[Fanfic] Motivos

Feb 26, 2010 15:15

Fiz essa fic por pensar que o Luciano da comu ignora muito o Daniel. Pensei em dedicá-la à aru_darou ,mas como eu sou extremamente insegura escrevendo qualquer coisa que não seja angst, não sei dizer se ela ficou legal :-(

Anyway, vamos logo para a fanfic mutante estranha;

Motivos

Verão carioca. O sol da tarde ardia no céu incrivelmente azul. Na Praia Vermelha, o calor era retardado pela refrescante brisa marítima que soprava por entre os rochedos. Entretanto, estava apinhada de turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. Em meio a toda essa miscelânea étnica, Luciano repousava calmamente em um banco, bebendo água de coco gelada e respirando a maresia. Não usava roupa de banho e tampouco estava só.

_ Sinceramente... _ Começou Luciano, com uma voz pausada e macia. _ Estou começando a achar que esse negócio de união aduaneira foi só pra vocês poderem passar as férias de verão na minha casa.

À sua esquerda, Sebastian riu e continuou a beber sua caipirinha. Mais à esquerda, Martín fingiu que não ouviu nada e continuou a apreciar a praia. Na ponta, Daniel nem prestava atenção de tão empolgado que estava. Diferente dos seus dois primos, que de tempos em tempos vinham passar o verão em praias brasileiras, Daniel não costumava vir com tanta freqüência. Isso somado ao fato de o Paraguai ser um país continental, o deixava deslumbrado com os negros rochedos em contraste com a areia branca e a espuma das ondas que estouravam fazendo um barulho forte e gasoso.

Em volta deles, ouvia-se um burburinho caótico de várias línguas e sotaques, mas os quatro permaneciam quietos. Luciano terminou o seu coco e permaneceu uns poucos segundos brincando com o canudinho colorido em sua boca antes que sua irrefreável aversão ao silêncio o obrigasse a falar.

_ E então. _ Olhou para os outros três com o canudinho indo de um lado para o outro em seus lábios. _ Vocês vão querer andar no bondinho?

_ É claro que vamos. _ Respondeu Sebastian que já tinha terminado sua caipirinha e chamava o homem do quiosque para entregar o copo.

_ Se nós formos agora... _ Luciano olhou seu relógio de pulso. _ Dá pra gente ver tudo com calma e ainda pegar o pôr do sol com a cidade se acendendo.

_ Então vamos logo. _ Disse Martín levantando-se e segundo na frente. Os outros três se apressaram para alcançá-lo.

_ Oi! O que foi Martín? _ Luciano chegou ao seu lado e passou o braço pelo ombro do argentino enquanto eles andavam. _ Estamos em uma praia do Rio, está um dia lindo, o Flamengo ganhou o jogo de ontem e você ta aí de cara emburrada?

Martín passou a mão na testa e suspirou. _ Não é nada... Só que eu esqueci o meu mate no hotel e eu estou com uma vontade louca de tomar um pouco.

Imediatamente o brasileiro o repeliu como se tivesse tomado um choque, olhando-o com espanto. Quase que com horror.

_ Esta um sol do cassete, o termômetro está marcando quase 40º e você ta com vontade de tomar aquele troço quente?!

_ Olhe lá como você fala!

_ Cara... Não é que eu não goste de chimarrão... Eu até tomo (aquela coisa amarga com gosto de mato) e de fato é ótimo depois de um churrasco, mas num calor desses, não dava pra você tomar um mate gelado e ficar feliz? Tenho quase certeza de que tem vendendo lá encima.

_ Vontade de tomar mate é vontade de tomar mate, não vontade de tomar chá de mate gelado. E antes que você abra a boca, não, não é a mesma coisa, embora eu não espere que alguém como você entenda.

_ Começou... _ Sebastian soltou um suspiro e procurou algum local onde poderia sentar-se para esperar os dois terminarem a discussão.

Enquanto Sebastian cismava, Daniel até que achava graça _ talvez porque não era ele quem tinha que resolver tudo quando os dois não chagavam a um acerto _ mas tinha algo de engraçado e até meio clichê no modo como eles brigavam, brigavam, mas não viviam um sem o outro. Bem que ultimamente eles vinham se entendendo melhor, mas Luciano, em sua peculiar maneira de demonstrar carinho, não perdoava o mínimo vacilo do argentino. A ultima fora a pouco tempo, nessas mesmas férias, quando ele notou que Martín usava havaianas. Os dois se exaltaram bastante naquela vez... mas essa é outra história.

No momento, a discussão tinha misteriosamente mudado de bebidas para musica. Se ela chegasse a futebol ou gosto para calçados, os quatro com certeza não chegariam a subir o Pão de Açúcar.

Como parecia que eles iriam ficar ali por um bom tempo, Daniel resolveu dar uma volta. Estavam em uma praça em frente à estação do bondinho, a paisagem era muito bonita e não tardou para que sua mente se dispersasse em meio aos morros e monumentos. Seus pensamentos voavam tão alto naquele momento que fora surpreendido por um soldado de azul havia, aparentemente, surgido do nada. Tomou um susto tão grande que perdeu a força das pernas e, sem conseguir achar nada em que se segurar, viu-se de joelhos no chão. Rapidamente olhou para onde antes estava o soldado e percebeu que, para a sua vergonha, era só uma estatua.

Sentindo o sangue subindo-lhe o rosto, checou rapidamente a sua volta. Por sorte, parecia que ninguém havia percebido o acontecimento. Novamente voltou os olhos ao soldado de bronze. Por que ele tinha tomado um susto tão grande com uma estátua boba? Mas não levou muito tempo para ele reconhecer aquele uniforme. Podia até visualizar o tecido azul, os detalhes vermelhos, as abotoaduras douradas...

Havia algo em ver aquele homem trajando o uniforme completo da Guerra Grande o observando do alto com aqueles olhos de metal frio que lhe dava um frio na espinha.

De início ficou se perguntando que aquilo estava fazendo ali, no meio de uma praça. Deu uma olhada mais ampla na construção de bronze. Viu painéis retratando batalhas das qual ele tinha amargas lembranças. Era inegável que aquele era um monumento à Guerra Grande. Foi ai que ele se lembrou que estava no Brasil, que ele havia ganhado a guerra e que é isso o que você faz quando ganha uma guerra. Você condecora homens, ergue monumentos e conta histórias para seus filhos e netos. Era isso... não havia nada de anormal em erguer um monumento quando se vence uma guerra, mas... Mesmo assim, um sentimento estranho tomara o peito de Daniel...

_ O que você ta fazendo ai sentado no chão?

Mais um susto. Dessa vez era Sebastian que se encontrava em pé ao seu lado.

_ A dupla dinâmica parou de discutir e já está indo para a fila comprar o ingresso. Se a gente entrar com eles é bem capaz do Luciano dar um jeitinho de todo mundo pagar meia.

_ Ah! Sim, sim já estou indo! _ Daniel levantou-se apressado, tirou a sujeira da bermuda e apertou o paço em direção do...

_ Ei! _ Chamou Sebastian que havia ficado para traz. _ A fila do bondinho é daquele lado.

_ Ah! Desculpa! _ Em um movimento veloz ele deu a volta, agora já quase correndo, em direção do guichê.

Encontrou Luciano e Martín esperando por eles em frente à entrada.

_ Onde você estava? _ Perguntou Martín. _ Alguma coisa aconteceu? Por que toda essa pressa? Diga-me, porque se algum brasileiro pervertido tentou se aproveitar de você eu...

_ Não! Não foi nada disso. Eu só estava.... heerrmmm...

Para sua sorte, nesse momento um Sebastian ofegante o alcança.

_ Pelo amor de Deus Dani! Não me faça correr nesse calor!

_ Desculpa! É que... Eu estava com medo de a gente não conseguir chegar lá a tempo! Isso! Foi exatamente isso!

_ Mas a gente ainda tem tempo. _ Disse Luciano olhando para o relógio. _ Ah! Você deve ter se confundido com o horário de verão! Não se preocupe, ainda vai demorar pro sol se por.

Era isso. Ele estava salvo. Por um momento Daniel achara que aquele “acidente” iria acabar com as férias de todos os quatro. Isso porque não era só ele que ficava mal ao lembrar-se daquela guerra. Martín e Luciano em especial ficavam muito desconfortáveis em falar sobre isso. Mas não importa o que eles haviam feito no passado, no momento, os quatro eram amigos. Melhores amigos. Assim como antes das guerras, antes das crises, antes mesmo deles serem países. Para Daniel, esse tempo que eles passavam juntos era muito especial.

_ Afinal Dani... _ Começou Sebastian, de repente. _ O que você tanto via naquela estátua?

Pronto...

_ Hum? Que estátua? _ Perguntou Luciano, virando-se junto com Martín para ver o local indicado por Sebantian.

Daniel continuou lá, paralisado.

Ah! Aquela estátua! _ Disse Luciano.

“Pronto. Acabou! Acabou tudo!”

Foi que veio a cabeça de Daniel, mas logo depois, veio um inesperado silêncio.

...
......
.........

_ Luciano... _ Chamou Sebastian.

_ Hum?

_ Você não vai dizer o que é aquela coisa?

_ Ah! Aquilo? Bem... É que no momento eu não to me lembrando direito...

Os três olharam surpresos para Luciano.

_ O Q-q-qu... Você não sabe sobre o que é aquele monumento?! _ Gritou Martín exaltado. _ Onde você mora?! Aquela coisa é enorme e você deve passar por aqui toda hora!

_ Aaaahhh... Para com isso vai! Você sabe que eu não me ligo nesse tipo de detalhe. Aquela coisa está ali dês de... muito tempo... Ah, justamente por eu ter que passar por aqui toda hora para mostrar pros turistas eu nem olho mais para aquilo!

Um sorriso de alívio surgiu no rosto de Daniel. Aquela não era a primeira vez na qual ele agradecia a Deus por ter dado a Luciano a memória de um peixe.

_ Puxa vida... _ Martín levou a mão ao rosto._ E você se considera um país...

_AH! Seu... Agora eu vou me lembrar o que aquela coisa é! _ Levando a mão ao queixo e fazendo seu melhor olhar de determinação, Luciano pôs-se a analisar o monumento de bronze.

_ NÃO! _ Gritou Daniel um pouco alto demais, agarrando o braço de Luciano. _ Não! Se a gente ficar...haaaamm.... V-vamos perder o por do sol!

_ Mas eu já te disse que... _ Luciano calou-se de repente. _ Espera um momentinho ai... Você não acredita que eu possa me lembrar da estátua até o por do sol? Quer dizer que você também está com eles Dani?! Não confia em mim?!

_ Errrmm... Bem... _ Ele virou a cara, dando um sorrisinho amarelo.

_ Ta né, valeu! _ Disse emburrando, soltando o braço das mãos de Daniel em um movimento brusco enquanto _ ai Dios! _ andava em direção do monumento.

_ Espera! _ Gritou, agarrando novamente o braço de Luciano e puxando para a direção oposta. _ Não foi isso que eu quis dizer!! Eu... Eu só acho que a gente poderia fazer isso depois do passeio! Eu... Eu tenho certeza que você consegue se lembrar (ou não estaria assim tão ansioso), mas, por favor, vamos logo ao bondinho.

Luciano o lançou um olhar duvidoso. _ ... Sério?

Daniel assentiu rapidamente com a cabeça e, antes que percebesse, Luciano já o estava abraçando.

_ Ahhh Dani, você é tão mais legal e bonitinho do que certa pessoa que eu prefiro não nomear que só vive me criticando e que se acha tão melhor do que eu!

_ Ei! Mas o Sebastian também...

_ O Sebastian eu perdôo porque ele brilha. Quando você aprender a fazer alguma coisa do gênero a gente conversa.

Martín revidou e os dois voltaram a discutir.

Daniel suspirou aliviado. Tinha certeza de que quando retornassem do Pão de Açúcar Luciano já teria esquecido completamente do acontecido. Mesmo assim, ainda estava um pouco tenso. Não pelo susto que o soldado de bronze lhe dera, nem pelas lembranças da guerra, mas porque sabia que havia chegado muito perto de desenterrar todas essas lembranças. E toda vez que algo do gênero acontecia quando visitava Luciano este poderia ficar dias sem conseguir olhar Daniel nos olhos. E toda vez que ele fazia isso, quando ele poupava palavras, virava o rosto, tentava arranjava desculpas para ir pra longe dele, Daniel sentia uma dor enorme no peito. Afinal, eles eram amigos.

Em meio a esses pensamentos, Daniel olhou para e Luciano e tentou se lembrar dês de quando ele passou a se importar tanto com a amizade daquela pessoa. Pensando bem, as vezes Luciano era um completo idiota em relação a ele, mas... era aquele tipo de idiota do qual você não sente raiva, ou que perdoa logo depois. Tentou imaginar o porquê. Talvez isso tudo começara quando ele virou uma república e tratou de ser mais legal com todos os seus vizinhos, dando atenção especial para ele e para Sebastian. Ou poderia ser quando ele o ajudou a ter sua independência reconhecia, ele se lembrava de gostar muito de Luciano naquela época. Também se lembrou do dia em que se conheceram, de vê-lo surgindo do meio da floresta todo esfarrapado, mas sorridente, ofegando enquanto falava em um perfeito tupi-guarani.

Daniel pensou, pensou e depois de pensar um pouco mais, sorriu.

Sorriu porque quanto mais ele se perguntava sobre isso, mais certeza ele tinha de que ele simplesmente gostava de Luciano.

Assim, sem nenhum motivo.

______________________

Alguém aqui já percebeu que aquele monumento grandão em frente a onde se pega o bondinho do Pão de Açúcar é pela Guerra do Paraguai/Tríplice Aliança? Como é bem velhos as inscrições estão bem apagadinhas, mas um dia eu cheguei mais perto para ver e reconheci os uniformes. Ah! E também a achei a estátua do tatataravô de um tio emprestado meu... Ele foi patrono de alguma coisa...

fail, argentina, paraguay, uruguay, fanfic, brazil, hetalia latina

Previous post Next post
Up