Hey, there!
Após um sumiço de setenta milhões de anos, eu volto com uma fic levemente crack e levemente dramática =~~~
Título: Coisas estranhas acontecem na primavera
Personagens: SP e female!RS. Sim, é isso mesmo. Pra facilitar a visualização, podemos pensar nela como
essa mocinha aqui <3
Sumário: Paulo sempre achou que nunca sentiria nada além de raiva pelo nosso gaúcho preferido. Mas, claro, isso foi antes daquele fatídico HORÁRIO DE VERÃO.
Quando a reunião começou, tudo parecia estar normal. Ou pelo menos o mais normal que aquela família poderia suportar, afinal de contas, ainda eram eles mesmos, ainda era uma reunião extremamente desnecessária e, a não ser pelo horário de verão, tudo continuava na mesma.
Por isso, devido a essa normalidade toda, Paulo não se sentiu culpado por não prestar atenção no que estava sendo discutido. Ele se distraiu primeiro com seu celular (era novo e caro e bem difícil de se entender, mas ele se jogaria na frente de um metrô antes de pedir ajuda para alguém) e, depois, com Catarina.
Quer dizer, com quem ele achava que era Catarina.
E tinha tudo para achar, agora que estamos falando nisso, porque ela era a pessoa mais loira no recinto (o gaúcho tinha perdido a hora, felizmente), e estava de cor-de-rosa e tudo o mais, então, apesar de seu cabelo estar mais curto do que Paulo se lembrava, tudo levava a crer que aquela era, de fato, a Santa e Bela Catarina.
Então, como pela primeira vez em tempos ela estava sozinha (afinal, o acima citado gaúcho viado ainda não tinha chegado), Paulo verificou discretamente que ninguém estava prestando atenção nele e deslizou - ainda mais discretamente - para perto de sua irmã-quase-vizinha mais doce e meiga.
-Ah, hoje não, cara - ela bufou - Nem vem que eu não estou com saco pra isso.
Paulo arregalou os olhos. Ele chegou a abrir a boca para responder, pra perguntar se tinha acontecido alguma coisa, quando escutou Rio Grande do Sul atrás de si:
(Porque não havia motivos para não acreditar que aquele fosse Rio Grande do Sul, quer dizer, era um cara loiro e com sotaque e tudo o mais, então tudo indicava que era, de fato, Rio Grande do Sul):
-Amor, você não deveria falar assim com o Paulo. Ele não tem culpa de nada.
-Hein?
-Como é que tu pode ter tanta certeza assim? - Cat perguntou, cruzando os braços - Vá saber se ele não inventou, sei lá, uma engenhoca científica que fez isso com a gente? Aposto que tem dedo de paulista aqui.
-Não seja assim. Eu tenho certeza de que o Paulinho é inocente.
-O que há com vocês hoje? - Paulo franziu a testa (e a reunião já tinha descambado a essas alturas, agora todo mundo estava prestando atenção na bagunça naquele lado da sala) - Hoje é o dia do contrário, é isso?
Rio Grande e Catarina trocaram olhares e, após dois segundos, ele respondeu:
-É, bom, é mais ou menos isso mesmo. Talvez vocês devam sentar pra escutar a história...
Aí ele, ela falou. E foi bom que a reunião tivesse parado e que todo mundo tivesse ouvido porque, se isso não era um comunicado federal, Paulo não sabia o que mais poderia ser.
Mas era isso. Rio Grande e Santa Catarina tinham trocado de corpo.
Culpa do horário de verão.
Porque coisas estranhas acontecem na primavera.
-A bem da verdade - Rio Grande (ela) explicou - nós não trocamos de corpo. Essa aqui sou eu mesmo, ou mesma, sei lá, do jeito que eu seria se fosse uma prenda.
-Então vocês são muito parecidas. Quer dizer. Seriam, se ela ainda fosse... você entendeu.
Rio Grande sorriu pela primeira vez, terminando seu milkshake. Paulo que tinha sugerido, para acalmar os ânimos. E passar o calor.
Ela tinha covinhas, Paulo reparou. Rio Grande, o gaúcho, não tinha covinhas, tinha?
-Bom, eu... fico feliz que vocês estejam lidando bem com isso - ele disse, tentando mudar de assunto mental - Eu ia detestar se fosse comigo.
-Ah, sei lá, guri. Pensando agora, nem é tão mal assim. Pelo menos eu fiquei gata, né?
Paulo ficou sem resposta.
-Eu acho que a gente devia fazer alguma coisa - Rio de Janeiro disse, entrando em seu escritório sem bater na porta antes - Antes que isso saia do controle.
Paulo nem se incomodou em erguer os olhos do computador:
-Eu me perguntaria do que você estará falando agora, mas não tenho tempo pra isso. Se você me mandar um e-mail, juro que te respondo quando der.
-Bom saber que nada disso mudou o seu humor - ela andou até sua mesa com quatro passos decididos, e fechou a tela do seu notebook com força.
Paulo respirou fundo, com preguiça de discutir.
-Você quase cortou meus dedos fora.
-Passei longe dos seus dedos. Você não vai fazer nada?
-Em relação a quê?
Rio estreitou os olhos e Paulo sustentou a análise dela. Claro que ele sabia do que ela estava falando e claro que ela sabia que ele sabia. Fazer o quê, depois de séculos de convivência, você acaba desenvolvendo esse tipo de comunicação telepática. Com certeza, Rio Grande e Cat tinham isso também.
Não que Paulo estivesse lembrando disso agora.
-Certo, faça o que quiser - Rio se endireitou devagar - Depois não vem chorando quando você levar a maior surra da sua vida.
-Isso nunca aconteceu - Paulo franziu a testa.
-Claro. Última coisa.
-Hmm.
-Se eu ouvir você chamando aquela zinha de Rio... eu venho pessoalmente te encher de pancada.
A próxima que veio falar com ele foi Rio Grande mesmo.
Paulo não ficou surpreso (a fofoca corria solta por essas bandas), fechou o computador de novo e então escutou em silêncio.
-Então... - Rio Grande começou - tu tá mesmo a fim de mim.
Paulo sentiu o rosto avermelhar, mas fez força para responder:
-Isso é uma pergunta? Ou você só está falando?
-Pode ser uma pergunta. Está?
Paulo correu os dedos pelo cabelo, desviando o olhar. E, bom, não era como se ele tivesse uma boa resposta para isso, certo?
-Porque, sério. - ela insistia - Pro caso de tu já ter te esquecido, eu ainda sou a mesma pessoa. Nada mudou.
Dessa vez Paulo ergueu uma sobrancelha, e Rio Grande abriu seu sorriso com covinhas:
-Claro, tirando tudo o que mudou, mas esse não é o ponto. Se abre pra mim, cara, qual é o problema? Você já estava a fim de mim antes?
-Claro que não. Eu só... sei lá, eu não planejei isso - e Paulo sentiu o rosto esquentar de novo, porque nem ele conseguia ser tão frio e objetivo para falar uma coisa dessas - É só que você ficou interessante desse jeito. E eu, sei lá, eu achei que poderia dar certo.
Rio Grande torceu a boca, e ela parecia mesmo incomodada com isso. E talvez fosse um sinal, talvez fosse alguma coisa, porque, se ela ainda fosse ele, nunca ficaria com pena de Paulo. Não por uma coisa dessas, pelo menos.
-Bom - Rio Grande disse devagar - talvez... talvez desse certo mesmo. Se eu ficasse assim por muito tempo, quero dizer, talvez eventualmente eu te olhasse de outro jeito. Não, não eventualmente. A gente até pode dizer que provavelmente eu te olharia de outro jeito.
-Provavelmente?
-É. Talvez. - ela sorriu - Nós temos uma coisa, não temos?
Paulo sorriu também, de lábios fechados. Ele pensou numa infinidade de coisas para responder, é claro que tinham, todos tinham, e de repente, uma hora algumas coisas significavam mais que outras, e esse era um desses momentos. Ali, de frente para ela, Paulo só conseguia pensar em tudo o que tinham, em todas as brigas e guerras e conversas e discussões. Ele pensava nisso e pensava mais, pensava em como de repente aquele sotaque era bonito, em como ela soava doce e querida - mas ele sabia que não podia falar nada disso, uma questão de proteção, de preservação, só isso, mesmo que todo mundo já soubesse, ele não podia falar em voz alta.
Porém, como também não podia deixá-la sem resposta, Paulo forçou pra fora:
-Certo. Eu vou me contentar com isso.
Rio Grande continuou sorrindo, e agora Paulo realmente não sabia se ela estava rindo dele ou não.
-Bom - ele respirou fundo, ficando de pé só para ter o que fazer - e você já sabe como vai voltar ao normal? Precisa de ajuda?
-Na verdade, eu ainda não sei. A Cat, ele, acha que nós vamos ficar assim até o final do horário de verão. Faz sentido pra mim.
-Até fevereiro?
-É o que ela acha - Rio Grande encolheu os ombros - Por quê? Tu acha que é muito tempo?
-Não. Definitivamente não.
Dessa vez Rio Grande ficou séria, e foi por isso que Paulo percebeu que tinha falado demais. Ele abriu a boca para tentar corrigir, mas, antes que pudesse, ela estendeu a mão e tocou em seu rosto.
Um toque que não era nem carinho, não era nem segurar, mal encostando. Um toque que Paulo nunca aceitaria dele, não com tudo- não com toda a história que eles tinham.
Nenhum dos dois disse nada, porque não fazia sentido pedir, não fazia sentido avisar, e o beijo veio curto e leve como a brisa. Por dois ou três segundos, Paulo só sentiu o perfume dela e então...
Então nada. Então ela saiu do escritório e fez o favor de nunca mais mencionar isso, mesmo quando o verão acabou e ela se foi e ele voltou e todos estavam uma hora pra trás, num horário que esse tipo de coisa simplesmente não ocorria.
Porque alguns romances a gente só vive na primavera.