Jan 22, 2007 00:16
.
Ouvi um estrondo. A viagem é normalmente muito ruidosa e se não se tivesse seguido aquela chuva de pedras na minha janela, teria passado sem preocupações. Mas o comboio gritava e as pedras tinham o tamanho de punhos contra o vidro onde há segundos eu encostava a cabeça. Saindo lentamente do estado letárgico em que me encontrava, não me senti assustada. Apesar do estridente silvo da travagem, não senti nada para além de uma vaga curiosidade sonolenta. Endireitei-me no assento e esperei pacientemente que o ruído cessasse para perceber o que se passava. Talvez fosse uma derrocada vinda do cimo da ravina onde passava o caminho-de-ferro.
A composição parou e com ela o todo o barulho. Olhei pelo vidro. À esquerda, a dois metros da minha janela, a traseira de um automóvel branco retorcia-se de sob a carruagem. Só aí senti o coração esmurrar-me o peito. Um primeiro baque e, aos poucos, as batidas fortes a encher o medo que se fez dentro de mim.
.