[Fanfic] Som De Uma Pedra

May 19, 2010 21:39

Título: Som de uma Pedra
Personagens: Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e menções de Inglaterra
Classificação: PG-13 eu acho
Advertências: Citações da Guerra do Paraguai e algumas descrições um tanto violentas, porém mínimas. Ah e algumas atrocidades à história porque sou uma amadora.
Sumário: “Se perguntassem ao brasileiro sobre sua relação com o paraguaio. Ele sorriria e diria que já há tempos, e que nem se lembraria de tanto que aconteceu. Então, seu sorriso seria desfeito e ele estaria perdido em pensamentos.”

Brasil/Luciano (c) hina_teh_shitz
Argentina/Martín; Uruguai/Sebastián (c) rowein
Paraguai/Daniel (c) makotohayama
Inglaterra/Arthur (c) Hidekaz Himaruya


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   Não era que Luciano não gostasse de Daniel. Pelo contrário, prezava muito uma boa relação com seu vizinho. Embora a relação entre eles parecesse ofuscada diante das relações que Brasil tinha com outros países. Ou até mesmo com seus dois primos. Estes que tinham zelo -até demais- com o paraguaio.

Se perguntassem ao brasileiro sobre sua relação com o paraguaio. Ele sorriria e diria que já há tempos, e que nem se lembraria de tanto que aconteceu. Então, seu sorriso seria desfeito e ele estaria perdido em pensamentos.

Pensamentos estes que lhe traziam memórias. Uma dessas memórias lhe trazia um gosto amargo na boca. Ferroso até. Tal como sentes quando tens sangue na boca. A memória lhe vinha borrada. Mas tingida de vermelho, assim, rubro. Muito vermelho. Da época quando ainda era Império.

Naquela época, tudo era diferente. Estava em constante tensão com Martín, já República Argentina para ver qual dos dois cairia primeiro diante das investidas do rival. Sebastián, não, Estado Oriental do Uruguai já tinha seus próprios problemas enquanto não se decidia a que lado tomar. E Luciano já não se lembrava muito bem do que ocorria depois. Era um período confuso porque tinha muito interesse, muitos lados e muitas histórias. Voltava-lhe a memória que muitas vezes após o início da guerra, ele se via sozinho no campo. Sozinho, do seu lado, porque à sua frente havia Daniel. O brasileiro não se lembrava de ter olhado o paraguaio nos olhos durante o período, algo já o dizia que seria melhor assim.

Ele lembrava também de quando ele olhava por cima do ombro, e via Arth- não, Inglaterra ali, e podia jurar que via um sorriso estampado no seu rosto . Daqueles que te aquece o sangue nas veias de raiva porque era palpável a malícia que vinha do inglês.

A guerra -independente por qual nome seja conhecida- por ele era lembrada como uma em que todos perderam de um jeito de outro. E que Paraguai fora sua maior vítima. E Inglaterra, o seu maior vencedor.

Lembrava-se da surdez algum tempo depois do ínicio da guerra. Então, ao poucos recuperava o sentido da audição, mas o único som que agora ouvia era de gotas. Gotas rubras que escorriam dos dedos de suas mãos tomadas pelo vermelho que iam de encontro ao chão. E aquele rubro, não lhe pertencia. Então ele escutaria gritos. Gritos desesperados. Veria lágrimas. Lágrimas desconsoladas que umedeciam a pele de cadáveres expostos sobre o chão. E sentia todo um caldeirão de emoções extremas dentro do peito. De sua gente e daqueles que também não eram. Lembraria que lhe falavam muitas coisas em mais de uma língua. Mas não lembrava de nada que lhe diziam... Então tudo voltava a ficar quieto. E só o que ele percebia era Paraguai caído à sua frente de cabeça baixa.

O Império se sentiria enfermo depois do fim do conflito. Este fim que não era exatamente um consolo já que todos haviam de arcar com as consequências das atrocidades que cometeram, principalmente as do Império. Nada comparado ao Paraguai que já não sabiam dizer se estava vivo ou morto dadas as condições. O Império então se sentiria desconfortável na própria pele, porque ele presenciava a queda de um país diante dos seus olhos.

Mas teria todos os territórios que almejava, e tropas em nome do Império do Brasil permaneceriam em terras paraguaias. Paraguai, então cuspiria enojado no rosto do brasileiro enquanto lágrimas escorriam pelo rosto, toda vez que este era chamado como Estado Satélite Paraguai pelo outro. O Império do Brasil não diria nada. Olharia friamente àquele a sua frente, limparia a saliva do rosto e o deixaria ali, sozinho. E ele sabia que isto enfurecia ainda mais o paraguaio, mas ele nada fazia.

A verdade era que Luciano tinha vergonha. Vergonha daquilo que todos sabiam, mas ninguém comenta. Às vezes ele pensava como era tolo aquele pensamento, quer dizer, já haviam se passado tantos anos. Mas não, não era nada tolo. Nem mesmo a infame falta de memória do brasileiro o permitia esquecer aquilo. Porque coisas assim não se esquecem. E isto ele não conseguia esquecer.

Quando ele era pego em memórias tão desgostosas, ele se dava o luxo de deixar tudo que fazia para ir tomar um ar fresco. Olhar para o céu, talvez. Seja de dia ou de noite, o contato com a natureza sempre o acalmava. Às vezes ele sentava em um banco qualquer em uma praça de uma de suas cidades. Já que estar próximo de sua gente o fazia bem também.

Então outra memória relacionada viria à mente. Alguns ou muitos anos depois daquilo tudo, Luciano teria conhecimento de Sebástian ir até Daniel. O olharia nos olhos, então abaixaria a cabeça. Submisso. Esticava suas mãos e entregaria o que lhe foi ganho por conta daquilo. O brasileiro não se surpreendia que o uruguaio tivesse sido o primeiro a tê-lo feito.

Luciano voltaria a pisar em terras paraguaias muitos anos depois, agora como República e com um novo chefe. Isto inverteria o rumo das relações entre os dois países e limitaria hegemonia argentina na região. Daniel olhava Luciano nos olhos. Apertavam as mãos e iam as formalidades e cautela que tais reuniões pediam. Após o fim do encontro, apertavam-se novamente as mãos e sorriam discretos, porém sinceros com a possibilidade de uma reintegração da relação entre ambos.

Martín faria o mesmo que Sebastián. O argentino também estava de cabeça baixa, e suas feições sérias. Quando ele se permitia olhar para o rosto do primo, suas feições aliviavam-se, e tentava até sorrir. Um daqueles sorrisos confiantes já característicos do argentino. Para assegurar seu compromisso com o paraguaio.

E a desde a volta de conversa entre Luciano e Daniel, a relação entre Brasil e Paraguai havia melhorado drasticamente por parte de ambos os lados, mas não se poderia dizer o mesmo enquanto a Brasil e Argentina cuja rivalidade não estava dissolvida -e nem iria num futuro próximo- E por algum tempo, Luciano frustrava-se ao ver Daniel oscilando em como agir em relação ao primo e o vizinho, às vezes até se aproveitando da tensão entre eles. Até que Daniel começou a agir com medidas favoráveis a Luciano não que tivesse escolhido o seu lado, mas quanto a não permitir tanta intrusão por parte de Martín.

O brasileiro não se lembrava quem tinha tido a idéia primeiro, mas ambos deixaram a compostura de lado quando viam formando diante de seus olhos aquilo que seria conhecido como a Ponte da Amizade. Eles tocariam os punhos como sinal de fraternidade, e seriam só sorrisos naquele dia. Luciano sorriria e diria que pela amizade entre eles, gostaria que o paraguaio esquecesse tudo que ainda era pendente da guerra referente ao Brasil. Em resposta ele teria braços rodeados em volta do seu braço e o paraguaio de cabeça baixa. O brasileiro temendo que tivesse dito algo errado até teria sugerido se jogarem da ponte e depois tomarem um banho no rio Paraná, e Daniel riria depois o repreenderia imediatamente assustado vendo que o brasileiro falava sério. Argumentava que era loucura se jogar de uma altura de setenta e oito metros, no entanto o de pele morena balançaria a mão no ar e diria que o faria do jeitinho brasileiro que só ele era capaz de fazer. Daniel voltaria a apertar forte o braço do brasileiro e agradeceria baixo na sua língua guarani enquanto os dois assistiam ao pôr do sol na ponte deles.

Já acostumado em como Daniel continuava a oscilar a favor dele ou de Martín, o brasileiro decidia estreitar a relação entre ele e o guarani. Reunia-se mais vezes com Daniel e com seus chefes presentes, conversavam. Bastante. Sobre muitas coisas. E uma delas deixaria Martín descontente. Luciano se comprometeria em financiar inteiramente uma ambição que seria dividida por ambos.
Daniel não escondia a óbvia animação com a ideia. Também, tinha como? Aquele idéia deles, só deles, coroaria a relação entre a nação verde-amarela e a rubro-azul. Luciano ajeitaria o capacete de segurança na cabeça de Daniel enquanto eles viam a Usina Hidrelétrica de Itaipu ser construída. A maior do mundo. E estava à quinze quilômetros da Ponte de Amizade.

Luciano lembrava de ter rido quando soube que Martín, enciumado -mesmo que o argentino jamais admitisse- construíra junto com Daniel outra hidrelétrica binacional, chamada de Yacyretá. Daniel o repreendia dizendo que ela era muito importante para a relação dele com o primo. O moreno sorriria pedindo desculpas e completaria que esta não chegaria aos pés da Itaipu, isto porque era deles e sua grandeza era proporcional à significância da relação com o mais novo. E argentino nenhum conseguiria compensar isto. Daniel iria corar e Luciano ofereceria sorridente uma xícara de café preto ao vizinho.

Apesar de ter havido umas desavenças entre as duas nações após isto, em relação aos brasiguaios ou até mesmo as contas relacionadas a Itaipu, bastava que Daniel batesse a sua porta, tímido diria que tinha de conversar com o vizinho, e Luciano perguntaria se Martín ou Sebastián estariam por perto, Daniel riria baixo e diria que não e quando olhava a porta da casa do moreno estava aberta e ele já estava dentro da mesma gritando se ele queria guaraná.

Agora mesmo, Luciano batia uma, duas, várias vezes na porta à sua frente. Ele não sabia se conter, o que podia fazer. Daniel abriria a porta preocupado que algo tinha acontecido e se deparava com o vizinho sorridente e obviamente agitado. Luciano lhe entregaria uma papelada com uma nota amarela colada em cima e entrava sem cerimônia na casa.

Daniel deixava a porta trancada para trás e leria a nota que havia escrito “Já tava na hora né? haha”. E depois de passar os olhos pela papelada, veria um documento formal sobre o compromisso do Brasil pagar o triplo
pela parte que consumia da porcentagem de energia gerada pelo Paraguai em relação a Itaipu. Daniel balançaria a cabeça enquanto ria, pensando que aquilo era a cara do brasileiro.

E Luciano sorriria ao pensar da sua relação com o Paraguai já havia há tempos, e que nem se lembraria de tanto que aconteceu. E o quanto eles mudaram desde então. A relação deles era como uma pedra bruta, que com o passar do tempo era polida e reconheciam sua preciosidade. Ela brilhava,mas não deixava de ser resistente. Podiam jogá-la contra a parede e só escutariam um barulho alto. Porque a pedra era resistente. Como ele e Paraguai. Afinal, eles haviam passado por tanto

Martín no sofá, então reclamaria ao moreno que ele estava atrasado e o quanto eles tinham esperado. Sebastián logo ao lado dizia que não era de se esperar diferente do vizinho. Luciano só riria. E diria que deviam agradecer por ele estar ali em primeiro lugar, já que tinha tanto a fazer em tão pouco tempo, além de que só veio por causa de Danielzinho.

Luciano não sabia se era ou louco ou corajoso demais porque beijar Daniel distraído com a papelada na bochecha era o mesmo que se jogar à cova dos leões com pedaços de carne amarrados no pescoço, mas ele só ria. Enquanto corria o mais rápido que podia, claro, dos gaúchos que o perseguiam enfurecidos pela audácia de violar a honra do primo.

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Algumas notas:
1. Primeira vez que escrevo sobre qualquer uma destas crianças, estou puta nervosa aqui e espero ter feito jus a suas personalidades e à história, lógico.
2. A guerra citada, obviamente, é a guerra do Paraguai.
3. Getúlio Vargas foi o primeiro governante brasileiro em uma visita oficial ao Paraguai que ajudou bastante nas relações entre eles.
4. Uruguai em 1885 devolveu ao Paraguai todos os troféus de guerra, Argentina fez o mesmo em 1954
5. A ponte da Amizade se encontra no Rio Paraná e liga ambos os países.
6. A Usina Hidrelétrica de Itaipu é a maior do mundo em funcionamento e capacidade de geração de energia
7.O Brasil liberou Paraguai de todas as suas dívidas de guerra em 1943
8. Itaipu em guarani significa "Som de Uma Pedra" por isso o título, tentei até trazer uma ligação no meio do texto mas falhei miseravelmente.
9. A represa hidroeléctrica de Yacyretá é uma usina hidrelétrica binacional construída no rio Paraná entre Argentina e Paraguai. /wikipédia
10. Em 2009, O Brasil renegociou o Tratado de Itaipu e aceitou efetuar um pagamento mais justo ao Paraguai.
11. Sobre os brasiguaios... Recomendo procurarem no wikipédia

Qualquer coisa, escreva em um comentário :)

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