(no subject)

Oct 08, 2004 19:59



funkyzinha

Pedro viu a silhueta de mulher aproximar-se dele. Também ela parecia um pouco receosa. Aproximava-se devagar e com um olhar desconfiado e interrogativo. A sua maneira de agir confundiu-o. Se bem que demonstrava ser algo tímida também havia algo que lhe reflectia uma imagem de segurança. Era como se estivesse em frente a duas pessoas completamente diferentes numa só. Por um lado toda aquela atitude defensiva, mas o olhar era feroz e brilhante, como que se estivesse preparada para todas as adversidades.
O tempo que ela levou a encaminhar-se até ele deu-lhe tempo de se recompor. Pôr de parte a ideia de ter visto Ana, recuperar a cor e o pensamento. Começou a descer as escadas rolantes também na direcção da mulher de vermelho.

cristinapereira

Enquanto caminhava na direcção do tal homem tentava, ao mesmo tempo, acalmar-se um pouco. Ao aproximar-se dele, reparou que este a olhava de maneira estranha, como se a conhecesse de algum lado. Tentou não dar a entender o seu nervosismo. Apercebeu-se que, também ele, parecia estar na mesma situação que ela, por isso quase que tinha a certeza de que se tratava de um dos 11 escolhidos.

funkyzinha

A distância que os separava finalmente terminou. Quando se olharam olhos nos olhos não disseram nada. Como se ambos esperassem que o outro falasse.Desviaram o olhar e, em uníssono, disseram um timido "Olá..."
Ainda embaraçados tentaram cumprimentar-se num pequeno aperto de mão, mas nem assim acertaram e atrapalharam-se completamente. Acabaram por se rir da situação quebrando assim o gelo.

cristinapereira

- Desculpe.... eu sou a Teresa Guimarães. E o senhor quem é?

funkyzinha

- Oh! Sim, claro. Desculpe... chamo-me Pedro Martins. Presumo que esteja aqui pelo mesmo motivo que eu? - resolveu Pedro atirar, mas sem dizer muito mais. Caso estivesse enganado. Claro que logo se arrependeu de desconfiança tão parva. O que estaria mais alguém a fazer num aeroporto abandonado senão fosse pelo mesmo que ele. Ainda pensava na hipótese de ser tudo uma brincadeira. Até que a viu. Quando a viu um pensamento meio estúpido apoderou-se dele. A hipótese de algum amigo ter feito esta brincadeira por esta mulher ser parecida com Ana. Mas no segundo seguinte pôs esta ideia de parte. Ele havia-se afastado de todos os amigos. Era-lhe demasiado doloroso. Sempre que estava com alguém Ana vinha ao tema de conversa. Ao vê-los também se lembrava dela, das coisas que costumavam fazer juntos. Teresa cortou-lhe a onda de pensamento que viajava à velocidade da luz, chegando a deixá-lo tonto.
- Desculpe? O que é que disse? - perguntou ele percebendo que ela esperava uma resposta. Esforçou-se por se concentrar desta vez.

cristinapereira

Teresa achou que havia qualquer coisa naquele homem que não estava bem. Quer dizer, sempre que olhava para ele, dava-lhe a sensação de que ele olhava para ela de uma maneira peculiar. Pensou, eventualmente, que já tivesse sido alguns dos clientes de Jannette, mas essa hipótese seria um bocadinho remota, embora não fosse de todo impossível. Jannette já tinha tido clientes que vinham de fora do Porto. Homens de negócios, que passavam as noites fora das suas casas e das suas mulheres, e por isso aproveitavam a ocasião. Mas não... não se recordava do seu rosto. Era preciso muita coincidência. Então, já com um leve sorriso, esboçado nos lábios, respondeu-lhe:
- Eu disse que me chamo Teresa Guimarães. Perguntei-lhe quem era. E o senhor respondeu-me que se chama Pedro Martins. E sim... supostamente estamos aqui os dois pelo mesmo motivo. A tal lista dos 11?

funkyzinha

- Sim, isso mesmo - disse Pedro. Depois deu a Teresa um sorriso meio atrapalhado já a tentar desculpar-se. - Peço desculpa se pareci desconfiado, mas é que, de facto, encontramo-nos numa situação um pouco mirabolante. Mas tal como a senhora também fui contactado para me encontrar aqui às 10 horas. Parece que por enquanto fomos os únicos a aparecer. Isto é muito estranho... não está aqui ninguém para nos dar indicações. A minha carta nem dizia para onde me devia dirigir. E a sua?

cristinapereira

- Sim... exactamente. A minha também não dizia nada... apenas para estar aqui às 10 horas. Aliás, em relação a este assunto foi sempre tudo tão sigiloso e de tão curtas explicações, que pouco ou nada sei.... E sim, é realmente estranho que até esta hora não tenha chegado ainda mais ninguém. Será que fomos nós os mais pontuais?
Teresa não sabia se havia de abrir muito o jogo ou não. Não estava segura se lhe deveria contar que o governo tinha mandado um carro buscá-la ao Porto. Embora lhe parecesse uma pessoa de confiança, não sabia com o que poderia contar. Sentia-se ainda, um pouco às cegas. Contudo, lembrou-se que tinha consigo a carta que havia recebido. Disse então para Pedro:
- Se quiser confirmar eu tenho aqui a carta que me mandaram. Se tiver aí a sua, podemos até comparar se são ou não iguais.
E tirou a carta da carteira, enquanto aguardava uma resposta por parte de Pedro...

funkyzinha

- Estamos a ser deixados um pouco em branco então. Deve ser essa a intenção deles, para então nos explicarem o que vai acontecer afinal. Afinal, nem todos nós seremos escolhidos. Apenas 5 dos 11... - e aí Pedro pensou que talvez um deles morreria. Não gostou da ideia de ter de lutar com alguém pela sua sobrevivência. Afinal, porquê ele e não outro qualquer? E porquê eles os 11? Qual seria a explicação. Reparou que Teresa tinha engolido em seco. Talvez também ela pensasse no mesmo que ele. A sua sobrevivência... a sobrevivência daqueles que a amavam... como seria a vida desta mulher? Provavelmente já era casada e com filhos. Será que ela acederia a abandoná-los? Ou então já tinham pensado nisso aquando da escolha e só tinham escolhido pessoas sem vida própria como ele. Decidindo tirar o mau ambiente que tinha instalado Pedro retomou a palavra. - Pois, parece que só nós é que somos pontuais não é verdade? - ao dizer isso olhou institivamente para o relógio. Ainda faltavam dois minutos para as 10 da manhã.
Entretanto Teresa havia tirado a carta da carteira. Pedro também havia trazido a sua carta. Pensara que podia ser necessária para passar pelos militares. Uma espécie de passaporte. Mas, ninguém os tinha vindo receber até então. A ausência deles era estranha, tinha a ideia que os militares eram pontuais. Aproveitou para também tirar a carta do bolso de trás dos jeans. Ao puxar pelo papel dobrado a sua carteira também deslizou para fora do bolso caindo no chão. Teresa prontificou-se para apanhá-la baixando-se. A carteira havia-se aberto na zona dos documentos. Num dos compartimentos estava uma foto de Ana. Quando Teresa a viu de relance pensou que via uma foto sua. Voltou atrás com o olhar e reparou que não era ela, mas alguém muito parecido. Mesmo assim isso havia-la deixado desconcertada. Ainda de cócoras olhou para Pedro, reparou que ele tinha perdido a cor e que estava atrapalhado com a situação. Reparou no seu olhar uma dor profunda. Tinha vontade de lhe perguntar quem era. Mas como perguntá-lo? Baixou o olhar. Quando voltou a olhar Pedro já lá não estava. Procurou-o com o olhar e ele estava apenas a alguns passos de distância. Estranhamente e inesperadamente ele disse-lhe:
- Chegaram mais duas pessoas. É melhor irmos ter com elas.
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