Amigo Invisible 2016 fic para yvarlcris 1/2

Jan 02, 2017 16:00



Esta fic será postada em duas partes.


Título: Difícil não te amar

Nombre de tu persona asignada: yvarlcris

Fandom: Hawaii Five-0

Personaje/pareja: McDanno

Clasificación y/o Género: MA (NC17); romance, angst; #hurt Danny, #protective Steven, #bottom Steven, #season 3; 9k9 words

Resumen: Steven cuida de Danny após o loiro sair ferido de uma missão. Eles poderiam ter algo a mais, mas o loiro não acredita que seus sentimentos sejam correspondidos quando tudo o que o marinheiro lhe pede são desculpas.

Disclaimer: I do not own Hawaii Five-0 - Hawaii Five-0 e seus personagens não me pertencem.

Advertencias: ferimento em explosão, descrição explícita de sexo


Parte 1

Difícil não te amar

Steven não sabia no momento, mas se arrependeria de iniciar aquela batida sem aguardar o restante da equipe e o apoio da polícia.

Daniel estava ao seu lado, como sempre. Ele era o reforço. E os dois invadiram a casa que funcionava como laboratório de drogas em Big Island. Ou melhor, o SEAL avançou com o detetive na retaguarda. Mas ao contrário do que esperava, havia mais suspeitos escondidos ali e o marinheiro não fora capaz de desarmar e derrubar os três traficantes a tempo.

Um deles fugiu pelo lado por onde Steven viera - o lado que ele deveria estar cobrindo - e surpreendeu o detetive no meio da casa, num dos corredores.

Danny já se defendia de outros dois homens que atiravam sob a proteção de um dos automóveis na garagem do laboratório. Steven viu com a visão periférica, e seu coração parou por um momento quando o traficante freou a corrida, voltou caminhando para trás e atirou no detetive.

Os tiros não acertaram.

Williams encolheu-se ainda mais ao lado do batente da porta que dava acesso à garagem e virou-se para o traficante. Os policiais atiraram ao mesmo tempo, e o homem caiu morto antes que puxasse o gatilho mais uma vez.

Porém, a ação fizera o detetive aliviar o ataque contra os dois da garagem, e estes não desperdiçaram a oportunidade. Os traficantes atearam fogo no tanque de gasolina de um dos veículos estacionados e fugiram.

O automóvel explodiu. Bem ao lado de Daniel.

Aconteceu tão rápido que Steven não compreendeu de início o que fora o estouro alto que reverberou abafando o som dos tiros.

Danny estava no chão. A parede que ele usara de cobertura contra os tiros fora destruída junto com quase metade da casa.

Steven foi jogado para longe, caindo nocauteado ao lado dos traficantes que ele derrubara.

A desorientação desvaneceu-se em ondas.

Primeiro a visão, mostrando a névoa de poeira e fumaça que permeava todas as formas ao redor do SEAL. Ele sentiu as mãos e pés tremerem, dormentes como que desconectadas do corpo, cobertas do pó cinzento - tudo parecia ter a mesma cor.

Então a onda de náusea e a pressão nos ouvidos fez o homem gemer e se contorcer no chão. "…ny." Ele abriu a boca e chamou. "…a…ny."

Coordenou-se para rastejar até onde o parceiro estava.

"D…ny."

Seus ouvidos não funcionavam direito. Steven chamou e chamou enquanto engatinhava. Ele passou pelo chafariz de água formado no meio da névoa. O líquido brotava dos escombros e manchava as superfícies cinzas de uma cor mais escura.

O moreno tossiu, cuspiu a poeira e cinzas de sua boca e continuou arrastando-se sobre os fragmentos do que antes era a sala da casa. Aquele era o local onde o pequeno laboratório funcionava e explodira junto com a detonação da garagem. Danny ficara exatamente entre os dois.

E Steven não conseguia encontrá-lo.

Tudo era fuligem, tudo era pó, ou lodo enegrecido, ou pedaços de paredes, partes de móveis. Mas nada de Daniel.

Steven chegou até o lugar que dava acesso à garagem. O local estava irreconhecível. Uma cratera formara-se no meio da casa. Calculou a distância onde lembrava que o loiro estivera e começou a procurar.

Cacos de vidro e felpas de madeira feriram suas mãos e ao longe ele escutava a própria voz, como se fosse de outra pessoa ao fundo de um poço. "Danny! Onde você está?"

Steven revirou os fragmentos da porta. Seus dedos tocaram em algo macio. Ele afastou a sujeira. Era pele.

Arrancou os escombros dali. Escorregou e caiu sobre os pedaços menores, e diante dele estava um dos braços do loiro.

Steven sentiu o cérebro travar com a ideia que o membro não estivesse preso ao corpo ao qual pertencia. Com as mãos guiadas pelo pânico, seguiu limpando o braço soterrado. E o loiro estava ali. Não perdera nenhuma parte do corpo.

O marinheiro engoliu o ar com desespero, sequer percebendo que prendera a respiração. Abaixou-se e estudou o rosto sujo de poeira do amigo. "Danny?" Procurou a pulsação no pescoço dele.

Esperou. Esperou.

Arrancou o resto dos escombros e os jogou para longe. Caiu de joelhos. Abriu os velcros e afastou o colete que protegera o peito do detetive. Ajeitou o ângulo da cabeça dele, revisou a passagem de ar e iniciou a ressuscitação.

O ruído branco da água que escapava livre pelos encanamentos quebrados e o zumbido em seus ouvidos não lhe deixavam distinguir se os sons diferentes eram sirenes ou apenas sua própria voz distorcida chamando o nome do amigo de tempos em tempos.

Ritmo cronometrado e concentração nos movimentos. O mundo de Steven fechou-se ainda mais. Tudo o que ele via e reconhecia eram suas mãos contra o peito do parceiro. "…cinco, seis…"

Ele se inclinou, passou a mão sobre os lábios do amigo limpando os resquícios de poeira e cobriu a boca dele com a sua. Soprou em seus pulmões. Esperou. A falta de reação colocou-o novamente na posição anterior.

"Um, dois, três, quatro, cinco…"

Mãos surgiram ao seu redor, tocaram seus ombros, encostaram em Danny. Ele não sabia quem eram, não interessava. Debateu-se e voltou a massagear.

Ruído distorcido ocupou o ambiente, ele sentia as mãos insistirem em afastá-lo, viu um par delas posicionando uma máscara de oxigênio no rosto de Danny e não parou o que estava fazendo. Aquilo era bom. O parceiro precisava de ar. Assim ele não perderia tempo precioso das compressões. Ele o traria de volta. Steven não voltaria sem Danny.

O par de mãos em seus ombros puxou-o com força. O homem se desequilibrou, esticou os braços para continuar. Não podia parar a massagem.

"…eve!" Mãos o impediram. Ele estava disposto a lutar, e um par delas emoldurou seu rosto. "Steve, deixe eles trabalharem," a boca falou.

Ele não ouviu direito a voz, mas fora aquilo que os lábios disseram. O rosto preocupado ao qual as palavras pertenciam não saiu da frente dele, mesmo quando tentou por mais uma vez se desvencilhar. Braços fortes o enlaçaram, apertando seus ombros.

Não era um gesto restritivo. Era reconfortante. Steven olhou para o lado e reconheceu os olhos e a fisionomia do amigo. "Chin."

"Estão cuidando dele, brah." O policial assentiu, a expressão sóbria, real. Steven tocou na mão em seu ombro e reconheceu Kono à sua frente. Ela ainda segurava seu rosto. O toque era quente, firme.

Steven parou de tentar se soltar.

Olhou para o chão onde Danny estava rodeado pelos dois paramédicos. Sentiu os amigos o abraçarem. E aguardou.

Aguardou.

-x-

Steven ficou praticamente surdo por três dias. De acordo com os médicos, se ele e o parceiro não tivessem perda permanente na audição, seria pura sorte.

O loiro continuava sob observação e ainda não acordara. Aguardavam que danos causados pelo choque da explosão regredissem antes de retirarem-no do sono profundo em que estava.

O impacto que sofrera durante a explosão deveria tê-lo matado - os médicos disseram.

E matou.

A teimosia de Steven fora o que mantivera o parceiro vivo pelos dez minutos que a equipe médica e os bombeiros levaram para chegarem. Mas também fora a sua teimosia que causara aquela situação.

Pela expressão que Kono fazia cada vez que entrava no quarto do hospital, o marinheiro repreendia-se.

Era culpa sua.

Danny o seguira sem o reforço para que Steven não se arriscasse sozinho. Para que ele tivesse apoio. Se ele seguisse o regulamento, nenhum deles estaria naquele quarto, os dois parceiros em sua pior forma.

"Ele está mais corado," a mulher comentou. Passou a mão pelos cabelos do detetive e analisou o comandante.

Era o quarto dia e Steven já conseguia entender sem precisar ler o rosto e os lábios da amiga. Mas ele achou melhor fingir que não escutara. Assim não precisaria concordar com algo em que não acreditava, que não conseguia ver.

O loiro não estava bem. Continuava pálido e cheio de arranhões. Havia cores escuras e amareladas na pele bronzeada. A barba por fazer e os cabelos desgrenhados não escondiam o poço ao redor dos olhos. Círculos escuros cobriam as pálpebras frágeis e imóveis.

Danny não parecia bem.

E era culpa de Steven.

-x-

O loiro abriu os olhos no quinto dia.

Daniel não tentou sentar-se na maca ou arrancar os fios e canos presos ao corpo. Agiu lentamente, passando a mão direita sobre o suprimento de oxigênio sob o nariz. Manteve os olhos fixos em Steven.

O comandante engoliu em seco. Danny estava cego? Estava surdo?

"Por que eu estou no hospital?"

A voz, embora suave e rouca, soou como música para o SEAL. Steven apertou os olhos. Ao abri-los, viu o pequeno sorriso no rosto do amigo. Era apenas o canto da boca levemente arqueado, complementando o olhar curioso por baixo da fisionomia cansada.

"O laboratório explodiu. Você estava… bem ao lado."

Danny juntou as sobrancelhas levemente. "Laboratório?"

Não havia sarcasmo na pergunta, apenas o rosto aberto e simpático do loiro. E Steven sentiu aquilo como um tabefe.

"Nós… Nós estávamos na…" Ele não encontrava as palavras. Era culpa sua. Danny estava no hospital e não lembrava do motivo por culpa sua.

Daniel levantou a cabeça do travesseiro, devagar. "Eu pareço estar inteiro." Estudou os braços, um deles enfaixado, e balançou os pés sob os lençóis. Voltou a descansar a cabeça no travesseiro e sorriu. "Se foi você quem me salvou, eu preciso te agradecer de alguma forma." E piscou para o outro. "Você é bombeiro?"

Steven fechou a boca. E o loiro aumentou o sorriso.

Os dois se entreolharam por vários segundos.

Kono entrou no quarto. "Está acordado!" Ela se aproximou rapidamente e abraçou o amigo por cima do ombro, beijando-lhe a fronte com carinho. Afastou-se. "Como se sente?"

"Eu estou…" Olhou para Steven. "Ótimo. Tem modelos invadindo o meu quarto. O que eu fiz de bom pra merecer isso?"

Kono riu, mas viu a expressão assombrada no rosto do comandante. "Chefe? Qual é o problema?"

"Chefe?" Danny perguntou. "Você é o líder?" Kono franziu o cenho. O moreno continuava emudecido enquanto o outro questionava com interesse na maca. "Ok, sem brincadeiras. Por que um bando de modelos sexys veio me dar bom-dia? É o meu aniversário? Alguém planejou tudo isso? Eu ainda estou dormindo?"

A mulher abriu a boca. Apontou para o comandante. "Você acha ele sexy?"

É claro que esse foi o foco da policial, e não o fato de o amigo estar desorientado e possivelmente com um dano cerebral.

"Tá falando sério? Eu acho que ainda estou sonhando." Danny observou a intravenosa fixada em sua mão esquerda, perto da tala. "Ou o que estão me dando é muito bom. De qualquer forma, eu estou feliz." Escorou-se no travesseiro, e Kono sorria de orelha a orelha.

"Eu vou chamar o médico." Steven levantou-se da poltrona ao lado da maca.

"Por quê? Nós estamos conversando. Ainda tenho que te conhecer melhor. Qual o seu nome?" O loirinho inclinou um pouco a cabeça. Estava flertando.

McGarrett pôs as mãos na cintura. "Eu sou o seu parceiro."

"Uau…" Danny ficou de boca aberta alguns segundos, encarando o comandante. "Eu tirei a sorte grande." Mostrou os dentes no sorriso.

A risada de Kono escapou pela fresta das mãos. Nem a cabeça baixa escondia o tremular de suas costas causado pela gargalhada. Steven queria bater nela.

"Você não está bem." O comandante gesticulou para a totalidade do loiro na cama. "Sua cabeça está confusa, pode ser uma sequela grave."

O paciente estudou a figura de Steven de cima a baixo, sem qualquer constrangimento. "A minha única confusão aqui é por que você está tão longe." E mordeu o lábio inferior. Steven sentiu o rosto avermelhar.

Kono não conteve o riso desta vez. Steven bufou na direção da amiga e encaminhou-se para a porta.

Deparou-se com Chin, que trazia documentos e copos de café. "Ele é tímido. Que gracinha," Daniel ainda comentou, de dentro do quarto.

Steven Balançou a cabeça para a expressão de curiosidade no rosto do colega e saiu do quarto às pressas.

-x-

Enquanto Danny era examinado pelo doutor naquela tarde, Steven mantivera-se plantado perto da porta do quarto.

O loiro continuaria desorientado por um par de horas, mas estava confirmado que o comportamento estranho resultava dos medicamentos.

Era passageiro. Assim como Steven vinha se dizendo, o parceiro ficaria bem. Mesmo o trauma acústico parecia reversível.

Rachel compareceu durante o diagnóstico, e enquanto o quarto continuava recheado de visitantes, o comandante despediu-se e saiu de lá sem discutir com os enfermeiros sobre ficar além do horário de visitas - o que lhe causou olhares curiosos no caminho até a saída. Danny parecera desapontado, mas não protestara. A quantidade de cantadas diminuíra quando ele retornara com os médicos, mas o loiro mantivera a conversa e os olhares interessados na direção do SEAL.

Steven seguiu para casa. Ao chegar, sequer abriu a porta. Contornou o jardim e sentou-se na areia ao vento do quintal. Observou o mar enquanto o dia escurecia.

Seria a primeira noite que não passaria velando o leito do parceiro no hospital.

Ele saíra de lá porque não conseguia olhar no rosto do detetive e receber aquele sorriso tão…

Danny ficaria furioso quando o efeito passasse.

Ultrajado.

Com certeza teria ainda mais raiva quando lembrasse que fora por culpa de Steven que ele quase morrera e estava no hospital agindo daquela forma.

O homem lembrou-se do sorriso do outro quando acordara. Da maneira como o loiro lhe olhara de cima a baixo mordendo o lábio inferior. Balançou a cabeça.

Levantou dali, arrancou a camiseta e a calça e correu para nadar.

-x-

Quando a manhã chegou, Steven sentia-se ainda pior que a própria aparência indicava.

Ele permanecera na praia até depois do anoitecer, repreendendo-se e repassando seus erros da última semana. Depois disso não conseguira dormir. Tivera pesadelos sobre explosões, tiroteios e Danny sorrindo para ele enquanto fechava os olhos.

Steven ainda estava de licença, então numa rara demonstração de indisposição, saiu da cama perto da hora do almoço. O homem demorou-se ao deixar a água quente acalmar os músculos e afrouxar um pouco dos nós em suas costas. Ele nadara por tempo demais na noite anterior.

Passava do meio-dia quando chegou ao hospital. Danny certamente teria acumulado insultos até aquela hora. O comandante estava disposto a rastejar se preciso. Faria o que o loiro quisesse.

Desapareceria da ilha se fosse o desejo do parceiro.

O rosto insinuante do detetive passeou de novo por sua mente.

Steven atrasou um passo. Ele causara aquilo, não era real, era prova de como o acidente afetara Danny. Não tocaria no assunto, não traria à tona o fato de que o detetive expusera em voz alta coisas que mexeram com seus sonhos, que tocaram suas fantasias mais profundas.

Mas Kono não estava de acordo.

"E aí você disse que se fosse pra ter aquela visão, ele podia te dar as costas quando quisesse." Steven parou na porta do quarto quando a policial falava aquilo.

O loiro estava sentado na maca, uma das mãos sobre o rosto, em total negação. "Quer parar de repetir? Eu ainda não acredito que fiz isso."

Kono sentava na poltrona, sorrindo da forma maníaca que ela iniciara desde que entrara naquele quarto no dia anterior. Os dois comiam sorvete depois do almoço, ao que parecia, que certamente fora ela quem trouxera, dada a quantidade de calda quente.

A policial viu o moreno na entrada e apontou com a colher. "Ele está ali, se quiser confirmar."

Daniel levantou o rosto e olhou para o parceiro. Steven contou dois segundos do ar sendo sugado de seus pulmões e alinhou os ombros. Aproximou-se. Parou ao lado da maca. "Como se sente?"

"Com vontade de entrar em coma de novo. Qualquer coisa pra não ter que olhar pro rosto sorridente dela." Kono apenas balançou a cabeça, do outro lado da maca.

O loiro diminuiu o sorriso ao fitar o parceiro, certamente analisando sua má aparência. Steven limpou a garganta. "Você vai ter alta amanhã."

"Eu sei. Já falaram comigo." Danny revirou o sorvete no pote, mas não levou a colherada à boca.

O comandante fixou-se na sobremesa pela metade. Era de chocolate. "Venho te apanhar às dez."

O detetive concordou, voltou a lidar com o sorvete, sem comê-lo. Steven achou outros detalhes para estudar, como a textura na colcha da maca, o pacote sobre o balcão no canto do quarto.

"Eu vou deixar vocês a sós." Kono fez a volta na cama. Pausou ao lado do SEAL e piscou. Ele moveu o rosto para encará-la, mas a mulher seguiu para a porta com a cabeça erguida, retirando as chaves do carro do bolso. Chin apareceu no corredor nessa hora, mas ela o agarrou pelo braço e levou o primo consigo para longe.

"Sobre ontem…"

"A culpa é minha," Steven impediu o outro de continuar. Olhou para as próprias mãos. "Eu não devia ter invadido a casa sem o reforço."

"Eu não lembro o que aconteceu na batida, mas somos policiais. Acidentes acontecem." McGarrett viu a faixa de gaze ao redor do punho do parceiro, os cortes e machucados em seu rosto. A seriedade da situação fazia Danny tentar animá-lo, mas o "acidente" acontecera por causa do SEAL. Ele fizera aquilo com o parceiro. O loiro passou a mão pelos cabelos. "Sobre ontem. Não era exatamente assim que eu pretendia…"

O comandante não conseguiu olhar para o rosto dele. Fitou a janela.

Um pequeno silêncio.

Daniel exalou o ar de maneira delicada, então Steven voltou a encará-lo. O loiro tomou fôlego. "O que estou tentando dizer é que você é especial pra mim, e o que eu falei… Bem, eu-"

"Não tem que se justificar, Danny." McGarrett balançou a cabeça. Não era justo, não era o adequado. "Eu sou o responsável pelo acidente e todas as coisas… ridículas que aconteceram até agora." O parceiro procurou algo em seus olhos. Ele sentiu as mãos começarem a suar. Cruzou os braços. "Não quero que se preocupe com algo que fugiu do seu controle. Foram os medicamentos, e a culpa é minha."

"A culpa não é sua."

"Ela é. Eu… Eu vou fazer o que for preciso pra te ajudar." Tentou mostrar a certeza em seu rosto, em sua voz. "Eu faço qualquer coisa."

O loiro juntou as sobrancelhas. "Não tem que fazer nada, Steven."

"Eu preciso." O marinheiro engoliu em seco, baixou o olhar levemente.

Williams ficou com o rosto sereno e virou-o na direção dos pés da maca por alguns segundos.

"Certo," disse. Olhou para o amigo, ainda concordando com a cabeça. "Então, sobre o que aconteceu aqui ontem…" Steven tensionou-se. O detetive sorriu, mas seus olhos continuavam imutáveis. "Vamos fingir que não aconteceu." As mãos do comandante fecharam-se em punhos, os dedos do homem na maca enrolavam-se na bainha do lençol azul. "É melhor esquecer," o loirinho falou.

A garganta de Steven apertou. "Ok." Ele não conseguia encarar o outro. "Eu preciso ir. Tenho uns..." Apontou com o polegar por sobre o ombro. "Assuntos. Pra resolver."

O loirinho apertou os lábios. Balançou a cabeça uma vez.

Steven saiu do quarto. Atravessou os corredores sem fôlego. O coração palpitava alto em seus ouvidos, o ar parecia escasso.

Ele não deu atenção ao par de pessoas que o abordaram perto da saída. Precisava escapar dali, extravasar a adrenalina que o tomara. Precisava acalmar os pensamentos, esfriar a cabeça.

Seu rosto e seus pulmões queimavam e ele só se deu conta que estava no estacionamento quando o buzinar estridente de alguém o arrancou daquele estado atordoado. Daquele choque onde tudo o que ele escutava era o bombear de seu coração e o pedido de Danny que ele mesmo ensaiara:

"É melhor esquecer…"

Era o certo. Estava feito, e era o que ele esperava.

-x-

Foi a segunda noite que McGarrett dormiu mal, sozinho ouvindo o mar de seu quarto escuro.

Ele levantou cedo dessa vez e foi ao hospital buscar o amigo. Deveria estar recomposto, mas a determinação foi minada por nervosismo conforme se aproximava do quarto. A última vez que se sentira perdido dessa forma fora quando Catherine terminara tudo e desaparecera de sua vida.

Se o parceiro se afastasse da mesma forma, Steven não saberia o que fazer para se reerguer.

Passou pela porta entreaberta, e Kamekona estava lá. Discutiam o melhor jeito para se refogar camarão. Uma reportagem sobre a explosão do laboratório era transmitida naquela hora, mas a televisão do quarto não estava muito alta, e os dois homens não pareciam prestar atenção ao que o telejornal mostrava.

O loiro calou-se assim que viu Steven.

O havaiano ofereceu aloha, mas o cumprimento soou como estática para o comandante. Ele entrou no quarto e viu que o parceiro sorria mas ocupara-se em ajeitar a tala no joelho, sentado sobre a beirada da maca com o braço esquerdo em uma tipoia. A batida no ombro fez Steven olhar para o sujeito maior que se despedia. Kamekona deixou para trás o pacote de lanche e os balões desejando melhoras.

Os dois parceiros ficaram a sós no quarto.

"Eu estou pronto, nós já podemos ir." Sequer um segundo se passou sem Danny preencher o ambiente com sua conversa. Deveria ser normal, mas não era. O rosto dele nunca encontrou o de Steven, nem mesmo quando fez careta ao sentar-se na cadeira de rodas que aguardava ao lado da maca.

McGarrett ergueu os ombros e fez a volta até as hastes da cadeira. "Pensei que Grace estaria aqui hoje." Começou a empurrar o parceiro para fora dali.

"Rachel achou melhor trazê-la no próximo final de semana, assim eu poderei cuidar dela em vez do contrário."

Steven fez um som, concordando, e seguiu levando o parceiro pelo corredor.

Danny não se calou. Falta de assunto não parecia ser problema. Conversou sobre a fisioterapia para o joelho, sobre o jogo que a emissora transmitiria naquela noite, sobre o tempo e a falta de sal na comida do hospital.

E tudo isso só até chegarem ao veículo no estacionamento.

O monólogo cessou apenas quando o loiro fez força para levantar-se da cadeira e sentar-se no banco do carona, usando a bengala que já era sua. Steven percebeu que Kono ou Chin deviam tê-la trazido para o hospital, já que ele não tivera cabeça para nada além de sua disputa interior desde que o parceiro acordara. Repreendeu-se, forçando os punhos sobre o encosto da cadeira.

Daniel gemeu baixinho, e isso despertou o comandante de sua inação. O outro já estava sobre o estofado do veículo e levantava a perna machucada com o auxílio da mão sã para trazê-la para dentro do carro. McGarrett abaixou-se ao seu lado. "Desculpe, Danny."

Os dois juntos ajeitaram o joelho com a tala, e o comandante acertou o ângulo da bengala para o detetive não precisar segurá-la ao lado do banco.

"Eu disse que a culpa não foi-" Danny começou, mas Steven falou ao mesmo tempo: "A culpa foi minha."

Os dois voltaram a se calar.

Danny sustentou o olhar de Steven pela primeira vez naquele dia, mas estava com raiva. "Não. Não foi. Não foi você quem explodiu as coisas desta vez."

"Se eu não tivesse entrado lá como um louco, não teria se machucado. Eu pensei que você não ia mais acordar." Seus olhos pesaram com as previsões que invadiram seus pesadelos durante a última semana.

"Olha, eu não estou dizendo que você agiu certo ao entrar sem o reforço." Steven encarou o chão do estacionamento. "Mas a culpa pela explosão é de quem explodiu a casa." Williams tinha a voz firme, decidida. "Eu sinceramente não quero lembrar o que aconteceu. Tenho certeza que você aprendeu qualquer lição seja e vai ser mais cuidadoso da próxima vez. Certo?"

O moreno balançou a cabeça, como uma criança prometendo ser melhor.

"Eu não quero que continue se culpando dessa forma." Daniel pediu.

"Você ainda quer trabalhar comigo?" McGarrett fitou o amigo e teve vergonha de a pergunta soar com tanta incerteza.

"É claro que sim." De repente, o ar incerto passou para o detetive. "Se… você quiser. Eu exagerei aquele dia."

Steven franziu o cenho. Não queria parecer desapontado com o rumo do assunto. "Você não fez nada de errado. Está tudo bem. Eu sei que não estava falando sério."

O loiro umedeceu os lábios. "Tem razão. Eu só… não quero que você pense que eu sou algum tipo de tarado que se descontrola por qualquer motivo." Havia um fio puxado na tala da perna, exatamente sobre o joelho. Steven seguiu os olhos do parceiro até aquele detalhe sentindo o ar resfriar ao seu redor.

"Eu sei que você não é."

Silêncio ocupou o automóvel. O SEAL trocou o peso de uma perna para a outra.

"Eu deixei tudo estranho entre nós," Daniel falou, baixinho. Um sorriso forçado formou-se em seu rosto. "Me desculpe."

Steven sentiu o peito sufocar. "Não tem por que se desculpar." Queria abraçar o parceiro, mas pensou na forma como isso remeteria às insinuações do outro dia e se afastou. Fechou a porta com cuidado e fez a volta para assumir o volante.

Durante o caminho, o loirinho ficara mais quieto.

McGarrett estava decidido a tomar conta de seu amigo naquela semana e fazer de tudo para ele ficar bem.

Mesmo que tivesse que ignorar a vontade de ficar mais próximo do que deveria.

Afinal, o loiro quase morrera, e a culpa era de Steven.

-x-

"Eu mal cheguei em casa e o meu dia já está sendo uma droga!" O detetive reclamou ao telefone. Ainda falava alto, e Steven revirou os olhos, ouvindo a conversa da cozinha onde preparava o almoço na casa do loiro. "Ele não me deixa em paz um minuto," continuou. "Me obriga a tomar água, quer que eu durma, quer me ajudar a ir ao banheiro. Agora pretende me obrigar a comer legumes."

O SEAL bufou e acrescentou dois talos extras de brócolis na porção do parceiro. Apanhou os dois pratos que acabara de servir e seguiu para a sala.

"Eu sei, eu sei…" Danny o espiou por sobre o encosto do sofá. Escondeu o rosto, mas estava com o pescoço corado. A televisão tinha o volume baixo em algum programa qualquer enquanto ele descansava a perna com a tala sobre uma almofada na mesinha de centro. "Tchau, Rachel." Murmurou e desligou com pressa. Exalou o ar e jogou o telefone ao seu lado no estofado.

Steven depositou o prato com os talheres numa almofada no colo do parceiro e sentou-se no espaço ao lado dele.

O detetive alisou o punho enfaixado, a tipoia abandonada sobre o braço do sofá desde a hora que chegara e correra para o banho. "O que é isso?" Apontou para a comida. "Tem mais verde no meu prato que no seu!"

"Eu comi frutas mais cedo, mas você se empanturrou de pãozinho doce. Precisa se alimentar melhor pra se curar mais rápido."

"Olha pra mim, eu sou menor que você, preciso de menos alpiste." E esticou o garfo com o brócolis até o prato do outro. O SEAL tentou impedir, mas segurava seu talher com uma das mãos e apoiava a comida com a outra. O loiro lançou o talinho certeiro, que caiu enfeitando o pedaço de carne do amigo. "Três pontos!" gabou-se. Ainda mantinha o braço para cima. Ele vestia mangas curtas depois do banho, e ao invés de focar-se no sorriso bonito, a visão do moreno fechou-se nas marcas roxas na pele dele. Nos arranhões e nas lesões causadas pelas intravenosas.

Daniel abaixou o braço, voltando à posição anterior sem soltar o garfo. Ele percebera.

Steven virou-se para frente. Apanhou o talo extra de brócolis, enfiou a verdura na boca e continuou assistindo ao programa.

"Desculpe, Danny."

O loiro ficou quieto, ambos sentindo o peso no ar.

-x-

Na tarde seguinte, os dois voltavam da fisioterapia. Steven insistira em levar e buscar o amigo nas consultas que precisasse até ele se recuperar totalmente.

Ao embarcar no automóvel, o loirinho sentiu um arrepio só de lembrar-se do pesadelo que foram as duas últimas horas.

O médico parecera estranhamente prestativo em mostrar todas as formas como Steven poderia alisar o parceiro para "auxiliar" na sua melhora. Depois das demonstrações, Danny não estava ansioso para chegar em casa e receber a ajuda do amigo prestativo. Ter Steven entre suas pernas no consultório já fora difícil o suficiente. Repetir aquilo diariamente, a sós, não era algo para o qual ele estava preparado. Não quando sabia que o parceiro não o queria da mesma forma.

Danny pôs o cinto de segurança. Enquanto estivesse usando a bengala, não deveria forçar o joelho, e isso incluía atividades como corrida, direção, alpinismo - tudo encontrado num dia de trabalho com McGarrett. Aquele fora mais um motivo para o moreno e o médico trocarem conselhos como se Danny não estivesse na mesma sala com a perna esticada para além do que imaginava possível.

O SEAL maníaco por controle assumiu a direção do Camaro, dessa vez com ordens médicas, e arrancou do estacionamento da clínica com a expressão focada.

"Você age como se não tivesse sequestrado a chave do meu carro desde o primeiro dia." O detetive acomodou melhor a perna numa curva. Estava dolorido e cansado.

"Mas agora é diferente. Serei seu motorista oficial enquanto você não puder dirigir."

"Você já fazia isso todos os dias."

"Mas agora eu estou fazendo devagar." Steven apontou para a placa de limite de velocidade. "Viu? E eu nem liguei as sirenes. O jantar vai atrasar por causa disso."

O moreno parecia satisfeito com a tarefa.

Williams respirou profundamente. A atenção toda não estava sendo bem interpretada por seu cérebro exausto, que se negava a reconhecer que Steven o rejeitara com quase todas as letras no hospital.

Eles chegaram na casa. O comandante foi preparar a comida. O homem fizera até um apanhado de quais alimentos eram mais indicados para a recuperação do parceiro - o que significava que Danny teve que comer brócolis de novo.

Depois do jantar, o loiro viu-se deitado no chão, com o marinheiro massageando sua perna. Ele manteve os olhos fixos no teto e as mãos cruzadas sobre o peito enquanto o eficiente fuzileiro apalpava várias partes de seu corpo, o que seria ótimo em outro contexto.

Até que o SEAL apertou demais num dos pontos, e Danny soltou um grunhido. Aquela área estava dolorida. Continuava arroxeada, mas o detetive negara-se a usar bermudas com medo que o outro descobrisse o verdadeiro estado de suas pernas e terminasse de surtar, como acontecera ao ver seus braços naquela noite.

Steven continuou, mais devagar. Doía, mas seu toque delicado e o gelo formavam um contraste inesperado. Daniel olhou para o rosto do marinheiro, concentrado, completamente focado na tarefa, e sentiu o calor espalhar-se em seu ventre.

A mão do marinheiro deslizou, descendo ainda mais, e os olhos dos dois se encontraram.

O coração de Danny acelerou. Ele… poderia confessar. Insistir no que iniciara por benefício dos remédios.

Mas McGarrett parou a massagem. Finalizou o tratamento rapidamente e levantou-se. "Desculpe."

"Eu já disse pra você parar de se desculpar," o loiro disse, do chão. Ergueu-se do tapete no meio da sala. Usou a bengala para ficar de pé e foi para o banheiro. Olhou-se no espelho e suspirou.

-x-

Uma semana se passou.

Steven corria como a mamãe ganso atrás do detetive. Williams aceitava a atenção porque ele precisava da ajuda, mas a forma como o comandante olhava para ele cada vez que reclamava da perna ou mostrava algum dos vários sinais que a explosão deixara era demais para o loiro. E quando ele negava, o amigo fazia aquela cara de pânico novamente, como no hospital.

Então o loiro deixou o marinheiro oferecer seu apoio pelo tempo que quisesse. Mas estava cada vez mais difícil ser o projeto de caridade do SEAL.

Tudo o que o marinheiro sentia era culpa quando se aproximava do parceiro, e Daniel sentia como um soco cada vez que o amigo dizia aquelas palavras.

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Continua.

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