia brotar dela e mesmo depois de ouvi-la afirmar que estava indo para casa, Foreman sabia que essa declaração era apenas uma mentira. Talvez tenha sido isso que tenha conduzido o seu gesto. Talvez tenha sido a vontade de roubar dela um pouco de toda aquela solidão que estava patente naqueles olhos.
Talvez tenha sido, enfim, uma vontade inexplicável e repentina de perder o controle e arriscar-se novamente. O certo é que, quando Thirteen preparava-se para sair, ele segurou seu braço para detê-la. Não sabia ainda o que faria, mas ao vê-la voltar-se para ele, com aqueles grandes olhos tristes, ao sentir emanar de seus cabelos aquele perfume que parecia dominar o ambiente inteiro, ele sentiu que não poderia resistir a seus instintos e que precisava trazê-la para junto de si. Lentamente, ele aproximou-se sem deixar de fitá-la em momento nenhum e quando quase não havia distância entre seus rostos, ele não teve outro recurso senão beijá-la e surpreendeu-se um pouco mais ao ver que ela correspondia.
Enquanto se beijavam, nenhum dos dois conseguia deixar de lado os pensamentos. Era um beijo imprudente, Foreman sabia. Mas ao mesmo tempo, era tão bom tê-la em seus braços. Ele descobrira dentro de si uma necessidade de mantê-la a salvo, uma urgência em fazer com que a dor que ele intuía que a vitimava cessasse. Thirteen, por sua vez, perdera-se naquele beijo pensando a princípio que seria uma sensação a mais. Porém, ao sentir os lábios de Foreman sobre os seus e as mãos dele abraçando-a, descobrira naquele ato um conforto impensado e inesperado. De repente, veio-lhe a certeza de que não poderia abrir mão desse alívio e por isso não o afastara. Não queria vê-lo partir porque, enfim, a dor cessara. Ali, abraçada a Foreman ela descobrira uma paz há muito perdida. Pelo menos naquele momento. Pelo menos durante aquele beijo.
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